Em um escritório de advocacia no centro financeiro da cidade.
Draco termina de analisar alguns papeis, o seu dia hoje foi longo, mas nada diferente dos dias anteriores. A sua rotina muda muito pouco e ele gosta que seja assim.
Como advogado corporativo, ele está em seu habitat natural. Lidando com empresas que ele recupera ou destrói conforme o que lhe pagarem e eles sempre lhe pagam bem, ele pensa com um sorriso irônico.
Draco não pode dizer que a sua vida sempre foi fácil, mas ele não é hipócrita a ponto de dizer que enfrentou muitas dificuldades. Ele teve a sorte de nascer em uma família privilegiada e fez a sua parte para manter o seu padrão elevado. Minha ex-mulher que o diga, ele pensa com desdém.
Não que Draco perca muito tempo do seu dia pensando na ex-senhora Malfoy, mas quando o faz é sempre com uma pitada, ou melhor, uma tonelada de rancor. O casamento não foi um mar de rosas e o divórcio foi pior ainda. Pansy foi até as últimas consequências para arrancar dele tudo o que podia e ela sabia que tinha a arma perfeita para isso. Seu filho.
E ela usou essa arma com toda propriedade, uma coisa que a sua ex-mulher sabia fazer com maestria era fingir e qualquer um que visse a sua atuação acreditaria piamente que ela era a mãe amorosa que ela dizia ser, mas Draco a conhecia melhor, ele nunca teria coragem de afastar seu filho de uma mãe que realmente se importasse, o que não era o caso dela infelizmente.
E foi por isso que Draco lutou durante meses até conseguir a custódia total do filho, o que lhe deixou alguns milhares de libras mais pobre, mas em momento algum ele se arrepende, o acordo deu a Pansy mais do que ela merecia, mas para ter Nicholas a seu lado valeu a pena.
Ele sorri ao se lembrar do menino tão loiro quanto ele, mas consideravelmente mais sociável talvez para compensar a falta de interesse da mãe. Draco, como a raposa astuta que é, fez questão de deixar claro para o juiz da vara de família que a sua esposa teria total direito a visitas e férias com seu filho, bastando pra isso entrar em contato com ele através do seu advogado, direito esse que ela nunca fez questão de usufruir. Ele sabia que seria assim, mas Draco fez questão de ter tudo registrado como uma forma de se garantir, conhecendo Pansy como ele conhece, Draco sabe que ela não titubearia em dizer que não pôde ver o filho por culpa dele e assim ter mais uma desculpa para extorquir mais algum dinheiro.
Draco gostaria muito de ter se enganado quando olhou a sua ex nos olhos ao assinar os papeis do divórcio, mas neste momento ele soube que ela não iria mais procurar o filho, pelo menos não enquanto isso não fosse lhe dar alguma vantagem. Claro que ela liga esporadicamente ou manda alguns cartões, ela até fez uma ou outra visita para não dar muito na cara a sua falta de interesse. Mas apenas isso e embora Draco saiba que o filho sofre por essa falta de interesse, ele sabe que é melhor assim, apenas pai e filho.
Ele ser prepara para ir para casa, Nicholas está esperando e isso pra ele é um compromisso inadiável. Draco sabe que o seu tempo é escasso e preza muito os seus momentos com o filho, ele sempre faz o possível para passar tempo com o garoto, embora isso nem sempre seja possível. O seu trabalho lhe toma um tempo precioso e muitas vezes ele se vê obrigado a deixar o menino aos cuidados de terceiros. Se não fosse por Luna, ele pensa se referindo a sua meia irmã postiça, eu não sei o que faria.
Sua mãe, Narcisa, depois de um casamento abusivo e um divórcio conturbado, viveu como mãe solteira até o final da sua adolescência. Ela nunca falava, mas Draco sabia que ela tinha medo de começar um novo relacionamento, o fantasma do seu pai abusivo sempre estava rondando suas vidas. Quando Lucio Malfoy morreu em circunstâncias misteriosas a sua mãe finalmente floresceu mesmo tendo que enfrentar o inquérito referente à morte do seu ex-marido e ver muita sujeira da vida dele vindo à tona. Finalmente após tudo ser esclarecido a sua mãe pôde tomar as rédeas da sua vida e após alguns anos se permitiu amar novamente e assim Draco ganhou um padrasto, Xenofilio e uma meia irmã, Luna. E se Lucio Malfoy era um homem duro e frio incapaz de demonstrar o menor sentimento pelo filho, o seu padrasto e a sua meia irmã não poderiam ser mais diferentes. Draco admite que pra ele foi difícil se acostumar ao jeito espontâneo e carinhoso dos seus novos familiares, mas hoje ele agradece por isso, seu filho merece um pouco de calor humano na sua vida.
