CAPÍTULO XVII

Os dois homens fizeram uma cortesia polida diante das visitantes.

— Sra. Salvatore… Sra. Sommers… É um prazer recebê-las em minha casa.

Elena levantou-se e executou uma cortesia nervosa. Estava tão tensa que não conseguia raciocinar. Havia esperado encontrar conforto e apoio na presença sempre segura da tia, mas Jenna permanecia sentada e quieta, fascinada pelo luxo que a cercava.

— Lembra-se do Sr. Gerard?

O tom frio de Kol penetrou em sua mente confusa.

— Sim, é claro — Elena respondeu com um sorriso forçado. — Como vai, Sr. Gerard? – ela tentou não demonstrar tanto nervosismo.

— Muito bem, obrigado. Espero que esteja bem, Sra. Salvatore. Trouxe sua tia, não?

— Oh, sim, perdoe-me pelo deslize. Deixe-me apresentar a Sra. Sommers. Tia Jenna, este é o Sr. Marcel Gerard, amigo de Lorde Mikaelson. Creio que teve oportunidade de encontrá-lo uma ou duas vezes quando estiveram em Mystic Falls.

Jenna sorriu e assentiu, mas permaneceu sentada. A entrada de duas criadas uniformizadas interrompeu a estranha e difícil conversa, e logo o chá foi servido. Elena aceitou uma xícara para manter as mãos ocupadas, porque tanta opulência a oprimia. Agora estava certa de que era uma tola arrogante por imaginar que tão rico e poderoso vampiro se casaria com uma viúva humana que não tinha nada a oferecer, a não ser problemas.

Marcel sentou-se ao lado de Jenna e começou a falar sobre os benefícios do ar do campo. Aos poucos, sua tia foi recuperando a atitude casual e bem-humorada. Ela estava até sorrindo enquanto conversava e tomava chá com o Sr. Marcel.

Devagar, Elena ergueu os olhos para encarar o visconde. Quanto antes acabasse com seu martírio, melhor. Ele a fitava com um sorriso apagado, como se conhecesse o verdadeiro propósito de sua visita e tirasse uma enorme satisfação disso. O que estava fazendo ali? Nunca se sentira mais humilhada, e ainda nem pedira nada.

— Tem uma bela casa, Sr. Mikaelson… Quero dizer Lorde Mikaelson…

— Pode me chamar de Kol, se preferir. E fico feliz por ter gostado de minha casa. Quer conhecer os outros aposentos?

A oferta era casual, mas Elena conhecia seu propósito. Fora procurá-lo para tratar de um assunto delicado que exigia privacidade, e ele estava oferecendo uma chance de ficarem a sós.

— Sim, obrigada.

Aceitando o braço do vampiro que até então se portava como um cavalheiro, ela se deixou levar pelo corredor até o escritório, onde, segundo o próprio Kol, ele passava a maior parte do tempo.

— Sente-se, Sra. Salvatore!

Elena escolheu uma cadeira perto da janela e apreciou a beleza do jardim que cercava a residência. Nervosa, apoiou as mãos sobre as pernas, sobre o vestido de seda cinza-pérola, e decidiu que não se deixaria intimidar. Kol a convidara para ir visitá-lo. Não estava impondo sua presença. De qualquer maneira, podia ao menos tentar conversar. Haviam sido amigos no passado. Depois, quando finalmente fizesse sua proposta…

— Como vai sua mãe, Lorde Mikaelson?

— Não posso dizer com certeza. Na última vez em que a vi ela parecia bem em seu caixão, mas isso foi há mais de um ano. Ela estava planejando nossa morte e Klaus a matou. Mas você sabe, ela é a bruxa original... Não podemos dizer com certeza que ela se foi... Seu corpo está selado, no entanto, e somente Klaus sabe de sua localização.

— E onde estão seus irmãos?

— Finn vive com a esposa, Sage, na Noruega. Elijah e Klaus estão na Bulgária... Alguma coisa relacionada a maldição do sol e da lua... Aquela na qual você é peça chave...

Elena estremeceu, mas no fundo sentia alívio ao saber que Klaus não se encontrava na cidade e nem no país. M

— E como vão suas irmãs?

— Freya vive na Noruega, também, assim como Finn. Eles sempre foram muito próximos... Já Rebekah está voltando de uma viagem a Londres nos próximos dias.

— Que maravilha! Londres deve ser uma bela cidade.

— Sim. Tenho certeza de que Rebekah se divertiu.

Elena refletiu sobre o modo como Kol falava de sua família, com indiferença. Ela sabia que o relacionamento na família nunca fora pacífico, mas eles tinham uma ligação forte. Isso fazia Elena pensar que fora outra tolice considerar que mereceria, ou mesmo receberia, um tratamento distinto. O melhor para ela seria despedir-se, deixar a mansão e buscar refúgio na simplicidade de Mystic Falls e na presença plácida de Logan Fell.

Kol aproximou-se da janela e pensou na família, se é que podia usar esse termo. Haviam passado por tantas coisas, entre idas e vindas, mas agora estavam juntos, exceto por seus pais, que Klaus tinha matado. Ele não culpava o irmão, concordava com o que ele tinha feito. Os pais os queriam mortos, mas eles mereciam viver. Bem, na maior parte do tempo. Seus irmãos viviam suas vidas, com seus próprios assuntos, mas uma hora ou outra, todos se reuniam.

