Olá Pergaminhos e Nazarins,Mr.Bones trazendo outro capítulo da minha fanfic Aquele que Voltou.

O passado de Zesshi vem a tona.

Com vocês

Aquele que Voltou

Capítulo 53: Reconhecimento

Uma criança élfica de cabelos brancos e negros corria pelo corredor de um palácio com paredes de madeira... - Isso era um sonho, Zesshi sabia que estava sonhando, sempre o mesmo pesadelo a atormentava. Ela ainda era uma criança. No sonho, sua mãe nunca foi resgatada pela Teocracia, e Zesshi vivia no palácio do Rei Elfo.

Todas as vezes, estava fugindo do monstro, uma versão distorcida, gigantesca e desnuda de seu pai. Quanto mais corria, mais perto ele chegava, até que era agarrada, imobilizada e abusada.

Mas desta vez foi diferente; quando Decem a alcançou, derrubou e a virou de frente, a cabeça do monstro explodiu. Seu corpo e tudo à sua volta começou a se desfazer em fumaça. Do meio dela surgiu seu salvador, uma criança élfica, estendendo a mão.

— "Você está bem?" - Zesshi acordou com o som da voz.

— Você está bem? – perguntou Mare ao lado da cama.

A semi-elfa se lançou em seus braços, soluçando. O terror e alívio tomavam conta.

Mare poderia soltá-la facilmente, mas não sabia o que fazer ou onde tocar para poder empurrá-la. De repente, Zesshi foi jogada contra a cama por um peteleco dado com tanta força em sua cabeça que chegava a sair fumaça do local.

— Sem permissão, sem tocar, – disse Aura emburrada enquanto via a semi-elfa rolando de dor pelo golpe recebido.

— Auraa! V-você não precisava bater nela, ela ainda está muito fraca, podia matá-la.

— Ela tem que saber o seu lugar, como qualquer bichinho precisa saber os limites. Aqui, de outra outra poção.

Mare pegou a poção roxa e despejou na cabeça de Zesshi, acalmando sua dor.

— Beba o resto, vai melhorar.

— De novo essa poção diferente, é mais forte das que conheço.

— Ainda são coisas novas, por isso precisamos saber se não vai matar ninguém – zombou Aura.

Zesshi apenas cerrou os olhos e então bebeu. Devido aos seus níveis elevados, somente uma poção vermelha de Yggdrasil poderia recuperá-la rapidamente, mas não tinham confiança nela o suficiente para dispor uma, por isso levaria semanas para ela se recuperar da luta com Mare e da sessão com Neuronist.

— Melhor?

— Sim, obrigada Lord Mare... e Lady Aura.

— A-as outras vão vir te ajudar, e-eu vou sair com minha irmã, voltamos depois.

Após os gêmeos saírem, Zesshi ficou sozinha, perdida em seus pensamentos.

— 'O que foi aquilo? Me senti tão segura.'

— Com licença, Milady, a senhora precisa de algo? - disse uma das elfas ao entrar no quarto.

— Não me chamem assim, não sou princesa, nem sua mestra, não lhes darei ordens, a não ser que me mandem fazer isso.

— Lamentamos, minha senhora, mas não podemos deixar de tratá-la como superior.

— Por que vocês são escravas?! - Apesar de suas palavras anteriores, ainda soava de forma desprezível.

— Escravas? Não, por quê você ser descendente do Rei élfico a torna superior. É a lei, e fomos ensinadas assim. Mas não somos mais escravas, fomos libertadas quando viemos aqui, trabalhamos por vontade própria para pagar uma dívida de gratidão, e somos abençoadas por termos Lady e Lord Bella Fiore como mestres, mesmo que eles não queiram ser chamados assim – sorriu a elfa mais velha.

— De onde vocês vieram, o que faziam?

— Viemos de uma aldeia ao leste de Crescente Lake, fomos raptadas e vendidas quando jovens. Sempre estivemos juntas, nosso poder aumenta quando estamos perto umas das outras. Passamos por vários senhores e podemos usar cura. Por isso, um aventureiro nos comprou no final. Ele era bonito, e achamos que teríamos mais sorte do que as outras, mas... ele nos batia, abusava, humilhava, mutilava e batia mais, como a maioria dos humanos, ele nos odiava - disse a elfa, segurando a orelha agora inteira mas lembrando o que tinha sido feito com elas.

Zesshi passou a tarde ouvindo suas histórias e o que seu povo passou. Nada disso era novidade, mas o ponto de vista era. Agora ela sabia disso pessoalmente. Fora ensinada e programada para odiar os elfos, desprezar sua herança, odiar a si mesma. Sofrera lavagem cerebral pelas mãos da Teocracia. Eles chamavam de aulas, mas eram torturas, sessões de espancamentos que só pararam quando ela se tornou mais forte do que eles. Ainda assim, o condicionamento continuava. A humilhavam, menosprezavam e a desprezavam. Queriam sua força, temiam sua força, odiavam sua força. A transformaram em uma arma pronta para disparar, só precisavam apontar a direção.

Talvez ela não tenha se tornado a arma que queriam por causa de um momento em sua infância:

Quando não aguentou mais as torturas, Zesshi Zetsumei fugiu. Tinha 24 anos e aparência de 8. Ela arrancou as grades da janela de seu quarto e pulou da torre onde vivia. Foi por isso que passou a viver no subterrâneo do Palácio Pontífice após esses eventos, mas seu nome ainda não era Zesshi.