E agora enquanto a sua mãe e seu padrasto aproveitam as delícias da terceira idade viajando a maior parte do tempo, ele cuida da sua irmã que embora não tenha o mesmo sangue pra ele é como se fosse sua irmã de verdade. Mas, pra falar a verdade, quem cuida de tudo em sua vida é ela. É Luna quem garante que tudo esteja certo na sua vida, embora de uns tempos pra cá ela esteja mais avoada do que o normal, o que para os padrões dela é muita coisa.
Ele se lembra que no início estranhou muito o jeito avoado e a sinceridade brutal da menina, Luna sempre teve um jeito de lhe dizer verdades que o desconcertavam e o faziam pensar ao mesmo tempo. Ela sempre soube o que dizer, mesmo que isso o desconcertasse ou o deixasse furioso, o que acontecia com certa frequência. Não que isso a impedisse, é claro. Como ele se recorda de quando disse a ela que iria se casar com Pansy, enquanto sua mãe e seu padrasto não disseram nada diretamente, Luna foi veementemente contra e falou com todas as letras, o que lhe causou uma briga bem feia e algumas semanas sem falar com ela. É claro que como sempre ela tinha razão e foi Luna como sempre que segurou a barra quando ele finalmente conseguiu se livrar da ex-mulher e é Luna quem o ajuda com Nicholas. Draco nem imagina o que seria da sua vida sem o apoio da sua irmã.
Ele está cuidando dos últimos detalhes que o seu lado fanático por organização obriga quando a sua secretária lhe avisa que alguém o está procurando.
- Você lhe disse que eu não vou atender mais ninguém hoje? – Draco diz de modo sério. A sua secretária sabe muito bem que seu horário de saída é sagrado e são raríssimas as vezes que ele abre uma exceção.
- Sim senhor – ela diz de modo eficiente – mas ela insistiu e disse que não sairia daqui até que o senhor a visse. Ela é bem persuasiva.
Draco suspira alto, se a sua secretária que é bem competente com esse tipo de coisa não conseguiu se livrar desta mulher, é melhor mesmo que ele veja logo o que ela quer e se livre dela ele mesmo – pois bem – ele diz – peça para que ela entre, mas deixe claro que só disponho de uns poucos minutos. Aliás, quem é ela?
- Nunca a via antes, senhor – sua secretária diz – o nome dela é Hermione Granger...
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Enquanto isso
Hermione toma respirações profundas em uma tentativa de acalmar as batidas de seu coração. Ela não acredita que está mais perto do que nunca de realizar o pedido da sua avó, finalmente ela vai conhecer o seu tio-avô e dizer a ele que ele teve uma irmã que o amava e fez de tudo para conhecê-lo.
Ela não sabe direito o que vai dizer, pelo que Sirius lhe contou esse tal Draco Malfoy é um advogado dos mais implacáveis e por algum motivo, ele defende com unhas e dentes que o seu tio-avô fique em uma clínica alegando que oportunistas tentam se aproximar dizendo que são parentes, mas ela desconfia que isso pode ser apenas uma desculpa para esconder uma possível dilapidação do patrimônio, ou pior ainda, talvez possíveis maus tratos.
Seu sangue ferve só em pensar que um idoso vulnerável pode estar em uma situação como essa. Calma Hermione, ela diz para si mesma, você pode estar fazendo um julgamento precipitado, pode ser que este advogado seja realmente uma pessoa que só está preocupada com o bem estar dele, você sempre procurou ver o melhor nas pessoas, mantenha isso em foco neste momento.
Mas a figura loira que aparece na sua frente e a encara de modo altivo e frio lhe mostra que manter o melhor das pessoas em foco vai ser mais difícil do que ela pensava...
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Draco olha a mulher na sua frente. Ele tem certeza que nunca a viu antes, Hermione Granger não é o tipo de mulher que ele esqueceria, não que ela seja seu tipo, mas definitivamente não seria alguém que ele esqueceria, principalmente pelo olhar altivo e decidido que ela lhe lança.
- Pois não, senhorita Granger – ele decide ser direto, seu horário é muito importante e a última coisa que ele quer é perder tempo, um tempo precioso com seu filho – minha secretária disse que a senhorita insistiu em ser atendida, devo dizer que não costumo receber sem hora marcada.
- Sim, ela me falou – Hermione diz de modo decidido, ela sabe como são estes advogados, a última coisa que ela precisa é demonstrar fraqueza – eu sinto tomar seu tempo e prometo não me alongar mais do que o necessário, meu nome é Hermione Granger, eu pedi ao senhor Black que entrasse em contato...
- Ah, o detetive – Draco diz com desdém, ele ficou sabendo pelo pessoal da clínica que um homem havia procurado pelo seu cliente – a sobrinha... (ele a encara) devo supor então que o recado não foi dado com clareza.
