Domingo era o melhor dia da semana, tanto para Brian quanto para Afrodite. Este era o dia em que eles descansavam, passavam algum tempo juntos, brincavam, riam, cuidavam das plantas e entre tantas outras atividades que pai e filho faziam juntos.
Este dia em especial a pequena família acordou cedo e se arrumaram rapidamente, porque a feira esperava por eles. Brian gostava de ir a feira, mesmo porque conhecia a maioria das pessoas lá e fazia questão de cumprimentar o vendedor de maçãs todas vezes.
Gostava de mostrar para todos que estava vivo e forte, já que a maioria ali quando não o encontrou mais nas ruas, imaginaram que aquele pequeno "rato" estivesse morto. Ainda acreditavam que o achariam morto a qualquer momento depois que descobriram que ele seria o novo cavaleiro de raposa, mas ninguém falava isso em voz alta.
Tinham medo das rosas que agora a criança sabia manipular, mas tinham ainda mais medo do seu mestre.
Os dois andaram longamente, compraram o que precisavam e logo estavam indo para casa, não sem antes passarem na tão querida confeitaria para uma sobremesa rápida.
-Haru! Lara! Tudo bem? Qual é o bolo de hoje? - Brian agora já tinha feito amizade o suficiente, sempre corria para o mesmo lugar no balcão.
-E ai raposinha, como vai? Hoje é bolo de laranja, você gosta deste também, não é? - Lara sempre o atendia primeiro, não admitia mas ela gostava do garoto também.
-Sim!
-Ótimo! Olá senhor Afrodite, vai querer seu mocca? - Agora Lara se direcionava ao pai da criança.
- Olá Lara Sim, por favor! Pensando bem, vou experimentar o bolo de laranja também.
-Ótima escolha!
Lara se retirou para preparar o pedido de seus queridos clientes. Obviamente como boa amiga que era, deu uma desculpa para Haru e fez o confeiteiro entregar o bolo junto do café.
-Aqui esta o bolo Brian. Senh...Afrodite, aqui esta o mocca. É sempre bom ver vocês aqui.
Afrodite adorava ver aquele sorriso do confeiteiro, a maioria das vezes não tinha nem palavras para responder então apenas concordava com a cabeça.
Conversavam calmamente, como era domingo e horário de almoço havia apenas eles no local. O cavaleiro de peixes ainda observava cada traço daquele homem, estava perdido nisto mas se assustou quando viu a expressão de Haru mudar drasticamente.
Ele agora estava com medo.
Não precisou nem se mover para perceber a presença hostil que tomou conta do lugar. Brian como tinha um ótimo mestre também havia sentido a mesma coisa, estava parado como uma pedra e apenas moveu os olhos sérios para encontrarem os do pai.
-Hei, sua bicha! Já não falei pra fechar esta merda?
A voz ressoou como um trovão no pequeno estabelecimento. A hostilidade pertencia a um homem pálido, careca, com cara de poucos amigos e com roupas velhas.
Haru conhecia o homem, era Otto com sua pequena gangue. Eles eram bem conhecidos em Rodorio por fazerem algazarra, roubarem e arrumarem todo o tipo de confusão que se possa imaginar, mas estavam atormentando mais o pequeno estabelecimento ultimamente.
Otto odiava tudo, de estrangeiros até pessoas que ajudavam senhoras a atravessar a rua. Quando descobriram que uma pequena confeitaria, com "fama" duvidosa, havia sido inaugurada, logo se tornou o alvo preferido da gangue.
-Será que eu vou precisar te colocar pra fora, igual da última vez? - Haru havia endurecido a expressão, agora falava lento e sério.
-Escuta aqui seu viadinho, aquilo foi sorte. Eu vou quebrar este seu vidro igual da última vez também.
Otto e seus três comparsas agora avançavam pelo pequeno estabelecimento. Lara também veio o mais rápido que pôde, assim que ouviu a confusão.
