Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Lynne Graham, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.
Capítulo 2
Pela décima vez, Naruto observava a foto que segurava em uma das mãos, e franzia o cenho. As feições de Hinata Hyuuga lhe pareciam atraentes, mas, ainda assim, nada significavam para ele. Tendo notado que os advogados não tinham feito pesquisas suficientes, ele resolvera conhecer a moça pessoalmente. Havia algumas coisas na aparência dela que não o agradavam totalmente. Ele lera os relatórios das entrevistas feitas com a jovem e o que descobrira o deixara indeciso sobre se casar com ela, ainda que por tempo limitado.
O problema era que ela havia satisfeito plenamente os quesitos formulados por ele mesmo. E, nesse ponto, os advogados haviam feito um bom trabalho.
Naruto não poderia negar que ela era atraente, educada, sofisticada e elegante. Talvez a falha no critério tivesse sido culpa dele mesmo. Ele se preocupara demais com a aparência e se esquecera de formular quesitos mais aprofundados sobre a personalidade da candidata. Essa era mais uma razão para querer conhecer a moça antes do casamento. Se ela fosse do tipo fútil, ele teria a oportunidade de cancelar o contrato antes que fosse tarde demais.
- Essa não sou eu ! - Hinata protestou diante da própria imagem no espelho.
- E não é mesmo - concordou Akemi - Já que terá que se passar por mim, é ótimo que esteja parecida comigo. De qualquer maneira, não poderia se apresentar para o magnata com as roupas modestas que costuma usar. E nem deveria se queixar, já que vou lhe emprestar as minhas melhores roupas.
- Eu não gosto de usar suas roupas. Não fazem o meu estilo.
- Você nem mesmo tem um estilo, Hinata. Só usa roupas discretas e confortáveis. E não é isso que um homem rico admira. Se você pretende ir adiante com a farsa, terá que passar a imagem correta.
- Mas, se você acrescentar mais acessórios, eu vou parecer uma árvore de Natal ! E este vestido está justo demais ! - ela reclamou, ao notar os seios quase expostos através do decote ousado.
- Está ótimo, considerando que sou mais magra do que você. Não poderia esperar que o vestido ficasse tão bem em você quanto fica em mim. E isso é bom para que não se esqueça de se afastar das guloseimas - Akemi aconselhou - E cuide bem para não deixar o casaco em qualquer lugar. Há ladrões em todos os cantos.
Pouco tempo depois, o zelador do prédio onde Akemi morava avisou, através do interfone, que o motorista que acabara de estacionar uma limusine preta na frente do prédio a estava aguardando.
Pelo fato de estar usando as roupas da irmã, o funcionário do prédio nem mesmo notou que era Hinata quem saíra do elevador e cruzara o saguão do prédio na direção da calçada.
O motorista de porte alto e avantajado desceu do veículo assim que a viu aproximar-se e, com uma reverência cortês, se apresentou:
- Meu nome é Kakashi Hatake, e estou a serviço do sr. Uzumaki - revelou com sotaque acentuado.
- Muito prazer. Eu sou Hinata.
Após uma curta viagem, Kakashi estacionava o carro na frente de um clube noturno, onde já havia uma fila considerável de pessoas bem-vestidas aguardando para conseguir entrar. Entretanto, acompanhada de Kakashi, ela não precisou esperar para entrar no clube. Preocupada com a advertência da irmã, Hinata teve o cuidado de deixar o casaco no balcão da chapelaria.
- Você está se sentindo bem ? - Hinata perguntou para a recepcionista, que mantinha um lenço sobre o nariz e não parava de tossir.
- Eu apanhei um resfriado e aqui está muito frio.
Hinata ficou penalizada pelo fato de a moça precisar trabalhar naquelas condições. Ela mesma passara por aquelas dificuldades nos trabalhos temporários que arranjava para ajudar nas despesas da faculdade.
Kakashi, que se demonstrava impaciente pela demora de Hinata, disse algo em russo, que ela compreendeu como um chamado. Então o seguiu.
Naruto se encontrava em uma sala particular e perfeitamente vigiada pela equipe de segurança, enquanto permanecia confortavelmente relaxado em um sofá, assistindo a um jogo de futebol na tela gigante de plasma acoplada a uma das paredes do recinto.
