CAPÍTULO XXXIV

A carruagem com o distinto símbolo dos Mikaelsons parou defronte à porta da mansão de Marcel Gerard. Um criado de libré ajudou Rebekah a descer. Kol suspirou. Ele estava ciente de que seria alvo de muito de interesse no baile. Os Mikaelsons sempre eram.

De braços dados com Rebekah, transpôs os portões da suntuosa residência a caminho do baile. O evento estava repleto com a nata da sociedade, Marcel não tinha poupado esforços.

— Todos estão aqui! — Exclamou Kol.

— Sim, tem razão... Vejo todo tipo de sobrenatural presente — concordou a irmã.

Rebekah estava deslumbrada com a opulência da casa e dos convidados. Diamantes, rubis, safiras alternavam-se ante o olhar da vampira, bem como as sedas, rendas e cetins que as damas trajavam. Os homens não eram superados em elegância, as cores predominantes eram o preto, marrom e cinza. As damas trajavam vestidos coloridos, como se fossem flores. Parecia que ela estava em um baile digno dos padrões europeus, e Rebekah adorou isso.

Ao atravessar o salão, guiada pelo braço firme de Kol, notou todos os olhares voltarem-se para eles. Sabia que causariam aquele impacto. Os Mikaelsons eram famosos, admirados e odiados ao mesmo tempo.

Suspirou profundamente. As vezes ela pensava que gostaria de ter nascido em outra família, mas então, não seria uma vampira original.

Observou Marcel se aproximar, juntamente com sua tutelada. A jovem bruxa era como uma filha para ele, mas Rebekah não conseguia se decidir se gostava da garota ou não. Davina era jovem, com um ar infantil, dócil e sorridente. A inocência e a ingenuidade eram visíveis. Talvez fosse aquilo que tivesse atraído Kol, a pureza dela, algo que seu irmão perdera há muitos anos. Mas ela também era muito bonita, com seus cabelos castanhos e olhos verdes. De alguma forma, ela lembrava Elena.

— Boa noite amigo! Srta Mikaelson! — Marcel os saudou, assim como Davina.

— Estou feliz que tenham vindo! — Davina declarou entusiasmada.

— Não perderíamos seu aniversário por nada! — Disse Kol, com uma voz calma e doce, o que causou um espanto em Rebekah. — Agora Marcel, se possível, gostaria de discutir um assunto com você.

— Claro! Davina, minha querida, porque não leva a Srta Mikaelson para ver a decoração do salão?!

— Vamos? — Davina convidou.

Davina e Rebekah iniciaram um trajeto pelo salão. Não muito distante, escutou a orquestra tocar uma quadrilha. Davina se inclinou em sua direção.

— A Srta. dança? — Davina perguntou à Rebekah — Tenho certeza de que poderemos conseguir cavalheiros dispostos a nos fazer companhia em uma quadrilha.

A jovem a fitou, sorrindo, um sorriso entusiasmado e travesso. Era evidente que ela queria dançar e se divertir. Rebekah não viu mal nisso e concordou. As duas seguiram para o salão e encaram as pessoas ao redor. Não demorou muito para que alguns cavalheiros fizessem um convite para uma dança.

Na biblioteca, Marcel e Kol iniciaram uma conversa. Kol tinha uma ideia em mente que esperava que funcionasse, assim ele poderia deixar Elena para trás em sua vida.

— Meu caro amigo — Disse Marcel sorrindo para Kol. — Que assunto você deseja discutir exatamente agora, no meio de um baile? Confesso que estou curioso!

— Ora Marcel! Você fala como se fosse um grande acontecimento! — Kol se dirigiu para a mesinha de bebidas, servindo dois copos de uísque.

Marcel notou que o humor do amigo vacilou.

— O que aconteceu? — Ele questionou com cautela, enquanto pegava a bebida oferecida pelo vampiro original.

— Elena aconteceu! — Disse Kol caminhando pelo ambiente. — Tenho me atormentado com pensamentos em relação a ela e não aguento mais! — Kol respondeu, ocultando do amigo os fatos mais recentes.

— Então percebeu que ainda tem sentimentos por ela?

Kol se virou encarando-o.

— É isso o que você pensa?

— É isso o que eu vejo. — Marcel deu de ombros.

— É assim tão óbvio? — Kol questionou.

— Muito. Não só eu como Rebekah pensamos que você ainda sente algo pela doppelganger.

— Você tem passado muito tempo com minha irmã! — Comentou Kol erguendo uma sobrancelha.

Marcel suspirou, sentando-se na poltrona próxima a lareira. Ele encarou Kol antes de falar.

— Tenho tentado passar o máximo de tempo possível com ela, embora ela me rejeite na maioria das vezes. Como eu já disse antes, tenho sentimentos reais por Rebekah, sempre tive, nunca a esqueci. Fui um tolo por não enxergar isso antes e ser para ela um companheiro de verdade. Mas estou disposto a reconquistá-la. Farei o possível e o impossível para torná-la minha esposa.

Kol não se surpreendeu. Ele sabia que o amigo sempre tivera uma queda por sua irmã, e Marcel já tinha comentado sobre sua intenção de compromisso.

— Você fala sério?

— Como nunca falei antes. — Marcel garantiu. — Rebekah é a mulher com quem quero passar a eternidade. Desejo me casar com ela o quanto antes, basta que ela me aceite.

