CAPÍTULO XX

Elena acabou indo com a família Saltzman até a residência dos LaRue. Mal tinha chegado, já queria partir. Todos os olhos estavam nela, e ela sabia que os comentários diziam respeito a ela também.

Infelizmente, Elena teria que ficar. Assim ela decidiu ignorar os comentários de censura das senhoras presentes, mesmo estando constrangida.

Josie notou o incômodo da amiga e lamentou. A maioria dos presentes eram hipócritas, pessoas que fingiam ser o que não eram. Pessoas que se aproveitavam de um deslize ou fraqueza de outrem para se sentirem melhores. Ela não queria fazer parte disso. Virou-se para duas mulheres que, sentadas em um sofá, estavam fofocando sobre Elena.

— Disse alguma coisa, Sra. LaRue?

— Não… não, minha querida Josie. Estava apenas dizendo a Sra. Sinclair aqui como é triste ver uma viúva tão jovem. Ela deve estar devastada…

Elena ouviu o comentário e num impulso decidiu se manifestar.

— Sim, Sra. LaRue. Meu marido foi um bom... homem, e sinto falta dele.

— Sim… podemos perceber… Em circunstâncias normais, no entanto… numa sociedade polida… uma mulher não deixaria o recato do lar tão cedo. Mas sei que veio do campo. Os padrões são diferentes.

— Também somos polidos em Mystic Falls, Sra. LaRue, e choramos a perda de nossos entes queridos como as pessoas da capital. Meu marido decretou que eu não deveria usar negro nem me fechar em casa depois de seu funeral. E como o amava, prefiro atender aos seus últimos desejos.

— O Visconde Mikaelson deve concordar com seus nobres ideais, Sra. Salvatore, ou não teria ido visitá-lo há alguns dias. A Sra. Sinclair aqui notou a carruagem dos Saltzman parada diante da casa dele esta semana. Josette lembrou-se de ter cedido o veículo para que você e sua tia saíssem naquela mesma tarde.

Elena notou a malícia e a maldade da mulher. Isso a enfureceu. Elena ficou enojada com a atitude daquelas bruxas. Como elas adorariam conhecer os detalhes da visita a que se referiam para poderem espalhar por aí! Como ficariam satisfeitas destruindo sua reputação!

— Está inteiramente correta em sua dedução, Sra. LaRue — disse Elena. Respirando fundo, tentou encerrar a batalha verbal antes que ela se tornasse uma guerra. — Como parece curiosa sobre a natureza de nossa ligação, meu finado marido era um parente distante de Lorde Mikaelson, dos Miakelsons.

— E Elena e Rebekah Mikaelson são amigas — Josie acrescentou.

— Oh… realmente?

— Realmente — Josie confirmou com falsa inocência. — E o próprio Lorde Mikaelson poderá confirmar tal afirmação. Por que não pede a ele, minha querida Sra. LaRue, uma lista com o nome de seus parentes? Ou à Rebekah, a lista com o nome de suas amigas.

Entretanto, no segundo seguinte um silêncio se instalou no local. Como várias outras pessoas na sala, Josie também olhava para a porta. Elena os imitou.

Fauline LaRue estava pendurava em um braço do recém-chegado, enquanto sua irmã Eva apoderava-se do outro. As duas fitavam o rosto iluminado por um sorriso sedutor enquanto, juntos, caminhavam para a sala de estar.

— É ele. Sim, não resta dúvida… — A Sra. LaRue sussurrou para a amiga.

As duas correram ao encontro do ilustre convidado. Várias outras pessoas faziam o mesmo, algumas abandonando o jogo de cartas e a mesa de bebidas para ir cumprimentá-lo. Era evidente que ninguém esperava vê-lo ali. Um mercador próspero e sua esposa bruxa não poderiam tentar um vampiro original e membro da nobreza a abandonar seus prazeres sofisticados por uma noite de cartas, bebidas baratas e música de péssima qualidade. Ainda mais sendo esse convidado um dos vampiros mais poderosos que existiam.

— Os LaRue devem estar imaginando o que fizeram para merecer tão ilustre companhia — Josie comentou com tom divertido.

— Se eu soubesse que ele viria, não teria vindo para cá esta noite. — Elena disse, sem se importar que Kol ouvisse — Sabe se há um terraço nesta casa, ou um corredor fresco e tranquilo onde possamos respirar ar puro? — Elena sussurrou com ansiedade.

— Sim… venha, vamos escapar. Deixemos que essas pretensiosas percam seu tempo com o infame vampiro e seu igualmente infame amigo.

Elena e Josie encontraram refúgio num jardim interno repleto de flores perfumadas e coloridas. Elas tiveram pelo menos trinta minutos de paz. E depois de beberem limonada gelada e falarem sobre a beleza do lugar, Elena sugeriu:

— Que tal inventarmos uma dor-de-cabeça e irmos embora? Não suporto mais a música ruim e os maus modos da Sra. LaRue, da Sra. Sinclair e das filhas dos LaRue.

