Capítulo 27

Quando Sirius acordou, Remus não estava ao seu lado na cama. E isso não seria nada demais, não fosse um pressentimento de que algo terrível estava prestes a acontecer tomando conta de todos os seus sentidos.

Sirius levantou-se num pulo, com um movimento rápido, vestiu a calça e saiu do quarto descalço e com a camisa enfiada na cabeça.

- Remus! Remus! - Sirius se voltou na direção de um carniçal que guardava o corredor - Você viu o Remus?

- Ele foi na direção dos aposentos de Sua Majestade.

- O quê? Por quê? - Sirius então correu na direção dos aposentos reais, a sensação ruim em seu peito aumentando mais e mais.

Quando invadiu o salão do Príncipe, depois de um soco bem dado no servo que guardava a porta, já era tarde demais.

Encontrou Remus jogado no tapete verde da sala. Muito perto dele estava Dumbledore, terminando de fechar a ferida do próprio pulso, usada por ele para verter algumas gotas de sua vitae na boca do lupino.

Estava terminado.

- O que você fez?! - Sirius arregalou os olhos em pânico.

- Sirius…

- Você abraçou ele?! - o Gangrel levou a mão aos cabelos.

Dumbledore assentiu, sem tirar os olhos de Remus.

- Ele concordou.

- Ele é um lobisomem! Lobisomens não sobrevivem ao abraço!

- Sim, sobrevivem! - Dumbledore garantiu.

- Lobisomens abraçados não existem!

- Existem sim e são as criaturas mais poderosas dessa Terra. Praticamente indestrutíveis.

- Sim, eu já ouvi essas lendas idiotas sobre lobisomens que sobrevivem ao abraço só para enfrentar uma existência tão desgraçada que tudo o que eles querem é acabar com a própria vida. E nem isso conseguem!

- Exato… nem o Sol é capaz de destruí-los.

- E você acreditou nessas baboseiras?! Lobisomens não sobrevivem ao abraço! Abominações só existem em historinhas de terror para assustar neófitos!

- Escute, Sirius. Remus sabia o que estava fazendo e assumiu todos os riscos. Confie nele, ele sabe que precisa sobreviver para salvar a tribo dele… e você.

- Confiar nele? Salvar a tribo dele? Me salvar?! - Sirius esbravejava cada vez mais - Seu velho desgraçado, filho de uma…

Foram interrompidos por um grito terrível, era Remus, que finalmente parecia reagir ao poder da vitae. Ele abriu os olhos, mas não parecia ver nada. Com um movimento brusco, rasgou a própria camisa de cima a baixo, começando a se contorcer tão horrivelmente que Sirius pôde ouvir seus ossos estalarem.

- Remus! - Sirius gritou ao ver seu amante naquele estado e se curvou na direção dele com a intenção de ampará-lo.

- Não toque nele! - Dumbledore o puxou pelo braço antes que ele pudesse encostar em Remus.

- Não toque você em mim! - Sirius puxou seu braço de volta - Eu preciso fazer alguma coisa… ajudar…

- Não há nada o que possa fazer agora. Se encostar nele, eu te garanto que, com muita sorte, terminará sem o braço.

Sirius deu uma volta em torno de si mesmo, as duas mãos na cabeça, completamente perdido, enquanto assistia Remus vomitar um líquido viscoso que parecia ser uma mistura de sangue e secreções.

Foi neste momento, em que o Gangrel podia apenas assistir, impotente, enquanto Remus lutava pela própria vida, que aconteceu. As memórias de um outro Remus, muito mais jovem e frágil, lhe invadiram como uma torrente. Sirius lembrou de quando abandonou aquele lobisomem sozinho à sua própria sorte. Da mesma forma que ele parecia estar agora.

Era ele. O pedaço que lhe faltava. Sua casa. Aquele que ele pensou que tinha sido morto por Snape, estava vivo e ao seu lado aquele tempo todo.

- Não! Não… - Sirius deu um passo atrás - Não posso perder você de novo. Não agora! Não depois de tudo.