Afastando a questão da mente, olhou para a visitante e notou que ela tremia, uma reação que tentava esconder. Testemunhar seu nervosismo o acalmava. Pressentira que ela havia sido uma esposa fiel, sem experiência em negociações como a que estava prestes a fazer. E como ele era mais experiente do que gostaria de admitir, decidiu tornar a situação menos penosa para ela.

Lembranças amargas provocaram uma certa hesitação. Há cinco anos, Elena não tornara as coisas mais fáceis para ele. Arriscara a própria vida por ela, seu irmão ameaçou adorná-lo e mesmo matá-lo, mas a jovem que povoara seus sonhos não correra nem mesmo o risco de esperar por mais alguns dias. Seu pai o expulsara, mas ele fora ainda fora atrás dela, apenas para descobrir que ela havia se casado com Damon Salvatore. Ainda podia lembrar a angústia causada pela descoberta de seu casamento.

— Como vai seu pai? — perguntou, tentando acalmá-la com uma conversa casual.

O sorriso doce e grato o atingiu com um soco no estômago.

— Ele está muito bem, obrigada. Tem dias, às vezes semanas de lucidez, mas em alguns períodos não consegue nem mesmo reconhecer os parentes. Ou o lugar onde vive. Acredita que minha mãe ainda vive. Sua saúde física, como sabe, continua comprometida.

Kol não estava interessado em John Gilbert. Mas se interessava pela filha dele. Gostaria de tocá-la, beijá-la e fazer muito mais coisas com ela. E para conter o ímpeto, serviu-se de um copo de whisky. Elena percebeu e interpretou de maneira acertada, ele estava contendo alguma emoção a respeito dela, e Elena secretamente ansiava que não fosse desprezo.

— Creio… que devemos abrir a porta — sugeriu constrangida. — Minha tia pode estar procurando por mim…

— Está preocupada com sua reputação, Sra. Salvatore?

A pergunta sarcástica despertou sua revolta.

— Um de nós tem de pensar nisso, Lorde Mikaelson.

— Acredita que ainda tenho uma reputação a preservar?

— Sim.

— E por que se preocupa comigo?

— Porque um marido deve ter o respeito de sua esposa.

— Um… o quê? — Kol murmurou chocado. Elena sabia que não podia voltar atrás.

— Devo me desculpar por falar com tanta ousadia. Espero que compreenda, mas minha situação justifica medidas desesperadas. Medidas humilhantes, tenho certeza. Estou viúva há menos de três meses, e reconheço que teria sido escandaloso retornar à vida em sociedade ou pensar em outro casamento num período tão breve. Por isso peço desculpas por qualquer constrangimento que possa lhe causar. Infelizmente, as circunstâncias não permitem certas… delicadezas e atendimento as normas. Disponho de uma única semana aqui em Nova Orleans e devo esforçar-me para solucionar minhas dificuldades antes de retornar a Mystic Falls. O advogado de meu finado marido afirma que tenho dívidas …

— Exorbitantes, eu sei. Cerca de 100 mil libras — Kol anunciou com tom frio enquanto ia abrir a porta.

— Cem mil? — Elena repetiu num sussurro horrorizado, tão chocada com a soma que nem questionou como ele poderia conhecê-la.

Kol aproximou-se da mesa e apoiou-se nela. Com expressão neutra, fez um gesto indicando que ela devia prosseguir.

— Eu… gostaria de lhe propor casamento. — As palavras soaram apressadas no silêncio gelado. — Sei que deve estar imaginando o que teria a ganhar com um casamento de conveniência…

— Conveniência? — Kol ergueu uma sobrancelha.

— Bem, compreendo que já não… não existe afeição entre nós. Sei que é… que tem uma vida em Nova Orleans da qual prefere que eu não faça parte. Tem seus amigos, seu círculo social, suas amantes… e eu tenho a pensão e meus familiares. Um casamento apenas em tese não seria inconveniente para nenhum de nós.

— Deixa eu ver se entendi... Eu me caso com você, pago suas dívidas, mantenho as propriedades que herdou de outro homem e que nunca serão minhas, como determinam quase todos os testamentos, garanto seu sustento e o de seus dependentes, protejo você de meu irmão, crio uma briga em família e em retorno… O que tenho a ganhar, Sra. Salvatore?

Elena sentiu o sangue inundar seu rosto. Havia sido arrogante e ultrajante propor um acordo tão unilateral.

— A fazenda Salvatore é uma bela propriedade, que tem muito a oferecer — explicou apressada. — Sei que sua família possui terras vizinhas, então poderá tirar proveito dela, expandindo seus negócios. Posso passar a posse, mesmo que não definitiva, para o Sr. Poderá dispor das terras como se fosse o legítimo dono do lugar...

Elena estava nervosa. Kol a encarava com um olhar atônito... A voz de Jenna precedeu sua entrada no lugar onde estavam. Ambos ficaram em silêncio.