CAPÍTULO XXVIII
A carta de Elena chegou na semana anterior. Em poucas frases, indagara se ele pretendia saldar a dívida deixada pelo parente distante que estava morto e quando isso ocorreria. A resposta fora redigida em apenas uma sentença.
"A questão será concluída quando você voltar à Nova Orleans."
— Vou ter de ir a Nova Orleans, tia Jenna — ela anunciou alguns minutos mais tarde, enquanto a tia escovava os cabelos.
Jenna virou-se sobre a banqueta e olhou para a sobrinha.
— Aposto que está ansiosa para rever Rebekah. Você e ela se tornaram grandes amigas, não?
— Sim… — Elena não queria que a tia soubesse que não era Rebekah quem ela iria visitar, mas a tia estava mais do que ciente da situação.
— Nova Orleans é uma cidade alegre. Gostaria de passar mais tempo por lá, mas seu pai precisa de mim aqui. E alguém tem de cuidar da casa enquanto você se ausenta. Bonnie está em Denver com Jeremy e Caroline está atarefada com questões da escola.
Elena engoliu as emoções que ameaçavam sufocá-la. Dor, humilhação, decepção… Tia Jenna finalmente escolhera que posição era mais conveniente e lidava com a desgraça da sobrinha a seu modo… recusando-se a reconhecê-la.
Resignada, Elena saiu e seguiu para seu quarto a fim de redigir uma carta. Limitara-se a escrever uma única frase também, já que não precisava de floreios com Kol.
"Estou pronta para cumprir minha parte no acordo."
Encarando o papel em suas mãos, Elena tremia. A conversa entre eles era curta e direta, como uma simples negociação, o que a fazia se sentir suja, corrompida. Além disso, havia um sentimento que ela não queria admitir, o de decepção. Sentia-se decepcionada com ele pela forma como ele a tratava, pela sugestão de torná-la apenas sua amante, como se ela não fosse o bastante para ser sua esposa. No fundo, Elena tivera esperança de que ele mudasse de ideia, o que não ocorreu.
Rebekah tinha lhe informado em alguma das cartas que trocaram, que Kol estava constantemente acompanhado por Davina, que eles passavam muito tempo juntos. Os comentários eram de que em breve teriam o anúncio de um compromisso. A amiga não sabia do arranjo feito entre Elena e seu irmão. Embora Elena tenha contado que Kol lhe fizera essa proposta, Elena não lhe contou que tinha aceitado. Kol pedira que não dissesse nada à irmã, e ela concordou. Quanto menos pessoas soubessem, melhor.
Elena sentia seu coração doer, mas não havia nada que pudesse fazer para que as coisas fossem diferentes. Ela havia sugerido se a esposa de Kol, e ele tinha rejeitado tal ideia imediatamente. Davina poderia ser sua esposa, Elena seria apenas sua amante. Davina era quem poderia lhe oferecer algo, quem era interessante para ele. Elena era apenas... Ela nem sabia o que significava para ele.
Desviando os olhos do papel, ela os pousou em uma foto de seu casamento com Damon, seu pai com eles. Ela fechou os olhos. Tinha que ceder, tinha que fazer como ele queria. Precisava salvar as propriedades que herdara e garantir uma vida boa para seu pai e sua tia durante o restante de suas vidas. Tinha que evitar a morte daqueles que amava.
Ela selou sua sentença naquela carta e enviou ao homem que tinha seu destino em suas mãos. Dias depois, a resposta viera junto com uma carruagem. Ela sabia que ela que era hora de partir. Não tinha mais volta. Pegando a pequena mala de mão que fizera, ela subiu na carruagem, rumo a seu sacrifício.
Era a carruagem mais suntuosa em que já viajara. O estofamento dourado combinava com as cortinas azuis nas janelas, mas o cocheiro e o lacaio que a conduziam à Nova Orleans não usavam uniformes nos mesmos tons, como os que vira na mansão quando esteve lá para a visita aos Saltzman. Usando preto, não anunciavam sua ligação com o poderoso e nobre vampiro.
Elena se perguntou quantas outras mulheres haviam viajado naquele mesmo veículo? Loiras, morenas, orientais… Bruxas, vampiras, lobisomens, humanas... Quantas haviam sido retiradas de suas famílias e levadas para casas estranhas onde serviriam aos desejos do novo amo?