No instante em que viu Hinata entrar na sala, seguida por Kakashi, ficou tão surpreso que até se esqueceu do jogo que estava assistindo. A mulher que ele acabava de ver não se parecia em nada com a foto que ele estudara. Pessoalmente, ela era muito mais bonita e atraente. O rosto incrivelmente delicado e os olhos claros exibiam um tom lavanda encantador. Os cabelos negros alcançavam a linha da cintura minúscula e o corpo perfeitamente delineado por curvas acentuadas e generosas. Os lábios grossos e polpudos. Os seios fartos e firmes. Aquela foto não lhe fazia a mínima justiça. Além de linda, tratava-se de uma mulher extremamente sexy, ele pensou ao mesmo tempo em que sentiu os instintos básicos se alertarem.
Quando Hinata olhou para o homem enorme esparramado no sofá ficou espantada com a agilidade dele em se erguer-se tão depressa. Pelo menos mais de 1,80 m de altura e uma poderosa musculatura que parecia exalar testosterona por todos os poros. E espetacularmente bonito. Os cabelos loiros e penteados para trás permitiam a visão plena do rosto bronzeado e destacavam o nariz reto e as linhas quadriculadas do vigoroso maxilar. Ele parecia manter intactos os atributos másculos primitivos que, nos dias atuais, se tornavam cada vez mais raros. Os brilhantes olhos azuis, fixados nos dela, quase a deixaram sem fôlego.
- Venha sentar-se comigo - ele murmurou - Estou assistindo ao meu clube jogar. Você gosta de futebol ?
- Não - ela respondeu com sinceridade enquanto reparava nas roupas dele. A camisa de seda listrada com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos, a calça preta estilizada e o paletó jogado num canto do sofá. A gravata a ponto de cair da beirada da mesinha de centro, onde teria sido atirada. Ela poderia afirmar, sem medo de errar, que ele não parecia ser do tipo ordeiro.
- Você não gosta de futebol ? - ele tornou a perguntar, surpreso com uma resposta tão definitiva. Geralmente as mulheres costumavam dizer que apreciavam aquele esporte, nem que fosse apenas para agradá-lo.
- Nunca me interessei por futebol - Hinata afirmou e dobrou com cuidado o paletó que ele largara no canto do sofá a fim de poder se sentar. A gravata que agora estava no chão a incomodava, mas ela resistiu à tentação de apanhá-la; afinal, não era empregada dele - Aliás, não sou fã de nenhum esporte - ela completou.
Antes de tornar a se acomodar no sofá, Naruto ordenou que lhes servissem vodka. Ela aceitou o drinque e tentou disfarçar a careta de desgosto ao sentir o líquido queimar-lhe a garganta.
- Também não gosta de vodka ? - ele perguntou, notando as feições distorcidas no rosto feminino - Vou pedir um uísque escocês para você. Quem sabe lhe agrade mais ?
- Oh, não ! Por favor. Não se preocupe com isso. Eu não estou acostumada a beber.
- Deveria aproveitar e apreciar bebidas alcoólicas enquanto pode - Naruto comentou.
Hinata ficou intrigada com o que ele queria dizer com aquele comentário. Será que não lhe seria permitido ingerir bebidas alcoólicas enquanto ela fosse sua esposa ? O súbito ruído provindo da TV de uma multidão gritando pela comemoração de um gol interrompeu-lhe os devaneios. Ela resolveu agradá-lo com uma observação entusiasmada:
- Acho que alguém marcou um gol. Está contente ?
- O gol foi a favor do outro time, e não do meu - ele resmungou e ela ficou completamente corada.
- Oh, sinto muito ! - houve um silêncio.
Naruto ficou, por mais algum tempo, prestando atenção no jogo, porém, entediado com o resultado que se apresentava, decidiu fazer algo mais interessante, e, enlaçando Hinata pelos ombros, puxou-a para próximo dele.
- O que está fazendo ? - ela perguntou sobressaltada.
- O que acha que estou fazendo ? - Naruto respondeu com ironia. Aquela não era a reação que ele esperava de uma mulher experiente como ela.
O olhar de sedução que ele lhe lançava a deixava tão desconfortável, que Hinata se remexeu no assento e cruzou as pernas para disfarçar a umidade que se formara no centro de sua feminilidade, ao mesmo tempo em que os mamilos enrijeceram espontaneamente. Hinata sabia o que estava acontecendo com ela e não gostava nem um pouco daquilo. Era o seu corpo que estava atraído pelo dele, e não a sua mente.
