Um pouco mais tarde

Draco e Hermione observam as crianças que tomaram sorvete e agora brincam no playground alheias ao desconforto dos seus genitores que apenas olham para seus cafés em silêncio enquanto ruminam os últimos acontecimentos.

- Se eu pudesse ler a sua mente eu diria que o senhor está pensando em uma forma em que eu tivesse dado um jeito de armar tudo isso, adivinhei? – Hermione finalmente quebra o silêncio – e dizendo a si mesmo que ninguém conseguiria armar uma história assim, nem mesmo alguém que inventou um tio-avô pra tirar dinheiro de um idoso.

Draco olha para Hermione se esforçando para não deixar seu queixo cair. Tudo bem que ele chegou a pensar nisso logo no início, mas o pensamento foi embora rapidamente quando ele percebeu que não tinha como ninguém bolar algo assim. E a recíproca é verdadeira, nem em um milhão de anos ele poderia achar que ela iria pensar que ele pensou algo assim ou talvez iria já que a mulher na sua frente não deve ter tido uma boa primeira impressão.

- Confesso que passou pela minha cabeça assim que te vi – ele suspira – mas só durou um minuto. Essa história é maluca demais pra alguém ter inventado, mesmo uma jornalista.

- Como você sabe que eu sou jornalista? – Hermione questiona e logo percebe – eu devia saber (ela diz com um suspiro) você mandou me investigar.

- Claro que eu mandei! – Draco argumenta sem demonstrar nenhum tipo de arrependimento – a senhorita acha mesmo que eu iria simplesmente aceitar tudo que me falou assim?

- Olá estranho – ela diz de modo irônico – você não aceitou, você me colocou pra fora, lembra? Praticamente me chamou de vigarista (ela para por um momento) não, você realmente me chamou de vigarista!

- Sim, eu devo ter chamado – Draco diz com um sorriso cínico – e sinceramente não posso dizer que me arrependo devido às circunstâncias passadas, você pode não acreditar, mas já tive experiências desagradáveis com pessoas querendo se aproveitar do pobre homem e devo dizer que nenhuma delas teve desdobramentos como o que eu tive hoje – ele diz lembrando tudo o que aconteceu horas atrás...

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Voltando uma hora ou duas no tempo

Hermione vê a filha abraçar o pai e cumprimentar a moça loira com ele de forma íntima. Ela observa também a feição estupefata de loiro a sua frente, ela também estaria assim se a sua mente não fizesse a conexão. A garota é a namorada do seu ex, mas porque o garotinho fala com ela de forma íntima também?

- Oi, tia – o garotinho diz entusiasmado – o papai já resolveu tudo, agora a gente vai tomar sorvete. Você quer ir também? Pode levar o tio Rony se quiser.

- Espera aí – Hermione diz enquanto olha para o garotinho e a mulher e luta para manter seu queixo no lugar – ela é...

- Minha namorada, Luna – Rony diz meio sem jeito – eu a apresentei para a Julie na semana passada, ela é tia do Nicholas e a gente se conheceu aqui na escola.

- Muito prazer, senhorita Granger – Luna diz sorridente – o Rony fala muito sobre você (ela pensa por um momento) no começo eu achei estranho não vou negar, mas depois eu fiquei feliz de vocês se darem bem. Uma ex pode ser uma dor na bunda como meu irmão pode testemunhar.

- Vocês são irmãos? – Hermione pergunta enquanto perde a luta para não deixar seu queixo cair.

- As maravilhas nunca acabam – Draco diz de forma irônica. Ele se vira para a irmã – então esse é o cara com quem você está saindo? Um cara casado e com filhos?

- Separado – Luna diz sem se abalar – separado amigavelmente devo acrescentar, totalmente livre e pai de uma garotinha incrível que é amiga do seu filho.

- Sim, senhor Malfoy – quem fala agora é Rony – eu e Hermione somos separados há anos e mantemos uma relação cordial. Ela é a minha melhor amiga desde sempre e isso não mudou depois que nos divorciamos. Nós nos conhecemos desde a infância e em algum momento das nossas vidas confundimos nossos sentimentos, hoje somos apenas bons amigos e fazemos o possível para criar nossa filha juntos. Ela sabe sobre a Luna e me dá todo apoio, inclusive a gente já havia conversado sobre apresentar as duas.