Este foi o último pensamento lúcido que Sirius teve antes de perder completamente a consciência. No instante seguinte, aquele vampiro havia se transformado numa máquina de destruição completamente descontrolada pelo frenesi.

Dumbledore piscou, por alguns instantes sem ação, ao ver os móveis da sala serem atirados longe e esmigalhados pela força sobrenatural do Gangrel. O frenesi era terrível e, se não tivesse a devida cautela, até mesmo Dumbledore poderia sucumbir a tamanha força.

- Sirius! Controle-se, por favor, ou terei que tomar uma atitude. - ele pediu, mesmo sabendo que era inútil, antes de desviar de uma cadeira atirada na sua direção. No instante seguinte, era Sirius que se atirava em cima dele, as garras afundando em seu pescoço.

Ele parecia um sonâmbulo, seus olhos não enxergavam nada. Os dentes estavam trincados de ódio. Apenas um grunhido selvagem saía de sua garganta. Sirius não era mais um vampiro, era uma besta descontrolada, arrasando tudo ao seu redor.

Dumbledore fechou os olhos, resignado. Com algum esforço, afastou as garras do Gangrel do seu pescoço empurrando-o para longe, para, logo em seguida, sussurrar algumas palavras de taumaturgia que jamais pensou que teria que recitar para um aliado.

Ao final, o Gangrel estava desacordado aos pés.

- Desculpe, meu amigo. Mas, não posso deixar você colocar em risco os meus planos. Espero que, quando você acordar, tudo já esteja bem.


Três noites depois…

- Eu sabia. - Dumbledore sorriu quando viu Remus finalmente abrir os olhos depois de mais de três noites agonizantes - você conseguiu, Remus.

Mas Lupin não estava feliz por ter sobrevivido. Seus pés tocaram o chão e, pela primeira vez, ele não sentiu a conexão com Gaia. Lobisomens eram uma força da natureza. Estavam intrinsecamente ligados à terra. Eles eram a própria vida.

Mas, agora, ele tinha se transformado em morte.

Remus caminhou em direção a um enorme espelho, olhando o seu reflexo.

Dumbledore, parecendo alheio a todos aqueles conflitos, andou até a mesa e encheu uma taça de ouro com sangue, empurrando o líquido na direção dele.

- Você vai precisar disso.

Em um segundo, Remus estava bebendo aquele sangue com desespero, ainda tentando conter o nojo de si mesmo e de tudo o que estava fazendo naquele momento.

- Guarde o resto dessa sua fome para Greyback e os vampiros do Sabá. Eu acabei de receber o aviso. Finalmente chegou a hora.

- Eu estou pronto, Dumbledore. - Remus garantiu - deixando a taça vazia de lado - O que eu preciso fazer?

- Por enquanto, aguardemos a chegada de uma peça chave para toda esta guerra. E, então, poderemos conversar.


Quando Harry foi admitido no enorme salão do Príncipe, em meio a vários pedaços de móveis, cacos de vidro e até bibelôs destruídos, viu três enormes cadeiras, forradas de veludo verde arranjadas em um pequeno círculo no meio do aposento. Numa delas, estava Dumbledore. Na outra, o lobisomem amigo de Sirius que ele havia ajudado a resgatar e seu aspecto parecia terrível. O rosto estava arranhado, as roupas rasgadas e ele parecia muito cansado. Além deles, Harry não pôde deixar de notar a presença de Sirius adormecido no sofá mais afastado.

- Boa noite, Harry. - Dumbledore cumprimentou assim que seus olhos pousaram no Tzimisce - sente-se aqui.

- O que aconteceu com Sirius? - Harry perguntou, preocupado.

- Ele está bem, Harry. Só adormecido. - Dumbledore esclareceu.

Harry apenas franziu as sobrancelhas antes de sentar na única cadeira vazia. Foi só aí que reparou que Remus, além de tudo, também era um vampiro.

Pelo visto, as coisas estavam bem agitadas por ali.

