Incrivelmente ao aparecer no treino no dia seguinte ninguém perguntou nada, e também não apareceu um monte de guardas armados em busca de Jonathan por ele ter ferido um cidadão da cidade. O que o deixa tranquilo, mas não responde o que aconteceu com os homens que o assaltaram e para quem trabalhavam.
Jonathan – Então perai! Quer dizer que se eu tivesse matado eles, eu estaria completamente no meu direito?! - Exclama, e Elt se afasta um pouco pelo grito que o garoto deu. Depois de entrarem num bom ritmo no treino, eles começaram a conversar, e Jonathan pensou que não haveria problema em discutir com o Elt, que se mostrou amigável e confiável, sobre o que aconteceu. ( Mesmo que Jonathan não tenha contado para Melanie, por medo )
Elt – Bom, sim, como você faz parte da guarda da cidade tecnicamente falando, qualquer violência contra você pode ser respondida com força letal – E essa é uma das leis menos controversas de Lescatie, Elt não gosta de admitir,, mas muitos dos que se dizem ' defensores da cidade ' usam leis assim para fazer o que quiserem com a população.
Enquanto os dois conversam, Clinton percebe que Jonathan está tendo dificuldade nos exercicios. São coisas pequenas, como o jeito que ele segura a arma de madeira, com um aperto bem mais fraco que o normal, e também um pouco de manco em suas pernas quando vai atacar. Mesmo assim, ele atribui tudo isso a briga que ele teve, após começarem o treino ele contou as coisas para o Elt que depois de explicar e acalma-lo de que não haveria nenhum problema, começou a contar como eram as leis da cidade em relação a esse caso.
Clinton " É bom que nada aconteceu com ele, mas para ter dado uma surra em três homens adultos que mesmo que não tenham tido treinamento eles eram sequestradores, não bandidos de rua normais, algo que um soldado formal da ordem já teria um pouco de problema. Jonathan realmente parece ter uma taxa de crescimento acima do normal, ele a um mês atrás nem segura-va uma espada direito "
Jonathan – Haaa! Hyaaa! Haaa! - Repetindo a mesma forma, ele sabe que isso vai fazer com que seu corpo desenvolva memória muscular, mas o mais importante no momento é que isso esta distraindo ele da fome insana que ele está sentindo " Hgmmmr, parece que eu to com um buraco no meio do peito de tanta fome, isso não é normal cara " Se fosse o Jonathan de antigamente, ele teria reclamado ou parado por causa disso e tentado resolver o problema ou pedido ajuda, mas ele está determinado a mudar, então ele se aguenta, decidindo que deve ser só o seu corpo se acostumando com seus novos hábitos e alimentação.
Já começa a anoitecer em Lescatie, e na maioria das residências, mães e esposas começam seus afazeres e a preparar a janta para sua família. Na vizinhança tranquila que a casa que Jonathan ganhou de James fica, o cheiro de todas essas comidas sendo preparadas faz Melanie se lembrar que ela tem que preparar alguma coisa para Jonathan comer após o treino.
Após terem discutido sobre como ficariam os afazeres da casa, já que Jonathan passaria a maior parte do tempo dele treinando, decidiram que a comida e limpeza ficaria por conta da Melanie, enquanto o resto Jonathan conseguiria fazer pela manhã antes de sair.
Os primeiros dias desse acordo foram meio bagunçados, Melanie não tinha experiência em tarefas domésticas e em cozinhar, mas após algumas lições de Jonathan ( que mostrou um talento nato para fazer pratos deliciosos com pouco mais do que sal e pimenta como temperos ) Melanie agora consegue replicar quase que perfeitamente os pratos que jonathan ( seu mestre ) mais gosta.
Melanie " Eu tenho que fazer o prato favorito dele enquanto eu tenho tempo, ele fica bem mais animado depois dele " Cantando um tom para si mesma, ela começa a preparar a carne e ingredientes.
Mesmo que ela seja uma mamono do tipo bestial, ela se demonstra bem capaz de movimentos sutis e delicados, sem deixar nenhuma sujeira. Até mesmo seus pelos nunca sequer são encontrados na comida desde que começou a cozinhar.
Melanie " Hmmmm…. Mas eu não acho que só essa quantia seja o bastante" Mesmo após preparar uma porção para ela e o dobro para Jonathan, ela sente que isso não é o suficiente. Ela percebeu que mesmo após as refeições, Jonathan continua com fome, baseado em seus maneirismos e como saem alguns sons do estomâgo dele ao dormir. ( algo que ela percebeu graças aos seus sensos aguçados e instintos.
