*・Pʀóʟᴏɢᴏ・*

〔᪤͢ ٬٬ 𝕾𝖍𝖎𝖓𝖎𝖌𝖆𝖒𝖎𝖘 ꦿ

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[Tᴇᴍᴘᴏʀᴀᴅᴀ 1 - Aʀᴄᴏ Mᴜᴅᴀɴçᴀꜱ]

[Múꜱɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ:Nãᴏ ᴛᴇᴍ]

㒢 •

A NOITE ESTAVA QUIETA e silenciosa, sendo interrompida por grilos intrometidos e outros insetos e bichos que possuíam hábitos noturnos e optavam por se esconderem no manto da noite.

A luz dos Jaegers estava acesa, um pontinho brilhante na escuridão da meia-noite. Enquanto os habitantes da cidade, desfrutavam de uma boa noite de sono, porém o casal ainda permanecia na mesa da cozinha. Uma xícara borbulhante de café estava disposta no tampo de madeira, com uma pequena fumaça saindo do recipiente contendo o líquido quente.

Os dois se encaravam nos olhos e em silêncio. Grisha deu um suspiro cansado enquanto desligava a chamada telefônica e virava o celular para baixo. Ele negou com a cabeça lentamente e Carla começou a chorar.

Um choro fino e silencioso, com lágrimas espaçadas e o nariz assumindo uma coloração levemente avermelhada. O rosto fino e delicado, agora marcado por um fino trajeto úmido.

Ele bebericou o café, já ligeiramente mais frio, e segurou sua cabeça em uma das mãos. Ele também queria chorar mas precisava ser forte por ela.

- Eles estão realmente chegando. Não há nada que nos possamos fazer me desculpa...

- Mas por todos esses anos - a voz dela embargou ligeiramente - Eles nunca nem desconfiaram então porque agora?

- Eu não sei Carla, mas o congresso todo está com medo do que há por vir - ela repentinamente o encarou diretamente - Nos tememos que conflitos possam imergir diante da situação...

- E o nosso Eren!? Grisha meu Deus o que nos vamos fazer! - Ela levantou ruidosamente da cadeira

- Fale baixo Carla! - Ele se levantou e a segurou firmemente nos braços e fez um sinal de silêncio em frente a sua boca.

Os dois fizeram silêncio e escutaram atentamente algum sinal de que o filhote deles os havia escutado. Nem sequer um ruído vinha do andar de cima. Aos poucos eles se assentaram novamente nas cadeiras e esperaram mais alguns segundos antes de começarem a conversar.

Carla apertava tanto as duas mãos contra a barra do vestido, que os nós dos seus dedos já estavam assumindo uma coloração branca. O Alfa bebericou mais uma vez o seu café, sentindo o líquido aquecer a sua garganta enquanto ele engolia.

- Nos não podemos manter ele aqui conosco... - Carla olhou para ele com os olhos avermelhados e molhados com uma expressão de dúvida estampada em sua face - Você sabe que ele puxou a mim Carla, e ele vai ter com certeza a sua beleza.

- Mas, Grisha...

- O Eren não vai saber se disfarçar meu amor - Ele foi até ela se ajoelhando aos seus pés e segurando delicadamente sua mão entre as dele - Nos do conselho, ainda não sabemos quando eles chegam. E se chegarem amanhã?

Ela soluçou algumas vezes, fechando seus olhos com força e tentando respirar. Aquele era um golpe duro demais, separar-se de seu pequeno filhote de nove anos e sem saber se o veria novamente era difícil de aguentar.

Seu marido a abraçou enquanto ele mesmo se contorcia em dor no íntimo de seu coração. Ele deu um beijo no topo de sua cabeça e tentou conforta-la passando a mão nas suas costas. Uma batida na porta chamou levemente a atenção deles.

O cheiro era familiar então nenhum deles se alarmou tanto assim. Mas a porta então se abriu em um piscar de olhos e ficou escancarada, revelando a visitante inesperada. Os dois haviam estado tão absortos em sua conversa que a chuva que caia lá fora não havia sido notada.

A visita se escorou na porta retomando o fôlego pesadamente. Os cabelos cor de ébano estavam pingando, e as roupas dela estavam encharcadas e grudando-se ao seu corpo. Um barulho alto no começo da rua chamou a atenção da garota morena, que se precipitou para dentro da residência Jaeger, com os olhos arregalados e mantendo o corpo grudado a porta.

Correndo os olhos pela sala, o interruptor foi rapidamente acionado pelos dedos longos e finos da garota e o cômodo mergulhou na escuridão. Um murmúrio com um conjunto distinto de vozes se fez ouvir noite adentro, rompendo o silêncio e se fazendo sobressair aos barulhos da vida noturna dos insetos e de algumas corujas que tiveram de interromper suas onomatopeias incessantes e repetitivas.