Tentando distrair-se, engoliu o nó que se formava em sua garganta e releu a carta que levava na bolsa. Nela, Rebekah relatava os últimos acontecimentos na cidade: o confronto verbal entre ela e o Sr. Gerard na festa dos Watson; o noivado entre Sr. Castle e Alice Blair - um par perfeito, em sua opinião; o sucesso que fazia a pupila do Sr. Gerard, que estava claramente apaixonada por Kol...
Depois de guardar a carta, reclinou a cabeça contra o encosto e fechou os olhos. Tudo que mantivera represado na mente veio à tona. Desse momento em diante, se alguém soubesse o que iria acontecer, nenhuma mulher decente se relacionaria com ela. Todos aqueles que a conheciam não mais a reconheceria. Seria uma perdida… e viveria uma vida de penumbra. Seria desprezada quando fosse às compras ou qualquer evento social.
O melhor seria receber toda e qualquer mercadoria em sua casa, como sabia que seria mais cômodo. Sim, porque, por mais que lutasse para preservar o orgulho e a coragem, sabia que um simples olhar de desdém, um comentário sussurrado, poria em risco sua frágil compostura. Seria convidada para alguma reunião, alguma festa? Sabia que não... Sua tia e seu pai… sua cunhada, sua amiga, seu irmão e seu ex-cunhado... todas as pessoas que a amavam sofreriam com sua atitude... Precisava garantir que ninguém descobrisse, precisava que Kol mantivesse tudo em segredo.
Relutante, lembrou o rosto da loira que a encarara com ódio naquela região pobre e perigosa de Nova Orleans. Seria um dia uma mulher ressentida e amarga, alguém capaz de lançar seu veneno sobre completos estranhos? Não tinha importância. O que mais a incomodava era saber que perderia a amizade de Josie, sua mãe a proibiria de falar com ela, e especialmente, teria de cortar relações com Rebekah. Ela jugava que a vampira loira a rejeitasse pelo que ela se tornaria, embora seu irmão fosse o causador de sua ruína.
Suspirando, ela viu que se aproximavam de Nova Orleans. A escuridão envolvia a cidade aos poucos e os odores e sons conhecidos assaltavam seus sentidos. Não sabia para onde iam. A carta que recebera do visconde não divulgava nada além de uma data para a chegada da carruagem que a transportaria. Esperava que ninguém a visse. Seria bom desfrutar de uma semana de graça antes que a desonra se espalhasse como fogo sobre palha.
Elena enxugou as lágrimas e esperou quando a carruagem parou. A porta foi aberta. Um lacaio simpático sorriu e ofereceu a mão para ajudá-la a descer. Assim que Elena saltou, a carruagem partiu. Assustada, ela olhou para a grandiosa construção de paredes sólidas e brancas.
— Onde estamos? Que parte da cidade é esta?
— O bairro francês, senhora — ele informou enquanto recolhia sua bagagem.
O interior da casa era silencioso. Uma luz pálida lançava sombras lúgubres sobre o piso de madeira polida. Sozinha, ela parou no vestíbulo e olhou em volta.
— Sra. Salvatore?
A voz suave a sobressaltou. Uma mulher sorridente aproximava-se para recebê-la.
— Por favor, venha comigo, Sra. Salvatore. — A mulher usava a veste negra de uma governanta e tinha um molho de chaves preso à cintura. Ela apontou para a escada e, sem dizer mais nada, começou a subir.
Elena a seguiu com o coração apertado, mas acompanhou a criada pelo corredor escuro que terminava em uma imponente porta dupla. Era sua última chance de escapar. Assim que entrasse… e sabia que ele estava lá dentro… Seu destino estaria selado...
Que tipo de aposento era aquele? O que pensava a sorridente criada a seu respeito? Estaria enojada? Apática? Quanto recebia do nobre vampiro para guardar segredo sobre sua opinião? Estaria compelida?
A governanta mantinha a porta aberta e esperava paciente, e Elena deu o passo crucial. Assim que passou pela soleira, a porta foi fechada e o silêncio a envolveu como um manto opressor.
