Notas da autora

Song Wu revela...

Yunhe fica...

A mestra de demônios fica agradecida quando...

Yunhe toma uma decisão sobre...

Capítulo 9 – A esperança de Yunhe

- Ele a marcou como sua propriedade. Com essa marca ele pode saber onde você está e o que está fazendo, além de poder sentir o que você sente. Assim, ele sempre irá vigiá-la não importa a distância. Você não terá mais a privacidade que tinha antes porque ela pode ser tomada de você quando ele desejar e nem mesmo os seus sentimentos são privativos porque ele pode senti-los também. Quando ele acessar a marca, ela irá brilhar.

Yunhe fica em choque e lágrimas brotam dos seus olhos porque os últimos acontecimentos e descoberta a sufocaram brutalmente. Saber que agora sequer tinha a sua privacidade e que para conversar com a sua amiga teriam que tomar medidas preventivas porque ele podia invadir a sua privacidade quando desejasse com ela não podendo impedir ao mesmo tempo em que o jiaoren podia sentir os seus sentimentos foi demais para ela lidar. O seu carcereiro a vigiava nas refeições e agora, a vigiaria sempre que desejasse, além de também conseguir vigiar os seus sentimentos.

Tudo isso era demasiadamente opressor, fazendo com que a sua prisão fosse a pior de todas.

Afinal, no vale demoníaco ela tinha a privacidade do seu lar podendo falar e fazer o que desejasse ao mesmo tempo em que mais ninguém conseguia saber o que ela estava sentindo deste que não demonstrasse os seus verdadeiros sentimentos em seu semblante. Na prisão do Grão-mestre era a mesma coisa. Nenhum deles podia saber os seus reais sentimentos e o que fazia quando estava sozinha. Em ambas as suas prisões anteriores ela tinha momentos de privacidade.

Ali, Yunhe sequer tinha alguma privacidade agora. A sua fuga apenas piorou a sua situação, com a jovem se sentindo estúpida ao pensar até aquele instante que a única punição que recebeu foi não poder mais colocar a mão para fora do selo como podia fazer antes, além da mordida feita com raiva na sua orelha.

A mestra guardiã do Vale demoníaco devia ter desconfiado que seria duramente punida pelo seu ato infrutífero e ao pensar que foi a única culpada por agravar ainda mais a sua situação, passou a ficar amargurada, além de xingar mentalmente a si mesma por ter se esquecido do ato dele de ter infligido dor nela com os seus poderes ao simples ato dela não desejar tomar o medicamento ao mesmo tempo em que agredia mentalmente a si mesmo por esquecer das palavras e do gesto do tritão após tirar ela da prisão do grão-mestre.

Na época, a seu ver compensava porque havia planejado fazer isso antes de conhecer Song Wu.

Porém, agora que a conhecia e tinha alguém para conversar, o seu ato anterior soava como sendo uma idiotice porque não podiam mais conversar tranquilamente por causa da marca em sua orelha que foi ocasionada por sua fuga, fazendo-a se arrepender amargamente da sua atitude inconsequente e igualmente infrutífera porque o seu carcereiro possuía agora a capacidade de vigiá-la a distância.

Naquele momento odiava o que fez movida por sua estupidez ao praticar memória seletiva, excluindo as memórias que detestava. Por que não agiu como uma prisioneira subserviente? Por que insistiu em uma fuga que nunca traria frutos? Por que piorar a sua situação?

Ela seca as suas lágrimas e inspira profundamente, amaldiçoando a si mesmo pelo seu ato estúpido porque não podia voltar no tempo. Somente restava se amargar e lamentar ao colher as consequências do que fez.

- Lamento. Deve ser horrível viver sem privacidade.

