Ao se levantar pela manhã, Jim beijou sua sonolenta esposa na testa e se aprontou para o dia de serviço, imaginando que Spock o acompanharia logo em seguida. Mas alguns minutos se passaram e não foi isso que aconteceu. Preocupado, ele retornou à cama para verificar como ela estava. Com certeza, Spock já estava acordada porém muito diferente da oficial disposta e diligente, talvez não tão diferente assim.
-Eu preciso me levantar antes que me atrase mais - ela fez questão de apontar, porém numa voz baixa e fraca.
-Ah nem pensar, é óbvio que você não está se sentindo bem - Jim vetou qualquer esforço a mais dela.
-Eu realmente me sinto um tanto fraca e tonta, no entanto, meus deveres me esperam - ela tentou argumentar.
-Não vai sair dessa cama se não está se sentindo bem - seu marido declarou, se aproximando e tocando sua testa, numa tentativa de aferir uma febre - você está quente, mais que o habitual, o que mais está sentindo?
-Dor, nas pernas, como se não tivesse forças pra ficar de pé - ela descreveu, fechando os olhos pelo desconforto - e minha cabeça dói.
-Sabe muito bem que não é recomendável um oficial doente estar em serviço até que se recupere - ele a lembrou com sabedoria - descanse, Comandante, é uma ordem do seu capitão.
-Está bem - ela achou melhor confiar na sensatez ele.
-Computador, chamar Dr. McCoy - o capitão solicitou e o médico apareceu na tela mais próxima - Magro, eu preciso de você nos meus aposentos, Spock não está bem, eu preciso ir à ponte agora, mas me entregue um relatório sobre o estado da minha esposa assim que eu retornar.
-Tudo bem, capitão, estou a caminho - Leonard respondeu de imediato.
-Você trate de se cuidar e ficar bem, me preocupo quando não está bem - Jim se despediu de Spock mais uma vez, deixando Leonard cuidar dela.
-Eu farei meu melhor para isso também - o médico prometeu aos dois.
Jim a beijou uma última vez e então se dirigiu até a ponte à espera de seu comando.
-Muito bem, vamos ver o que é que você tem - disse Leonard, de maneira prática e usando o tricorder sobre a vulcana.- fez algo fora da sua rotina comum nas últimas 24 horas?
-Nada fora do comum, Doutor, eu me lembraria certamente - ela disse na mesma voz baixa.
-Esse tom não é nada bom - ele observou, pensativo, continuando seus exames.
Foi então que algo no tricorder chamou a atenção de Leonard, de modo que sua expressão espantada não passou despercebida por Spock.
-O que houve, Doutor? Constatou algo preocupante? - ela questionou, também ficando preocupada com seu próprio estado.
-Bem, eu... - ele mordeu os lábios, ainda meio incrédulo sobre o que a leitura do tricorder poderia significar - há uma possibilidade no tricorder, mas eu não apontaria com toda certeza sem fazer exames mais detalhados, preciso levá-la à enfermaria.
-Se é necessário, Doutor, eu irei - Spock respondeu, confiando na opinião médica dele.
Com certa dificuldade, ela se levantou e Leonard ao menos a apoiou para que conseguisse pegar o uniforme dentro do closet. Ela se trocou no banheiro de forma lenta, sentindo um pouco mais de tontura, chegando a gemer um pouco de dor.
-Calma, Spock, vá devagar - ele correu até ela, deixando-a se apoiar em seu ombro.
-Eu consigo ir até lá, Doutor, só preciso de sua ajuda até o elevador - ela deduziu e Leonard resolveu confiar nos instintos vulcanos dela.
A passos lentos, os dois chegaram ao elevador e por consequência, à enfermaria. Ela se deitou no lento mais próximo, tentando ficar confortável. Leonard ativou os sistemas do computador para os exames e esperou os resultados da leitura completa do estado de saúde da Primeira Oficial. Foi então que tudo ficou claro, ele estava certo no que tinha deduzido, então um lado amigável dele o permitiu sorrir com a notícia. Só não sabia se a reação de Spock seria tão feliz quanto a dele.