- O tio Rony é legal, papai – Nicholas diz – eles podem vir tomar sorvete com a gente?

- Desculpe, querido, isso é informação demais para o seu pai – Luna diz, ela olha para o irmão – a gente conversa em casa. Foi um prazer Hermione, eu posso te chamar assim? Eu sou uma grande fã sua e realmente eu gostaria de te conhecer melhor (ela conclui) mas agora a gente precisa mesmo ir já que tudo está resolvido por aqui.

- Depois a gente se fala – Rony diz para Hermione – foi um prazer, senhor Malfoy – ele completa para Draco enquanto beija a filha e bagunça o cabelo do garotinho antes de ser praticamente arrastado pela namorada porta afora...

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De volta aos dias atuais

- Você tem mais algum trunfo na manga que eu precise saber? – Draco fala com ironia – além dos nossos filhos serem amigos e da minha irmã estar namorando o seu ex?

- Deixe-me ver – ela diz fingindo-se pensativa – tipo seu cliente ser meu tio-avô? – ela diz e se arrepende ao mesmo tempo ao ver o semblante do loiro – qual é, você ainda acredita mesmo que eu inventei essa história toda mesmo depois de tudo que você investigou?

- Você não tem ideia do tipo de coisa que eu já vi – o loiro rebate vê o semblante da mulher na sua frente transparecer indignação – vamos fazer o seguinte, a última palavra não é minha, eu vou falar com as pessoas que eu represento e eles decidem, mas eu não posso prometer nada, ok?

- Eu entendo, eu acho – ela dá um meio sorriso – eu posso me submeter a exames de sangue teste de DNA, o que for preciso, eu tenho certeza que meu pai também está disposto. A nossa família é estável, senhor Malfoy, não precisamos de dinheiro, só o que queremos é fazer a última vontade da minha avó.

- Eu vou falar com meu cliente, mas como eu disse não posso prometer – ele repete – ele está em um cruzeiro e deve voltar em algumas semanas. Eu entro em contato assim que tiver uma resposta é só o que eu posso fazer e acredite isso já é muito considerando tudo o que eles já passaram.

- Nossa, é tão terrível assim? – Hermione questiona – como as pessoas ficam sabendo que ele tem todo esse dinheiro? Porque, acredite se quiser, eu não fazia ideia.

- O seu tio-avô, se podemos chamá-lo assim, é um homem muito crédulo e amigável e ao contrário do que você pode estar acreditando, ele não fica o tempo todo preso na instituição, pelo menos ele não ficava e toda vez que eles saiam pra algum lugar, ele acabava se interessando por alguém e acabava dando presentes e muitas vezes isso atiçava algum interesseiro.

- Então o meu tio-avô é metido a dom Juan – ela diz com um meio sorriso.

- Ah não, o interesse dele não era desse tipo, pelo menos não na maioria das vezes – o loiro também sorri – ele é louco por bichos, ele não podia ver alguém com qualquer tipo de animal que se oferecia para comprar e quando as pessoas recusavam, ele comprava presentes para os bichinhos e, bem, as pessoas notavam e uma coisa levava a outra.

- Ele me parece ser uma pessoa muito doce – Hermione conclui.

- Doce demais para o seu próprio bem – Draco diz, ele olha para o relógio – eu devo ir agora. Assim que eu puder, eu entro em contato – ele conclui se levantando. Hermione olha para o loiro pensando que embora as coisas estejam melhorando ainda não é hora de deixar o seu plano de lado...

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Mais tarde

Draco sorve um gole de uísque, ele precisava disso depois do dia atribulado. Seu filho demorou a dormir entusiasmado pela tarde incomum e ele tem que admitir que tudo o que aconteceu foi uma surpresa pra ele também.

Ele se pega pensando em Hermione Granger e na peça que o destino pregou em ambos. Quem diria que as suas vidas se entrelaçariam desta forma?