- Ele foi perfeitamente claro – Hermione diz sustentando o olhar, ela já conhece o tipo a morena sabe que se ela recuar todas as suas chances de conhecer o seu tio-avô cairão por terra- mas eu quis ver com meus próprios olhos o que levaria alguém a impedir que eu possa conhecer o meu tio-avô.
- Ah – ele fala de forma irônica – dessa vez é um tio-avô. Deixe-me ver... (ele diz contando nos dedos) já tivemos sobrinhas, filhas, netas e até mesmo um irmão que não deveria ter mais que trinta anos. Tio-avô realmente é algo diferente, devo te parabenizar.
- O senhor está insinuando que eu sou alguma espécie de impostora que está tentando se aproveitar de um idoso? – ela diz indignada.
- Bem, senhorita Granger, percebo que é uma mulher inteligente. Mas não, eu não estou insinuando, eu estou afirmando – ele a encara de forma desafiadora – agora se me der licença...
- O senhor está dizendo que eu não posso ver meu tio-avô? – ela diz contendo a fúria – como se atreve? – então ela respira fundo antes de encará-lo mais uma vez e continua desta vez mais calma – muito estranho que o senhor simplesmente se negue sem sequer se dar ao trabalho de checar a minha história. Existe alguma coisa que o senhor esconde, senhor Malfoy? – ela diz de modo irônico.
- O que a senhorita está insinuando? – ele diz olhando incrédulo para a mulher na sua frente
- Ah não, senhor Malfoy – ela o encara de modo arrogante – eu não estou insinuando, eu estou afirmando que é muito suspeito que ninguém possa verificar como vive uma pessoa que não tem como se defender e que está sob a custódia de alguém que dificulta seu acesso a outras pessoas. Quem não deve não teme, concorda?
- Saia do meu escritório agora! – Draco diz enquanto sente as suas têmporas pulsarem – e não se atreva a voltar se não quiser responder a um processo por calúnia e difamação!
- Ou talvez seja o senhor quem vai responder um processo por abandono, maus tratos e negligência! – Hermione diz enquanto se retira batendo os pés furiosamente ser dar ao homem asqueroso a chance de revidar...
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Mais tarde
Hermione está em casa, a sua filha já se recolheu, mas ela sabe que não irá conseguir dormir agora. A figura arrogante de Draco Malfoy não sai da sua mente, ela ainda não acredita que o homem simplesmente se recusou a ouvi-la e ainda por cima ameaçou processá-la!
Tudo que aconteceu só a fez ficar mais preocupada, em seu ponto de vista não custaria nada que ele a deixasse vê-lo ou no mínimo que quisesse saber mais sobre como ela chegou à conclusão que o homem é realmente seu tio-avô. A recusa enfática de Draco Malfoy só faz com que pareça que ele tem alguma coisa a esconder.
Hermione não chegou tão longe assim para simplesmente desistir, ela deve isso à memória da sua avó, mas ao mesmo tempo ela conhece bem a respeito da natureza humana para saber que Draco Malfoy não é um homem a quem se deva subestimar e é por isso que ela vai entrar em contato com Sirius novamente.
É hora de descobrir tudo o que puder sobre Draco Malfoy...
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Quase ao mesmo tempo
Draco brinca com o gelo em seu copo de uísque. É um hábito que ele adquiriu no período em que estava se divorciando, ele faz isso durante um tempo quando sente que precisa se acalmar.
Seu filho já se recolheu e ele se sente um pouco culpado por não ter dado ao pequeno a atenção que deveria, tudo por culpa de Hermione Granger!
Ele ainda não acredita no que aconteceu, aquela mulher não apenas o enfrentou como teve a coragem de ameaçá-lo. Não são muitas as pessoas que teriam essa coragem, na verdade ele não consegue se lembrar de ninguém mais que o tenha encarado da forma que ela fez, com exceção de Luna e, claro, da sua mãe.
Seus anos como um advogado agressivo o fizeram conhecer seus adversários e ele sabe que essa mulher não é alguém que deva ser tratada levianamente, essa mulher é alguém que vai realmente lhe dar trabalho, seu olhar firme e decidido lhe mostrou isso desde no momento que eles se encararam.
E é por isso que ele vai descobrir tudo que puder a respeito de Hermione Granger...
NOTA DA AUTORA
Finalmente o capítulo e finalmente o encontro! Perdoem se alguém esperava romance logo de cara, vai demorar um pouquinho antes de alguma coisa dessa natureza.
Muito obrigada a todo mundo que está lendo e especialmente a Allegra23 e a ShainaCobra que comentaram e deixaram meu dia mais feliz. Vou tentar postar mais rápido da próxima vez e espero ver todo mundo por aqui. Um feliz natal e um ano novo cheio de realizações pra todos nós. Até 2023!
Bjs
