CAPÍTULO IV

Era reconfortante ver tantas pessoas prestando uma última homenagem a Damon, Elena pensou desolada, as mãos cobertas por luvas e escondidas em um protetor de pele. A manhã de abril era clara e ensolarada, mas ainda fria. Os coveiros haviam trabalhado duro para remover a terra congelada da sepultura que abrigaria o corpo de seu marido.

Elena olhou para o caixão de Damon desolada. Era hora de se despedir. Mas como dizer adeus ao vampiro que cuidara dela, que garantira seu bem-estar e o de seus parentes, que a mantivera segura e protegida? O vampiro que morreu por sua causa? Ainda era cedo demais.

O Reverendo Kieran jogou um punhado de terra sobre o caixão e fitou-a, esperando que ela fizesse o mesmo com o ramalhete de flores que colhera mais cedo. Removendo as mãos do aquecimento, ela pegou o buquê e, contendo as lágrimas que ameaçavam a escorrer por trás do véu negro, jogou-o na sepultura. Depois, respirou fundo para recompor-se e levantou a cabeça. E foi então que o viu.

A exclamação de choque e reconhecimento ficou presa na garganta. O vampiro estava parado a alguns metros do grupo, quieto, uma figura solitária e quase sobrenatural. Tinha certeza de que a encarava com intensidade, apesar das lágrimas e do véu que distorciam sua visão. Era como fitar uma estátua imponente sob o céu subitamente encoberto, uma imagem que era ao mesmo tempo fascinante e assustadora.

Ele parecia mais forte do que antes. Ou seria apenas uma ilusão criada pelo pesado sobretudo negro? Elena sabia que ele era o mesmo, afinal era um vampiro. Devia ter chegado há pouco a Mystic Falls e caminhado sozinho ao cemitério. Não o vira entre o grupo que participara da cerimônia fúnebre na capela. E como ele era muito mais alto que todos os outros homens presentes, certamente o teria visto.

Concentrada no vampiro que a cinco anos ela não via, Elena mal percebeu quando o Reverendo Kieran concluiu o funeral. As pessoas a encaravam impacientes, esperando o sinal para partir.

— Podemos ir, Elena? — Perguntou o Reverendo com tom doce. — Vai acabar congelando se ficar aqui por muito mais tempo.

Relutante, Elena desviou o olhar. Segurando o braço do Reverendo, ela se deixou conduzir pela relva úmida e gelada cortada por outros túmulos. Em breve alcançariam a alameda que os levaria de volta a cidade. O grupo de cerca de vinte pessoas os seguia de perto. Todos teriam o conforto de bebidas quentes e algum alimento quando chegassem à pensão dos Salvatore.

Elena se deu conta de que teriam de passar bem perto do recém-chegado. A cortesia exigia que reconhecesse sua presença, e ela ergueu a cabeça. Os olhos castanhos e firmes pareciam incendiar os dela, ainda inundados pelas lágrimas contidas. Incapaz de desviar o olhar, continuou caminhando até que fitá-lo fosse impossível, e então virou o rosto coberto pelo véu e respirou fundo.

Sentia-se sozinha e assustada, e a ansiedade que antes provocara náuseas e tremores, era intensificada pela presença sombria e remota do vampiro de seu passado. Por que Damon a obrigara a cumprir a promessa de escrever e informá-lo? Nunca existira nenhum laço entre eles além de um distante parentesco que nenhum dos dois tentara reconhecer ou aproximar. Eventualmente ele saberia, porque Klaus viria para o ver o resultado de seu plano. Mesmo assim, teria demorado um pouco mais. Damon também sabia do passado deles, que um dia estiveram envolvidos romanticamente, não entendia o motivo dele ter pedido isso a ela.

Perdida em pensamentos, Elena não viu a mulher de cabelos castanhos claro e ondulados que estava parada, observando o pequeno grupo que deixava o cemitério a caminho de Mystic Falls. Os olhos azuis da mulher seguiam a jovem viúva apoiada no braço do Reverendo, enquanto se aproximava-se do túmulo.

A mulher desconhecida encarou os dois coveiros que se preparavam para fechar a cova, desafiando-os a interrogá-la. Apoiados em suas pás, eles assistiram ao curioso espetáculo oferecido pela mulher que olhava para o caixão parcialmente coberto por flores e punhados de terra. Depois de resmungar alguns palavrões bastante expressivos, a mulher chutou uma boa porção de terra para dentro da sepultura. Em seguida, com um movimento dramático, ela se afastou em direção contrária àquela tomada pelo grupo que seguira para Mystic Falls.