- Você é muito sexy, sabia ? - Naruto sussurrou, enquanto traçava com um dos polegares as linhas protuberantes do lábio inferior feminino - Vamos dormir juntos esta noite. Para que esperar até o casamento ?
Hinata arregalou os imensos olhos da cor de lavanda e, em seguida, cerrou as pálpebras para raciocinar com calma. Mal acabavam de se conhecer e Naruto já esperava que ela fosse para a cama com ele ?
Se Akemi estivesse sentada ao lado dela naquele instante, Hinata certamente a estrangularia. Com que tipo de arranjo, exatamente, a irmã teria se comprometido ? E como faria para descobrir sem ter que revelar a farsa ? Enquanto ela devaneava, Naruto aproveitou para provar-lhe os lábios num beijo gentil.
O inesperado calor da boca masculina provocou uma reação eletrizante que se espalhou por toda a extensão do corpo de Hinata. E, quando ele separou-lhe os lábios com a língua e explorou o interior úmido, ela gemeu de prazer e, sem perceber, estendeu os braços e fincou os dedos nos cabelos loiros e espessos dele. Contudo, a maneira como ela pressionou o próprio corpo contra o dele foi além do que realmente pretendia.
- Agora já chega, milaya moya - Naruto falou, interrompendo o beijo e estudando o rosto corado dela com plena satisfação. Ele gostava de mulheres que se abandonavam em seus braços de maneira tão submissa. Já podia vislumbrar aquele pequeno e deslumbrante corpo em sua cama. E o casamento planejado com regras tão rígidas agora lhe parecia sexualmente atraente. E o dever de engravidar a esposa não seria nenhum sacrifício.
Hinata piscou por várias vezes, perplexa com o próprio comportamento em permitir que ele a beijasse daquela maneira e a descartasse no instante em que desejasse.
- O jogo ! - ele exclamou de repente, como se estivesse se esquecendo da coisa mais importante do mundo.
Hinata sentiu vontade de atirar o copo que estava sobre a mesinha na cabeça dele. Então o futebol importava mais do que ela ?
- Nada como um homem que saiba distinguir suas prioridades - ela murmurou com sarcasmo.
Ele nem mesmo prestou atenção na ironia contida na voz dela, e, concentrando-se no jogo outra vez, apenas respondeu:
- Eu a levarei para conhecer a boate assim que a partida terminar.
Com as faces completamente ruborizadas pelo embaraço de ter se comportado daquela maneira com um completo estranho, ela fixou o olhar na tela da TV e, num ímpeto infantil, desejou que o time dele perdesse.
Pouco depois, Naruto acompanhava Hinata para que ela conhecesse a casa noturna.
- Este lugar é enorme ! - ela exclamou, admirada.
- Eu providenciei para que o clube contivesse salas exclusivas para os empresários russos e orientei o pessoal quanto ao atendimento que deveriam oferecer, a fim de proporcionar-lhes o mesmo conforto ao qual estão acostumados na Rússia.
- Quer dizer que este clube é seu ?
- Sim. Não existia em Londres uma casa noturna capaz de oferecer o nível de serviços que eu esperava.
Hinata ficou pasma com tamanha arrogância. Ele esperava o melhor e não aceitava menos. Até comprara sua própria boate para satisfazer seus caprichos. Não era à toa que seu casamento não dera certo na primeira vez, ela concluiu. E isso explicava a razão de ele tentar um segundo matrimônio através de um contrato. Só não esclarecia o fato de haver uma condição explícita de quando deveria ocorrer o divórcio. Se ele pretendia se divorciar outra vez, então por que desejava se casar novamente ?
- Você está muito calada - Naruto observou no instante em que entravam no salão principal.
Antes que ela respondesse qualquer coisa, um grupo de mulheres entusiasmadas se atirou sobre ele, praticamente imobilizando-o. Hinata nunca vira nada igual. Todas falavam alto e tentavam tocá-lo ao mesmo tempo. Os seguranças se aproximaram para acompanhar o patrão até sua mesa exclusiva, contudo as mulheres não desistiram do assédio e o seguiram, cercando-o por todos os lados.
