CAPÍTULO XXVI

Ao contrário do que tinham planejado, não foram imediatamente embora após ao aniversário nos Saltzman. Jenna sugeriu que aproveitassem o domingo e viajassem na segunda-feira. Mas mesmo na segunda-feira fora impossível seguir viagem, pois uma tempestade ocorreu durante a madrugada, e a forte chuva tinha prejudicado as estradas, que apresentavam poças de água e árvores caídas. Elas correriam o risco de ficarem atoladas e presas, e Elena preferiu não arriscar. Assim, aguardaram até a terça-feira, que amanheceu com um forte sol e céu azul.

Apreciar a paisagem e pensar na diferença surpreendente que pouco mais de uma semana fazia sobre o clima era muito melhor do que refletir sobre a carta em seu bolso. Elena olhou para as árvores banhadas pela luz do sol. Um bom presságio… certamente, depois de um dia de tempestade. As duas companheiras de viagem cochilavam, como na ida à Nova Orleans, e não haviam trocado uma única palavra desde que deixaram a casa dos Saltzman às nove da manhã.

Despedir-se de Rebekah havia sido difícil, e Elena esperava que ela aceitasse seu convite para ir visitá-la em Mystic Falls, apesar de saber que seus amigos e família não ficariam muito felizes em ter uma original no local. Elas prometeram trocar cartas semanalmente. Felizmente, George as conduzia com firmeza pela estrada.

Sem ter com o que se distrair, ela leu mais uma vez a nota que havia sido entregue no dia anterior por um funcionário do banco. Sob o cabeçalho formal, a mensagem era breve:

"Informamos que hoje recebemos de seu benfeitor, o Sr. Kol Mikaelson, um depósito equivalente ao valor da dívida de seu finado marido, não restando mais pendências sobre essa questão."

O comunicado era assinado pelo diretor financeiro do banco e tinha o selo e o endereço do estabelecimento. Elena queria a confirmação de que não devia mais cem mil libras, e apesar de não estar expresso o valor, a declaração de não haver pendências era o bastante.

Respirando fundo, Elena tentou se acalmar. Não havia voltado a conversar com Kol depois do baile dos Saltzman, e Rebekah não falou dele quando a encontrou para se despedir no dia anterior.

Kol esperava que ela cumprisse sua parte no acordo agora. Mas ela não queria fazê-lo. Nos poucos e breves encontros que tiveram, ela sentiu algo por ele, sentiu as mesmas borboletas no estômago como antes, quando ele a cortejava. Mas ela não podia se deixar levar por isso e ser seduzida por ele. Kol não era mais o vampiro que ela amou, ele voltara a ser frio, distante e cruel.

Ela planejava retornar ao seu lar, agora seguro, e fazer um casamento respeitável. Tentou se concentrar no rosto doce e gentil de Logan Fell. E isso deixou Elena nervosa. Como explicaria o pagamento da enorme dívida? O benfeitor podia ser um parente distante de seu finado marido, mas tão extravagante generosidade despertaria especulações.

Em sua profissão, o Sr. Fell devia ter conhecido mulheres que, falidas, saldavam seus compromissos recorrendo a formas alternativas de pagamento. A vergonha ameaçou dominá-la, mas ela ergueu o queixo. Não devia explicações a ninguém e não justificaria uma atitude cujo único objetivo fora preservar um lar para ela e os familiares, e o mais importante, garantir a segurança deles e a sua.

Ela se consolou no fato de que aqueles que ela amava estariam a salvo da pobreza e da maldade de Klaus, pelo menos enquanto Kol se mantivesse interessado. Isso era algo em que ela teria que pensar também, em como conseguiria enganá-lo por mais tempo, que desculpas teria que dar. Ela não poderia permitir que ele retirasse sua proteção, pois temia que Klaus viesse imediatamente atrás dela, agora que não havia mais Damon.

O que Elena não sabia, era que Kol estava ciente de seus planos. Ele estava no clube, no domingo a noite, onde costumava encontrar seus amigos, quando esbarrou em Alaric Saltzman. Após alguns copos de licor, Alaric alegou ter ouvido Elena conversando com Rebekah sobre algo suspeito que ele não entendera, sobre enganar alguém.

Kol pressionou Rebekah, ameaçando-a com a adaga, e não fora difícil fazê-la confessar. Rebekah confirmou o que ele já imaginava: Elena fugiria após ele ter quitado suas dívidas e garantido que Klaus não viesse atrás dela. Sua irmã implorou para que ele ajudasse Elena sem aqueles subterfúgios, acrescentando que ela mesma pensava pedir dinheiro a Klaus para ajudar a amiga.

