CAPÍTULO XIX
Certa tarde, Elena se encontrava na casa dos Saltzman conversando com Josie.
— Não deve se lembrar de mim, porque eu era bem pequena quando fui a Mystic Falls — Josie comentou enquanto analisava alguns vestidos diante do espelho. — Quando ia às compras com mamãe e Liz, eu a via com sua tia. Sempre pensava em como gostaria de ser como você, bela e popular. Lorde Mikaelson estava sempre por perto, assim como a irmã dele. Eu tinha dez anos, e você era tão bonita e sofisticada. Teria gostado de tê-la como amiga. Liz, por outro lado, queria ser como Rebekah Mikaelson.
— É irônico — Elena respondeu com um sorriso triste. — Quando tinha dezesseis anos eu estava longe da sofisticação, não passava de uma jovem tola e imatura. Mas agradeço pelos elogios. É bom saber que não parecia tão estúpida e crédula quanto era. Rebekah sim, era como você descreveu. Mas estou feliz por sermos amigas agora. Quero que vá me visitar em Mystic Falls quando puder.
Com o coração oprimido, Elena lembrou-se de que em breve talvez tivesse que deixar Mystic Falls, pois era possível que perdesse tudo.
— Gostaria de poder aceitar seu convite imediatamente — suspirou Josie. — Notei que Lorde Mikaelson a cercou de atenção quando esteve aqui naquela primeira noite. Mamãe diz que ele é o melhor partido da cidade e está desesperada por sua presença em minha festa de aniversário com Liz. Quanta tolice! É evidente que ele não tem intenção de abrir mão de sua liberdade. Mas sei que ele virá ao baile porque você está aqui. Liz está empolgada com isso.
— Lorde Mikaelson é um parente distante de meu finado marido, além de ser o irmão de Rebekah, que considero uma amiga. — Elena explicou embaraçada. — Nós nos reencontramos quando ele compareceu ao funeral de Damon. Deve saber o que dizem sobre sua reputação. Mas eu notei que você não se deixou impressionar por sua presença naquela noite, como sua irmã. — Tentando mudar de assunto, Elena apontou para um vestido de cor verde. — Por que não usa aquele? Combina com seus olhos.
— É um de meus favoritos, mas mamãe o detesta. Não é elaborado o bastante para seu gosto. Mesmo assim, vou seguir seu conselho e usá-lo com meus brincos de esmeraldas. Acha que sua criada poderia pentear meus cabelos?
— É claro que sim.
— Vai à casa dos LaRue esta noite, não? Não suportaria uma noite de cartas e canto desafinado sem alguém interessante com quem conversar.
— Não sei se tia Jenna e eu fomos convidadas. Além do mais, não quero me tornar alvo da maledicência alheia por frequentar tantas ocasiões sociais estando ainda de luto.
— Seu marido deve ter sido um homem especial, ou não teria insistido para que não desperdiçasse sua juventude chorando por ele.
— Damon foi o melhor de todos. — Era impossível não o comparar a outro cavalheiro que, sabia, era o oposto.
Desde que deixara a Mansão Mikaelson há dois dias, banira da mente Kol Mikaelson e sua proposta ofensiva. Mas não conseguira apagar o temor de que os outros homens a vissem da mesma maneira e a considerassem acessível a seus planos devassos.
Elena sempre recordava da noite em que chegara, quando Kol a salvara dos perigos de um distrito pobre e povoado por pessoas de má índole. Lembrava-se nitidamente da mulher loira, cujos olhos azuis a fitaram com rancor, ciúme e rivalidade. Aquela devia ser uma das amantes de Kol.
— Não posso dizer que Lorde Mikaelson não me impressione — Josie confessou. — Entendo o que o torna tão popular entre as mulheres. Afinal, duvido de que algum dia tenha visto outro homem tão atraente. Mas eu gostava de alguém, ainda estou sentindo sua falta… E minha mãe o despreza por não ser um bruxo. Oh, sim, e pobre, o que é um defeito imperdoável aos olhos de mamãe. Mas, para mim, o que impede o relacionamento é saber que ele ama outra pessoa. Ele não escondeu isso quando me pediu em casamento. — A jovem deixou o vestido sobre a cama e encarou a amiga. — Oh, como gostaria de poder fugir para sua adorada cidade! Não sei se poderei suportar os esforços casamenteiros de minha mãe no próximo final de semana. Minha irmã, por outro lado, está mais do que animada. Espero que mamãe se concentre nela e me deixe em paz.
Elena encarou a jovem. Ela tinha 15 anos e estava apaixonada. Quase a idade que Elena tinha quando entregou seu coração a Kol. Ela concordava com o que Josie dissera. Kol era encantador quando se propunha a ser. Gentil, delicado, generoso… Mas também sabia ser grosseiro, ofensivo e insensível quando queria.
Enquanto Josie experimentava o vestido, Elena meditou sobre suas possibilidades. Na semana seguinte, quando deixasse a capital, teria de cuidar da venda da herança de seu finado marido e dar a triste notícia à sua família, assim como teriam que ir embora, para algum lugar que significasse segurança. Ela sabia que Klaus a caçaria. Poderia ficar e casar com o Sr. Fell, mas ainda assim, seus entes queridos estariam em perigo, como acontecera com Damon. Ela não poderia suportar alguém morrendo por ela novamente. Outra possibilidade seria tentar um acordo com Klaus, seu sangue pela segurança daqueles que ela amava... Mas o que Kol dissera abalou esta possibilidade... Klaus poderia aprisiona-la e depois matar toda a sua família...
