CAPÍTULO XXX
Kol se banhara e se vestira, antes de se refugiar em seu escritório. Não estava se sentindo feliz como imaginou que se sentiria. Tinha certeza de que tinha obrigado Elena a fazer algo que ela não queria, que havia feito dela uma prostituta, sua prostituta. Sentiu-se mal e egoísta. Sabia que ela não merecia aquele tratamento, mas estava cego pelo desejo de vingança por ela ter se casado com outro vampiro, um tão ruim ou pior do que ele.
Suspirou arrependido e decidiu ir até o quarto em que a deixara. Pediria perdão, faria o possível para ela desculpá-lo. Cumpriria sua promessa de mantê-la e a sua família a salvos, fosse da ruína monetária ou da ira de seu irmão. Ele ainda tinha sentimentos por ela, embora tivesse negado a si mesmo antes, e doía nele vê-la sofrer por algo que ele tinha causado.
Lentamente ele abriu a porta do quarto, temendo encará-la. Entrou no aposento e viu que ela não estava. Por uns instantes pensou que ela havia fugido, mas ouviu um barulho que vinha do lavabo. Ela estava lá. Ele sentiu um certo alívio.
Caminhando pelo quarto ele olhou para a cama, onde a pouco havia estado com ela. Os lençóis estavam bagunçados e tinham duas manchas vermelhas sobre um deles. Aproximou-se e observou de perto. Sangue. A mancha próxima ao travesseiro ele sabia que era da mordida que ele lhe dera, embora tenha tido cuidado de não a machucar tanto. Mas a mancha mais no meio dos lençóis era inexplicável. Ele não a tinha mordido em outro local, tinha certeza. Talvez ela tivesse usado o lençol para limpar o sangue do pescoço. Mas então ele pensou na possibilidade de tê-la machucado quando a penetrou. Fora assim tão brusco? Kol se perguntou. Ele já havia estado com humanas antes, isso não tinha acontecido.
Uma outra possibilidade passou por sua mente, mas Kol balançou a cabeça, um gesto claro de negação. Não podia ser. Era impossível. Ela fora casada antes, e com ninguém menos do que Damon Salvatore! Ele não era conhecido por sua delicadeza e tampouco por sua castidade. Mas Kol não podia negar o que via. A compreensão tomando conta dele. Seguida da angústia.
Kol ficou imóvel. Era impossível, ele dissera novamente a si mesmo, mas… a verdade estava bem ali, diante de seus olhos. Ele gemeu, arrependido.
Elena terminou de se lavar e se vestir. Observava-se diante do espelho. Tinha no colo algumas marcas vermelhas que Kol havia deixado, e em seu pescoço a mordida, sua marca, como se ela fosse propriedade dele. Ela prendeu os cabelos em um coque, não se importando em esconder aquilo, e saiu. Ela tinha o rosto abatido, os ombros pesados, e uma tristeza enorme tomando conta dela. Não tinha mais dignidade. Uma parte de si havia morrido ali naquele quarto, naquela cama, com aquele homem que tanto amara.
Kol a viu sair do banheiro. Tinha o rosto pálido e aflito. Klaus fora quem sempre ameaçara fazê-la sofrer, mas no fim fora ele quem lhe causara sofrimento. Se não estivesse tão cego...
— Você era… virgem? — perguntou com um fio de voz.
O movimento afirmativo de cabeça confirmou seus temores.
— Está me dizendo que foi casada durante cinco anos, com Damon Salvatore, sem nunca ter consumado a união?
— Sim. Damon era apenas meu amigo. Tivemos uma relação incomum, um casamento que contrariava as convenções. – Ela tinha a voz fraca.
— Mas você o amou…
— Ele era bom e decente... E sim, eu o amei, mas não como a um marido. Damon foi como um irmão mais velho, um protetor. E embora ele tenha me querido como uma esposa no início, ele passou a me amar como uma irmã também, quando percebeu que não seria possível que eu retribuísse. Não havia paixão entre nós ou qualquer relacionamento físico. Agora, se não for pedir muito, pode ir embora, Lorde Mikaelson? Quero ficar só.
Kol foi apoiar as mãos no mármore sobre a lareira.
— Não me chame assim, Elena. Depois de tudo o que vivemos, você pode me chamar de Kol.
Ele se virou de repente, como se despertasse de um transe.
— Quantas pessoas sabem que está aqui?
— Apenas Bonnie e Caroline. Disse a meu pai e minha tia que viria a Nova Orleans, mas não disse que viria para vê-lo. Eles pensam que vim encontrar Rebekah.
— Vai ter de voltar para casa sem que ninguém saiba que esteve aqui.
— Seus criados me viram…
— Esqueça. Eles podem ser compelidos.
