CAPÍTULO XXXVIII
Elena colheu as ervas e ajudou Penny a concluir o jantar. Ela não disse nada durante a refeição, forçando-se a comer pelo bem da criança em seu ventre. Mas mais tarde em seu quarto, sozinha, incapaz de controlar o pranto, ela se sentou na borda da cama e chorou, apoiando o rosto entre as mãos.
Não era uma boa juíza de caráter, afinal. Chegara a acreditar que Logan Fell fosse um homem bom e decente, mas estava enganada. Ela deveria saber melhor que as pessoas em Mystic Falls eram duras em seu julgamento à conduta dela. Elena era, aos olhos de todos, uma prostituta, uma mulher sem honra. Imagina o que diriam quando a gravidez fosse evidente!
Ela deveria saber que era impossível manter tudo em segredo. Alguém a viu saindo na carruagem, para retornar horas depois na companhia de Kol. Considerando a fama dele, logo se informaram sobre a atenção que ele dedicou a ela quando estiveram em Nova Orleans. Os diversos comentários maldosos e as críticas ao seu comportamento foram implacáveis.
O problema foi que não apenas ela, mas seus amigos e família passaram a ser desprezados, chegando ao ponto de Caroline e Stefan perderem alunos devido a sua relação com uma mulher perdida. E Elena não poderia condenar seus amigos e sua família a uma vida as margens da sociedade, desprezados.
Elena pediu que Bonnie retornasse para o lado do irmão, e não comentasse com ele sobre o que estava acontecendo. Ela também pediu que Stefan e Caroline voltassem para sua antiga casa e evitassem visitas, não pretendia prejudicá-los com a escola.
Bonnie, Caroline e Stefan tentaram convencer Elena a mudar de ideia, especialmente quando descobriram sobre a gravidez. Tentaram convencê-la a contar para Kol, temendo a reação de Klaus quando soubesse, mas ela fora irredutível. Elena não queria mais sacrifícios por ela. Ela sonhava em recomeçar sua vida longe de Mystic Falls, onde planejava ser apenas uma jovem viúva grávida que morava com seu pai e sua tia. Ninguém saberia sobre seu passado. Ela poderia se esconder de Klaus Mikaelson.
Tão logo tivesse em mãos o dinheiro da venda das fazendas, compraria uma casa e mudaria com sua família para Withmore. Não seria nada extravagante, apenas uma casa boa e confortável, que não fosse muito dispendiosa para manter, que pudesse abrigar sua pequena família, e que tivesse um jardim, pois Elena amava plantas.
Pretendia arrumar um emprego de professora tão logo fosse possível, para garantir uma profissão e sua independência. Não queria ter que depender da caridade das pessoas, especialmente de algum homem. Muito menos planejava pedir qualquer auxílio a Kol, ainda mais sabendo que ele estava cortejando abertamente uma mulher. Sobre Klaus, lidaria com ele quando chegasse a hora.
Elena sentiu que estava sufocando. Ela precisava de ar. Sem pensar duas vezes, ela colocou um casaco e saiu sem ser vista, rumo ao cemitério. Lá era o único lugar em que ela se sentia em paz, com sua mãe, seus tios e agora seu ex-marido.
Elena caminhou rapidamente, guiada pelo costume. Ela fizera aquele trajeto mil vezes. A luz da lua ajudava, iluminando o caminho. Logo ela chegou ao cemitério, parando diante do túmulo de seus tios, ao lado do de sua mãe, observando como estavam sujos e sem flores. Ela teria que voltar no dia seguinte e enfeitar as sepulturas. Ultimamente ela tinha vindo para visitar apenas Damon, esquecendo-se dos demais membros de sua família.
— Olá amor!
Elena congelou ao ouvir aquela saudação. Ela ergueu a cabeça, percebendo a presença de uma figura diante de si, por trás dos túmulos. O medo e a surpresa a deixaram paralisada, e o homem se aproximou dela a uma velocidade sobrenatural. Um homem não, um vampiro. Klaus Mikaelson.
— Fique parada e não grite! — Ele murmurou olhando nos olhos dela.
Elena estremeceu, a compreensão de que fora compelida por um vampiro. Não, não era um vampiro comum, era um vampiro especial, diferente, um original. Alguém que ela não pretendia ver nunca mais em sua vida. Alguém que lhe causava um medo paralisante. Um híbrido. Alguém que queria seu sangue. Ela lamentou estar grávida e não ter conseguido mais tomar verbena.