O grupo se demorou um pouco mais do que o esperado. As luzes das lanternas passavam por entre o simples vitral de vidro da residência e a cada feixe de luz o coração deles apertava. De repente alguém transpôs a luz de uma lanterna e se dirigiu a casa, aparentemente adormecida, assim como seus habitantes deveriam estar.

O casal estava até então abaixados no meio da sala de jantar e que oferecia uma bela visão da porta e vice-versa. Os dois fazendo o mínimo de barulho, se encostaram rente a parede oposta, enquanto a garota se abrigou por entre os casacos e sapatos da saleta do closet, quase ao lado da principal entrada, fechando a porta a sua frente.

O homem então apontou sua lanterna para dentro da casa e observou calado por alguns instantes, tentando decifrar se havia alguém al dentro acordado. Se dando por satisfeito ele avisou seus companheiros que não havia nada ali e eles teriam de continuar procurando.

Assim que já não se ouvia mais nada e não haviam mais feixes de luz ou sombras perambulantes, os três saíram de seus esconderijos e se encararam em silêncio por alguns instantes. Com um suspiro prolongado, a matriarca chamou, com um aceno, a jovem para a cozinha. Contando apenas com a luz tenra da lua projetando-se para dentro do cômodo, Carla acendeu uma das bocas do fogão com um fósforo e pôs uma chaleira contendo água da torneira na chama.

- O que eles estavam procurando? - Grisha procurava uma toalha limpa entre as roupas recentemente lavadas e secas na lavanderia, ao lado da cozinha - Achei que guardas não reagiriam assim.

- Não eram guardas, e você mais do que ninguém sabe disso - A morena revirou os olhos e deu de ombros, sentando-se em uma das cadeiras que Carla havia indicado antes de ir até o fogão.

O mais velho segurou uma toalha branca e felpuda entre os dedos, depois de por procurar por alguns segundos. Ele encarou por alguns segundos de forma pesarosa a menina encharcada e assentada na cadeira da mesa de jantar. Não por quem ela era ou algo assim e sim pelas notícias que aquelas olhos vazios e travessos traziam.

- Eu gostaria de não saber minha cara - Grisha pôs a toalha por cima da cabeça dela ee começou a enxugar seu cabelo - O que te traz aqui tão tarde Mikasa?

Ela resmungou um pouco e deu de ombros como se fosse um motivo óbvio demais para que ela se desse ao trabalho de verbalizar. Carla começou a passar o café enquanto se preocupava em não ser vista pela janela.

- Mamãe. Eu e ela estávamos na reunião do conselho. Eu clandestinamente obviamente - Grisha murmurou divertido algo sobre ha ter visto se escondendo em uma das janelas entreabertas e ela revirou os olhos - Pediu para eu entregar um bilhete para vocês dois.

- Kuchel está vindo? - Carla depositou a caneca em cima da mesa, junto com a garrafa térmica contendo o restante do café. A mais velha se sentou em uma das cadeiras ao lado da jovem.

- Mamãe não pode vir, está em outra reunião - Mikasa sorriu travessa, passeando seu dedo indicador na borda da caneca antes de segura-la pela alça e engolir um pouco do líquido quente - Me acharam em uma rua a caminho daqui. - Ela se referia ao grupo de antes

- Viram você entrando? - A garota negou com um movimento de cabeça - Ainda bem

Ela então procurou por dentro do all star vermelho e tirou um pequeno saco impermeável com um papel de aparência importante dentro. Ela estendeu o saco para o Alfa da família, enquanto Carla lhe dava instruções de onde tomar um banho e trocar de roupa.

Temerosamente o mais velho abriu o saco e desdobrou o papel. Seus olhos percorreram o documento e sua expressão foi rapidamente mudando, se tornando opaca e lamentosa. Estendeu a folha para Carla que ao ver seu conteúdo, ficou da mesma forma.

Havia dado positivo. A confirmação de todos os seus temores estava bem ali, rindo deles e de seu sofrimento. Um simples papel jogado na mesa era o origem de todos os sentimentos conflituosos do casal. Uma simples junção de fibra, celulose e processos químicos e tinta.

- Já leram?- Grisha assentiu lentamente - hum.

Mikasa estava escorada no batente da porta, com roupas secas envolvendo o corpo pálido e delgado. Ela encarava o s nós dedos como se fosse algo muito mais importante que qualquer coisa que estivesse ocorrendo.

- Como é o DGE dele? Especificamente eu digo.

- Igual o meu - Grisha verbalizou alguns palavrões em um tom baixo, atraindo a atenção do olhar de Mikasa por alguns instantes, já que ela logo voltou a assoprar as próprias unhas.

