CAPÍTULO XIV

— Procurando por mim? — Kol tinha um sorriso sarcástico no rosto.

Vermelha, Elena reconheceu a verdade nas palavras impensadas. Embora estivesse indo com sua tia para um aniversário, isso era um pretexto. Deixara Mystic Falls para ir procurar por ele e pedir que a aceitasse. Planejara pedir a ele para salvá-los da destruição, ela e sua família. Mas para isso, precisava ser novamente desejada por Kol Mikaelson.

Sem perceber, planejara um encontro mais favorável. Talvez, quando estivesse mais bem vestida, pudesse encantá-lo como no passado. Mas estava cansada e despenteada, perdida em um bairro perigoso, cercada por pessoas de hábitos e reputação duvidosa. Não poderia ter escolhido pior momento para deixar escapar a vital informação!

— Estou honrado por ter vindo a um dos piores distritos de NOLA só para encontrar-me, Sra. Salvatore, mas um cartão de visitas enviado à Mansão Mikaelson teria sido mais sensato.

A ironia e o tratamento formal a despertaram do devaneio. Agora era a Sra. Salvatore, um estorvo que prejudicava sua diversão noturna.

— Era o que pretendia fazer, Sr. Mikaelson. Não vim aqui para encontrá-lo. Como poderia conhecer seu paradeiro? Nós nos perdemos e… — Céus! Esquecera completamente a tia e a criada! — Agradeço por sua valiosa ajuda senhor. Lamento tê-lo detido — disse, tentando soltar-se e voltar ao coche.

Mas Kol ainda a segurava pelos braços, pressionando-a contra a parede suja e fria do edifício.

— Quer mesmo enfrentar sozinha essa multidão de bêbados, Sra. Salvatore? Teve sorte por ter encontrado Alexander. Comparado aos outros, ele é um anjo de bondade. Como outros que perambulam por aqui esta noite, ele é meu empregado. Caso contrário, você, eu e meus amigos estaríamos lutando para não perder nossos valores… e nossas vidas.

— Eu não queria causar problemas — Elena gaguejou, amedrontada.

— Não tem a menor ideia de onde está, não é? Há uma deplorável falta de cavalheirismo neste distrito, cheio de vampiros, lobisomens, bruxos e homens comuns.

— Já notei, lorde Mikaelson. Por favor, deixe-me passar. Preciso voltar para perto de minhas acompanhantes, e não quero mantê-lo afastado de seus amigos.

— Acompanhantes? Pensei que estivesse aqui sozinha... — ele riu.

— Não, vim com minha tia e nossa criada Penny, e estou aflita com nosso bem-estar, especialmente depois do que disse e… — Era impossível continuar fingindo.

Elena deixou que a tensão e o medo finalmente abalassem sua compostura, fazendo brotar lágrimas de seus olhos. Como fora estúpida! Em todos os sentidos. Não soubera chegar ao lugar de destino, vindo até um local deplorável e perigoso. Não devia ter expressado a intenção de encontrá-lo, quando ele a salvou. Não devia ter esperado um tratamento respeitoso e gentil. Se ele fora capaz de abandoná-la para buscar diversão poucas semanas depois de tê-la pedido em casamento e jurado amor eterno, de que ele seria capaz agora, cinco anos mais tarde?

Kol esquecera o envolvimento da juventude e deixara esse esquecimento claro quando estivera, meses atrás, em Mystic Falls. Lembrou-se do que a tia havia dito sobre as amigas do Lorde Mikaelson e das mulheres que a ofenderam pouco antes. Seriam como essas as jovens com quem ele se relacionava? Incapaz de conter uma reação desesperada ela cerrou os punhos e atacou-o, tentando libertar-se. Kol enlaçou-a pela cintura e, usando uma das mãos, puxou sua cabeça de encontro ao peito. E de repente, foi como se o tempo não houvesse passado. Como se ainda ontem houvesse encontrado conforto naquele mesmo abraço.