— Bem, confesso que me alegra saber de suas intenções para com minha irmã. Ela ainda nutre sentimentos românticos por você. Eu ficarei feliz em tê-lo como irmão.

Marcel sorriu, levantou-se e abraçou o amigo.

— Obrigada. Isso significa muito para mim. Espero que me ajude a reconquistá-la.

— Não será preciso. Acredito que apenas uma conversa entre vocês é necessária. Diga a ela o que pretende e como se sente. Isso bastará. Rebekah pode não acreditar a princípio, mas eu sei que você saberá como convencê-la. — Kol piscou para o amigo.

Marcel sorriu para o amigo e tomou outro gole da bebida.

— Mas me diga, o que mais tem sobre Elena? — Marcel aguardou, percebendo que o amigo ainda tinha algo a dizer sobre a doppelganger.

— Quero me casar com Davina.

Marcel encarou o amigo com evidente surpresa. Ele não entendia. Kol havia admitido, bem quase, que tinha sentimentos por Elena, mas estava querendo se casar com Davina?

— Não entendo...

— O quê? Pensei ter sido claro. — Kol comentou com impaciência.

— Você gosta de Elena...

— Justamente por isso preciso de Davina.

— Quer usá-la para esquecer Elena!?

— Quero esquecer Elena e seguir com minha vida.

— Com Davina?

— Sim. Ela parece ser a única capaz de me distrair de Elena — Kol respondeu com irritação.

— Mas você não a ama.

— Talvez um dia eu possa chegar a amá-la!

Marcel avaliou o que o amigo tinha dito.

— Aconteceu algo com Elena?

— Nada. Só quero pôr um ponto final nessa história.

— Desistiu de fazer dela sua amante? — Marcel não conseguia acreditar.

— Sim. Não desejo ter qualquer relação com a doppelganger. Em verdade, espero nunca mais vê-la. É o melhor.

— Isso sim é surpreendente. Você estava obcecado por ela!

— Exatamente, estava. Agora só consigo pensar em como quero cortejar devidamente e me comprometer com sua tutelada. Sei que ela é uma doce e jovem bruxa, e eu amo as bruxas. Davina tem um encanto, uma inocência, algo que me atrai. Gosto da companhia dela. Vejo nela qualidades que me fazem pensar em me casar com ela. E você me conhece, sabe que isso é um milagre.

Marcel ponderou por alguns minutos antes de falar novamente.

— Nada me faria mais feliz do que tê-lo como família, além de minha união com Rebekah, é claro. Se você se casar com Davina, tenho certeza de que ela ficará feliz, porque está apaixonada por você desde a primeira vez em que o viu. Mas me diga, você tentará fazê-la feliz?

— Prometo a você que farei o possível para que Davina seja feliz, especialmente se nos casarmos.

— Nesse caso, você tem minha benção.

Os dois vampiros se abraçaram e retornaram para o baile. E as próximas duas horas revelaram-se bastante agradáveis.

Rebekah se divertiu, ela adorava dançar. E o melhor, ela dançou com Marcel praticamente a noite toda. Embora de início ela tenha rejeitado a companhia dele, ela acabou cedendo. A maneira como ele lhe contou anedotas e sussurrou poemas enquanto dançavam, os elogios gentis e olhares de cobiça que a lisonjeavam. Rebekah estava feliz nos braços do vampiro por quem secretamente sempre fora apaixonada. Ela ficou ainda mais feliz quando ele disse que queria passar a eternidade com ela.

Kol esteve ao lado da jovem bruxa o resto da noite, deixando evidente a proximidade deles, e despertando ainda mais comentários sobre um futuro compromisso. As mulheres e até os homens comentavam sobre o casal, alguns com admiração, a maioria com inveja. Davina era uma jovem bruxa poderosa, a rainha das bruxas em NOLA. Kol era um vampiro original.

A verdade era que ele gostava de Davina, não com amor ou paixão, mas sentia sim uma atração por ela, gostava de sua companhia. Kol desejava que isso se transformasse com o passar do tempo, e ele viesse a amá-la quando se casassem. Não queria ter esperanças românticas, mas algo em Davina o fazia pensar em ser feliz outra vez.

Kol e Davina dançaram com facilidade, com fluidez e naturalidade. Davina se sentia muito à vontade com Kol e ele com ela. Embora a jovem bruxa soubesse que ele não a amava, ela estava apaixonada por ele, e só podia sonhar com o dia em que ele lhe proporia casamento. Sabia que ele não costumava dar tanta atenção a alguém como fazia com ela, e isso lhe dava esperanças. Ela era diferente para ele, disso ela tinha certeza.

Olhando para Davina, Kol se sentiu bem com a bruxa, além de admirá-la e reconhecer sua beleza. A jovem era encantadora, inocente, engraçada. Ele se sentia jovem e livre com ela, como só se sentira antes com uma outra pessoa em especial. Em muito Davina lhe lembrava Elena. Mas ele não queria pensar que por isso ele a tivesse escolhido.

Kol não queria compará-la a Elena. Ele via Davina como a única pessoa capaz de distraí-lo de seu amor por Elena, capaz de ajudá-lo a esquecer a doppelganger. Mal podia esperar pelo dia em que não pensaria em Elena ao deitar-se e ao se levantar. E foi com esse pensamento, que Kol beijou Davina no jardim, naquela noite, entre as rosas.