APERTEM OS CINTOS: A CATITAH SUMIU!
Capítulo 8
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Após proferir os votos, Mairon e Melkor foram enfim curtir a festa de casamento. O Maia, é claro, não perdeu uma única oportunidade de ostentar o seu lindo vestido dourado. E embora nos últimos tempos houvesse se tornado mais comedido e menos agressivo, ainda não perdera totalmente o semblante arrogante ao expor suas indumentárias e suas insígnias. Afinal, era o seu dia! Estava casando em Valinor! E de fato não compreendia como ninguém antes dele havia querido se casar com Melkor. Pois se para ele próprio aquilo tudo era uma realização tão importante! Seu sonho sempre fora casar com Melkor - e em Valinor mais ainda, esfregando na cara daqueles Eldar e Valar aborrecidos!
Mesmo que não fossem mais inimigos - ao menos não de forma declarada - Mairon gostava enfim de ter a sensação de que triunfara sobre eles.
"E foi muito melhor assim!", pensava o Maia, enquanto desfilava pelo salão dando o braço ao marido - "Se ninguém o quis, era que ele estava a ser preparado para mim. Somente para mim! Apenas eu me casei com Melkor! É isso! Da 'fruta' que eles não gostam, eu chupo até o caroço!"
O Maia sorriu, ao se deparar com tais pensamentos.
Logo, Mairen, a filha do casal, os cumprimentou. Simplesmente adorava seus pais e também a agradava muito estar presente no casamento dos mesmos. Abraçou Mairon e em seguida Melkor, o qual deu na filha aquele "apertão" de quase esmagar as costelas.
- Aaaaaaai, papai! Tome cuidado, eu não sou tão resistente assim!
- Ora vamos, claro que filha minha é muito resistente!
Em seguida veio Moriel. Como ele era, por natureza, muito mais formal do que a irmã, apenas deu um abraço mais tranquilo em ambos os pais. Mas Melkor, impulsivo como era, também o apertou. O herdeiro teve de se segurar para não gemer de dor.
- Ora, Moriel! Até parece que não está feliz com o casamento de seus pais!
- Eu estou, meu pai. É claro que estou. Apenas não sou tão... efusivo quanto minha irmã.
Mairon exaltou ao filho, como quase sempre fazia:
- Deixe-o, Melkor! É o jeito dele! E de mais a mais, este filho só me deu alegrias!
O Maia então foi ao filho e beijou sua testa. Mairon e Moriel se davam muito bem, tinham um gênio idêntico e foram a companhia e o apoio um do outro quando o Vala estava no Vazio.
Depois de receber a congratulação dos filhos, o casal foi até os demais convidados. As primeiras a felicitarem o casamento foram Varda e Arien - aquelas que, um dia, rejeitaram o Vala. Mairon olhava a elas como se dissesse com o olhar: "Perderam! E ainda sequer tem ideia do que perderam!"
As ainur compreendiam que Mairon estava muito feliz com aquilo, mas elas de fato não sentiam que estavam "perdendo". Sabiam que nunca dariam certo com Melkor. E para todos era melhor daquele jeito - inclusive para Melkor, o qual somente percebera como Mairon era compatível a si após de fato conviver com ele e constatarr que não daria certo com aquelas ainur de índole tão diversa da sua própria.
Deram um abraço também em Manwe, o qual os recebeu sem mágoas, como era de seu feitio.
O casal continuou a andar pelo amplo salão e repentinamente Mairon tomou um susto ao ver... os hobbits que um dia o derrotaram!
- Mas... m-mas o que esse pessoal faz aqui na minha festa de casamento?!
Os hobbits ficaram quietos, pois um dia de fato eles viram Mairon como o pior inimigo de toda Arda - uma vez que em sua era Melkor não se revelava.
Junto com eles estava Olórin, o qual estava a degustar sua erva de fumo... junto de Curumo!
Mairon logo foi ao antigo companheiro de serviço:
- Curumo! O que esse pessoal faz aqui?! Eles fizeram nada menos do que destruir o meu Anel e o meu corpo na época!
- Oras, Mairon... eles vieram para Valinor, entende? E praticamente toda Valinor veio para ver o seu casamento...
- Mas eles me odeiam! Ou ao menos odiavam, sei lá!
- Ah... é que em nome de nossa amizade antiga - e do perdão afinal de contas - eu chamei o Olórin para vir aqui! E você sabe que o Olórin vive com essa gentalha pendurada nele...
Dessa vez, Mairon riu. Os hobbits olharam torto, mas não ousaram confrontar os Maiar.
- Ora... está tudo bem. E de mais a mais, devemos passar uma borracha em cima de tudo o que já se foi, não?
O casal conversou mais um pouco com Olórin - quem diria! - e Curumo, para quem Mairon disse com todo o orgulho:
- Eu disse que ia conseguir casar com Melkor, e de dourado, em Valinor! Não disse?
- E eu achando que logo tudo aquilo ia acabar...
- Você não sabe nada sobre o amor, Curumo!
