O cavaleiro e seu pupilo fizeram o caminho de volta para casa calmamente. Brian carregava o pedaço de bolo que compraram como se fosse ouro, não pensava em outra coisa a não ser em comer o doce.
Assim que chegaram em casa, a criança até tentou degustar o bolo mas Afrodite o flagrou na cozinha.
-O que conversamos sobre você já ter comido doces demais?
Ser pai não era apenas ser legal. Assim que repreendeu a criança, Afrodite pegou o pedaço de bolo e o guardou novamente na geladeira, não sem o protesto de Brian com aqueles grandes olhos cinzas.
-Mas este bolo é tão bom, não posso comer nem um pedacinho?
-Não querido. Você já comeu muito doce por um dia. Amanhã você pode comer mais, certo?
Apesar de decepcionado Brian se deu por convencido, sabia como era importante a sáude para um cavaleiro. Afrodite vendo a criança triste também ficou com o coração apertado, decidiu então melhorar o ânimo dela.
-Meu filho, não fique assim. A confeitaria não vai sair do lugar, então podemos passar lá sempre, está bem?
-Você promete? - Agora Brian já tinha aquele brilho típico no olhar novamente.
-Claro que sim! Agora vá se arrumar. Já esta tarde e você precisa dormir, temos um treino pesado amanhã.
- Combinado, quero ir sempre na cafeteria então!
Brian correu para os braços do pai para um abraço, logo a criança já estava subindo as escadas para tomar seu banho e dormir como combinado.
Afrodite estava sozinho agora, e diferente de antes era uma sensação estranha. O cavaleiro tinha se desacostumado a solidão, era sempre um incômodo quando a casa estava vazia ou silênciosa.
Acabou se lembrando de como foi um pesadelo quando Marin inventou de levar aquelas crianças para um acampamento. Foram apenas três dias, mas o cavaleiro quis estar morto quando se viu preso e em silêncio dentro daquela casa imensa.
Já não era jovem como antes, isto o fazia refletir sobre quando Brian se tornasse um homem e tomasse as rédeas da própria vida. Não era burro e nem cego, via o tempo todo como seu filho tinha vários amigos e que logo ele se apaixonaria e trilharia seu caminho.
Brian iria crescer e logo estaria indo viver sua própria vida, em sua própria casa, com seus próprios afazeres.
Afrodite ficou ansioso com estes pensamentos e decidiu que antes de dormir tomaria uma taça de seu melhor vinho, para espantar seus fantasmas. Bebendo ele acabou se lembrando daqueles olhos dourados do confeiteiro que conheceu mais cedo.
Porque lembrou daqueles olhos?
Suspirou pesadamente e logo foi dormir em sua enorme cama, sozinho.
Os raios de sol logo anunciaram mais um dia, e nada melhor do que uma noite bem dormida. Afrodite estava renovado, Brian se mantinha alegre e atento como sempre, a rotina se seguiu como deveria.
Alguns dias se passaram, com muito estudo e treino como deveria ser, e a confeitaria passou realmente a ser muito frequentada pelos dois.
Mais um dia de aula havia se seguido e logo a pequena família estava voltando, caminhando calmamente por Rodorio. Obviamente Brian parou como uma estátua assim que avistou a querida confeitaria.
Bastou que a criança mandasse aqueles olhos cheios de esperança sobre Afrodite para que ele cedesse e entrassem no estabelecimento.
- Senhora Lara! - A criança já se sentia em casa, imediatamente cumprimentou a dona do lugar e se sentou próximo ao balcão, seguido por Afrodite.
-Olha! Se não é meu cliente favorito? Como vai o treino, raposinha?
-Estou bem, aprendi mais sobre as rosas esta semana e algumas técnicas. Legal né?
-Então está se esforçando bastante? O que acha senhor Afrodite, ele está merecendo um pedaço de bolo depois de uma semana de trabalho? - Lucca agora se direcionou ao pai orgulhoso que estava ao lado da criança.
-Ele fez bastante progresso esta semana, merece um pedaço de bolo.