-Acredito que tenha boas notícias para me dar, devido ao seu claro sorriso - Spock comentou.
-Claro, me desculpe pela minha indiscrição - ele se voltou para ela - bom, Spock, eu tenho um diagnóstico do que é que você tem, e eu não sei se você e Jim conversaram sobre filhos, e sinceramente, eu não quero me intrometer, mas sendo direto, você está grávida.
Ao invés de uma resposta pronta e um tanto convencida, Spock ficou em silêncio, refletindo sobre o que aquilo significava. Era claro que com o casamento vinha a possibilidade de constituir sua própria família. Nunca tinha feito o exercício de ter se imaginado mãe em sua vida, responsável por outra vida, uma criatura única e com infinitas possibilidades. Não tinha certeza se seria a guia ideal para tal. No entanto, ali estava a criança e, inexplicavelmente, sentia o instinto de protegê-la, assim como a mãe dela fez com ela um dia. Spock se agarrou a esse pensamento como um consolo diante da notícia inesperada.
-Certo, Doutor - ela disse depois da leve cara de espanto que esboçou - eu deduzo que essa seja uma gravidez única, sem precedentes, a não ser pela minha própria existência. No entanto, eu sou metade humana, metade vulcana, minha criança é um quarto vulcana.
-É, eu suponho, ainda é cedo pra esses exames, mas... - Leonard retomou o assunto de forma mais profissional - é um bebê saudável de 3 semanas de vida, eu baixei sua ficha médica completa mais os dados do bebê que já temos, vou comparar um ao outro e prever o que podemos sobre sua gestação.
-Faz muito bem, Doutor, obrigada - Spock disse, ainda pensativa sobre tudo - eu mesma quero acompanhar essas fichas de perto, com seu auxílio, claro, compreender a gravidez fisicamente, no meu caso tão específico me ajudaria a me preparar melhor para o nascimento.
-Com certeza, mas não se preocupe com isso agora, você ainda tem um longo caminho pela frente - ele foi compreensivo - eu sei que a notícia te pegou de surpresa tanto quanto eu, precisa de um tempo para processá-la e entendê-la, se quiser conversar, estou aqui.
-Eu agradeço, acredito que entendo o que quer dizer - ela suspirou, tentando relaxar um pouco - não foi uma gravidez planejada, certamente, eu não esperava ser capaz de engravidar, eu e Jim temos biologias semelhantes, mas distintas. Meu corpo é mais vulcano que humano de qualquer forma.
-Esse é o lado científico da coisa, e quanto ao fato de você estar prestes a ser mãe? - Leonard especificou o assunto, ajudando-a a se abrir.
-Tenho dúvidas sobre minha capacidade de maternidade, no entanto, compreendo que tanto para os humanos como para os vulcanos, filhos são uma benção, perpetuar sua linhagem é nobre - ela refletiu - fico contente em poder viver isso, e acredito que Jim ficará orgulhoso e contente também.
-É, eu acho também - o médico concordou, cruzando os braços - mas aposto que essa reação feliz só vai vir depois de ele surtar um pouco.
-Acha que ele ficaria irado comigo por estar grávida? - a dúvida dela era genuína.
-Ah Spock se você pensa assim, não conhece seu marido - Leonard sentiu compaixão por ela -ele vai ficar surpreso, como você ficou, e depois vai ficar feliz e te amar ainda mais, você e a criança.
-Seria demais pedir que estivesse comigo quando eu der a notícia a ele, Doutor? - ela pediu sinceramente.
-De modo algum, Spock, vai ser um prazer - Leonard sorriu de bom grado, feliz por estar presente nesse momento incerto, mas certamente feliz, da vida dos seus amigos mais próximos.