Não era à toa que ele exibia toda aquela arrogância de um homem acostumado a ser o centro da atenção feminina. E, sem dúvida, era mesmo, Hinata ponderou. Mas, com certeza, ele conseguiria se desembaraçar das fãs se realmente quisesse.
Hinata empinou o nariz e propositadamente deixou que ele seguisse na frente, optando por se acomodar em outra mesa, que ficava logo atrás de onde Kakashi estava posicionado.
De onde estava ela podia observar Naruto cercado de belas mulheres e perfeitamente confortável com a situação. Não era novidade para ela saber que Naruto Uzumaki era um mulherengo inveterado. Já havia visto notícias e fotos em tablóides em que ele aparecia acompanhado de mulheres lindas e famosas, saindo de boates, veleiros ou em frente do suntuoso prédio no centro de Londres onde estava localizado um dos seus escritórios, que fazia parte do seu poderoso império financeiro.
Por um instante ele percorreu os olhos ao redor e procurou por Hinata. Ficou irritado ao vê-la sentada em outra mesa. Em toda a sua vida nenhuma mulher se atrevera a tratá-lo com tamanha indiferença. E pensar que deveriam estar casados em uma semana ! Ele havia acabado de liberar a notícia para a imprensa e sua noiva demonstrava sua total inabilidade em cumprir a parte que lhe cabia.
Hinata bebericava a vodka que lhe fora oferecida enquanto mantinha a atenção em Naruto, que dançava animado com uma admiradora de cada vez. A atitude dele decepcionava-a tanto que ela considerou que Naruto não tinha a mínima idéia de como se comportar em público com a mulher com a qual pretendia se casar. Talvez por isso tivesse que pagar alguém para enfrentar aquele papel ridículo. Nenhuma mulher que possuísse um pouco de dignidade toleraria ser tratada daquela maneira. E, se fosse um compromisso real que ela tivesse com ele, nessa altura, Hinata já teria ido para casa e dado o noivado por encerrado.
Agora se perguntava por quanto tempo teria que ficar ali sentada deixando-se passar por tola enquanto ele se divertia com as outras mulheres.
De repente, um homem loiro e elegante aproximou-se da mesa onde ela se encontrava e a convidou para dançar. Hinata hesitou no primeiro instante, mas por que deveria ficar ali sentada o tempo todo, como uma prisioneira ?
Apesar dos protestos de Kakashi, ela ergueu-se e aceitou o convite.
Naruto ficou estarrecido ao ver sua futura esposa dançando de maneira insinuante com outro homem. Ele jamais fora provocado daquela maneira por uma mulher. Os expressivos olhos azuis se tornaram mais frios do que um inverno siberiano ao observar que, enquanto ela gingava os quadris para acompanhar o ritmo, a saia curta se elevava ainda mais, revelando as pernas esguias e bem torneadas.
Aproveitando o breve intervalo, antes que a próxima música começasse a ser tocada, Naruto dispensou a moça com quem dançava e disparou na direção de Hinata. Dirigindo um olhar furioso para o parceiro dela, Naruto repousou as mãos imensas sobre os ombros delicados de Hinata num claro gesto de autoritarismo:
- Com quem diabos acha que está brincando ? - ele protestou com os dentes cerrados.
Hinata espantou-se com tamanha agressividade, que não ficou surpresa ao ver o cavalheiro que a acompanhava retirar-se apressadamente, antes que Naruto partisse para a agressão física, como parecia evidente. E, num gesto brusco, ela liberou os ombros das mãos dele e saiu dali com passos acelerados. Decidiu voltar para casa, sem se importar com as conseqüências. O que não tolerava mais era permanecer na companhia daquele brutamontes.
Naruto estava furioso e sentiu-se ultrajado pela razão de nunca ter sido desafiado por uma mulher da maneira como ela o estava desafiando. Inconformado, decidiu segui-la. Naquele instante, o celular tocou e ele o retirou do bolso do paletó e atendeu a ligação, ao mesmo tempo em que permanecia caminhando.
Tratava-se do advogado principal que solicitava para que o casamento deles fosse adiado. Ele precisava de mais tempo para finalizar as investigações sobre a vida pregressa da candidata.
