Ele tem postulado uma pose, pode-se dizer. Ele tem tentado enganar Dorothea e se apresentar como não se incomodando com a visão de sua bela figura nua. Orgulho, ela apostaria, uma tentativa desesperada de se apegar a velhos hábitos, àquela persona elegante dele e não parecer um garoto ansioso por demais.
Homem tolo, sempre envolvido em uma empreitada frívola, de enganar aqueles que não podem ser ludibriados. Ela já tinha estado com muitos parceiros antes, todos igualmente vaidosos, ela sabe como eles são e como pensam. Naturalmente, ela podia com incisiva facilidade enxergar por além desses simulacros, absorvendo a maneira menos do que confiante como ele havia tocado sua pele e o calor incomum de suas palmas contra ela.
Dorothea não é uma mulher cruel, e, ao contrário dos anteriores, ela se importa com ele. Ela tenta fazer sua parte para tranquilizá-lo, comunicando não verbalmente com um olhar suave que ele não precisava agir daquela maneira. Mas ele, em vez disso, manteve seus olhos âmbar mais impassíveis do que nunca e manteve sua falsa compostura.
Nada diferente das centenas, ou melhor, milhares as quais ele tinha visto antes, sua postura declararia. Afinal, ele está no controle de si mesmo e da situação, ele tem experiência, e nessa sensual luta pela dominância, ele terminaria por cima.
Ela podia não lhe dar muita confiança, prevendo uma empreitada egóica do tipo ao qual ela já há muito se cansara, mas assim foi. Ela lhe deixou tomar a iniciativa, nem que fosse para que ambos não se satisfizessem e ela lhe demonstrasse como efetivamente o fazer numa próxima ocasião. Quem sabe algum outro tipo de experiência? Ela duvidava que ele já tivesse tido a oportunidade de provar de certos prazeres os quais ela era já muito proficiente.
Até que ele afundou a cabeça nela, isto é. Grossa e quente, esticando-a de uma forma que era nada menos que viciante. Ela mesma se afeta, os olhos esvoaçando fechados e um suspiro suave deixando seus lábios, anteriormente tornados mais inchados pela maneira entusiasmada com que o homem a beijara.
Era o Emblema? A experiência como piqueiro? Havia algo naquela lança de Gautier que era mágico, que ela nunca teve e não pensava ser possível. Talvez a tola seja ela o tempo todo, em não botar fé no que todas as evidências apontavam, mas que seus próprios preconceitos negavam.
A experiência pode ter sido intensa para a musicista, mas Sylvain se perde em si de maneira muito mais acentuada. Ele se coloca quieto quando apenas a cabeça adentra o tal canal e ela abre os olhos curiosamente, olhando-o com confusão costurada nos músculos de seu rosto. Suas sobrancelhas ruivas estão franzidas, seus olhos fechados enquanto suas unhas rombas escavam a generosa carne de suas coxas.
Dorothea está perto de lembra-lo de que ele pode se mover, as sílabas iniciais de seu nome já enroladas em sua língua, mas então ele o faz por conta própria e o som que ele faz é tão celestial que as feições da mulher não podem deixar de refletir seus sentimentos. Um sorriso travesso em seus lábios, uma mistura perigosa de orgulho e diversão rodopiando em seus olhos que absorvem o máximo do momento que ela consegue.
As sobrancelhas grossas e masculinas se puxam uma para a outra na testa do homem, um rosto esguio contorcido em uma expressão que simultaneamente parece prazer e dor. Ele se afunda mais a frente e faz o som mais uma vez, mas desta vez ele percebe sua própria volúpia e limpa sua garganta, buscando, mais uma vez sem sucesso, disfarçar.
Seus olhos se abrem e quando ele vê que ela já está o observando de maneira estrita, desafiadora, ele tosse e lança o olhar para o outro lado da sala, como se tudo o que está acontecendo fora daquela janela fosse mais divertido do que o que ele tem diante dele. Ela não diz nada, pensando que a relutância do ruivo seria vexatória se não fosse tão engraçada.
Em vez disso, em vez de insistir em confrontá-lo em algo que não há nem sentido nem lugar no momento que vivem, ela deixa-o se acostumar com os movimentos, recebendo bem seus impulsos com quadris excitados e uma astúcia ansiosa demais. Aquele caráter pueril, inexperiente, quase inocente de uma forma simpática que ele ocasionalmente demonstra em seu charme, na forma em que ele a trouxe para o seu leito, se demonstra enquanto ele fecha os olhos, de modo que ele não possa se responsabilizar, não possa nem saber, de modo que ele se proteja da própria vergonha.
Dorothea gosta desse lado dele, muito mais do que ela gosta do tipo que ele insiste em interpretar. Não é exatamente por ser sincero, afinal ela sabe a experiência que ele de fato tem e que soa quase incongruente com seu afobamento, mas por ser doce e divertido, mas também alcoviteiro, algo de profunda intimidade. Talvez possa ser ciumento da parte dela, talvez ela própria tenha um orgulho a alimentar, mas ela se sente como proprietária desse homem.
Somado a um talento que confessa os maus hábitos do passado, torna o sexo uma atividade de raro prazer. Assim, ela deixa Sylvain pensar e fazer o que queira, já que ela certamente está recebendo tanto o que ela se dispôs a conseguir. Não é até que seus quadris solucem em um movimento descoordenado e ele empurre para dentro dela com um último impulso que ela de novo se manifesta.
"Você...?" A cantora de ópera inclina a cabeça, avaliando a maneira letárgica como seu parceiro cai para frente, sua cabeça aninhada em seu pescoço. "Você acabou de gozar?"
Ele toma um segundo para si, respirando fundo, mas então Sylvain balança a cabeça enfaticamente.
"Não!" Sua voz estala no início, e então ele limpa sua garganta e repete mais firme. "Não."
E antes mesmo que Dorothea tenha a chance de discutir com ele, Sylvain já se põe a foder ela novamente, com mais vigor desta vez, como se ele tivesse algo a provar.