Tentando fugir pela cidade, era notada por onde passava. Com seu cabelo curto, suas orelhas a denunciavam. As pessoas apontavam e xingavam. "Nenhuma elfa deveria ter orelhas inteiras", "só podia ser uma fugitiva", diziam. Alguém alertou os guardas.

Sendo perseguida, ela não sabia, mas era muito mais forte do que todas aquelas pessoas. Correu para se esconder em um beco e com uma faca roubada, ela puxou a ponta de sua orelha e tentou cortá-la, sem sucesso. Sua pele já era muito forte, deixando apenas alguns cortes e dor. Então levantou a faca para dar um forte golpe, mas antes de baixar, uma mão a segurou. Não havia força, mas a voz a fez parar imediatamente.

— O que está fazendo, Pontas?

A menina olhou para o humano que sorria. Não parecia um pervertido ou alguém que quisesse se aproveitar. Seu sorriso era terno.

— Meu nome não é Pontas. Se afaste, senão eu te machuco. – ela falou agora apontando a faca para a pessoa que a impediu.

— Calma, não quero te fazer mal. Só quero ajudar. Vem, se quiser, entre aqui. Esta é a minha taberna, A Besta está aberta para quem precisar, não exatamente nesta hora da manhã, mas posso abrir uma exceção – falou o humano sorrindo.

Ela não o seguiu. Ainda apontava a faca para suas costas quando seu estômago roncou. Fazia dias que não lhe davam comida, parte de seu "treinamento".

— Tenho um cozido que está uma delícia.

Finalmente, ela decidiu entrar.

— Sabe, você não devia confiar nas pessoas. A maioria daqui não é tão legal.

— Posso me defender. Sou forte.

— Imagino que sim. Aqui, coma.

A menina pegou a tigela e começou a derramar tudo pela boca.

— Calma, calma, calma, tem bastante. Não precisa engolir tudo de uma vez.

A segunda tigela foi comida mais devagar.

— Eu me chamo TW. Qual o seu nome, Pontas? – disse ele estendendo a mão.

A menina a pegou com receio.

— Eu me chamo An... - Neste momento, o homem teve uma convulsão; seu corpo se esticou, curvando-se para trás, seus olhos reviraram, parecia que ele tinha sido atingido por um feitiço de raio. Tremia todo e espumava, durou apenas alguns segundos e, de repente, passou.

— O que houve, o que aconteceu, você está bem? – a menina perguntou preocupada, pensando que tinha machucado alguém.

— Eu, eu estou bem, eu... aff... aff... preciso te contar algo. Você precisa acreditar em mim. Alguém vai entrar por aquela porta e vai te chamar. Você vai tentar fugir, ele vai te impedir, vocês vão lutar. Ele, por enquanto, ainda é mais forte que você e mais experiente. Você vai morrer.

— Você é louco, você quer me enganar.

— Não, acredite em mim, eles já sabem que você está aqui. Tem alguém te observando, ela pode ver tudo, uma vidente. Logo vão chegar. Acredite em mim, você precisa ir com eles senão vão te matar. Finja que te dobraram, finja que aceitou. Seja firme, seja forte, só assim você vai viver.

— Mentiras, você só quer me vender.

— Não, eu sou seu amigo, Pontas. Acredite em mim, eu vi o que pode acontecer. Acredite, ele vai te chamar por um nome que você nunca me disse, ele vai te chamar de Zesshi, a Morte Certa.

Neste momento, a porta bateu contra a parede, chutada por uma pessoa usando uma armadura divina branca e dourada. O homem tirou o capacete; por baixo estava um jovem Dominic Ihre Partouche, o primeiro acento da escritura do Holocausto e futuro Cardeal do Vento. Ele nem se deu ao trabalho de se apresentar.

— Ora, ora, ora, olha só quem temos aqui, a pequena Morte Certa – disse ele de forma jocosa com um sorriso de escárnio – o que você pensa que está fazendo, Zes-shi.

A menina odiava o apelido; nunca a chamavam pelo seu nome verdadeiro. Zombavam dela como se fosse um tigre que teve as unhas e as presas arrancadas.

— E-eu, eu...

— E-e-eu o quê, elfazinha? Achou que podia fugir, se esconder?

— Me desculpe, meu senhor, encontrei ela perdida e com fome, por isso a trouxe aqui. Não queria afastá-la... – dizia TW se aproximando, então foi golpeado.

TW voou pela sala e atingiu a parede oposta, quebrando uma mesa com o impacto. A criança correu e segurou sua cabeça; então ele sussurrou em seu ouvido e ela o largou, se aproximou de Dominic, que já tinha posto seu capacete e estava pronto para lutar. Ela o olhou e falou.

— Eu só estava curiosa, queria ver a cidade. Estava perdida, só precisava de orientações. Ele não é importante. Vamos embora – falou de forma mais firme que podia.

Dominic inclinou a cabeça para o lado, ponderando as palavras, então deu passagem para a menina. Antes de sair, jogou uma moeda de ouro dentro da taberna e foi embora.

Zesshi saiu de suas memórias; ela sempre se lembrava das palavras sussurradas.

— "Pontas, você é muito curiosa, está perdida, precisa de orientação, não sou importante, confie em você. Seu nome é..."

— Eu me chamo Antilene Heram Fouche. Me chamem de Antilene – ela falou para as elfas.