Ela se agarrou a ele, apertando seu casaco, aproximando seu corpo do dele, mesmo que involuntariamente. Uma enxurrada de emoções a inundando. Ela ficou em silêncio, deixando que as lágrimas silenciosas caíssem. Apesar de tudo, sentia-se bem ali com ele. O cheiro de colônia masculina, os músculos rígidos, o toque suave, tudo era tão bom que Elena queria que o tempo parasse naquele momento. Tanto que ela se permitiu ficar assim alguns minutos.

Os risos e gritos ficaram mais altos, e isso a despertou para a realidade.

— Preciso voltar para perto de minha tia. Temo que algo de mal tenha acontecido… — Ela disse, ainda agarrada a ele.

Kol a soltou devagar. Afastando-se um pouco, mas mantendo um braço sobre seus ombros, ele começou a abrir caminho em meio à multidão, guiando seus passos sem dificuldade. Elena, ainda próxima ao vampiro, notou que Alexander os seguia com os olhos e perto dele havia uma mulher. Ela usava um traje elegante que a destacava do grupo, dando a impressão de que ela não fazia parte daquele lugar.

A cabeça de cabelos loiros virou-se, e os olhos azuis estudaram a paisagem antes de encontrá-la. Surpresa, Elena leu o reconhecimento e o ódio naquele olhar. Os olhos felinos buscaram Kol com um misto de cobiça e ressentimento. A mulher falava com Alexander. Ele parecia assustado e fitou-os por alguns instantes antes de abaixar a cabeça. A misteriosa dama se afastou imediatamente. O homem a seguiu. As pessoas mais próximas se voltavam para observar a cena com curiosidade. Segundos depois, o casal desapareceu na rua movimentada.

Kol e Elena continuaram caminhando, também sendo vítima de olhares e comentários. Elena não conseguia ouvir, mas tinha certeza de que Kol sim. Ele tinha uma expressão séria no rosto. Estavam chegando perto do coche, e Elena viu a tia e a criada paradas ao lado do coche.

— Você é um homem estúpido! — Jenna gritava. — Qualquer idiota sabe que não estamos no lugar certo. Olhe em volta! E você, Penny, pare de chorar, ou vai chamar a atenção de todos os ladrões da região com suas lamúrias! Agora o que mais me preocupa...

— Depressa, entrem na carruagem! — Elena se aproximou, dizendo sem rodeios. — Precisamos ir. Vamos, George, tome seu posto, temos de sair daqui o quanto antes.

— É claro, Sra. Salvatore. Se mantivermos o rio à esquerda e a lua à direita…

— Estará aqui novamente em menos de dez minutos — Kol interferiu irritado.

Jenna o reconheceu e olhou para a sobrinha como se quisesse congratulá-la, o que causou um enorme desconforto em Elena. Ela esperava que o vampiro não houvesse notado a satisfação nos olhos de sua tia. Mas o sorriso cínico que ele deu a ela destruiu sua esperança.

— Por sorte, lorde Mikaelson estava aqui com alguns amigos — ela explicou.

— E que sorte! — Jenna confirmou entusiasmada.

— Entre no coche agora mesmo, tia. E você, Penny. Andem! Devemos partir.

As mulheres não discutiram, subindo rapidamente no coche. Depois de certificar-se de que as duas mulheres estavam seguras dentro do veículo, Elena encarou Kol com a intenção de demonstrar sua gratidão.

— Obrigada por sua proteção, meu lorde.

— Pode desfrutar dela quando quiser, Sra. Salvatore. — A insinuação causou um rubor que ela não conseguiu esconder. — Se quer mesmo alcançar seu destino esta noite, Sra. Salvatore, talvez eu deva acompanhá-la. Seu cocheiro parece confuso.

George Donovan segurava as rédeas das duas éguas que puxavam o coche e olhava em volta, como se não soubesse para onde ir. Temendo acabar em local ainda pior do que aquele, Elena assentiu.

— É muito gentil, senhor. Obrigada!