Ao saber da terceira gravidez de Spock, o Dr. McCoy sentiu a necessidade primal de alertar o casal de amigos de que aquela tinha que ser a última vez que tinham filhos. Apesar de usar um tom bastante irritado, ele estava preocupado e apreensivo. Amanda tinha puxado mais à mãe, tendo bastante características dos vulcanos, inclusive as orelhas pontudas e as sobrancelhas arqueadas. Georgina era um equilíbrio entre os dois, com orelhas menores porém não totalmente humanas, agora a terceira criança, tinha mais DNA humano do que Vulcano, o que era um tanto arriscado para sua mãe com biologia mais vulcana que humana.

Assim, McCoy acabou se mudando para perto dos Kirk, acompanhando o desenvolvimento da terceira criança Kirk de perto, conquistando a gratidão de seus amigos.

-Eu agradeço por tudo que fez por nós, por meus filhos – Spock fez questão de dizer uma vez, o que gerou apenas um sorriso humilde do médico, sem mais sarcasmos ou críticas.

David Kirk nasceu em São Francisco, Terra, cinco anos mais novo que Amanda e três anos mais novo que Georgina. Seu nome foi cuidadosamente escolhido por seus pais.

-Um antigo rei poderoso – Spock explicou a escolha do nome.

-Um rei israelita, o mais famoso de toda história judia – Jim ponderou – quer que o nosso David seja um homem poderoso?

-Não poderoso, mas sábio e humilde de coração – ela reformulou.

-Concordo com você – seu marido assentiu, beijando sua testa, voltando a admirar o pequeno David, que parecia um anjo.

Olhos azuis, cabelos loiros encaracolados, uma imagem muito parecida com seu pai. Jim esperava que o garotinho fosse muito melhor que ele em tudo. Olhando para todo aquele cenário, com Amanda e Georgina observando o irmãozinho com curiosidade, ele percebeu que tinha bem ali o que tinha procurado por muito tempo e nem sabia.

A família Kirk prosperou em São Francisco por um tempo, onde as crianças cresceram com a influência natural que vinha de seus pais, oficiais da Frota Estelar, e por estarem não muito longe da própria academia. Tanto Jim como Spock acabaram enchendo o imaginário dos filhos com histórias de suas aventuras pelo espaço, o que os incentivou a ingressar na Academia.

David como a mãe, na área de Ciências, Amanda em Comando e Georgina em Operações, dividindo-se bem em tudo que a Frota Estelar poderia oferecer. Com os filhos na Academia, Spock também pôde se dedicar a um pedido certamente especial.

Convocada à Academia, a capitã atendeu o chamado e acabou sendo apresentada a uma jovem vulcana chamada Saavik.

-É uma grande honra conhece-la, capitã – disse a mais jovem depois da saudação vulcana, sua fama e suas façanhas a precedem.

-Imagino que agora você queira viver tais experiências – Spock respondeu – digo por experiência própria que, elas são certamente fascinantes, mas uma coisa me intriga, você é a segunda em Vulcano a ingressar na Academia da Frota Estelar, imagino que houve algum conflito quanto a isso.

-Não muito, senhora – confessou Saavik – o que acontece é que eu sou órfã, não havia exatamente quem me apoiar ou me contrariar, estou tentando encontrar propósito significativo, assim como você um dia encontrou.

-É uma sábia decisão, quero que saiba que estarei disponível, para que o que precisar, em sua jornada, seria um prazer e um verdadeiro dever me tornar sua mentora – Spock ofereceu toda sua ajuda.

-Muito obrigada, senhora, certamente que aceitarei – Saavik se sentiu lisonjeada com a proposta.

Assim, Saavik se juntou à Frota Estelar como alferes no tempo devido. Jim viu de perto o olhar sutil, mas muito orgulhoso que Spock e Saavik trocaram. O momento o fez se lembrar de alguns alferes que passaram pela Enterprise nos seus tempos de capitão, e certamente era gratificante um oficial promissor avançar em sua carreira.

Não demoraria muito para que assim como Saavik, Kirk e Spock voltassem à uma nave estelar, mais precisamente sua querida Enterprise depois de anos sem vê-la.

A convocação chegou ao casal ao mesmo tempo, Jim era esperado para acompanhar mudanças nas estruturas da Enterprise e Spock, sua oficial de ciências competente e inseparável, estava responsável como supervisora de toda área científica na missão que a nova tripulação da Enterprise enfrentaria.

Dava para se notar a agitação na sede da Frota Estelar, enquanto Kirk e Spock se preparavam para embarcar para a Enterprise mais uma vez em suas vidas. Tudo parecia intimamente familiar, mas ao mesmo tempo, completamente novo. Inclusive, a própria nave que tinha sido o lar deles por um bom tempo.

-Almirante, capitã! Que prazer em revê-los - Scotty os recebeu de forma entusiasmada.

-Igualmente, sr. Scott - Spock respondeu de forma cordial.

-Sentimos sua falta - Jim acrescentou.

-Bom, essa velha dama me ocupou bastante nos últimos meses - comentou o engenheiro, com orgulho - mas creio que ela merecia e valeu muito a pena.

Depois de conversarem mais um pouco sobre a missão, a visão da Enterprise preencheu o horizonte, imponente, brilhante, convidativa. Também familiar, mas também diferente. Estar de volta ali trazia lembranças múltiplas ao casal, lembranças essas que formavam sua experiência para lidar com o que estava por vir.

Antes que a nave auxiliar atracasse, um arrepio perpassou por Spock. Uma presença rápida, estranha e eletrizante, tão rápida e forte que ela não conseguiu se conectar a ela, assim como chegou, também se foi.

-Spock, está tudo bem? - Jim perguntou ao lado dela, notando as pequenas, mas perceptíveis mudanças em sua expressão impassível.

-Estou - ela respondeu de forma séria, decidindo seguir um princípio científico, não diria mais nada até entender o que estava acontecendo.

Jim por sua vez, guardou o momento em sua memória, disposto a ficar em alerta sobre isso. Os membros de sua antiga tripulação o receberam com toda alegria e receptividade, o que foi o oposto da reação do capitão atual da Enterprise.

Spock fez questão de acompanhar James até a engenharia, onde William Decker ainda tentava resolver problemas técnicos com a equipe de engenharia. Como esperado, o capitão não ficou nada feliz em ser rebaixado.

-A situação poderia ter sido melhor - Spock comentou de forma serena e quieta, mas seu marido podia perceber o tom de repreensão na voz dela.

-O que queria que eu fizesse? Eu apenas disse o que foi decidido e os motivos para isso - ele se voltou para ela, um tanto irritado.

-Ainda assim deixou que ele fosse embora de forma irritada - ela continuou apontando.

-Achei que as emoções humanas fossem confusas para você - ele rebateu.

-Esse é um velho fato, James, casar-me com você me ajudou muito em compreender tais emoções - ela argumentou de volta.

Vendo que não houve mais resposta de James, Spock voltou a insistir, como sua constante e fiel conselheira.

-Criar animosidades entre a tripulação, ainda mais nesse tempo de crise, não é nem um pouco útil – ela explicou – além disso, você mesmo citou os motivos para estar aqui, toda sua experiência, não deve deixar que suas emoções o conduzam nesse momento, ainda assim deve considerar as mudanças na Enterprise que Decker conhece muito melhor que você.

-Está bem, compreendo tudo isso e agradeço pelos conselhos – Jim respondeu, reconhecendo que era melhor ter a sensatez que ela estava pedindo, afinal havia uma missão e um perigo desconhecido muito maior do que eles.