- Harry, chegou a hora de destruir Voldemort. - Dumbledore iniciou a conversa, enquanto ajeitava seus óculos de meia-lua no nariz - E, Remus, para destruir Voldemort, é indispensável destruir Greyback e impedir o Sabá de tomar a última ponte da Lua.

Remus não mexeu um músculo, mas sua expressão era muito fechada e sombria. Parecia muito diferente do Remus que Harry havia encontrado ao resgatar Sirius.

- Toda a Camarilla já está mobilizada para esta batalha, mas, a verdade é que tudo o que realmente precisamos para vencer está reunido aqui, nesta sala.

Harry não pôde conter uma expressão de assombro. Sim, desejava destruir Voldemort mais do que tudo, mas daí a Dumbledore considerá-lo mais importante do que toda a Camarilla reunida?

- Eu? Por que eu? - ele perguntou.

- Sim, Harry. - Dumbledore confirmou - na verdade, o seu papel nesta batalha talvez seja o mais importante de todos.

- Perdão? - Harry perguntou.

- Chegaremos lá. - Dumbledore fez um sinal com a mão para que Harry tivesse paciência - Antes, é preciso explicar que o objetivo de Voldemort não é só destruir a Camarilla e tomar esta cidade. Ao tomar todas as Pontes da Lua, ele será capaz de se teleportar para qualquer lugar do mundo e atacar o que quiser em uma questão de segundos. Agora, imaginem o que um Sabá poderoso como Voldemort seria capaz de fazer com semelhante poder. Com certeza, seria o início da Jihad, a Guerra Santa que prenuncia o fim dos tempos.

- Voldemort é simplesmente obcecado por isso. - Harry confirmou.

- O apocalipse… - Remus completou, atônico.

Dumbledore descansou o queixo sobre as mãos cruzadas.

- Você compreende melhor do que ninguém, não é, Remus? Afinal, os Garou são a última linha de defesa contra o apocalipse. Por isso, é imprescindível assegurar que Voldemort não coloque as mãos em todas as pontes da Lua. E essa será a sua parte, Remus. Impedir Voldemort de tomar para ele a última Ponte da Lua, enquanto o resto da primigênie tentará retomar todas as que ele já conquistou. Isso é importante porque, mesmo que Voldemort seja destruído, enquanto eles tiverem as Pontes em seu poder, sempre haverá algum outro Sabá disposto a concluir a missão.

- Certo… entendido. - Remus respondeu - Mas, e quanto a Voldemort?

- Como vocês sabem, Voldemort não é um vampiro comum. Ele é capaz de resistir até mesmo ao fogo e à luz do Sol. Além disso, ele tem um poder de regeneração tão impressionante que é capaz de se reconstruir em segundos de, literalmente, qualquer dano.

- Ou seja… ele é indestrutível. - Remus concluiu, o cenho franzido.

- Praticamente. - Dumbledore concordou - Mas, ainda assim, existe uma única forma de derrotá-lo. E, presumo que você saiba qual, não, é, Harry?

Harry assentiu com a cabeça e respondeu:

- A diablerie.

- E o que é isso, exatamente? - Remus perguntou.

- É talvez a forma mais cruel de destruir um vampiro. - foi Dumbledore quem respondeu - É tão abominável, que a Camarilla pune qualquer vampiro que se atreve a fazer isso com a morte. - Dumbledore fez uma pausa, parecendo desconfortável - consiste em sugar a alma do vampiro para fora do seu corpo. Essa é a única forma de acabar com Voldemort.

- Perfeito! - Remus falou - E o que estamos esperando?

- Não é assim tão fácil. - Harry interrompeu - para sugar a alma de um vampiro por diablerie, antes é preciso sugar todo o sangue dele e isso leva tempo demais.

- Quanto tempo? - Remus perguntou.

- Cerca de meia hora, talvez até mais. - Harry respondeu - e não acho que exista força no mundo capaz de imobilizar Voldemort durante tanto tempo.

- Na verdade, há sim. - Dumbledore esclareceu, fechando os olhos por alguns segundos - Gellard… Gellard Grindelwald. O antigo Arcebispo do Sabá

- O mestre de Voldemort? - Harry perguntou.