Ele vai entrar em contato com Xenofilio amanhã. Draco não foi totalmente sincero com Hermione, o seu cliente não é ninguém menos que o seu padrasto e ele tem carta branca para tomar qualquer decisão a respeito de Hagrid. Draco, no entanto, não se sente a vontade para decidir isso sem consultar a família mesmo sabendo que eles serão favoráveis a que Hermione conheça o tio-avô. Draco conhece bem a família Lovegood para saber que eles sem dúvida acreditarão em Hermione antes mesmo que o teste de DNA seja feito. Eles sempre veem o lado bom de todo mundo. Não me admira que Hagrid também seja assim, ele pensa com seus botões.

Draco se lembra do dia em que conheceu o homem. O loiro era um calouro na faculdade e, verdade seja dita, o tamanho descomunal e o modo afetivo dele o assustaram um pouco, como ele se lembra com um meio sorriso...

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Voltando alguns anos atrás...

Draco olha para a casa de campo afastada da cidade, definitivamente não é o lugar em que ele gostaria de estar neste momento, não quando Pansy Parkinson está dando sinais que gostaria de sair com ele, mas a sua mãe lhe pediu e Draco nunca foi bom em negar os pedidos de Narcisa, não depois de tudo o que ela passou.

Draco ainda não acredita que a sua mãe está namorando sério. Ele foi reticente no início, não por ciúmes pelo menos não tanto, mas por ter medo de que a sua mãe sofresse novamente, mas felizmente Xenofilio não poderia ser mais diferente do seu pai e se ele faz a sua mãe feliz ele pode viver com isso mesmo com a filha estranha que ele tem.

Ele sabe que no rumo em que as coisas estão, não vai demorar para que o feliz casal contraia núpcias e é por isso que ele está naquele lugar. Segundo Narcisa, Draco irá conhecer mais um membro da família.

Ele não demora muito tempo para notar que eles estão em alguma espécie de casa de repouso. Draco suspira pensando no dia perdido para visitar um idoso que ele não conhece, definitivamente ele pode pensar em um jeito melhor para passar o seu dia.

O loiro vê a sua futura irmã emitir um gritinho feliz e correr em direção ao maior homem que ele já viu na vida, Draco poderia dizer sem medo de errar que ele deve ter pelo menos dois metros. Definitivamente não seria o tipo que ele gostaria de encontrar em um beco escuro.

- Venha – a voz da sua mãe o tira do devaneio – e, por favor, mantenha a mente aberta.

O loiro respira fundo e como sempre ele vai obedecer a sua mãe e manter a mente aberta, Draco se aproxima e uma Luna sorridente faz as apresentações:

- Hagrid, este é o Draco. Ele é o filho da Narcisa e vai ser o meu irmão. Draco este é o Hagrid, o nome dele e Rubeo Hagrid, mas ele gosta de ser chamado de Hagrid

- Oi Draco – o homem fala em um tom entusiasmado e infantil pouco condizente para o seu tamanho descomunal e sua barba espessa e negra – eu sou o Hagrid, você gosta de animais?

O loiro olha para o homem que o encara ansioso esperando uma resposta, a resposta que vai definir os rumos desta relação e neste momento ele se lembra de um episódio que ocorreu quando ele era apenas um garotinho e sem que ele tenha controle, as palavras escapam de sua boca.

- Eu queria ter um cachorro quando eu era pequeno, mas meu pai não deixou.

- Meu pai me deixou ter um cachorro – Hagrid fala com um sorriso triste – mas agora ele morreu e eu não posso ter cachorros aqui, eles não deixam. E agora, você tem um cachorro?

- Não, eu não tenho – Draco diz meio sem jeito.

- Pois você deveria ter – Hagrid fala de modo seguro – se eu pudesse, eu teria.

- Não sei se eu tenho tempo para cuidar de um cachorro agora – Draco argumenta – eu acabei de entrar na faculdade.

- A gente sempre tem tempo para o amor – Hagrid contra argumenta – se você tiver um, você trás pra eu conhecer? Eu não posso ter, mas eu posso receber visitas.

E Draco se vê assentindo com a cabeça e recebendo um sorriso em troca...

