Os primeiros dias com Amanda Kirk a bordo da Enterprise não foram nada tranquilos, porém não significava que foram menos felizes. Era um dilema novo a se lidar para Kirk e Spock, certamente um com o qual eles não estavam nada acostumados, mas aos poucos iam conhecendo a filha, conforme ela também os conhecia.
Spock tinha passado a maior parte da noite anterior com a filha, na tentativa cansativa e um tanto frustrante de fazê-la dormir, ela tentou ajeitar a criança no colo enquanto estava de pé, andando em círculos, algo que tinha observado mães humanas fazerem antes, mas sem sucesso nenhum. Amanda chorava sem parar, não tão quanto outro bebê choraria, mas certamente incomodada com alguma coisa, nada aparentemente detectável à sua mãe.
Spock, por sua vez, insistia em aninhar Amanda contra seu peito, acariciando suas costas, numa tentativa de acalmá-la. Quando as tentativas continuaram a falhar, ela decidiu se sentar, tentando buscar calma, imaginando que se talvez ela ficasse calma, a filha também conseguiria se sentir melhor. A vulcana sentou-se com as pernas cruzadas, apoiando Amanda nos braços, a balançando de um jeito ritmado, quase que acompanhando os ruídos do motor de dobra, mesmo estando bem longe no momento. Os gestos pareceram dar certo quando a garotinha começou a fechar os olhos lentamente, o que deixou sua mãe num estado contemplativo ao observá-la. Lembrando-se outra vez de sua infância, Spock começou a murmurar o ritmo de uma canção que sua mãe costumava cantar para ajudá-la a dormir quando os pesadelos surgiam ou ela não conseguia conciliar as emoções agitadas.
-De uma Amanda para outra Amanda - pensou a vulcana em voz alta.
Para o alívio de Spock, Amanda, sua filha, adormeceu pacificamente, o que fez sua mãe anotar mentalmente uma porção de detalhes sobre o momento. A jovem srta. Kirk certamente apreciava dormir nos braços de sua mãe em posição de meditação, ouvindo o som de uma antiga melodia de sua avó e no ritmo do motor da nave, era basicamente tudo que Amanda apreciava naquele momento da sua jovem vida.
Colocar tudo isso em prática ajudou muito em todos os momentos em que Amanda precisava dormir. No entanto, esses métodos não funcionavam com o pai da garotinha, Jim tinha encontrado seu próprio modo de lidar com seu sono.
Ele contava histórias de suas aventuras, falava sobre o Dr. McCoy, tio Sam e tudo mais que ele poderia achar interessante de alguma forma. Ao ver isso pela primeira vez, Spock observou a cena toda muito intrigada.
-Tão curioso... - ela murmurou por cima do ombro de Jim, enquanto Amanda olhava para os pais de volta.
-Achei que ia falar fascinante, meu amor - James acabou rindo - mas queira explicar o que é curioso.
-Como Amanda se entretem com suas histórias e começa adormecer - Spock comentou, pensativa - sem contar com seus diferentes métodos para fazê-la dormir, apenas uma maneira no meu caso foi verdadeiramente eficaz.
-Bom, ao menos, ela é eficaz - Jim opinou - acho que reflete um pouco as nossas personalidades, eu acho que é o jeito da Amanda reconhecer como nós somos, é como se quanto mais você ficasse em silêncio e quanto mais eu falasse, ela nos reconhecesse e se sentisse bem com isso.
-Teoria fascinante - concordou sua esposa.
-Ou eu estou apenas especulando algo aleatório - Jim ponderou - pode ser que ela apenas se sinta segura porque sabe que somos os pais dela.
-O que faz sentido também - ela comentou.
-Seja o que for, ilógico ou não, o importante é que a Mandy está bem, não é, Mandy? - ele se voltou para a filha, completamente encantado com ela - olha só pra você...
Jim a tirou do berço e a segurou no colo.
-Não é a coisa mais linda e preciosa que você já viu? - ele disse mais um pouco, com admiração.
-De fato - sua esposa assentiu, olhando os dois - penso que, certamente não passou por sua mente construir uma família ao se alistar na Frota, não?
-Ah não, Spock - ele a puxou para mais perto - mas faz parte do nosso lema, não? Explorar o desconhecido, mesmo que seja algo na nossa vida pessoal, ter vocês duas não estava nos meus planos, mas vocês são surpresas inesperadas, mas muito bem vindas.
-Entendo o que quer dizer - Spock o olhou profundamente - eu pensei que meu destino estava em Vulcano para sempre, mas eu escolhi as estrelas e com elas vieram você, Amanda e uma vida muito satisfatória.
-Uma vida que com certeza só está começando - Jim assentiu, e olhou para Amanda outra vez - imagina só o que a Mandy ainda vai viver, ela pode ser uma oficial como nós um dia.
-Ou não, ela poderá escolher o que quiser ser, no tempo devido - Spock aconselhou - por ora, não quero pensar quando ela crescer, quero acompanhar cada uma de suas fases de desenvolvimento com cautela.
-Ah eu entendo, meu amor, acho que nenhum pai ou mãe quer que o filho cresça rápido - ele beijou a bochecha de Amanda, o que a fez rir - e eu fico feliz que nós não somos exceção a isso, é um bom sinal.
-Creio que sim - Spock concordou com um pequeno sorriso.
Por mais que houvesse um certo receio de Jim e Spock a respeito do crescimento da filha, também tinham que admitir que a cada descoberta e desenvolvimento dela, se orgulhavam da criança que estavam criando.
A mãe de Amanda foi quem a presenciou engatinhar pela primeira vez, ela tinha se sentado no chão para observá-la brincar com cubos com letras diferentes, quando a garotinha quis alcançar o que estava mais longe, sua mãe notou a expressão concentrada em seu rosto e o esforço pelo braço esticado. Foi então que ela se arrastou pelo chão se apoiando nos joelhos e nas duas mãos, chegando até seu objetivo final. Ela deu uma risada que parecia um sinal claro de vitória e comemoração.
-Muito bem, Amanda, é um feito e tanto no seu crescimento - Spock elogiou, o que deixou sua filha em dúvida, a olhando com certa curiosidade - eu estou feliz, não duvide disso, embora não demonstre.
Para deixar a garotinha certa disso, sua mãe a pegou no colo, deixando que se aninhasse ali enquanto ainda segurava seu cubo alcançado.