Hoje não era o dia de sorte da gangue
Assim que Otto se aproximou do balcão Afrodite arrumou seu batom, passando o dedo na lateral dos lábios, e levantou calmamente, se colocando na frente dele. O encrenqueiro não era um homem baixo mas Afrodite, com seus mais de um metro e oitenta de altura, era mais alto e com certeza mais forte.
-Porque o senhor não briga com uma "bicha" do seu tamanho?
Depois de Afrodite falar o silêncio tomou conta do lugar. Otto não tinha reconhecido o cavaleiro, só agora tinha entendido o tamanho da confusão em que tinha se metido.
Afrodite obviamente não se deixou intimidar e se pôs a andar na direção da gangue, a cada passo do cavaleiro aqueles homens recuavam mais.
-Escuta aqui, eu não gosto de vocês e não gosto como tratam os outros. Como eu sou diferente de vocês, vou dar uma chance. Nunca mais eu quero ver vocês aqui, ou arrumando confusão em Rodorio, entenderam?
-Sim...senhor Afrodite.
Não tiveram escolha, o grupo já estava saindo pela porta mas não sem uma última ameaça de Otto.
-A gente se vê por ai, bichinha. Você também ratinho.
Afrodite não entendeu bem a última parte mas já estava indo até o homem para tirar aquilo a limpo, Haru o deteve rapidamente colocando a mão em seu ombro.
-Está tudo bem, não vale a pena.
-Tem razão. Não se preocupe, a gente sabe lidar com esses merdinhas. - Lara viu toda a confusão mas preferiu ficar ao lado de Brian. Agora ela já estava trazendo alguns copos d'água, para acalmar os ânimos de todos.
-Eles vem sempre aqui? - Afrodite ainda estava nervoso, não gostava que Brian visse este seu lado, mas às vezes era inevitável.
-Sempre. Já quebraram nossos vidros algumas vezes mas nunca conseguimos pegá-los. Parece que graças a você agora teremos umas férias da gangue, obrigada. - Haru queria parecer o mais otimista possível, apesar de também estar nervoso.
Afrodite ficou mais calmo ouvindo a risada de Haru e agora tudo parecia ter voltado ao normal, ou quase.
Apesar do susto, logo alguns clientes chegaram e o café estava funcionando a todo vapor, Afrodite junto de Brian já estavam caminhando para casa.
O cavaleiro estranhou o silêncio repentino do pupilo, Brian definitivamente não era assim. Esperou chegarem em casa para que pudesse descobrir o motivo da apatia da criança.
-Brian, aconteceu alguma coisa? - Afrodite chamou rapidamente o filho, assim que o viu saindo pela porta da cozinha.
-Não pai, nada. - Brian nem sequer levantava a cabeça para falar, definitivamente tinha algo errado.
-Meu amor, você não precisa esconder nada de mim. Olha, me desculpa se eu fique nervoso na cafeteria, tudo bem? - Afrodite chegou mais perto da criança e se abaixou para ficar na altura dela.
-Não é isto...é que...eu fiquei assustado. Não achei que o Otto ia me reconhecer.
-O que?!
-Ele e os outros ficavam andando por Rodorio de noite. Quando eu tinha comida eles me roubavam, quando estavam bêbados eles tentavam me bater. Na verdade acho que eles batiam em quem encontrassem. - Brian foi obrigado a olhar para o Pai com os olhos marejados, mas apenas marejados, cavaleiros não choram, não é?
-Pelos Deu...Oh Brian, querido. -Afrodite agora abraçou o filho o mais forte que pode antes de continuar, não conseguia nem olhar para Brian. - Não precisa ter medo, ninguém vai te machucar, nunca mais!
Brian não respondeu mas retribui o abraço. Ele realmente estava apavorado, não esperava ver Otto novamente, aquilo tinha sido um choque muito grande para aquela pobre criança.
Afrodite, mesmo abraçando e acalentando o filho, tinha uma ira irreconhecível nos olhos.
Quem aquele imbecil era para fazer aquilo com uma criança? Com a sua criança?
Com Haru?
Que os Deuses fossem benevolentes para que ele nunca mais encontrasse aquele homem, porque se o encontrasse com certeza iria matá-lo.