Também é uma coisa que Melanie percebeu, que as vezes Jonathan começa a olhar pro nada com um olhar triste, mas sempre que ela tenta conversar com ele sobre isso, o garoto consegue mudar a discussão para outras coisas que tiram o foco dela.
"""" Som de porta abrindo """""
Jonathan – Oi Melanie, cheguei! - Sem bater na porta e só usando sua chave, ele entra logo sentindo o cheiro de comida e seu estômago ronca mais uma vez.
Melanie – Ahh – Exclama alegremente, agora ela tem que se lembrar de perguntar umas coisas para ele. Mas primeiro, janta.
A janta como de costume é feito com os dois conversando sobre qualquer baboseira e sobre seu dia. Como Melanie fica trancada em casa por segurança, já que seria muito ruim se ela fosse pega por algum cidadão de Lescatie, ela não tem muito o que comentar, mas ainda presta atenção no que Jonathan fala, e nas historias que ele as vezes conta para ela. Melanie quer muito saber como continua a história desse 'naruto' , mas ela precisa se lembrar do que ela queria questionar Jonathan ( seu mestre ) sobre.
Após comer e ficar com uma cara de satisfeito por alguns momentos, que Melanie logo vê que é falsa, ele se senta no sofá, e Melanie chega a sentar do lado dele, escolhendo as palavras certas e começando a falar mas parando no meio do caminho.
Melanie – Jonathan? Eu queria te perguntar isso a algum tempo, mas…. Você tá bem? - Finalmente encontrando a coragem, ela pergunta a Jonathan que põe toda sua atenção agora nela.
Jonathan – Hmm? … Sim eu estou, porque ? - Confuso, e ainda sentindo dores na barriga por causa de fome, ele olha para ela sem entender direito a preocupação.
Melanie – É que você sempre parece com fome e cansado, e alguma coisa vem te deixando triste – A preocupação dela é visível pelo modo que ela se inclina para frente enquanto pergunta.
Jonathan – Bom, sim, eu ando meio com fome, mas isso é só porque eu não tinha hábitos de treinamento como eu tenho agora. E como assim triste? Eu to de boa. - Tentando acalma-la. Ele acaba soltando somente uma mentira.
Melanie – Mas você fica olhando as vezes pro nada, triste e melancólico, eu fico preocupado, ainda mais com você chegando cansado todo dia -
Jonathan – Eu…. Olha, o problema que eu tenho você não conseguiria ajudar, então não precisa se preocupar – Ele responde, e por um momento se sente culpado pela cara que Melanie fez ao ouvir sua resposta.
Melanie – Mas você tá sempre chegando quase desmaiando do treino. Não seria melhor parar com todo esse treino que você faz pelo menos um pouco?! - Suas preocupações finalmente transbordam, todos os dias vendo Jonathan se quebrando todo só para ficar mais forte deixam ela num estado constante de preocupação. Ela não sabe explicar o porque, mas ela sabe que cedo ou tarde ele vai colapsar de tanto esforço e cansaço.
Porém algo em suas palavras frusta, não, enraivece Jonathan, ele entende que ela se preocupa com ele, ele realmente entende. Mas por algum motivo, uma parte meio obscura de seu ser interpreta o que ouviu da seguinte forma.
" Eu não quero que você se esforce tanto, você não é capaz disso "
Jonathan – Eu sei que parece ruim tá, mas eu prometo, eu vou ficar legal – Sua cara mostra um sorriso, mas ele mesmo sabe o quão fajuto ele parece. Ele não quer ter esses pensamentos, mas eles estão aqui, e agora, antes que ela perceba e ele acabe falando algo que não pode ser retirado, ele tem que esfriar sua cabeça em algum lugar. Pro bem dela e do dele.
Jonathan – Eu vou dar uma volta tá, limpar a cabeça – Se virando de costas para ela, ele não deseja que ela veja o rosto que tem no momento.
Melanie – Jonathan – Falando quase como um suspiro, ela vê ele saindo pela porta, com a sua preocupação ainda corroendo sua mente e fazendo com que busca qualquer forma de faze-lo ficar.