Naruto estudou a figura de Hinata, que caminhava de cabeça erguida e com um gingado extremamente sensual nos quadris generosos. Ordenou para o advogado que encerrasse as investigações e desligou o celular. Acabara de decidir que levaria aquela mulher para a sua cama e assumiria os riscos, não importando quais fossem.
Hinata se deteve no balcão da chapelaria para apanhar o casaco de volta.
- O que pensa que está fazendo ? - a voz grave de Naruto ecoou atrás dela.
- Estou voltando para minha casa. Não namoro com trogloditas !
- Acontece que não se trata de um namoro - Naruto lembrou-a. E, notando que a balconista apenas os olhava, determinou com impaciência: - Ande logo ! Estamos com pressa !
- Não seja tão rude ! - Hinata protestou - A pobre moça não está se sentindo bem. Por acaso pensa que está no exército ?
Naruto deu um longo suspiro para conter o temperamento explosivo. Kakashi e os outros seguranças estavam boquiabertos com a cena que acontecia bem diante dos seus olhos. Que tipo de mulher era aquela com tanta coragem para criticar o comportamento de Naruto Uzumaki ?
Naruto comprovou, quando a balconista se afastou para apanhar o casaco, que a moça realmente estava tossindo e tremia de frio. Ficou surpreso ao ver que Hinata estava preocupada com uma simples funcionária.
E, por um momento, aquela atitude altruísta o fez lembrar-se de Kaori. A porta da casa de sua avó era a primeira a ser procurada pelos vizinhos quando estavam carentes ou necessitados. Ali estava a mulher que poderia representar exatamente o tipo de esposa que ele desejava apresentar para a aprovação de Kaori.
Assim que a moça entregou o casaco para Hinata, ele ajudou-a a vesti-lo e depois depositou sobre o balcão uma boa gorjeta para a balconista, como se fosse um silencioso pedido de desculpas.
- Os repórteres estão nos aguardando lá fora. Prepare-se para ter os seus cinco minutos de fama - ele avisou - E não se esqueça de fingir que está muito feliz ao meu lado.
- Repórteres ? - ela repetiu e, sem querer, pensou na irmã. Akemi adoraria estar no lugar dela naquele momento - Isso quer dizer que não poderei esbofeteá-lo ?
Ele riu debochado.
- Se eu fosse você, não arriscaria, milaya moya. Da mesma maneira que não suportarei outro episódio em que outro homem encoste sequer um dedo em você enquanto me pertencer. Existem limites que não devem ser ultrapassados, e você precisa aprender a respeitá-los - e, com um olhar insinuante, ele acrescentou: - Quando estiver preparada, garanto que também aprenderá a gostar de futebol. Como todas as mulheres com quem namorei.
- Nem em sonhos ! E também lhe garanto que nunca conheceu uma mulher como eu !
- Agora chega ! - exclamou ele com um brilho fulminante nos olhos azuis - Por acaso se esqueceu das razões pelas quais está comigo ?
Hinata baixou os cílios e aliviou a contrariedade nas feições bonitas do rosto. Realmente estava se esquecendo do acordo feito por Akemi e que ela se comprometera a cumprir no lugar da irmã. Ao invés disso, estava se comportando de maneira irreverente.
- Assim está melhor - Naruto murmurou, e, inclinando a cabeça, pressionou gentilmente os lábios nos dela - Agora podemos sair.
O clarão dos flashes das câmeras dos jornalistas e as perguntas gritadas ao mesmo tempo os recepcionaram assim que ultrapassaram o umbral da porta de saída. Hinata tentou manter um sorriso polido enquanto os guarda-costas impediam os repórteres de se aproximarem demais. Quando entraram na limusine, ela respirou aliviada.
- Você parece assustada. Não gosta de publicidade ? - ele questionou.
- Não. Sou mais do tipo acanhada.
- Essa não foi a impressão que tive quando assisti aos vídeos da sua entrevista com o advogado - ele respondeu, em tom de dúvida.
Ela não imaginava que as entrevistas eram gravadas. Com certeza, Naruto tivera uma opinião bem diferente da personalidade que esperava da mulher que contratara. Ainda bem que ele não a conhecera pessoalmente, ou a diferença estaria evidente.
- Às vezes superamos nossas fraquezas quando é necessário - Hinata improvisou.
Naruto não fez nenhum comentário, porém percebeu a evasiva. Pouco depois, retirou um pacote do bolso e entregou para Hinata.