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De volta ao dias atuais

Draco sorri ao se lembrar da conversa e de seu cão, Skype, que ele adquiriu pouco tempo após esta conversa, um vira lata que apareceu no seu dormitório algumas semanas depois e que ele escondeu durante um tempo ate que o descobriram e ele precisou mandá-lo para a casa de Narcisa. Ele se recorda da alegria de Hagrid quando ele levou o bichinho para visitá-lo e das palavras sabias do homem. A gente sempre tem tempo para o amor. O loiro pode dizer com certeza que poucas pessoas no mundo o amaram como o seu cãozinho.

Ele faz um mea culpa ao se dar conta que faz algumas semanas que não vai visitar Hagrid. Draco sabe que o homem embora seja feliz no local em que vive sente falta da família, principalmente de Nicholas com quem ele teve uma conexão imediata assim que o menino pode andar e falar. O loiro se lembra das palavras duras de Pansy que achava uma perda de tempo visitar um, nas palavras dela, débil mental e neste momento ele diz para si mesmo que no próximo final de semana irá fazer uma visita levando seu filho e esperançosamente Luna.

Por falar na irmã, ele se dá conta que Luna ainda não chegou. Embora ele saiba que a irmã é uma mulher adulta e embora não aparente bastante racional e capaz de cuidar de si mesma, seu lado protetor lhe diz que é a sua obrigação conversar com este namorado para saber quais são as suas intenções. Mais ainda, ele precisa saber se o tal namorado sabe alguma coisa a respeito de Hagrid e se essa coincidência não é tão coincidência assim

Mas tudo isso pode esperar, agora Draco precisa repousar e tirar a sua mente dos acontecimentos bizarros do dia...

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Quase ao mesmo tempo

Hermione acabou de colocar a filha pra dormir. Julie estava animada com os acontecimentos do dia e queria a todo curso ficar conversando. Hermione ainda não acredita nas coincidências do destino ligando-a a Draco Malfoy. Além dos seus filhos serem amigos, Rony ainda está namorando a irmã dele. É o tipo de coisa que mais parece uma dramática novela mexicana.

Mas pelo menos a situação inusitada fez com que Draco Malfoy ficasse menos reticente a sua pessoa, o que não significa necessariamente que ela vai conseguir algo. No entanto, a situação está um pouco mais confortável e quem sabe ela consiga conhecer o seu tio avô sem se valer da sua reportagem investigativa.

Depois de pensar um pouco, a morena decidiu que vai sim continuar com a sua reportagem. O que no início era apenas um estratagema para chegar ao seu tio avô acabou virando um assunto que a interessou. Hermione sabe que nem todos têm a sorte que a sua avó teve, então se ela puder ajudar algumas pessoas e abrir caminho para conhecer o seu tio avô, que seja.

Ela separa o material que pesquisou na internet para uma pesquisa detalhada. Como a pessoa metódica que é, Hermione vai se preparar lendo tudo que puder encontrar antes de sair a campo. Ela só espera que antes disso tenha alguma resposta dos tutores do seu tio-avô.

Ela sorri ao se lembrar da conversa que teve com Draco Malfoy, pelo que ele lhe contou o homem deve ser uma figura. Ela pensa e se dá conta que o advogado lhe pareceu, digamos, íntimo demais. Será que ele o conhece pessoalmente? Ela não pode deixar de pensar.

Hermione não quer que uma desconfiança atrapalhe o que ela já conseguiu com o advogado através das coincidências do destino, mas ao mesmo tempo ela não pode simplesmente ficar parada e o fato de Draco Malfoy a ter investigado lhe dá o incentivo que ela precisa. A morena sabe que provavelmente ele continuará investigando. Então, por que não?

Sirius Black vai ser chamado novamente...


NOTA DA AUTORA

Mais um capítulo pra vocês! Espero que me perdoem pela demora, eu viajei no mês passado e isso acabou atrasando as minhas postagens, estou me organizando e vou fazer o possível para me redimir.

Obrigada a todo mundo que está lendo e um agradecimento mais do que especial para a Grazi Holic que comentou e me deixou muito feliz.

Bjos e até o próximo