Melanie " Por favor, fala comigo, não vai, por favor, eu preciso pensar em alguma coisa " Mesmo pondo toda sua cabeça para achar as palavras que quer dizer, ela percebe que nunca tinha encontrado uma situação assim. Toda sua vida, seus problemas eram mínimos e com simples soluções, sua vida era pacata e despreocupada, nunca que ela esteve num dilema tão complexo assim, de querer ajudar mas saber que o outro lado não deseja. " Burra, burra, pensa logo em alguma coisa, anda sua burra " Mordendo seu beiço em frustração, ela tenta mais uma vez chama-lo.
Melanie – Jonath – O barulho da porta se fechando a interrompe, e ela fica sozinha com seus pensamentos de raiva por não ter a capacidade de ajuda-lo e só conseguir olhar enquanto ele se destroi por dentro. Lágrimas surgem nos seus olhos, e ela encara a porta suplicando para que seu amado volte.
Nas ruas ocupadas de Lescatie o movimento e continuo e barulhento. Sendo o começo da noite ainda, vários comercios continuam abertos, pessoas continuam a andar na rua e bebâdos continuam a dançar nos bares. Enquanto na rua principal um rio de gente vai passando com qualquer objetivo em mente, uma figura caminha carisbaixa e sem encontrar o olhar de ninguém.
Jonathan " Ótimo, agora estou me sentindo mal, que coisa linda! " Um sentimento horrível ocupa sua mente desde que conseguiu se acalmar um pouco, mas logo que sua cabeça voltou a pensar de forma coesa, ele percebeu o quão insensivel ele foi com Melanie.
Jonathan " Ughhhhrrrrh, e porque eu não paro de sentir fome cara?! " Tente que colocar esforço para não colocar sua mão sobre a barriga e cambalear, a fome que ele sente passou de um simples incomodo para uma verdadeira dor. Ele sente como se alguém tivesse dado uma porrada em sua barriga com algo pegando fogo. Isso só dificulta as tentativas dele de pensar em uma desculpa antes de voltar.
Olhando a sua volta ele percebe quantas lojas e restaurantes continuam abertos, as luzes criadas pelas pedras mágicas inseridas em astes de metal, criam um poste arcaíco que preenche a cidade com luzes brancas ao invés de ficar no escuro como em outras cidades do território da ordem que não são tão abundantes em sua riquezas.
Entretanto, mesmo com todas as distrações presemtes, nada do que lhe aflige, seja culpa por ter corrido da Melanie, ou a fome excessiva que sente, são esquecidas.
Tentando pensar em algo positivo para animar sua cabeça, ele começa a olhar para os lados e ver todo o tipo de pessoa. Mas o que mais chama a atenção dele faz parte de uma coisa que ele vem fazendo o máximo para ignorar desde que chegou nesse mundo.
Pais e suas crianças estão nas ruas, dando uma volta pela cidade e só tendo um bom tempo em família, tomando um ar e simplesmente se divertindo e conversando sem nenhum objetivo ou tópico aparente. Crianças riem, nos colos de seus pais, correndo na frente de suas mães, sendo levantadas no ar pelo pai, é uma cena bem comovente e jovial, uma visão que realmente mostra como essa cidade pode ser prospera e pacifica.
Enquanto olha para toda essa energia, Jonathan sente um buraco em seu peito, até mesmo sua fome é esquecida quando ele é confrontado com esse sentimento. O buraco que ele tentou tampar simplesmente se concentrando em outras coisas, esperando que permanecesse oculto, é agora aberto, e ele consegue dar um nome a esse sentimento.
Saudade.
Jonathan está com saudade de sua família. Dos seus pais, dos seus avós, dos seus tios, dos seus primos, dos seus amigos. Esse é o sofrimento que finalmente ele confronta.
E doi, muito. Não é uma simples saudade que você sente ao viajar e saber que vai voltar em alguns dias ou semanas. Jonathan não sabe se ele sequer vai conseguir voltar para casa, e vem avançando sem pensar nas consequências, ainda fascinado pelo mundo mágico que se encontra. E finalmente após ficar num mesmo lugar por muito tempo e ter tempo para pensar em tudo que queria ignorar. Ele provavelmente nunca irá ver sua família novamente, essa é a verdade. E também uma outra verdade é que eu já devo estar morto para eles.