- Ao pé da letra?

- Ao pé da letra - Ela revirou os olhos de novo como se afirmando que já havia deixado claro o suficiente antes.

Carla observou atentamente a garota. Os cabelos negros como a noite, os olhos cinzentos da cor da lua, e a pele pálida cor de neve. Além de muito parecida com a mãe incrivelmente a cópia do irmão. Talvez se exibisse uma carranca desinteressada ao invés de uma face travessa, uma altura relativamente menor e um cabelo mais curto, seria gêmeos ainda mais exatos

- Como vocês vão explicar tudo? Não temos tanto tempo assim - Em um tom ainda mais baixo e sussurrado ela completou - Vocês adiaram o inevitável

- Talvez não dê pra explicar tudo agora, mais o básico.. - Grisha foi interrompido pelo toque de notificação proveniente do seu aparelho celular - Um minuto, continuem sem mim, é uma ligação do conselho eu preciso atender - O Alfa saiu da cozinha e deixou as duas Ômegas na cozinha.

- Nós já estávamos preparando ele. Com treinos de sobrevivência básica, como sair de algumas situações. Nada o fizesse ter perguntas muito complicadas de responder...

- Entendi. Vocês ainda tinham esperanças que desse negativo não é mesmo tia?

- Acho que no fundo no fundo não - Carla deu um sorriso tristonho e afastou ligeiramente as lágrimas dos olhos - Algumas coisas são impossíveis de se negar por tanto tempo. Você pode, pelo tempo que quiser. Mas isso não quer dizer que você já não tenha se conscientizado sobre o que tanto tenta esconder.

Grisha voltou pálido da sala de estar, com a tela exibindo uma chamada encerrada. Ele se sentou à mesa junto as duas e segurou nas mãos da esposa. Mikasa continuou indiferente ao que ocorria entre os dois. Ela já sabia, então só estava esperando o que eles iriam decidir.

Eles desembarcaram no porto agora mesmo - O Alfa tentava não transparecer o ar afetado - Vão fazer os primeiros testes amanhã mesmo. Eu consigo burlar e o Eren não - Ele deu um beijo na cabeça da esposa. Grisha a abraçou e sussurrou várias vezes que tudo iria ficar bem

Eren resmungou um pouco, ainda mergulhado parcialmente no seu sonho sobre cachorros felpudos e chocolates. Ele se acomodou em meio ao mar revolto de lençóis. O garoto se ergueu lentamente, sentindo um cheiro convidativo. Era algo como café torrado, mas sua mãe não torrava grãos em casa.

Depois de um tempo, o cheiro passou e deixou Eren sentado esperando quando voltaria a sentir aquele odor agradável. O vinco na sua testa era uma prova incontestável do seu tédio aparente. Alguns ruídos provenientes do andar de baixo chamaram sua atenção por míseros segundos, antes que toda ela se voltasse para a janela.

A noite parecia agradável e convidativa, com estrelas brilhantes compondo o céu com maestria. A vista era linda de se apreciar, digna de uma paisagem pertencente a uma pintura famosa. Nenhuma casa tina luzes acesas, além é claro dos estabelecimentos de hábitos noturnos.

A praça com o grande carvalho chamou sua atenção. Seus dedos tocaram a vidraça transparente, quase como se pudesse apenas esticar a mãe e tocar a madeira do frondoso tronco da árvore esbelta.

O filhote olhou um pouco mais adiante e percebeu que entre as folhas e o tronco do carvalho, algo brilhava. Parecia chamar Eren e um cheiro de café torrado veio a sua mente.

"Eu gostaria de poder ir até lá agora mesmo..."

Por alguns momentos a ideia ganhou forma e Eren se vi com a mão no trinco da janela. O acastanhado sacudiu a cabeça, para espantar a ideia de entre os seus pensamentos e continuou a admirar a paisagem noturna.

Ele sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha. A cidade costumava ser mais agitada e ceia de vida, mesmo aquele horário. Não havia ninguém transitando por entre as ruas, nem mesmo os bêbados ou pessoas que não tinham casas. Todos pareciam ter se recolhido.

Seus olhos percorreram por entre os estabelecimentos que antes ainda estavam abertos. Agora figuras desconfiadas fechavam as portas e saiam por entre as sombras até suas casas. Eren reparou no carvalho gigante, plantado em meio a praça. Não brilhava.

A luminescência anterior sumira, mas o mesmo pressentia que ainda estava lá. Só se escondendo um pouco talvez.

O moreno engoliu em seco, e aos poucos tentou voltar a dormir, se enrolando nos lençóis e abraçando os travesseiros. A cidade parecia estar mudando. Ele não sabia se para bem ou para mal, mas sentia que ela estava para cegar e rápido.