Arven nunca foi o melhor em confortar as pessoas. Talvez seja mais preciso dizer que ele não sabia confortar ninguém e qualquer momento de tragédia ou drama na vida de outrem poderia facilmente se tornar pior se ele tentasse.
Ele sabe que já foi confortado muitas vezes e espera que, se necessário, possa retribuir o favor às pessoas com quem se importava. Talvez se o professor Clavel alguma vez enfrentasse alguma dificuldade pessoal, ele poderia pensar em algumas palavras para dizer ou em algo para fazer que fosse de qualquer forma produtivo.
Com pessoas que ele não conhecia muito bem, no entanto, ele tinha mais dificuldade. A bem da verdade, como princípio, ele nem sentia que deveria se importar com os problemas dos outros, considerando que os seus já eram suficientemente difíceis para ocupa-lo. Quando ele se obriga à compaixão, no entanto, ele percebe que seus sentimentos sinceros poderiam não ser suficientes, afinal, de que adiantaria se ele apenas se sentisse triste pelos outros?
Por muito tempo, foi assim que ele se sentiu com Juliana. Ele já havia encontrado com ela inúmeras vezes antes, eles passaram muito tempo juntos e certamente ela viu coisas sobre ele que se postulam no mínimo como chocantes, mas foi só quando ela se abriu sobre seus medos internos que ele percebeu que nunca a conhecera de verdade.
O cenário era estranho: era em um museu de cera. Ele teve que ir até lá como parte de sua punição por abstenção prolongada, ajudando com todos os tipos de tarefas ao redor da academia. Ele sabia que seria chato ir pegar os bonecos de treinamento sozinho, então ele a convidou, ou melhor, a intimidou a acompanha-lo.
Era uma terça-feira qualquer e o local estava fechado, completamente vazio, o motor do ar-condicionado girando para preservar as esculturas bizarras. Eles tiveram que entrar pelos fundos. Algo começava a dar errado no segundo em que a garota geralmente impetuosa entrou no museu, Arven logo percebeu. Ele não queria insistir, confrontá-la sobre algo que talvez ela não quisesse manifestar, mas viu esse momento de privacidade como uma chance de ajudá-la, para variar. Uma pergunta rápida e insípida sobre seu bem-estar foi suficiente para que ela quebrasse.
Ela se abriu sobre coisas que ele nem sabia que ela se preocupava. A necessidade de impressionar constantemente a todos, a sensação de nunca ser suficiente, o medo do estranho tipo de morte que pairava dentro da Área 0, ela botou tudo para fora. O adolescente loiro estava particularmente grato por sua confiança, talvez ele pudesse finalmente começar suas retribuições pelos imensos favores que ela o tinha prestado, mas ele não sabia como consolá-la.
Sentaram-se juntos no chão do museu. Juliana estava enrolada em uma bola, com o rosto pressionado nos joelhos enquanto soluçava. Arven tentou sussurrar curtas palavras de incentivo, mas ela não reagiu. Com cuidado, ele colocou a mão no ombro dela e esfregou-a, tentando um novo método. Nada. Ele, então, baixou a mão para as costas dela e esfregou sua coluna através de sua jaqueta de uniforme, usada para cortar os ventos frios de Paldea. Ela soluçou, mas os sons guturais eram notavelmente mais silenciosos.
Ele continuou esfregando suas costas suavemente até que ela se apoiou em seu peito, justo sobre o coração que ele não conseguia controlar. A partir daí, eles tiveram um momento de aconchego no chão. Seus membros estavam emaranhados e sua cabeça estava enterrada em sua camiseta de botão, embebida no cheiro de azeite de oliva e ervas finas. As tílias de borracha não eram o lugar mais confortável para tanto, mas ele não se importou, o calor corporal que vinha dela compensava qualquer indignidade. Ela continuou a relaxar em seu toque, e ele sorriu sabendo que havia descoberto como consolá-la.
E ele confortava Juliana assim sempre que ela precisava. Com gana. O processo sempre lhe trazia prazer e ele sempre saía vitorioso em sua empreitada, era tão fácil que lhe dava vontade de rir, aliviado.
Se ela parecesse um pouco chateada, ele colocava a mão em seu ombro ou lhe dava um tapinha na cabeça enquanto a deixava apoiada nele.
Arven não tinha certeza de quando ela se tornou mais afetuosa nesse sentido, porque eventualmente sua nova técnica de conforto se tornou a norma. Ele nem percebeu o quanto ele segurava sua mão até que Nemona o mencionou em seu costumeiro jeito altivo e ciumento.
Preocupado em ultrapassar limites, teve uma conversa com a amiga. Parecia que Juliana também não percebeu a mudança, mas, para sua sorte, deixou claro que não via nenhum problema com isso. Para ressaltar a afirmação, ela chegou até a apertar um beijo na bochecha em agradecimento.
E aquele beijo, aquele beijinho. Foi isso que desencadeou tudo, porque agora os beijos foram adicionados ao crescente afeto físico e público, e Arven estaria mentindo se dissesse que seu coração não batia mais forte toda vez que os lábios de um pressionavam contra o outro. Não era boca com boca, claro que não. Eles não estavam namorando, então essa era um limite que ele nunca cruzaria por iniciativa própria, mesmo que ele quisesse. As bicadas foram um gesto amistoso, nada mais.
Às vezes, ele se perguntava como seria se eles se beijassem. Como seus lábios se sentiriam contra os dele, se seu coração se iluminaria tanto quanto quando ela beijaria sua bochecha. Talvez fosse uma experiência melhor do que os beijos nas bochechas. Talvez ele ficasse sem fôlego, desejando mais. Talvez ele sentisse seus dedos puxarem seus cabelos enquanto ela inclinava melhor sua cabeça. Talvez...
"Arven?" Ela levantou a sobrancelha, um pequeno sorriso maroto se desenhando discretamente em sua expressão. "Você está bem?"
O menino limpou a garganta. "Sim, sim... Estou bem..."
Ele voltou ao livro sem jeito, buscando em que parte da página tinha deixado seus pensamentos devanearem. Ele estava envergonhado com seus próprios desejos, de como eles parecem que o possuíam.
Talvez Arven tivesse o prazer de, efetivamente, beijar Juliana um dia. Mas, por ora, ele se entregava aos beijos nas bochechas.
