CAPÍTULO XXXII
Elena despertara confusa com tudo o que tinha acontecido. Olhando ao redor, ela viu que estava em seu quarto. Teria sido apenas um pesadelo?
— Tem certeza de que não há nenhum recado, Matt? — Elena repetiu ofegante e inquieta.
— Não, senhora… Nenhum — Matt afirmou, prometendo a si mesmo que afogaria o vampiro em verbena um dia.
— Lorde Mikaelson não disse nada antes de partir?
— Bem, ele disse... Adeus... Mais nada.
— Adeus… Está bem, obrigada, Matt. Por favor, providencie mais lenha para a sala matinal.
Matt inclinou a cabeça acatando as ordens de sua senhora, mas era impossível não notar o rosto pálido. Iria a Londres, se fosse necessário, e mataria o vampiro. O bastardo não só seduzira e abandonara aquela mulher maravilhosa, como não tivera as maneiras adequadas para despedir-se antes de voltar a Nova Orleans e entregar-se novamente a seus prazeres, como Matt ouvira dizer que ele gostava.
— Não fique tão nervosa, Elena. — A voz fraca de Bonnie ecoou pelo cômodo assim que Matt deixou a sala de jantar.
— Não estou nervosa.
— Você está pálida. Qualquer um pode ver.
— Eu estou bem.
— Você quer falar sobre o que aconteceu?
— Não há o que falar. — Elena se virou para a amiga — Eu fui até ele, consumamos o acordo, e ele me trouxe imediatamente de volta. Ele não quer que as pessoas saibam. Ia compelir todos que nos viram.
— Entendo. No fim ele parece ter alguma consideração por você. O que dirá à sua tia?
— Direi a todos que a carruagem quebrou e tive que voltar. Que deixarei para ir a Nova Orleans em outra oportunidade.
— É uma boa ideia.
— Se Caroline aparecer, pode contar a ela a verdade. Mas certifique-se de que Jeremy e Stefan estavam longe. Não quero que eles saibam. Agora eu só quero descansar um pouco, vou me retirar por um momento.
— Se precisar de mim, basta chamar. — Bonnie deu um abraço na amiga e cunhada.
Elena agradeceu e se retirou para seu quarto. Sentia-se indisposta depois de todo o vinho que consumira, e nem mesmo o sono profundo de que só despertara às nove da manhã servira para ajudá-la.
Penny fora censurada por não a ter acordado, mas jogara a culpa sobre os ombros de Matt, que dissera que ela parecia tão cansada que não fora capaz de incomodá-la.
— Penny disse que estava em casa… — Jenna comentou ao entrar no quarto da sobrinha sem bater. Sua tia não respeitava a etiqueta social. — Por que voltou tão depressa? O que aconteceu em Nova Orleans?
— Nada aconteceu. Não cheguei à cidade. No meio do caminho o coche quebrou e então tive que voltar.
— E como voltou se estava quebrado?
— Eles arrumaram rapidamente, mas apenas de um modo que garantisse meu retorno em segurança. O peso precisava ser reduzido para fazerem a viagem. — Elena se surpreendeu com o quão rápido ela inventou aquela mentira.
— Não minta para mim Elena! Sei que você não tinha motivos para ir a Nova Orleans que não fossem relacionados a Kol Mikaelson.
— Tia, Rebekah está lá, ela me escreveu...
— Você cedeu a ele? Fez o que ele queria? — Jenna foi direta.
Elena encarou a tia com os olhos marejados, incapaz de falar. Jenna compreendeu a verdade.
— Não pode ter sido descartada depois de uma única noite!
— Pois acredite, fui mesmo descartada depois de uma única noite, tia Jenna. Creio que fui devolvida como um produto inadequado ou insatisfatório. Mas por favor, apenas você, Bonnie e Caroline sabem. Kol vai apagar todos os rastros desse nosso encontro. Ele não quer que saibam.
— Nobre da parte dele. E quanto as dívidas? E Klaus?
— Quanto ao resto eu não sei… — Olhando em volta, não conseguiu conter as lágrimas ou falar. Era impossível. Segurando a saia com mãos trêmulas, murmurou uma desculpa qualquer e saiu apressada.