— Sim… entendo…
— Não, você não entende. Você não ficará aqui, irá embora, para sua casa. A viagem de volta é longa, e quero que coma alguma coisa antes de partir.
Kol segurou a mão dela e levou-a pelo corredor, passando pelos cômodos apressadamente, sem lhe dar chance de ver nada do ambiente ao seu redor. Rapidamente eles chegaram à cozinha.
— Obrigada, mas não quero comer nada. Prefiro partir imediatamente porque, como disse, a viagem é longa e…
— E teremos de realizar a jornada no meio da noite. Por isso você vai comer.
Kol ordenou a dois empregados que servissem uma sopa e vinho para ela, e Elena sabia que seria inútil contrariá-lo. Assim, ela comeu em silêncio, perdida em seus próprios pensamentos. Depois… De repente, uma constatação tomou corpo em sua mente. Ele dissera que teriam de viajar… Pretendia acompanhá-la até sua casa? Ou apenas aproveitaria a carona para voltar à sua casa sem ser visto?
Confusa, só se deu conta de que esvaziara o copo de vinho ao sentir o calor no rosto. A bebida a aquecera e acalmara, e sentia-se até capaz de comer. Precisaria de forças para suportar a longa noite na estrada e a dor de pensar no que havia acontecido.
Kol permanecia ao lado dela, observando-a. Ele estava considerando tudo o que acontecera, o que ele fizera a ela. Estava arrependido pela forma como a tratara, pela forma como a possuíra, com brutalidade. Elena não merecia aquilo, não merecia que ele a fizesse sofrer, não merecia que ele transformasse sua vida.
— Já terminou de comer? — Ele perguntou quando viu que ela esvaziara o prato.
Elena assentiu e Kol chamou o mordomo, que recebeu instruções claras para preparar o coche. Kol pediu licença para ausentar-se por alguns minutos e retornou com o casaco de Elena. Ele a envolveu com o casaco, tomando o cuidado de ampará-la, uma vez que Elena mal conseguia manter-se em pé. Ele a tomou nos braços.
— Posso ir caminhando, Kol — ela protestou, apesar de apoiar a cabeça em seu ombro enquanto bocejava.
— Diga outra vez.
— Posso…
— Não! Quero que diga meu nome. — E beijou-a rapidamente nos lábios antes de acomodá-la no coche.
— Lorde Mikaelson? — ela indagou confusa, sem entender por que ele era gentil agora, depois de tê-la desonrado.
— Não, Kol.
Elena não fez o que ele lhe pedira, mas se deixou ser acomodada no veículo. Sozinha no interior do coche, ela abriu a janela para respirar o ar da noite e viu que Kol e os cavalariços conversavam perto dos animais. O ar frio dispersara parte do torpor, e Elena se lembrou de que estava a caminho de casa! Kol iria com ela, aproveitaria o veículo para voltar para sua própria residência.
— Parece ter recuperado a sobriedade, Elena — o vampiro comentou ao acomodar-se a seu lado. Ele estava sério e distante.
— Sim, estou melhor.
— Posso lhe dar um pouco de sangue...
— Não, obrigada! Estou bem!
Ela ouvira Damon dizer que compartilhar sangue era algo muito íntimo, e ela não queria aquilo com Kol. Ela já tinha estado íntima dele de outra maneira. Assim, tentando ao máximo parecer bem, ela se voltou para a janela e observou que eles atravessavam as ruas desertas numa velocidade espantosa. Um vento gelado e cortante penetrava pelas frestas das janelas.
— Está com frio? — Kol perguntou ao vê-la ajeitando o casaco.
— Um pouco. — Podia notar que haviam ultrapassado os limites da cidade, porque a paisagem era rural. Por que Kol ainda não descera?
Distraída com os próprios pensamentos, não previu o movimento que terminou por envolvê-la em braços fortes e musculosos. Ela sentiu o cheiro dele.
— Não! – Ela afastou-se dele, indo sentar do outro lado do banco.
— Elena... – ele tentou abraçá-la.
— Não! — protestou.
— Por que não?
— Deixe-me em paz, pelo menos esse resto de noite. Serei sua até que se enjoe e receba cavalos por mim, mas por favor, apenas por hoje... Não quero passar por tudo outra vez... Não... – Ela estava chorando novamente, agora soluçando.
— Elena, me perdoe! Eu não imaginava isso. Se eu soubesse... Você deveria ter me dito. — Kol suspirou. —Vou lhe dar um pouco de sangue, pare que cure as marcas que deixei... Assim não ficarão vestígios... Logo estará em sua casa... Então não me verá nunca mais.
Elena ouvia, mas não prestava atenção. Aninhando-se no banco, ela fechou os olhos. Tentava não pensar no que havia passado e queria dormir um pouco. Estava cansada, dolorida, triste e magoada.
