CAPÍTULO XIII
Elena acabou concordando e viajou para Nova Orleans com a tia. Elas foram de carruagem e Elena acordou com um solavanco. Inclinando o corpo para a frente, olhou pela janela do coche e examinou o cenário sombrio. As casas eram cada vez mais próximas, um sinal de que estavam nos limites da cidade.
Pelo adiantado da hora, deviam estar perdidos. Quem guiava o coche era o tio de Matt, que não conhecia bem o caminho. Como o jovem Matt tivera de ficar para cuidar da pensão e de seu pai, uma vez que era o único criado disponível, Elena fora forçada a aceitar a indicação do criado para um cocheiro. Seu tio, um aposentado, aceitara o trabalho com euforia. Infelizmente, o homem não percorria o trajeto até a cidade há dez anos, e não era exatamente um modelo de memória.
George Donovan já errara o caminho duas vezes. Inquieta, Elena havia sugerido que desistissem da viagem. Penny, a criada, concordara com entusiasmo, mas tia Jenna rejeitara a sugestão com firmeza, ressaltando a importância da viagem e lembrando que Josette as esperava e ficaria preocupada, caso não aparecessem em sua casa ainda naquela noite. Josette as hospedaria por uma semana em sua casa, e a ideia de preocupar uma anfitriã tão generosa e dedicada levara Elena a decidir pelo prosseguimento da jornada.
Já acumulavam várias horas de atraso por conta dos desvios promovidos pelo Sr. Donovan, e tudo o que Elena queria era chegar ao destino. Olhou para as duas companheiras de viagem. Ambas dormiam profundamente. Depois da discussão sobre seguirem viagem ou retornarem à Mystic Falls, nenhuma das duas voltara a falar, e a única demonstração de ressentimento entre elas era a distância que mantinham uma da outra, apoiadas cada qual em um canto do banco do coche. A carruagem parou. Elena olhou pela janela e viu os prédios mais sólidos e as pedras que pavimentavam as calçadas. Nova Orleans! Finalmente.
No entanto, gritos e assobios ecoaram na noite fria, e ela tinha a impressão de poder identificar o aroma de alcatrão e de água em meio a tantos outros que assaltavam seus sentidos. As velas e os mastros de algumas embarcações erguiam-se como esqueletos cinzentos contra o céu escuro. Um menino de sete ou oito anos aproximou-se com a mão estendida, pedindo moedas. Roupas esfarrapadas cobriam seu corpo magro, e a imagem oprimiu seu coração generoso.
O barulho típico da cidade era cada vez mais intenso. Aromas intensos, alguns agradáveis, outros repugnantes, penetravam pela janela do coche, e Elena fechou a cortina. Aproveitaria os últimos minutos do trajeto para cochilar e repousar. Mas não conseguiu, porque acordou, pouco depois, o coche estava parado. George Donovan conversava com alguns cavalheiros na rua, olhando em volta como se tentasse localizar a área onde se encontrava. Sem pensar, Elena saltou do veículo para ir ao encontro do cocheiro.
— Sr. Donovan! O que está acontecendo? Por que paramos?
— Tenho uma pequena dúvida, Sra. Salvatore. Volte para a carruagem enquanto tento descobrir onde estamos, sim?
— Espere um minuto. Estamos perdidos novamente? — Elena o encarrou irritada e suspirou para se conter.
Abrindo bem os olhos, olhou para o homem que estivera conversando com George, um sujeito de barba cerrada, sobrancelhas espessas e olhos negros e atentos. Esses mesmos olhos avaliaram suas roupas antes de buscarem a carruagem atrás dela. Elena foi tomada pela tensão. Duas mulheres dormiam desprotegidas dentro do veículo. Precisava distrair o desconhecido.
— Está acontecendo alguma coisa de extraordinária por aqui? — E apontou para um círculo de pessoas que riam e aplaudiam algo que ela não podia ver.