- Isto é para você, milaya moya. Em menos de uma semana estaremos viajando para a Rússia e, de agora em diante, precisaremos manter maior contato.
Rússia ?
Do que é que ele estava falando ?, Hinata se perguntou espantada, imaginando se conseguiria prosseguir com aquele plano maluco.
Algum tempo depois, foi Akemi quem se incumbiu de abrir o pacote que Naruto entregara à irmã. Com os olhos arregalados, ela exclamou:
- Não acredito ! Ele lhe deu de presente um dos celulares mais caros do mundo ! - e, ostentando-o na palma de uma das mãos, estendeu o braço e exibiu o aparelho para Hinata - Veja ! Esses diamantes são verdadeiros !
- São mesmo ? - ela perguntou, incapaz de compartilhar do entusiasmo da irmã, uma vez que considerava uma decoração tão valiosa como um desperdício de dinheiro.
- E pensar que fui eu quem arrumou esse trabalho e que deveria estar recebendo o celular de presente - Akemi se lamuriou.
Hinata nem mesmo deu importância para as lamentações da irmã. Estava mesmo muito mais preocupada com o casamento que estava programado.
- O que você pensa a respeito de Naruto Uzumaki querer contratar uma esposa ? Não acha curioso ?
- Desde que não seja nada de ilegal, por que eu deveria me importar ? - respondeu Akemi - Talvez seja para poder receber alguma herança ou coisa do tipo.
- Eu acho que ele não me considera o tipo de mulher com quem escolheria se casar de verdade. Até me convidou para passar a noite com ele.
- Ele fez isso ? Será que a achou tão atraente assim ? Acho que já ganhou seu presente de Natal. E por que você não aceitou ?
- O ponto não é esse, Akemi. Desde quando sexo fazia parte do acordo ?
- Está raciocinando sobre o que está falando, Hinata ? Como espera aceitar ser a esposa de um homem se não pretende compartilhar a cama com ele ?
- Eu imaginei que o casamento teria que funcionar apenas como uma fachada para ser exibida na frente dos outros.
- Não acredito que você seja tão ingênua ! Se puser um homem e uma mulher dentro de um quarto, o que acha que poderá acontecer ?
Hinata enrubesceu tanto que Akemi teve uma súbita desconfiança:
- Não vá me dizer que você é virgem !
- Bem... por que está tão espantada ? Eu ainda não encontrei a pessoa certa e não me envergonho disso.
- Às vezes eu não consigo acreditar que somos gêmeas - reclamou a irmã - Somos tão diferentes ! E, sinceramente, estou com receio de que você estrague todo o plano. Acho que apenas eu serei capaz de conseguir satisfazer Naruto Uzumaki. E, como não poderemos devolver o dinheiro, a solução será o aborto.
- Não permitirei que faça isso ! - Hinata exclamou, horrorizada.
- Nós temos apenas duas opções: ou você se casa com o russo e faz exatamente da maneira que ele quer, ou eu interromperei essa gravidez e cumprirei o contrato.
- Eu já lhe disse que me vou me casar com ele - reafirmou Hinata, sabendo o quanto a irmã era impulsiva e poderia acabar com a gravidez a qualquer momento.
- Mas você vive colocando empecilhos ! E precisa se decidir de uma vez por todas se vai ou não ajudar a mamãe.
Hinata já havia se acostumado à idéia de ser tia e gostara muito de Konohamaru, quando Akemi o apresentara uns dias antes. E estava muito feliz pela irmã ter resolvido se casar e iniciar uma família. Contudo, sabia que Akemi era imprevisível. E, vendo-a tão fascinada pelo valioso celular que Naruto lhe dera de presente, não achava difícil a irmã jogar tudo para o alto e acabar resolvendo se casar com um magnata bilionário para desfrutar dos bens luxuosos que poderia ganhar, ainda que por pouco tempo.
Por isso, Hinata se determinou a continuar com o trato e evitar que a irmã estragasse a verdadeira chance de ser feliz ao lado de um marido e filho que a amassem de verdade.
- Eu quero ajudar nossa mãe mais do que tudo na vida e irei adiante com o casamento com Naruto Uzumaki, custe o que custar - Hinata finalmente revelou, com toda a convicção.
P. S.: Nos vemos no Capítulo 3.
