Spider presentia ter escolhido bem o fato de estar com o clã das cinzas agora, apesar de como eles eram conhecidos entre os outros povos e sua decisão de ficar com ele, de certa forma, fazê-lo inimigo dos seus antigos amigos. O garoto acreditava que eles ainda eram seus amigos e que um acordo poderia surgir entre os clãs e o povo das cinzas, tinha que ter fé nisso, depois de passar um tempo com eles e conhecê-los a fundo.

Havia algo de reconfortante, nostálgico e certo sobre Spider estar ali, segundo a opinião de Miles. A primeira coisa era que ele estava com sua família, a segunda era que, passando mais tempo juntos, ele finalmente sentiu que estava recuperando o tempo perdido. Como guerreiros das cinzas, eles passavam muita parte do seu tempo treinando e caçando, porém também explorando os lugares que Varang outrora apresentou a Miles.

-Então, o que acha da Varang? - o pai perguntou ao filho, em um momento calmo em frente à Árvore das Almas.

-Por que a pergunta à uma altura dessas? - Spider ficou desconfiado do questionamento.

-Porque eu queria ouvir de você - Miles explicou.

-Mas você pode deduzir como eu me sinto, não é? Você não é bobo! - o menino rebateu.

-Olha só, um elogio pra variar, isso é muito bom de se ouvir - Miles riu abertamente - se você quer saber, vou dizer o que eu penso, você se sente bem com ela, apesar de ela dar muito medo.

-Não, ela não me deu medo, de jeito nenhum - Spider negou com ar convencido.

-Ah é, espertinho? Pois eu sei que é bom sentir medo dela - Miles aconselhou.

-Foi exatamente o que ela me disse sobre você - o menino confessou, ainda mais arrogante - mas eu não posso te culpar, ela é a chefe e manda em tudo por aqui.

-Isso aí, mas o que eu quero dizer com tudo isso é que ela se importa com você, de verdade, como um filho - o mais velho assegurou.

-Eu sei, eu sou grato a ela por isso, mas mãe é uma palavra muito forte - Spider tomou uma postura mais séria - por mais que eu não tenha conhecido a minha, acho que ninguém a substituiria de qualquer forma.

-Sua mãe é insubstituível, tem razão - Miles se sentou ao lado dele, reflexivo - eu sempre me sinto culpado ao pensar nela, sentia... agora sinto que fiz o certo pela Paz, por ter vocês por perto e protegê-los, vocês três.

-Isso é muito bom, pai - Spider deu um sorriso sincero a ele como resposta.

-É sim - ele concordou.

-Varang pode não ser minha mãe, mas ela é uma boa mãe adotiva, madrasta, enfim... - o menino balançou a cabeça - se ela é a mãe que Eywa me deu, ficou contente por isso, eu gosto dela, mesmo sendo assustadora às vezes.

-Mas ela é engraçada e muito doce e carinhosa quando quer, não é? - Miles completou.

-É sim, eu acho que você tá com muita saudade dela, isso sim, chega até a ser fofo - o garoto comentou.

-Eu sou um guerreiro poderoso, eu não sou fofo, filho - Miles brincou com ele, chegando a se projetar para frente e exibir as presas.

-Talvez seja melhor a gente voltar, valeu pelo papo - Spider agradeceu e liderou o caminho de volta para casa.

A volta lhes aguardava com algumas inquietantes surpresas.

Ao se despedir de Miles e Spider naquela manhã, Varang sentiu-se mais agitada e seu bebê igualmente ativo. Sabia que seu parto não estava muito longe. Ela então se ajoelhou, pedindo a Eywa que as coisas fossem diferentes dessa vez, e que da mesma maneira em que um dia a Grande Mãe tinha prometido a ela que teria seu filho, fosse o que acontecesse naquele momento.

Entoando um cântico antigo de boa fortuna, Varang se decorou com as cinzas dos vulcões que cercavam seu lar. Linhas e curvas contornando seus olhos, testa, queixo, peito, braços e pernas. Sem demora, a tsahik da tribo, com um grupo de parteiras, vieram atender sua líder. Ao primeiro grito de dor, elas foram até Varang, a posicionando e a tranquilizando. Para a mãe em trabalho de parto, era difícil ignorar o medo que poderia vir de perder seu filho novamente, mas teria que confiar em Eywa mais uma vez.

Varang podia sentir a luta de sua criança de sair para fora e finalmente vez a luz do outro lado, até que as mãos da tsahik alcançaram seu filho e o puxaram para fora, dando alívio ao corpo e ao coração de sua mãe ao mesmo tempo. O choro encheu o lugar, era uma menina forte e saudável, com uma característica peculiar tinha um dedo a mais em cada mão e pé, como seu pai.

Ela foi entregue à sua mãe, que beijou sua cabeça e agradeceu a Eywa por tudo ter corrido bem, afinal, desejando apenas que Miles estivesse ali para testemunhar o momento. Seu pedido foi atendido quando os ouvidos dele reconheceram o choro da criança que vinha de sua cabana.

-Meu filho nasceu, seu irmão nasceu, Spider! - ele disse completamente eufórico e emocionado, correndo até o lugar.

Ele encontrou o grupo de mulheres, que abriu passagem para ele e o garoto. Sua visão se encheu de Varang e o pequeno embrulho em suas mãos.

-Ele nasceu, ele está bem? - Miles questionou, se aproximando.

-Ela está bem, nós estamos bem - Varang assegurou - ela é uma menina, parecida com você.

Olhando mais de perto, ele percebeu sobre o que ela se referia.

-Espero que isso não seja um problema - ele se preocupou, imaginando se sua filha também não seria chamada de mestiça.

-Não é, é certamente uma benção, a filha de seu pai - Varang disse com orgulho.

-Qual o nome dela? - Spider perguntou, observando mais ao longe, de forma mais quieta.

-Eu pensei em Mawey - a mãe da criança respondeu.

-Quem nos trouxe calma e paz - Miles compreendeu o sentido imediatamente - é muito bonito e perfeito.

-Pensei que gostaria, viva bem, viva bravamente, viva orgulhosamente, ma'ite, herdeira do fogo e das cinzas - declarou Varang para a filha, tendo a concordância silenciosa do pai e do irmão de Mawey com ela.