Lembrando-se de Kol, ela sentiu raiva. Se tivesse uma chance de se vingar antes de partir e aceitar a proposta de Logan Fell, não vacilaria. Ela não hesitaria em puni-lo por tê-la tratado de forma tão vil, como se ela fosse uma prostituta. Lembrava-se de ter ouvido o pai contar-lhe que ele a considerava assim há cinco anos. Apesar de John Gilbert já ter dado os primeiros sinais de demência naquela época, fora perfeitamente razoável em sua opinião sobre o ser vampiro que um dia ela, como uma idiota, amara e idolatrara.
Elena suspirou, tentando não mais pensar nisso. E longe dali, no clube de cavalheiros, Kol buscara diversão com seus amigos.
— Tirou a carta do alto do maço?
A pergunta provocou um silêncio profundo.
— O que foi que disse? — Kol Mikaelson indagou com tom ameaçador, mantendo os olhos fixos no homem sentado à sua frente.
Alaric Saltzman não conseguia desviar o olhar do dinheiro acumulado sobre a mesa. Dinheiro que em breve desapareceria no bolso do oponente. Aflito, tentou umedecer os lábios com a língua. Precisava de um drinque, mas o que tinha não era suficiente nem para comprar aguardente no bar mais barato da cidade. Perdera tudo, inclusive o crédito no Russeau's. E perderia também o direito de frequentar o elegante clube de cavalheiros, a menos que agisse com cautela. Não sabia se Kol Mikaelson havia roubado. Provavelmente não. O homem tinha tanta sorte, que não precisava trapacear. Fosse com mulheres, jogo ou comércio, sempre levava a melhor. A acusação fora apenas um desabafo, uma reação instintiva provocada pelo desespero.
— Desculpe meu caro! Foi só uma piada — disse. — Você venceu. Está acabado. E mesmo que houvesse roubado, eu não ousaria aborrecê-lo. Minha mulher me mataria! Ela conta com sua presença na festa de nossas filhas no próximo sábado.
Kol sorriu, mas não revelou seus planos para o final de semana. Alaric relaxou. Talvez estivesse diante da perspectiva de um drinque.
— Talvez não saiba, mas estamos hospedando uma sensual e jovem viúva em nossa casa. Se fosse você, eu não perderia o baile. Afinal, seria oportuno dispor de duas possibilidades de diversão no mesmo bairro, se entende o que quero dizer.
Kol entendia, e não gostava de ouvir o sujeito se referindo naquele tom a sua mais recente presa e à amante que instalara no bairro, Astrid.
— É melhor tomar cuidado com a língua, Saltzman. A viúva de quem está falando é Elena Salvatore. Ela foi casada com um parente e é uma amiga íntima de minha irmã. Tenho realmente um interesse especial em seu bem-estar, e é bom saber que as notícias já estão correndo pela cidade.
O sujeito acabara de prestar um favor. Alaric Saltzman criara a oportunidade perfeita para que pudesse afastar possíveis pretendentes à mão ou à cama de Elena enquanto fingia ser apenas um parente generoso. O tolo merecia um drinque!
— Sinto muito, Mikaelson. Não quis ofender ninguém. Se soubesse que existe um parentesco entre você e a jovem viúva…
— Tudo bem, eu entendo. Quer beber alguma coisa, Saltzman? Eu pago.
— Só uma dose — Alaric aceitou com gratidão e alívio. — Tenho de ir para casa cedo. Minha mulher vai me arrastar para uma daquelas festas aborrecidas dos LaRue, e prometi que desta vez não me atrasaria.
Mais uma informação valiosa. Kol chamou o garçom.
— Fala de James e Josephine LaRue?
— Sim, aquele casal tedioso. E as filhas, então? Especialmente a mais velha, Fauline. Pelo menos as jovens são belas, e é sempre bom ter uma paisagem agradável diante dos olhos.
Assim que o drinque foi servido, Alaric bebeu com avidez.
— Estou feliz com a amizade entre Elena e Josie. Minha filha sempre foi muito sozinha e quieta, mas agora as duas estão sempre juntas. A viúva de seu parente é uma mulher de natureza doce e encantadora. Liz é mais como a mãe, então não se deram muito bem. Saber que sua irmã também é amiga da jovem viúva só prova o valor dela.
— Mais uma bebida?
— Seria ótimo, mas tenho mesmo de ir. Como disse, todas as damas esperam por mim.
Assim que o homem levantou, Marcel Gerard sentou-se na cadeira que Alaric acabara de deixar.
— Recebi um convite da Sra. Crawford. Ela vai promover mais uma de suas… orgias esta noite.
— Realmente?
— Presumo que não pretenda ir — Marcel resmungou. — Recebeu um convite para a festa dos LaRue esta noite?
Kol sorriu em confirmação.
— Eu também — Gerard suspirou resignado. — Não imagina com que ansiedade tenho esperado pelo evento.
— Não precisa ir, se não quiser.
— O quê? Eu não perderia esse espetáculo por nada no mundo!
— Vai levar Davina?
— Não, hoje não. Mas a levarei ao aniversário nos Saltzman.