Com todo tempo que passou nesse mundo, assumindo que o tempo aqui é o mesmo que lá, qualquer busca pelo seu desaparecimento já deve ter acabado. Pelo menos aquelas feitas por policiais, Jonathan sabe que sua família não conseguiria seguir em frente sem ao menos achar seu corpo para dar uma ultima despedida para ele. Eles ficarão em luto por anos talvez, se perguntando o que aconteceu comigo, e se remoendo por dentro, chegando até a pensar se foi alguma coisa que eles fizeram, se foi algo que não me deram, se foi não ter dado atenção o suficiente para mim, ou se esperavam demais dele e aumentaram a pressão que sentia até decidir fugir.
O que seria mentira, desde pequeno Jonathan sabia que ele foi abençoado. Claro, ele não nasceu rico, ou super inteligente ou especial de algum jeito. Mas ele tinha algo que nada disso poderia substituir. Ele era amado, incondicionalmente e com todo o carinho do mundo. Os tios que já tinham filhos procuravam me servir de exemplo para eles, de tão orgulhosos que eram dele e aqueles que não tinham, o consideravam o filho deles e sentiam orgulho e afeto gigante por ele.
Seus avós, que nunca deixaram faltar nada na vida dele, sempre o viam como a melhor coisa que aconteceu na vida deles. Que tiravam felicidade do fato dele crescer saudável e correto, e que nunca quiseram deixar a idade deles o impedir de perseguir seus sonhos mesmo que eles saibam que Jonathan jamais deixara de cuidá-los.
De seus amigos, seus verdadeiros amigos que conseguiu depois de muito tempo e dificuldades, amigos que ficaram do meu lado mesmo vendo que eu era diferente. Amigos que me avisavam quando eu fazia merda e me perdoavam quando eu pisava na bola com eles. Amigos que mesmo que sejam poucos, o trazem uma alegria imensa.
E seus pais, seus pais que cuidaram dele com todo o amor e carinho alguém poderia ter. Que nunca duvidaram, nunca questionaram, nunca se decepcionaram, nunca o maltratavam, nunca o amarguravam e que nunca pediram nada em troca, somente que eu fosse feliz e vivesse bem.
Jonathan sabe também que todo esse amor era dado para ele, mesmo ele sendo um completo inútil e fracassado em sua visão. Ele não tinha conquistas, ele não tinha dinheiro para ajudar sua família, ele não tinha nem educação superior, ou um diploma para que entrasse em alguma carreira, ele nem mesmo tinha um plano pra vida dele. Ele foi abençoado mesmo após tudo isso.
Por isso ele decidiu mudar, por isso que ele precisa fazer atos heróicos e se tornar alguém respeitado e de que possa se orgulhar. Talvez assim ele nunca mais se sinta como se não merecesse aquilo que tinha.
Jonathan " Mas do que adianta eu mudar, se eles não vão estar aqui pra ver " Chegando nessa conclusão, um sorriso triste e melancólico acompanhado de lágrimas, ele não quer segurar mais, a esperança que tinha que seus esforços iriam valer a pena morre e sua lamentação o deixam dormente, sem cuidar para onde vai ou com quem estivesse olhando sua cara encharcada em lágrimas, Jonathan se entoca num beco e sente de costas na parede.
Suas memórias vão aparecendo em sua cabeça como um martelo enfiando-o cada vez mais fundo ele no escuro.
Jonathan – Ahg, agh, ugh, ah, ah – Finalmente, Jonathan abraço seus joelhos e tenta bloquear todo o mundo ao redor e deixa tudo vazar. Mais e mais lágrimas caem de seus olhos, sua respiração fica errada e uma forte pulsação em sua cabeça deixa ele tonto. Suas lágrimas não param mesmo quando segura sua cabeça com força e puxa seus cabelos e nem quando tenta esconder seu rosto agarrando fortemente sua face. Jonathan finalmente admite para si mesmo algo que enfim ele reconhece.
Jonathan " Não tem ninguém que ame o verdadeiro eu nesse mundo " Dessa vez as lágrimas saem como uma chuva, ele então admite a solidão que está sentindo.
Sob o escuro das ruas não iluminadas de Lescatie, o jovem deixa sua ilusão finalmente acabar e confronta a realidade. Enquanto dentro de um quarto fechado e com a luz apagada uma garota se encontra olha para a lua, sua cara está recém seca de todo o choro que teve, e uma expressão determinada como nunca teve antes e então faz um juramento.
Melanie – Eu vou salvá-lo, não importa o que aconteça -