Elena deixou a mansão Salvatore e correu até o cemitério. Ela se ajoelhou diante do túmulo de seu falecido marido. Abraçando as flores, ela lutava contra as lágrimas. Por que sofria tanto? Então não conhecia o caráter do vampiro por quem chorava? Não lembrava do que ele havia feito? De quantos escândalos precisava? Quantas histórias teria de ouvir antes de acreditar que ele era mesmo um vampiro psicótico e sem coração?
— Oh, Damon… — soluçou, inclinando-se para depositar as flores no túmulo. — Ajude-me, por favor. O que posso fazer? Não quero deixar Mystic Falls… e você…
— Nesse caso, é melhor pedir ajuda a seu amante — sugeriu uma voz feminina cheia de desprezo.
Elena virou-se e não reconheceu a mulher, embora ela lhe parecesse vagamente familiar.
— Quem é você? O que quer? — Elena perguntou enquanto enxugava as lágrimas no rosto com as costas das mãos.
Cabelos castanhos ondulados emolduravam o rosto iluminado por olhos igualmente castanhos e gelados. Os braços cruzados sobre o peito realçavam o formato exuberante dos seios fartos. A mulher, não, uma vampira, se parecia um pouco com Elena, embora aparentemente com mais idade.
— Quem é você? O que quer? - Elena repetiu.
— Não conseguiu retê-lo por mais de uma noite?
Furiosa, Elena levantou-se de um salto.
— Não sei do está falando.
— De Kol Mikaelson.
— Ele é um parente de meu finado marido e tem direito à minha hospitalidade. Se já está satisfeita com as informações que obteve, por favor, vá embora. Está invadindo propriedade particular.
— Sou Katherine Pierce.
— E daí? O que devo deduzir a partir de seu nome? É mais uma das cortesãs do lorde?
— Ora, eu adoraria ser uma delas! Ele é tão rico, belo e poderoso... Não só dele, devo dizer. Aquela família sabe produzir homens bonitos e poderosos...
— Pois lamento, mas ele não está aqui. Vá a Nova Orleans e talvez você o encontre… Ou a um dos irmãos dele! — Elena falou irritada. Ela não gostou da forma como aquela desconhecida falava de Kol.
— Vou sim, preciso mesmo falar com Klaus.
A menção do nome do vampiro fez o sangue de Elena gelar.
— Sou uma doppelganger, como você Elena. Eu era mais velha quando me deparei com a família Mikaelson e soube o que eu era. Fugi de Klaus antes do sacrifício, tornei-me vampira um tempo depois... Sugiro que você faça o mesmo…
Elena a encarou mortificada. A vampira conhecia Klaus, conhecia a história das cópias. Agora, olhando bem, ela podia ver que a mulher se parecia mesmo com ela. Ela ia fazer perguntas à vampira, mas a aproximação repentina de Logan Fell do cemitério a interrompeu.
— Voltaremos a conversar — Katherine disse antes de desaparecer.
Trêmula e abalada com o encontro que, sabia, havia apenas começado, Elena preparou-se para mais uma situação desagradável. Era como se todos soubessem sobre o que havia acontecido em sua vida nas últimas horas, como se todos acreditassem ter o direito de humilhá-la por isso.
— Se veio falar comigo, Sr. Fell, é melhor voltarmos a minha casa.
Elena começou a caminhar sem esperar por uma resposta, sem se preocupar com o comportamento ríspido que não condizia com sua natureza doce.
Dez minutos mais tarde, Elena deu as costas para a janela da biblioteca.
— Não imagino o que o traz aqui, Sr. Fell. Não temos mais nada a discutir.
— Discordo Sra. Salvatore. Certamente poderemos encontrar um assunto de interesse mútuo. O banco me comunicou a pouco que lorde Mikaelson pagou definitivamente suas dívidas, e não apenas isso, mas depositou uma pequena fortuna em seu nome. Suponho que você tenha dado a ele o que ele queria.
Elena sentiu a cabeça rodar. Então não tinha mais dívida, ele havia cumprido com sua parte no acordo. Mais do que isso, ele lhe dava algum dinheiro extra. Sentiu-se mal lembrando da noite anterior, de sua realidade agora. Kol pagara por ela, era oficialmente uma amante, uma prostituta.
Sem responder ao homem, Elena se retirou para seus aposentos.