- Me deixe adivinhar, para o cavaleiro um mocca?
A voz agora vinha da porta da cozinha e todos a conheciam bem, era Haru. Estava com seu típico avental e os cabelos presos.
Assim que Afrodite se virou e encontrou aqueles olhos dourados era como se o mundo parasse, era como se ele estivesse olhando para duas joias preciosas e indecifráveis.
-Senhor Haru! Eu gostaria daquele bolo de rosas, por favor. Você fez ele hoje? - Brian mal podia esperar por seu pedaço de bolo.
-Sim, eu fiz o bolo hoje, Lara já está trazendo. Senhor Afrodite, sobre o mocca...Senhor?
O cavaleiro de Peixes estava tão absorvido nos próprios pensamentos que não ouviu a pergunta direcionada a ele.
- Há! Sim, por favor. Obrigada Haru.
Com um pequeno sorriso, logo Haru já estava em sua cozinha. Não demorou muito para que o tão sonhado bolo chegasse juntamente com a bebida quente.
Mais uma vez passaram um tempo agradável dentro do lugar, comeram, beberam e conversaram, mas Afrodite ainda parecia mais quieto que o normal.
Ele não conseguia pensar em outra coisa a não ser naqueles olhos dourados
Como em um passe de mágica, Haru saiu da cozinha para se juntar a sócia e ao seu pequeno novo amigo. Havia terminado seu trabalho e estava quase na hora de fechar, porque ele não poderia aproveitar os últimos momentos do dia procrastinando?
-Sabe senhor Haru, cada dia que passa parece que o seu bolo fica ainda melhor. Quero comer ele, tipo, pra sempre! - Brian como acabou de terminar seu prato, achou justo elogiar o cozinheiro.
-Não o elogie muito raposinha, o sucesso pode subir a cabeça deste confeiteiro. - Lara, mesmo fechando seu caixa, não poderia deixar o comentário passar.
-Lara! - Prontamente Haru repreendeu a amiga pelo comentário maldoso. - E obrigada Brian, semana que vem o bolo vai estar ainda melhor, prometo.
Apesar da conversa animada Afrodite parecia que nem estava sentado ali ao lado. Não sabia o porque, mas sempre que o confeiteiro estava por perto ele se sentia agitado, era como um adolescente perto do primeiro amor e pensar nisto o fazia sentir ridículo.
Afrodite era belo, forte e reconhecido, a verdade é que ele poderia ter a pessoa que quisesse aos seus pés, a hora que quisesse. Definitivamente não era o tipo de pessoa tímida ou envergonhada, mas sempre que Haru saia daquela cozinha o corpo inteiro do cavaleiro tremia e não sabia o que falar.
Era como se o típico Afrodite saísse de cena e desse lugar para outro que ele definitivamente não reconhecia, e não tinha certeza se gostava.
- Senhor Afrodite, está tudo bem? - Lara e Brian conversavam animadamente mas Haru notou o desconforto do cavaleiro, decidiu quebrar aquele silêncio dele.
-Sim...Acho que estou cansado só, o frio também não ajuda muito - Afrodite tentou ao máximo responder com calma e sem denunciar seu nervosismo, até forçou um pequeno sorriso.
-Esta realmente frio. Já sei, me de um minuto!
Logo Haru saiu e foi até o outro lado do balcão. Afrodite não conseguiu ver o que ele estava fazendo mas rapidamente ele já estava de volta, com algo nas mãos.
- Aqui, fiquem com este origami. - Haru havia feito um origami de papel, uma pequena carpa azul, agora estava a depositando nas mãos de Afrodite. - Dizem que dá boa sorte, espero que o senhor se sinta melhor logo.
Afrodite, mais uma vez, não era cego. Sabia que aqueles olhos brilhantes eram lindos mas assim que teve o deslumbre do sorriso que o confeiteiro tinha estava quase mudando de ideia. Chegou a conclusão que os dois eram igualmente belos, o conjunto da obra na verdade.
