CAPÍTULO XXXI
Quando chegaram a Mystic Falls, Elena havia adormecido. Kol a carregou até a pensão e a tomou nos braços. Ele fora recebido por Matt e questionou-o sobre onde eram os aposentos de Elena.
Sob o olhar atento do criado, Kol seguiu pela pensão até o quarto de Elena. Ele a acomodou sobre a cama, mordendo o pulso em seguida, e deixando cair algumas gotas de seu sangue na boca de Elena.
Kol viu a marca de mordida sumir do pescoço dela e a beijou nos lábios, apesar do olhar atento de Matt. Sabia que o homem o tratava como se fosse um bandido, e considerando o que ele roubara de Elena, ele era mesmo. Mas o humano não tinha importância. Trataria de ignorá-lo.
Matt não podia acreditar no que via. Então Penny estivera certa! O vampiro coagira sua bela senhora a ceder a seus impulsos em troca do dinheiro necessário para o pagamento das dívidas, e da proteção contra o vampiro malvado que queria o sangue dela, que por acaso era irmão dele. E não só isso, ele a devolvia depois de uma única noite como um fardo sem utilidade! Oh, como gostaria de poder enfiar uma estaca nele, colocando-o sob a luz do sol para que ele sofresse um pouco como ele fazia Elena sofrer, pensou Matt.
Kol a olhou mais uma vez, passando um dedo pelo rosto dela. Virando-se, ele deixou o quarto de Elena e se pôs a caminhar até a saída, quando um vulto na sala de estar chamou sua atenção e ele virou a cabeça. A imagem do pai de Elena, um homem magro e transtornado, o fez parar.
— Quanto? — O homem perguntou.
— Quanto… o quê? — o vampiro repetiu confuso.
— Quanto está disposto a pagar por minha filha? — John Gilbert esclareceu.
— Quanto quer por ela? — Kol questionou.
— Cem libras.
— Por que essa quantia? — Kol estava curioso.
— Para comprar cães de caça — o homem respondeu, irritado por ter de dar tantas explicações. — Quero ir caçar esta manhã, e preciso de bons cães. Pode me acompanhar, se quiser.
— Oh, sim… obrigado pelo convite! — Kol respondeu, avaliando o homem.
— Por nada! Você parece ser um homem, e ser bom. Então, suponho que deva retribuir sua bondade revelando a verdade, já que vai comprá-la. Minha filha é uma linda mulher… mas é uma prostituta.
— O quê? – Kol espantou-se.
— Sim, é uma desgraça. — John reconheceu com tristeza. — Ela foi seduzida por um vilão, um daqueles que nossa cidade tenta banir desde sempre... Era um vampiro, sabe? Eles existem de verdade. Ele fez de tudo para arruiná-la... Tinha tanto poder sobre minha filha… Ela era tão ingênua que acreditava estar apaixonada por ele. Eu tive de mandá-la para longe…
— Para longe?
— Suponho que ela ainda esteja lá… Não… não… Às vezes fico confuso e esqueço… Damon foi buscá-la. Ele prometeu que cuidaria dela por mim, como um irmão mais velho. Ele também era um vampiro, mas ele era bom, cuidava dela. Não era como aquele outro… Sempre envolvido em brigas, escândalos amorosos, magia, massacres… É melhor tomar cuidado, porque o vampiro é persistente e pode voltar. E minha filha ainda não deixou de sentir o que sentia. Só uma menina muito má pode causar tanta dor ao próprio pai.
Em seguida o homem se virou e pôs-se a caminhar pelo corredor. Kol imaginou que ele iria para seu quarto. Olhou mais uma vez em direção ao quarto de Elena e ouviu o coração do criado que o recebera batendo próximo ao dela. Parecia determinado a passar toda a noite em vigília. Leal e protetor. Gostava disso. Mas era incompetente… E não poderia fazer nada por Elena, já que era apenas um humano, e essa era uma característica que o desagradava.
— Adeus… — Kol disse ao vento, enquanto ajeitava a capa sobre os ombros na saída da pensão.
Durante o trajeto de volta para casa, ele olhou pela janela. Pensativo, refletiu sobre o que ouvira do pai de Elena, certo de que tudo fora apenas um delírio. Se tivesse acontecido como ele dissera, Elena o teria encontrado, poderia ter escrito para ele ou enviado uma mensagem a Rebekah. Mas, duas semanas depois de ele ter saído de Mystic Falls, partira para solo estrangeiro, em busca de bruxas que o ajudariam a lutar contra o irmão, e assim garantir a segurança de Elena. Quando ele retornou meses depois, ela já estava casada. Portanto era inútil.
O passado devia ser esquecido. De que adiantava reviver toda a dor? Especialmente agora, quando a tinha magoado de tal forma que não havia futuro nenhum pela frente. Ele tinha certeza de que Elena nunca o perdoaria.
A situação era trágica. Abusara da única mulher que amou na vida, forçando-a a se deitar com ele por dinheiro, por orgulho, por vingança. Ameaçando deixá-la na miséria e à mercê de seu irmão. Ele a deixaria em paz. Faria o que ela pedira. Pagaria suas dívidas, garantiria que nada lhe faltasse, manteria seu irmão longe dela. E a si mesmo.
Como pudera ser tão cego? Como não vira os sinais diante dele? Conhecera outras humanas antes, virgens, sabia como se comportavam. E o pior, conhecia Elena. Ela não mudara muito nos anos em que estiveram separados. Tinha ganhado um corpo mais curvilíneo e um ar mais maduro. Perdera o brilho no olhar que ela tinha quando eram namorados, voltando ao olhar opaco de quando a conhecera. Como fora tão tolo?
Enquanto observava o sol nascendo, ele fez uma promessa, cuidaria de Elena e faria para ela apenas o que ela quisesse. Ele jamais imporia algo novamente a ela, jamais faria algo contra a vontade dela. Essa era uma promessa que ele iria cumprir.