A multidão era rapidamente engrossada por outros indivíduos que saíam de ruas transversais e lojas alinhadas ao longo das calçadas. Homens embriagados cambaleavam e riam. Duas mulheres maquiadas e extravagantes passaram por perto dela e a submeteram a olhares de desdém e inveja.
— Olhe só para ela… — Uma provocou. As duas riram e, enquanto se afastavam, fizeram gestos obscenos e gritaram palavrões.
— Cuidado com a língua, meninas! — O grandalhão censurou-as rindo. Depois olhou para Elena. — É um jogo, de apostas. As apostas são altas por aqui. Estamos no porto, o comércio é bom, o que atrai gente de todos os lugares. Não se preocupe, não ficará sozinha com os rufiões. Cuidarei de você e descobrirei o melhor caminho para chegar aonde quer que você esteja indo... — Seus olhos tentavam enxergar além da abertura do sobretudo que a protegia do frio. A gola entreaberta oferecia uma promessa deliciosa.
Recuando um passo, ela decidiu agir.
— Apostas? — repetiu, fingindo interesse no passatempo bárbaro. Tinha de desviar à atenção do sujeito da carruagem onde Penny e tia Jenna dormiam. — Nunca vi um jogo desse tipo. — Elena disse, caminhando em direção ao monte de pessoas.
— E nunca verá — ele respondeu, impedindo sua passagem com o corpo. — O que faz aqui? Uma mocinha encantadora como você… Veio em busca de aventuras? Já sei! É uma dessas damas entediadas. Se vier comigo, prometo mostrar um esporte muito mais divertido que uma briga de galos. — Rindo, segurou-a pelo braço.
Elena sentiu pânico.
— Solte-me imediatamente! — Elena exigiu, a fúria tomando o lugar do medo.
— Soltá-la? Não está na Virgínia, doçura. Aqui é meu território, e vai ter de fazer tudo que eu…
Elena não ouvia mais nada. Atrás do desconhecido, dois cavalheiros de aparência distinta conversavam e riam. Um deles olhou em sua direção, e seu rosto tornou-se sério.
— Kol… — ela o reconheceu com um misto de espanto e alívio.
— Elena? — O jovem vampiro estava mais do que surpreso.
Aproveitando o momento de distração, o homem a puxou pela gola de seu casaco. Elena nem teve tempo de tentar reagir, porque uma força poderosa o arrancou do chão e ela se viu colada ao corpo do homem.
— Ela não é seu tipo, Alexander.
O homem arregalou os olhos. Em vez de agredir aquele que arruinara seus planos para uma noite de diversão, ele ofereceu um sorriso trêmulo e assustado.
— Sinto muito, meu lorde. Não sabia que ela era sua. — E executou uma cortesia desajeitada antes de afastar-se correndo.
Elena se preparava para agradecer a ajuda de Kol, quando ele a segurou pelos braços e empurrou-a contra a parede de um edifício na calçada, fora do caminho dos transeuntes.
— O que está fazendo aqui? — Kol Mikaelson indagou furioso. A reação inesperada a encheu de pavor.
O desconhecido a alarmara, mas aquele vampiro que julgava conhecer a aterrorizava. No entanto, havia um estranho sentimento de segurança em sentir o calor de suas mãos e sua presença imponente.
Ela não devia temê-lo. Sabia que o temor por sua segurança despertara a ira que via em seus olhos castanhos. O instinto de proteção emanava de seus poros como uma luz, traduzido pela postura rígida e pela maneira como ele a protegia com o corpo de olhares curiosos. Elena o encarava, incapaz de falar. Julgara ter esquecido tudo aquilo, banido de sua vida aqueles sentimentos. Mas o toque… o calor de seu corpo, o perfume másculo da pele firme…
— O que está fazendo aqui? — Kol repetiu impaciente, apertando seus braços e seu corpo contra a parede fria.
Aquilo doeu, e foi a dor que trouxe sua voz de volta.
— Procurando por você. — Elena respondeu.