- Oh, sim…

- O que Voldemort matou? - Harry continuou, como que tentando lembrar Dumbledore daquele pequeno detalhe.

- Não… Voldemort diablerizou ele, mas não o matou. Pelo menos, não totalmente - Dumbledore deu um sorriso perdido - eu sei disso. Ele ainda está lá. Preso. Adormecido. Mas, está lá.

- E é possível acordá-lo? - Remus perguntou.

- Sim… eu posso acordá-lo. - Dumbledore se interrompeu por alguns segundos - e é aí que você entra, Harry. Quando ele estiver vulnerável, você terá a honra de acabar de vez com Voldemort. O que me diz?

Era um bom plano. Harry não podia negar. Uma chance única de finalmente derrotar Voldemort e concluir sua vingança.

E Harry estava muito disposto a fazer isso.

- Estou dentro. - ele falou - Mas… só uma pergunta: a Camarilla não tinha esse negócio de punir a diablerie com a morte?

Era apenas um chiste, mas a resposta que Dumbledore deu para aquela pergunta o surpreendeu.

- Para o inferno com a Camarilla.


Assim que Remus e Harry partiram, deixando Dumbledore sozinho, veio o apagão.

- Como vai, Severus? - Dumbledore cumprimentou o Lasombra, impassível.

- Você me enganou. - a voz de Snape nunca tinha soado tão sombria

- Como, exatamente, eu te enganei? - Dumbledore franziu as sobrancelhas.

- Você concordou em protegê-lo quando, na verdade, tudo o que queria era usá-lo neste seu plano ridículo. - Snape quase cuspiu as palavras de tanta raiva.

- Pare para pensar um segundo e verá que não existe melhor proteção para ele do que acabar com Voldemort de uma vez por todas.

- Não que você esteja fazendo tudo isso para salvar o Harry, não é mesmo? - a expressão de Snape não deixava dúvidas de que ele sabia perfeitamente de cada uma de suas motivações.

- Isso não faz a menor diferença - Dumbledore cortou, enfático.

Snape ficou alguns segundos em silêncio antes de responder:

- Escolha outro.

- Severus… tem que ser ele.

- Escolha. Outro. - Snape repetiu, dando mais ênfase à pronúncia das palavras - Por exemplo… este monte de lixo aqui. - Snape olhou para Sirius adormecido no sofá com completo desprezo.

- Na presente situação, seria bem mais fácil ele ME diablerizar do que cumprir uma ordem minha.

Os olhos de Snape rolaram nas órbitas.

- Muito bem, então. Eu mesmo faço.

Dumbledore estacou por um segundo, genuinamente impressionado por ver até que ponto Snape poderia chegar por Harry.

- Não… - concluiu, após alguns segundos de ponderação - Você provou o sangue dele.

- Harry também!

- Não tanto quanto você, nem tão recentemente quanto você.

- Isso não faz diferença.

- Claro que faz. Você pode fraquejar.

- Eu não fraquejo. - Snape subiu o tom de voz - Jamais.

- Severus, escute bem…. Ninguém está forçando ele. Harry aceitou. Digo mais: Harry precisa disso. Ele tem vivido por essa vingança todos esses anos, por favor, não tire isso dele. Você sabe que é a escolha certa.

O Lasombra ficou sem palavras por alguns instantes

- Está bem. - ele, finalmente se rendeu, sem, contudo, perder a altivez - Só espero que não aconteça nada com ele, ou eu lhe dou a minha palavra de que venho pela sua cabeça. - Snape trincou os dentes - E ainda não sei se entendo bem o porquê de você ter escolhido justamente ele.

Foi só quando teve certeza absoluta de estar sozinho que Dumbledore respondeu:

- Uma pena você não ter reflexo no espelho, meu caro Severus. Porque veria nele a causa.


- Não, não, não. Mil vezes não. - Draco reagiu exatamente como o esperado, ao ouvir o resultado da reunião que o Príncipe havia convocado com Harry e com um lupino abraçado que Draco nunca tinha visto mais gordo.