— Sentiu minha falta, amor? — O híbrido questionou, avaliando Elena.
— Vá para o inferno, Klaus! — Ela respondeu com raiva.
Klaus riu.
— Tão corajosa!
— Por que você está aqui? — Elena questionou, incapaz de se conter.
— Por você, amor!
Elena não conseguiu dizer nada, o coração acelerado de medo.
— Rebekah vai se casar em breve. Imagino que você saiba, já que ela alegou ser sua amiga. Estou correto?
Elena não respondeu, ela se sentia incapaz. O medo por estar tão próxima a Klaus a deixava sem voz. Mesmo que Elena soubesse que sua barriga não era visível sob o pesado casaco, ela temia que ele descobrisse sobre o estado dela.
Klaus aproveitou o torpor de Elena para se aproximar rapidamente e compeli-la outra vez. Ele segurou o rosto ela com ambas as mãos.
— Você vai responder com a verdade a tudo que eu te perguntar e só vai se mover quando eu mandar — Ele segurava o rosto dela.
Klaus a soltou, encarando-a. Ela sentiu o peito apertar.
— Tem algo... diferente em você Elena.
Elena estremeceu, o coração agitado. Ela sabia que Klaus podia ouvir o coração do bebê e descobrir a verdade, mas desejava que seu medo fizesse seu coração bater tão rápido que ocultasse o segundo batimento em seu corpo. Ela esperava que ele pensasse que ela estava apenas nervosa por estar perto dele.
— Com medo de mim, amor? — Klaus perguntou com uma voz doce.
— Sim — Elena respondeu, incapaz de controlar a compulsão.
Klaus sorriu, mostrando suas covinhas. Elena não pôde deixar de pensar em como aquele rosto bonito e angelical escondia um dos piores assassinos. Ele segurou-a pela mão.
— Vamos, caminhe comigo!
Elena queria correr, mas sabia que contrariar Klaus era muito perigoso. Além disso, era impossível, ela só poderia se mover para onde ele queria devido a compulsão.
— Como eu ia dizendo... — Klaus continuou, soltando a mão dela — Recebi a carta de Rebekah. Não poderia perder um momento assim, tão especial para minha doce irmã, por nada neste mundo. Também tenho novidades para a família, então, já estava mesmo voltando para casa. Mas advinha? Mal eu cheguei, esperavam por mim com informações sobre você.
Elena olhou para ele de soslaio. Ela não entendia o que ele queria dizer. Kol tinha dito alguma coisa sobre a relação deles? Rebekah? Ela se perguntou. Aproveitando o silêncio de surpresa dela, Klaus continuou.
— Kol me garantiu que vocês eram amantes. Ele enviou algumas cartas. Fez com que eu prometesse não tocar em você enquanto a relação durasse, e eu acreditei que vocês estavam juntos. Mas para minha surpresa, minha fonte disse que vocês não estão. Que meu irmão descartou você após uma única noite de diversão. Isso é verdade?
— Sim — Elena engoliu corando, a compulsão dominando suas ações.
— Vocês não se viram desde então?
— Não.
Klaus sorriu, um sorriso de satisfação.
— Então, você e Kol não estão juntos?
— Não — Elena não queria contar aquilo, a verdade a deixava em perigo, vulnerável para Klaus.
— Interessante. — Klaus parou na borda da floresta. Elena nem tinha percebido que ele a levara até ali. — Eu não acreditei na minha fonte, mesmo quando vi Kol cortejando uma jovem e poderosa bruxa em Nova Orleans. Dizem que eles serão os próximos a atar o nó. O que é muito bom, já que ela é a líder das bruxas na cidade, realmente poderosa. Ele fez uma excelente escolha. — Klaus riu, satisfeito. — Mas mesmo se casando com ela, eu pensei que ele a manteria como sua amante, mesmo que fosse apenas para garantir sua proteção. Ele sempre fez questão de protegê-la.
Elena sentiu uma pontada de tristeza ao ouvir as notícias que Klaus contou. Ela sabia que não era mais importante para Kol, ou ele não a teria abandonado. Ela sabia que ele sempre tivera mulheres, amantes, mas ele nunca cortejou publicamente a uma mulher, exceto ela. Saber que ele poderia se casar com alguém, uma bruxa, era doloroso demais. Finalmente ela teria que aceitar que Kol a abandonou e não voltaria para ela.