O casal então continuou andando. Em breve, viram Lúthien cantando - ela aceitara enfim cantar no casamento deles! A música que ela cantava era muito bonita e falava, de fato, sobre um amor que se iniciara de maneira conturbada, e no entanto com o tempo fora desabrochando em algo bom e bem mais estável.
- Eh, Mairon! Essa canção que a Lúthien está cantando é por um acaso o tal do epita... epita...
- Epitalâmio?
- Isso! A música que o Tulkas falou que ia fazer.
- E fez. Veja, até que não ficou tão má!
- Não ficou má! Aliás, onde será que está o Tulkas, para que eu o parabenize pela composição?
Lúthien nada disse, mas sorriu de lado enquanto cantava. Tanto Melkor quanto Mairon somente entenderiam do que se tratava tudo aquilo mais tarde... quando descobririam a surpresinha que Tulkas preparara para eles.
E eis que, naquela noite, ainda teriam mais alguns encontros encontros inusitados. Um deles foi com Feanor!
Lá estava ele, junto com a esposa - outra que sabia muito bem o que era lidar com uma alma impetuosa - e com a numerosa prole. Apenas Maedhros não estava presente, e logo também se descobriria onde o filho ruivo de Feanor fora parar. Mas àquela hora o negócio era com o Elda Melkor enfim falou:
- Ora, ora! Vejam quem está aqui! Até você veio para meu casamento, não?
- E quem não viria para ver o ser mais intragável de Arda casar? Se até você conseguiu... quem mais não conseguiria?
Melkor bufou de raiva, mas Mairon o segurou pelo braço:
- Deixa pra lá, meu amor. Afinal de contas, Feanor não é ninguém para falar do gênio alheio, sendo ele como é. Nerdanel que tenha sorte e muita paciência em lidar com ele!
- De fato, Mairon! Melkor parece precisar que você sempre o controle, senão tudo isso aqui estaria o mais puro caos. Deveras devemos comemorar esse casamento de vocês, caso contrário tudo estaria ainda pior!
O Maia não se abalou, pelo contrário: sorriu e respondeu ao elda, na maior tranquilidade:
- É nada menos que uma grande honra a mim desempenhar semelhante função! E agora, meus senhores élficos... se me dão licença...
Fazendo uma ligeira reverência, o maia enfim se retirou da presença da família Curufinwe. Melkor o congratulou, abismado com sua habilidade de defesa:
- É incrível como você foi capaz de responder de maneira contundente e ao mesmo tempo elegante, Mairon!
- Eu sou um diplomata por natureza, meu amor! Afinal, os únicos animais que possuem veneno são os de sangue frio...
Em breve, porém, até mesmo o tal "sangue frio" de Mairon seria testado. Logo ele viu por lá também... Galadriel, acompanhada do marido!
- Mas a gentalha veio toda mesmo pra minha boda! Não acredito!
- Calma, Mairon! Você se saiu tão bem com Feanor, não vai escorregar agora com a Nerwen!
- Deixe comigo, eu não perderei a compostura... oh, olá senhora Nerwen! De fato, ao que parece, até você veio em meu casamento!
- Eu vim. Jamais pensei que você iria se redimir um dia, mas pelo visto se redimiu. Que seu caminho a partir de agora seja bem mais tranquilo e... bem... que você não tente mais ler a minha mente.
- Claro que não! Hoje em dia eu não preciso mais de anéis; e de mais a mais, só quero cuidar da minha família e dos meus interesses. Enfim! O mundo realmente dá voltas. Hoje, todos aqueles que se diziam meus inimigos, hoje são praticamente meus vizinhos! E vem pro meu casamento!
Sem mais delongas, de maneira extremamente formal e elegante, ao envergar seu imponente vestido dourado e ao dar o braço ao Vala que sempre amara tanto, Mairon simplesmente fez uma reverência a Nerwen e seguiu seu caminho, plácido, sentindo que havia superado toda aquelas rixas do passado de maneira satisfatória.
E para finalizar a noite, Lúthien cantou a música que Mairon compusera a Melkor milênios antes: "Eu sei que vou te amar... por toda a minha vida eu vou te amar...", e foi ao som dessa música que o casal enfim se beijou novamente.
Antes de se recolherem, Mairon e Melkor ainda conversaram com alguns dos convidados, o Vala enfim já no final da noite abusando um pouco mais e inclusive bolinando o Maia em público, ao que foi severamente repreendido pelo consorte. Mas mesmo assim Melkor não se eximiu completamente de falar lá a sua pornografia enfim, deixando a audiência enfim chocada, assim como seu Maia; mas ele era daquele jeito mesmo. Podia ter se moderado em muitos aspectos, mas a sua personalidade e seu modo de ser permaneciam os mesmos.
Após sentirem que aproveitaram bastante a festa, o casal enfim se retirou para seus aposentos privados. A noite prometia ser longa... ao se dirigirem mesmo para lá, já trocavam carícias e se agarravam nos corredores... mas ao abrirem a porta do recinto, deram de cara com... Tulkas e Nessa deitados em sua cama de casal!