- Draco… por favor… eu não tenho escolha…

- E por qual motivo você não teria escolha? - Draco interrompeu Harry - escuta, essa briga é de cachorro grande, você não passa de um neófito, que nem da Camarilla é! Me diga qual seria o maldito motivo de você ir até lá para morrer nas mãos de um monstro invencível?

- Ele não é invencível! O plano de Dumbledore é bom! Nós temos uma chance real de destruí-lo!

- Para o inferno com essa guerra! Ela não é sua! Se dois velhos babosos resolveram brigar entre si, isso é problema deles.

- Você jurou lealdade a um desses velhos babosos. - Harry lembrou.

- Eu sei disso e pretendo fazer a minha parte. Só que a minha parte é a de um neófito! E, por nenhum motivo desse mundo eu pretendo realmente colocar a minha imortalidade na linha como você quer fazer.

- Muito justo e Dumbledore não pediu mais do que isso de você. Mas, este não é o meu caso.

- Só que você, ao contrário de mim, não jurou lealdade nenhuma, não deve nada a ele…

- Ele me abrigou aqui, me protegeu…

- Não a este preço! E se ele te abrigou por isso, então teria sido melhor que você nunca tivesse pisado os pés neste castelo.

- Mas, se eu não tivesse pisado, não teria te conhecido. - Harry sorriu.

- O que teria sido uma benção para nós dois.

O sorriso de Harry se apagou.

- Escute aqui, Draco, não é só Dumbledore que tem contas a acertar com Voldemort. Este sujeito matou os meus pais, me abraçou à força, destruiu meu avatar e, não satisfeito, me torturou noite após noite por mais de meio século. Por isso, não me culpe se eu aceito de muito bom grado quando alguém me oferece uma oportunidade de acabar com esse desgraçado!

Draco abriu a boca e depois tornou a fechar, virando-se de costas.

- Pensei que você estava sendo sincero quando disse que me amava. Mas, era só mais um dos seus joguinhos mentais.

- Minha nossa, Draco, como pode me dizer isso? Eu nunca fui tão sincero em toda a minha existência!

- Não! Se você me amasse mesmo, não estaria pensando em nada além de ficar comigo. E não se jogando de cabeça nessa guerra maluca! Você não se importa comigo! Você ama a sua vingança, isso sim!

- O que eu preciso fazer para te provar que eu te amo? - Harry perguntou, impaciente.

Draco não pensou duas vezes.

- Um laço de sangue comigo!

- Espera! - Harry estacou - Você quer fazer um laço de sangue comigo?

- Não! Eu só quero ficar com você. Só isso. Se um laço de sangue fizer você ficar, então eu quero um laço de sangue com você.

- Escute, Draco, você provou do meu sangue duas vezes e por isso não está pensando direito. Você está sendo inconsequente e falando coisas da boca para fora só porque está com medo de sofrer… você não quer um laço de sangue, muito menos comigo. Não mesmo!

- Maldito seja, Harry Potter! Você não pode definir o que eu sinto!

- E o que você sente? Sim, porque, se for vontade de ficar comigo, como você disse, sinto dizer que isso é nada mais do que o efeito da minha vitae dentro de você.

Os olhos do Ventrue faíscaram de indignação.

- O que você quer, Harry? Que eu me humilhe? Que eu me ajoelhe? Que eu implore?

- SIM! - Harry gritou - Eu quero que você se submeta à terrível humilhação de dizer que me ama! Eu quero que você se ajoelhe, que implore, que abrace os meus joelhos! Quero que você chore! Droga, Draco, eu quero saber se você me ama e me quer de verdade ou se é só um vampirinho ingênuo que se deixou enredar e agora está morrendo de medo de sofrer!

- … eu… eu fui ingênuo. Me deixei enredar por você. E, sim, é verdade, eu estou morrendo de medo de sofrer.

Harry fechou os olhos, irritado e decepcionado, mas, quando tornou a abrir, Draco estava de joelhos.