- Eu sei que falei que compensou. Mas, agora, ao saber dos poderes que o meu carcereiro ganhou sobre mim podendo me privar da minha privacidade quando desejar junto do fato de saber o que eu estou sentindo por ter me marcado como sua propriedade ao mesmo tempo em que me transformou em sua escrava ao reafirmar a sua posse sobre mim com essa marcação visível a qualquer um, além do fato de não podemos mais conversar tranquilamente, eu não acho que compensou. Se eu soubesse das consequências nunca teria tentado uma fuga tão inútil. Eu sacrifiquei o pouco de privacidade que eu ainda possuía para ser livre por ínfimos momentos. Eu ainda não tenho a minha liberdade e vivo confinada com um carcereiro implacável de semblante frio ou cruel, sem o direito de sequer receber ocasionalmente alguma visita como os demais prisioneiros tem direito. Agora, sacrifiquei o vestígio que eu tinha de algo que podia ser chamado de privacidade. Eu fui uma idiota. O pior de tudo é que mesmo com a promessa dele de me manter viva enquanto quisesse se vingar junto do corte da mexa do meu cabelo para demonstrar que estava aqui para me machucar e não para me salvar junto do fato dele ter chegado a infligir dor em mim com os seus poderes pela minha recusa em tomar o remédio, eu ainda julguei estupidamente que não teria tantas consequências ruins e que o meu único castigo era não conseguir mais colocar a minha mão fora da janela e uma mordida de raiva na minha orelha. De fato, eu fui uma idiota.

- Infelizmente, não podemos fazer nada.

Yunhe seca as lágrimas e inspira profundamente, para depois, ficar surpresa com o que ouviu.

- Bem, quanto a marca não podemos impedir o acesso dela. Ele pode ver o que desejar e sentir os seus sentimentos. Mas, quanto aos seus sentimentos, eu posso dar a você um pouco de privacidade. Mas, você terá que ajudar nisso. Terá que controlar os seus sentimentos não deixando transparecer quando estivermos juntas e quando estiver com ele, não deve impedir porque ele pode desconfiar de algo. Agora, você sentiu uma intensa tristeza e ele sentiu isso. Mas, provavelmente, deve estar muito compenetrado em algo e por isso, não teve tempo de acessar a marca da propriedade em você. Se ele tivesse sentido, com certeza teria voltado – ela viu Yunhe ficar aterrorizada com isso.

- Como você pode me ajudar?

- Eu vou te dar um objeto. Ele vai te ajudar a suprimir os sentimentos que o tritão pode sentir de você. Mas, sabia que não pode suprimir por completo. Essa marca é muito forte. O que o objeto vai fazer é auxiliá-la. O resto dependerá de você. Ademais, eu recomendo usá-la apenas quando estiver comigo porque ele pode desconfiar se não sentir plenamente os sentimentos de você quando estiver aqui.

- Eu compreendo. Muito obrigada por me permitir ter um pouquinho de privacidade após eu cometer a estupidez de tentar fugir. Eu falei que foi estúpido porque eu sabia sobre os poderes dele. Eu presenciei em três ocasiões com uma dessas vezes envolvendo o ato dele explodir uma espada em milhares de pedaços que se espalharam no vento. Destruir objetos através do espaço não é algo que qualquer demônio pode fazer. Além disso, eu também esqueci momentaneamente o ato dele de provocar dor ao usar os seus poderes contra mim e o desejo de vingança.

Song Wu consente e estende uma pulseira muito fina e de aparência simples contendo uma joia dourada, com ela falando:

- Você pode colocar na sua coxa, por exemplo, para impedir que alguém veja. A pulseira vai ficar rente e bem firme porque vai se fechar sozinha. Não importa onde ela esteja, o importante é estar em contato com a pele.

Yunhe observa o objeto e comenta com admiração:

- É incrível. Parece tão frágil.

- Não se engane com a aparência. É um objeto mágico bem poderoso. Eu vou emprestar para você.

- Muito obrigada!

- Lembre-se, ele só conseguirá auxiliá-la. Você deverá se conter para que o jiaoren não desconfie de nada. Ademais, não use direto porque ele não pode desconfiar que você pode ocultar os seus sentimentos dele. Quando estamos juntas, ele costuma estar ocupado. Além disso, não sentir sentimentos de você não será estranho porque está sozinha.

- Sim.

Ela observa a jovem humana prendendo o item na sua coxa.