- Não precisava se importar comigo, mas obrigada. Por favor, não me chame de senhor, isto me faz sentir pelo menos dez anos mais velho e nós já somos amigos o suficiente.
Agora era Haru quem estava desconcertado. O cavaleiro o considerava um amigo? Ele, um simples confeiteiro, poderia mesmo ser amigo de um homem como Afrodite de Peixes?
Não teve tempo para pensar, Brian já estava chamando a sua atenção.
-Uau! Você sabe fazer origamis senhor Haru? Pode fazer um pra mim?
- Ah, claro! Espere ai.
Logo, Haru já estava dobrando um novo pedaço de papel, dobrou até se transformar em uma pequena raposa e a entregou a Brian.
A criança estava radiante.
-Nossa! Obrigada! Olha pai, não é bonito? - A criança agora mostrava o presente como um troféu para o pai.
-Sim! Haru tem mãos abençoadas, não é?
A criança concordou e logo estavam rindo. Afrodite não percebeu mas Haru mal acreditava no elogio que recebeu, tanto que suas bochechas já estavam quentes e rosadas.
Mas Lara percebeu.
A noite já havia tomado conta de Rodorio, pai e filho se despediram e logo já estavam a caminho de casa, deixando os dois sócios fecharem o lugar.
- Eu vi, você gosta dele. - Lara não perderia a chance de instigar o amigo, mesmo tomando seu café e fumando seu cigarro depois de fecharem tudo.
-Você vê coisa demais aonde não tem. - Mais uma vez Haru advertiu o amigo.
-Como assim? Você ficou todo vermelho quando ele te elogiou, fica a todo momento perto dele e da criança. Você nunca sai da cozinha, só sai quando eles aparecem.
-Ja falei, não viu nada! E dai que Brian é adorável e é meu melhor cliente?
-Sei, você pode até gostar da criança mas bem que está de olho no pai...Ai!
Assim que sentiu o soco dado por Haru em seu braço, Lara deu o assunto por encerrado.
Não muito longe, Afrodite e Brian já haviam chegado em casa. Guardaram o pedaço de bolo que compraram, Afrodite preparou a janta como sempre e logo os dois estavam na sala. Era cedo para Brian dormir então estavam os dois assistindo um pouco de televisão, desenho obviamente.
Afrodite ainda estava pensativo no sofá enquanto olhava a pequena carpa de papel. Não conseguia tirar o confeiteiro da cabeça, aqueles olhos brilhantes, aquele sorriso, até o café que ele preparava parecia melhor do que qualquer outro.
Se assustou quando sentiu uma pequena mão em sua testa, era Brian que estava preocupado com o Pai.
-Brian, o que você está fazendo? - Afrodite foi tirado a força dos seus devaneios e não estava entendendo o gesto do filho.
-Você estava vermelho, eu queria ver se estava com febre. Você me falou que a gente tem que colocar a mão na testa pra sentir se estamos com febre. - Brian, apesar de tirar a pequena mão da testa do pai, ainda estava preocupado. - Na verdade, você está quente pai, quer que eu pegue algum remédio? Quer que eu chame a senhora Fatma?
-Não! - Afrodite se apressou em negar a ajuda. Não queria nem imaginar o que seus amigos iriam falar se o vissem ruborizar daquela maneira por causa de alguém.
-Eu estou bem querido, obrigada por se preocupar. - Agora mais calmo, o cavaleiro afagou os cabelos da criança e consequentemente a acalmou também. - Vamos, já passou da hora de ir para cama. Amanhã teremos uma aula no jardim.
-Sério? - Brian agora estava animado, amava as aulas no jardim e ver as plantas crescendo.
-Sim, agora vai se arrumar. Já está na hora de dormir.
Brian abraçou o pai e como sempre correu as escadas para tomar seu banho e dormir, mas desta vez Afrodite não estava completamente sozinho.
Agora estava ele e um pequeno origami de papel.
E ai, o que acharam? Quero saber o palpite de vocês rs
Novo capitulo em alguns dias!