- Mas, eu também te amo. Te amo desde o primeiro momento em que você me apareceu com seus maus modos e seu jeito insuportável e, por isso mesmo me deixei enredar. Fui ingênuo e me atirei de cabeça num joguinho passional com alguém muito mais forte, esperto e melhor do que eu. E… e eu acabei perdendo tudo nesse jogo. Meu mestre, meu clã, minha dignidade, tudo… só me restou você… e eu não posso perder você, Harry, senão eu juro que vou enlouquecer. - Draco soluçou, abraçando as pernas do Tzimisce - Por favor… não me abandone.

Harry estava chocado demais para responder qualquer coisa. Há exatos dois minutos, ver Draco ajoelhado aos seus pés confessando seu amor estava, com toda certeza, no topo da lista das mais loucas fantasias que ele era capaz de cogitar. Mas, agora que ele estava ali, fazendo exatamente isso, o coração de Harry parecia se encolher de tanta tristeza. E foi por isso que ele, pela primeira vez em toda sua existência como vampiro, cogitou a possibilidade de deixar sua vingança de lado, esquecer tudo, todos e simplesmente sumir no mundo para sempre levando Draco consigo.

- Olha… - O Ventrue continuou sem largar as pernas de Harry - Não pense que eu não entendo seus motivos… no seu lugar, eu também faria tudo o que estivesse ao meu alcance para me vingar desse desgraçado que te fez tão mal. Mas… mas… eu tenho certeza que, se você fizer um laço de sangue comigo, todo o ódio que você sente agora vai se apagar… vai perder totalmente a importância e aí só vai restar o que realmente interessa. O seu amor. Por mim.

Harry ficou alguns instantes em silêncio, pensativo, e então, estendeu as mãos para Draco, fazendo com que ele se levantasse do chão. O Tzimisce acariciou o rosto do Ventrue, enxugando suas lágrimas de sangue com suavidade e, só então, respondeu seu questionamento mudo:

- Vamos fazer, Draco, vamos fazer o laço de sangue.

O rosto de Draco se iluminou num lindo sorriso que fez Harry puxar sua cabeça com as duas mãos para um beijo longo e cheio de significado, segundos depois, as mãos do Tzimisce passaram a despir o Ventrue do seu terno cinzento.

- Quero fazer isso sentindo a sua pele. - ele explicou, fazendo Draco estremecer da cabeça aos pés.

Harry se livrou também das suas roupas e então carregou o loiro para sua cama, deitando-se em cima dele para um beijo. Draco fechou os olhos, tentando conter a própria ansiedade.

- Você tem certeza? - Harry perguntou uma última vez.

Draco apenas assentiu com a cabeça.

- E então, Harry inverteu sua posição, deitando-se novamente sobre Draco, de forma que sua boca alcançasse a virilha do Ventrue.

Os caninos de Harry se eriçaram quase dolorosamente de tanta expectativa antes dele afundá-los na veia femoral do Ventrue com volúpia.

Draco soltou um grito gutural de prazer antes de repetir o mesmo gesto com Harry.

O laço estava feito.

Harry por um momento sentiu como se a vitae de Draco tivesse o poder de trazê-lo de volta à vida. Uma onda de felicidade e completude indescritível lhe invadiu de tal forma que ele precisou fechar os olhos para contê-la.

Passaram alguns minutos assim, afundados no prazer um do outro. O sangue dos dois se misturando até se tornar uma coisa só, como se fossem o mesmo ser.

O primeiro a quebrar a ligação entre os dois foi Draco, pois sua atenção de repente tinha sido atraída por alguma coisa, deixando-o deslumbrado a ponto de sequer notar o gemido alto de frustração que Harry deixou escapar antes de também se afastar de Draco, contrariado, e vir procurar algum consolo em sua boca com um longo beijo.

- Você vai dizer que eu sou louco, mas eu vi. - Draco falou, com a voz trêmula, assim que Harry quebrou o beijo e o puxou para junto do seu peito, num abraço possessivo - foi por um segundo… e foi a coisa mais linda!

Harry apenas olhou para ele, um ponto de interrogação desenhado em seus olhos verdes.

- Por um segundo, eu juro, Harry, você tinha asas.

Continua…