CAPÍTULO XI
Kol viu seu secretário vindo em sua direção no clube.
— Pensei que deveria trazer a mensagem imediatamente, meu lorde. — Kaleb estava no clube de cavalheiros da alta sociedade.
Kol Mikaelson aceitou a nota com ar intrigado, notando apenas que era do banco. Devia tratar-se de algo importante, ou Kaleb não teria ido procurá-lo em seu clube.
Kaleb Westphal era um jovem bruxo de 25 anos, o mais antigo de todos os criados que tinha, o mais leal e valioso, e aprendera a gostar dele como de um parente próximo. As ameaças de demiti-lo eram apenas uma brincadeira que os divertia.
A curiosidade de Kol foi substituída por um sorriso de contentamento assim que ele terminou de ler a missiva. Kaleb antecipara uma reação de choque, talvez até de pesar diante da informação calamitosa, mas seu mestre se mostrava apenas surpreso… e satisfeito. Aquilo o surpreendera. O lorde não parecia se importar com os problemas que afetavam a jovem e vulnerável viúva Elena Gilbert, assim como não se importara quando o marido dela morrera.
Kaleb ouvira falar sobre o incêndio que destruíra um depósito na fazenda Salvatore e sabia, de forma oficiosa, que a Sra. Salvatore estava falida por conta do sinistro, além das dívidas que o marido falecido deixara. Mas isso não era o mais importante, sua vida estava ameaçada pelo Lorde Klaus, irmão de seu mestre, que queria seu sangue para transformar lobos em híbridos. Além disso, Kaleb sabia que mais pessoas poderiam estar interessadas no sangue da jovem viúva, ele ouvira as bruxas comentando sobre o quão precioso devia ser o sangue doppelganger.
Kol pediu licença aos amigos reunidos em torno da mesa de pôquer no Russeau e voltou para a Mansão Mikaelson com Kaleb. Seus pensamentos teriam surpreendido o secretário que, dedicado, o acompanhava na caminhada. O sorriso que bailava em seus lábios não era causado pela satisfação diante do desastre que assolara o destino da jovem viúva, mas do contentamento causado pelo próprio destino.
Kol procurou o gerente de sua conta no banco para pedir que ele lhe informasse sobre qualquer situação referente aos Salvatore, especialmente a Damon Salvatore, alegando que eram parentes distantes e ele se preocupava com a família. Na verdade, Kol sabia que a situação de Elena era difícil, que eventualmente ele receberia notícias, mas não esperava que fosse tão ruim.
Houve um tempo, num passado distante, em que nada acontecera como ele desejava. Agora a sorte era tão favorável que em alguns momentos ficava desconfiado. Durante os dois meses anteriores, estivera aflito tentando encontrar motivos para aproximar-se de Elena e oferecer sua proteção. E agora os tinha. Não só isso, mas estava certo de que ela aceitaria prontamente sua investida. De maneira irônica, essa certeza o desapontava; nada mais parecia representar um desafio. E Kol gostava de desafios.
No primeiro mês seguinte ao reencontro, lutara diariamente para tirá-la da cabeça, buscando consolo em várias mulheres, vampiras e bruxas. No segundo mês, depois de compreender que não poderia esquecê-la, sucumbira ao sofrimento e passara a buscar motivos para voltar a Mystic Falls. Fora, então, que Davina Clair, uma bela e jovem bruxa, sob a tutela de seu amigo Marcel, entrou em sua vida.
Ele a conhecera quando ela ainda era uma criança. A mãe dela fora assassinada, deixando-a órfã, já que o pai estava morto também. Marcel, que era amante de sua mãe, assumiu a responsabilidade pela garota, sua guarda, tornando-se seu tutor. Davina era uma bruxa muito poderosa, herdeira da realeza dessa espécie em Nova Orleans. E Kol amava as bruxas. Ela tinha apenas 16 anos, era muito bonita e estava claramente encantada com ele. De alguma forma, ele passou a pensar em uma união com a jovem, uma conveniente união. Do jeito que ele queria.
Mas agora, Elena voltara aos seus pensamentos. Um motivo para ele ir até Mystic Falls apareceu, e a obsessão em possuir a jovem viúva Elena Salvatore ressurgiu com intensidade. A única possibilidade de cura era entregar-se ao desejo até esgotá-lo, e era exatamente isso que pretendia fazer. Depois, poderia voltar a Nova Orleans e assumir um compromisso com Davina.
Sendo assim, a iminente falência de Elena não o incomodava, porque era oportuna. O fato de seu irmão a prossegui-la também não o incomodava, porque ele sabia onde Klaus estava e quais eram seus planos. Seu irmão estava perseguindo matilhas de lobos, procurando em toda parte. Ele queria convencê-los a se tornarem híbridos, mas não estava obtendo muita sorte. Kol sabia que as matilhas fugiam de seu irmão. Então, Kol poderia garantir que Klaus não faria nada à Elena por enquanto, porque seu irmão tinha outras preocupações no momento. Mas Elena não precisava saber disso.
Torná-la sua amante era um desejo antigo, fazia parte de sua vingança contra os Gilberts. Seu pai dissera que ele não servia para ser seu marido, pois bem, ele faria dela sua amante, algo baixo e humilhante para sua posição, como John Gilbert o considerava. Apesar desse desejo de vingança, Elena seria bem cuidada, como todas as suas mulheres, mesmo ela não sendo como as outras. Nenhuma mulher o afetara como ela, despertando instintos de proteção e sentimentos que ele não conseguia decifrar.
Kaleb abriu a porta da imponente mansão, ansioso pelo conforto do fogo que ardia na lareira. Olhou para trás e viu o mestre caminhando lentamente, sorrindo, pisando no solo gelado como se desfrutasse de um lindo e ensolarado dia de primavera. Ele tinha que confessar, seu mestre era muitas vezes estranho.
Kol era um grande homem de negócios, cuidava de cada negócio pessoalmente, sempre atento a todos os detalhes. Também era um bom vampiro, sempre com apetite de sangue e diversão, mas não um assassino. Pelo menos não mais. Apesar do que disseram sobre seu passado, ele era diferente agora. Seus empregados não tinham do que reclamar, desde que demonstrassem lealdade e empenho no cumprimento de cada tarefa.
Kaleb não entendia os motivos de seu mestre, mas sabia que ele se sentia feliz com a miséria da jovem Elena Salvatore. Seu patrão sempre fora excêntrico, mas isso era novo. Em todos os anos em que trabalhava para o lorde, era a primeira vez que o via esboçar uma emoção diante de alguma tragédia, geralmente ele era indiferente.
E o jovem empregado não estava errado. Kol antecipava seu encontro com Elena e a realização de seus desejos mais ocultos.