Melkor, é claro, ficou uma fera!
- Mas o que diabos vocês fazem no leito conjugal que era para ser meu e de Mairon?!
Tulkas riu aquela sua risada alta e franca. Em seguida, respondeu:
- Ora, Melkor! Voce fez o mesmo na minha festa de casamento, lembra? E ainda me agradeça por eu não ter quebrado nada na sua festa, como na época voce fez com Illuin e Ormal!
- Nnnnnnffff! Vocês falam de mim, mas também são um bando de vingativos, isso sim! Ora! E agora, onde é que eu vou deitar com Mairon?!
- Ué, te vira aí... lugar é que não falta! Mas e aí, gostou do epitalâmio que eu compus?
O Vala fez um gesto malcriado pro outro, ao que Tulkas riu novamente. Nessa também riu. Sobrou para Mairon amenizar a situação; como sempre era essa a sua função.
- Melkor, não será bom brigar hoje! Vamos, há muitos outros quartos para que nós possamos pernoitar. E de mais a mais, a retribuição de Tulkas até que é justa...
- Olha, quer saber? Não tô a fim de brigar mesmo. Mas vai ter volta, viu? Me esperem, que vai ter volta!
O casal saiu a procura de outro lugar para passar a noite - enquanto ainda ouviam o som das gargalhadas de Tulkas e Nessa.
Enquanto isso, Moriel já descansava em seu quarto e quase dormia, quando ouviu batidas apressadas na porta.
- Quem é? - disse ele, a voz já ensonada.
- Seus pais.
Moriel tomou um susto. Pensou já estar sonhando. Seus pais, a uma hora dessas, já não estariam em seus aposentos privados, vivendo a própria lua de mel?
O primogênito do casal abriu a porta... e já foi sendo enxotado por Melkor, o qual logo tomou a cama do filho para si.
- Mas o que é isso, meu pai?!
- O safado do Tulkas resolveu se vingar e pegou o meu leito e o de Mairon para ele e para Nessa - assim como eu fiz no casamento dele. Agora vamos ter que dormir aqui.
- E eu, onde vou dormir?!
- Ah, aí você se vira pra achar lugar, né... é só por hoje, amanhã tudo volta ao normal!
Sem outra opção, Moriel teve de sair do quarto e procurar outro lugar para dormir. Resolveu ir até o quarto da irmã, para ver se ela o deixava dormir no chão, mas...
...ao chegar lá, a viu aos beijos com ninguém menos que Maedhros, o tal do filho ruivo de Feanor!
- Nelyafinwe! O que você faz aqui, abusando assim da minha irmã?!
Mairen redarguiu:
- Ele não está me abusando! Eu estou beijando ele porque quero, ouviu? E você vá cuidar da sua vida!
- Mairen, se os pais sabem que você anda se encontrando justamente com um Elda... a nossa casa vai abaixo!
- Eu sou forte e aguento as consequências. Mas o que você quer? Não devia estar na cama, dormindo, numa hora dessas?
- Os pais me expulsaram do quarto e agora estou sem ter onde dormir.
- O que?! Mas por que isso?!
- Ora porque! Porque aquele tal de Tulkas quis fazer uma brincadeira de mal gosto com nossos pais e se pôs com a mulher dele no quarto deles!
Até Mairen riu ao ouvir aquilo.
- E aí que eles estão a ocupar o seu quarto enquanto isso.
- Sim, e eu ia pedir para ficar aqui ao menos por esta noite. Mas como você está aí com o seu namorado...
- Ora... eu não vou deixar meu irmãozinho desamparado! Vamos, Nelyo. Hoje o Moriel vai dormir aqui. Outro dia a gente continua, OK?
Maedhros não era lá muito fã de Melkor; e, por tabela, nem do filho dele. Mas como se tratava da família da amada, ele aquiesceu e saiu do quarto.
- Bem, Moriel! Vamos, pode se deitar naquele colchão extra. Estenda-o no chão e tenha uma boa noite, sim?
O mais velho assim o fez, e enquanto preparava a cama com travesseiros e colchas, pensava que desejava ao menos não escutar o que os pais iam fazer de noite... pois eles costumavam ser bem barulhentos e espalhafatosos quando o assunto era "aquilo"!
To be continued
OoOoOoOoOoOoOoOoO
Ih gente, tá acabando a fic afinal de contas! O casamento enfim saiu, Mairon casou de dourado e - quem diria! - até os antigos inimigos foram pra festa! E o Tulkas, hein... nem um pouco rancoroso, só uma vingancinha de leve depois de milênios, rssssss, nada demais!
Ainda tentarei fazer mais uns dois capítulos a fim de fechar a fic com número redondo de dez capítulos. Não serão tão longos quanto esse; provavelmente serão bem mais curtos, até porque o presente capítulo foi o do casamento, ou seja, o mais importante. Será mais como um "fechamento" mesmo.
Beijos a todos e todas! Eu demorei para finalizar essa fic; mas vou terminar, prometo!