- Sabe, eu decidi fazer algo escondido do tritão. Com certeza, a fará feliz. Mas, devemos ser extremamente cuidadosas.

- O que seria?

- A sua amiga Luo Jinsang pode ficar invisível. Eu posso permitir um encontro entre vocês duas.

- Mas, o olfato dele...

- Eu conheço uma técnica de anular o odor de alguém temporariamente. Ela também virá com a roupa de uma empregada da limpeza. Eu consegui contrair sem que ninguém percebesse. Claro, enquanto vocês conversam, eu vou fiscalizar a marca.

Yunhe segura ambas as mãos dela em suas mãos enquanto falava com a voz embargada pelas lágrimas de felicidade que brotavam dos seus olhos:

- Obrigada. Muito obrigada. Obrigada mesmo.

A jovem foi tomada por uma grande felicidade porque acreditou que nunca mais veria aquela que era como uma irmã caçula para ela ao mesmo tempo em que sempre se sentiu protetora com a jovem como se fosse a sua irmãzinha.

Mesmo sentindo esses sentimentos, a mestra de demônios conseguiu controlar a intensidade das suas sensações enquanto decidiu que iria treinar arduamente para poder se conter ainda mais porque o objeto não conseguia agir sozinho e era somente para auxílio.

- Eu queria recomendar algo para você falar para ela. Eu sei que estou me intrometendo demais e...

- Não está. Você está me dando muito. Você me forneceu a sua amizade e conversas, me fazendo me sentir viva desde que fui aprisionada aqui. Agora, está concedendo um desejo do meu coração. Se dependesse do meu carcereiro, eu morreria sem rever sequer um dos meus amigos ou a minha irmãzinha. Ele nunca mostraria qualquer clemência porque ele deseja me atormentar e me fazer sofrer como vingança e após me machucar com os seus poderes, além de me marcar como sua propriedade suprimindo a minha privacidade e invadindo os meus sentimentos, eu não duvido disso. Inclusive, mesmo que eu estivesse em meu último suspiro, ele não me permitiria vê-la nem que fosse para me despedir. Além disso, eu acredito que ele irá selar o meu corpo para sempre nesse local para me manter eternamente prisioneira e se pudesse aprisionar o meu espírito em algo, ele também faria isso. Ainda bem que só pode aprisionar o meu corpo e não a minha alma.

- Eu não duvido disso. De fato, é bom que ele não pode aprisionar o espírito das pessoas.

- Sim. Quanto a minha irmãzinha. Aconteceu algo? - Ela pergunta com preocupação em sua voz e semblante.

Ela explica e conta alguns fatos que descobriu sobre Luo Jinsang e Kong Ming, com Yunhe ficando surpresa ao saber que o monge era um grande amigo de Chang Yi e que o ajudou muito, com a Guardiã do Vale demoníaco acreditando erroneamente que Song Wu não possuía todos os detalhes de como foi isso ao mesmo tempo em que a mestra de demônios ficava surpresa pelo fato da sua irmãzinha de coração ter sentimentos pelo monge, para depois, ficar irada ao saber a forma como ele a tratava em público, fazendo com que fosse inevitável a comparação, de certa modo, com a sua situação atual.

- Eu acho que você deve pensar no que é o melhor para ela. Por isso, procurei pesquisar sobre as interações dela com Kong Ming.

- Você está certa. Eu tenho que pensar a longo prazo para ela. Eu morrerei em breve. Ademais, ela precisa ficar no Norte onde é mais seguro e o único lugar livre da corte imperial. Ela também merece o melhor. Não posso ficar parada enquanto ela gosta de alguém que a escorraça em público como se tivesse sarna, além de trata-la friamente. Eu preciso fazer algo. Já basta a minha situação. – Ela fala após suspirar.

- Eu acredito que ela vai ouvir você. Além disso, quero alertá-la de algo.

- Sim?

- A sua situação pode piorar se você não se comportar.

- Como assim? Eu já perdi a minha privacidade e agora sofro com a intrusão em meus sentimos. O que mais eu posso perder?