— Nem o vampiro original de reputação condenável? — Josie brincou.

— Especialmente o vampiro original.

— Vou procurar por mamãe e informá-la sobre nosso terrível e súbito mal-estar. Mandaremos a carruagem de volta para transportar meus pais e sua tia. Temos dois lacaios a nosso serviço esta noite, então nossa segurança estará garantida.

— Certo. Aguardo você aqui.

Sozinha, Elena levantou-se para ir ver de perto de uma ave que, silenciosa e triste, era mantida em uma jaula sobre uma fonte cristalina. Ela pensou em sua própria situação e se sentiu do mesmo jeito, presa.

— Eu o libertaria, se pudesse — Elena murmurou para o pássaro cativo e silencioso. — Ainda sabe voar?

— Por que não descobrimos?

O som de uma voz a sobressaltou, e ela recuou dois passos depois de se virar e reconhecer o intruso.

— É melhor sair daqui, Lorde Mikaelson, antes que alguém nos veja e sua presença justifique os comentários maldosos a que tenho sido submetida.

Kol abriu a porta da gaiola, mas o pássaro permaneceu onde estava, imóvel. Ele deixou a porta aberta.

— Não creio que deva fazer tal coisa, Lorde Mikaelson.

— Há muitas coisas que não devo fazer. Outras de que me arrependo… Mas esta não é uma delas.

O que Kol estava dizendo? Arrependia-se da proposta ultrajante que lhe fizera? Ou seria esse comentário o prelúdio para mais uma batalha verbal? Apavorada com a possibilidade de ter de enfrentá-lo novamente, ela insistiu:

— Vá embora, por favor, Sr. Mikaelson…

— Por que não me chama de Kol?

— Pela mesma razão que o impede de chamar-me de Elena. O tratamento informal implicaria em uma amizade que já não existe mais. Agora vá, por favor…

— Quero recuperar o que tivemos, Elena. Quero me reaproximar de você…

— Oh, eu sei, Sr. Mikaelson. Infelizmente, eu desejo o contrário. E já que se recusa a sair, deixe-me passar, por favor. Quero encontrar Josie. Estamos de partida…

Kol se mantinha em frente a porta de acesso ao jardim. Elena parada diante dele.

— Você está linda… como sempre. — O elogio a deixou imobilizada pela surpresa — Mas lembro-me de tê-la ouvido dizer alguma coisa sobre comentários maldosos. A que se referia?

— Oh, algumas pessoas estão escandalizadas com minha presença nesta casa.

— Escandalizadas? Mas o que há de tão ultrajante em… Espere! Alguém sabe que você e sua tia estiveram em minha casa?

— Alguém viu o coche dos Saltzman parado diante de sua mansão, mas parece que minha decisão de respeitar o último desejo de Damon e não me trancar em casa coberta de negro é o maior de todos os pecados.

— Foi insultada?

— Por que a surpresa, Sr. Mikaelson? Acredita ser detentor exclusivo desse direito?

— Considera minha oferta generosa um insulto?

Elena suspirou. Sua cabeça começava a doer de verdade. Não queria falar sobre a humilhante proposta que ele fizera.

— É melhor voltar para a sala, Sr. Mikaelson. Embora seja um exemplo de imoralidade, ainda é bem-vindo em todas as casas, enquanto eu sou considerada uma intrusa, uma mulher sem escrúpulos ou moral. E tudo porque tive a audácia de vir até aqui.

— A hipocrisia dessa gente me enoja. Quando for embora, eu também irei. E eles que tirem as próprias conclusões.

— Está tentando me arruinar? Se fizer isso, tornará sua atenção óbvia. — Elena estava apavorada.

— Que ruína pode ser maior do que ter cem mil libras em dívidas? Ou estar sob constante ameaça? A maioria dessas pessoas sabe o que sou, mas não sabe o que você é, Elena. Ao contrário do que diz, quero salvá-la da ruína. Você é uma viúva falida e uma doppelganger sozinha, não uma debutante. Tenha bom senso, por favor!

— Tem razão, tenho sido tola e ingênua. Há pouco, cheguei a pensar que sua odiosa e ofensiva proposta fosse uma das coisas de que se arrepende. — Tentando esconder as lágrimas que queimavam seus olhos, ela se virou de costas. — Pretendo me casar assim que voltar a Mystic Falls, e espero nunca mais vê-lo ou ouvir sua voz novamente.

— E seu pai e sua tia? Também pretende separar-se deles para sempre? Fell não poderá sustentá-los ou protegê-los. Nem manterá suas propriedades com o salário que ganha. Venderá tudo e não restará nada para você. Como vai viver? Klaus não demorará a ir atrás de você.

Elena sabia que o que ele dizia era a mais dolorosa verdade.