Kol ficou cego de raiva. Ele já tinha compelido Alaric, e agora ele compeliu sua irmã a esquecer do que lhe tinham dito. Ele jurou que se vingaria de Elena. Se ela houvesse proposto um casamento de verdade, não uma união na qual não poderia tocá-la, ele teria concordado. Mas Elena fizera sua rejeição tão óbvia, que o ego ferido exigira retaliação, e por isso a atingira provando que poderia ter aquilo que ela se negava a oferecer de qualquer maneira.

No entanto, ele não era imune aos encantos dela. Sucumbira à necessidade de vê-la e fora ao baile dos Saltzman. Engolindo o orgulho, dispusera-se a confessar que nunca deixara de amá-la, mas chegara na casa dos Saltzman e a encontrara com aquela carta, suspeitando de imediato que ela estava tramando contra ele. O pior, era que sua cumplice era justamente a sua irmã.

Que amadora ela era! Ao contrário de Elena, Kol era capaz de mentir com maestria. E mesmo assim, tudo o que dissera até aquele momento fora honesto. Considerava-se um solteirão convicto e não estava interessado em virgens ou esposas dedicadas. Um casamento seria um evento que acrescentaria algo a sua vida, principalmente poder. Por isso considerava um compromisso com Davina Claire, uma jovem bruxa poderosa e regente dos covens de Nova Orleans. Ainda não tinha decidido dar esse passo, mas era um pensamento recorrente em sua mente.

O vampiro original olhou para o relógio e fez um cálculo rápido de horas e quilômetros. Ele julgava que Elena já devia estar em casa e pensou em como se sentia sobre ela, apesar de tudo. Estranhamente, Kol desejava uma vida com Elena. Queria tudo nela com uma intensidade que não podia ser negada ou explicada como simples luxúria. Mas ela não o queria. Só desejava seu dinheiro e sua proteção… como todas as mulheres com quem convivia.

Elena encontrara um vampiro rico para amar e cultuava sua memória com ternura numa doce e serena viuvez. Ele era apenas um estranho, um vampiro degenerado e imoral com quem circunstâncias cruéis a obrigavam a lidar. Ele era sua garantia de salvação contra sua própria família, os originais. Ela só tinha interesse no que ele poderia proporcionar à ela, e não no que ele era de verdade.

Mas havia algo de incongruente em tudo isso. Elena ainda era a mesma criatura doce de antes, como se nunca houvesse superado o sonho de felicidade que haviam compartilhado por seis meses. Ela o beijara de volta, ele sentiu seu coração batendo, o cheiro de sua excitação. Ela não era imune a ele, assim como ele não era imune a ela.

Mas isso não importava. Ele acreditou que ela o tinha amado, mas era mentira. Ela era cinco anos mais velha agora… embora ainda parecesse imatura. Fora casada por todos esses anos, e a união só chegara ao fim porque o marido morrera, graças ao seu irmão. Mas não pensaria em Damon Salvatore. Mesmo morto, o vampiro era capaz de despertar sua fúria.

Damon cuidara de Elena e a protegera e, leal como era, ela não permitiria que alguém levantasse a voz contra o finado marido. Era evidente que o amara. E essa certeza o feria, causando uma dor que havia jurado nunca mais sentir. E por conta desse sofrimento a obrigaria a voltar… Ela seria destruída e humilhada. Ele a usaria conforme ela esperava que ele fizesse. Seria sua vingança.

Kol não se sentia orgulhoso do que pretendia fazer, mas sabia que era necessário, que ela voltaria pela responsabilidade de cuidar do pai, da tia, do irmão, dos amigos, pelo desejo de preservar seu adorado lar e manter viva nela a memória do querido marido. Isso em contar a necessidade de garantir que Klaus ficasse longe de sua amada cidadezinha.

Ele escreveria a ela, exigindo que ela cumprisse sua parte no acordo, sob a ameaça de escrever a Klaus e dizer que ela não mais o interessava. Ele teria o que queria dela, finalmente. Seria sua vingança por ela o ter abandonado anos atrás para se casar com o Salvatore. Enquanto isso, ele talvez se comprometesse em casamento com Davina Claire, tanto pelo poder, quanto para se manter longe de cometer uma besteira a respeito de Elena, como se casar com ela.