Os sons de passos podem ser distantes, mas ainda possíveis de seguir o rastro. Shikamaru não sabe o que está fazendo, ele é um covarde preguiçoso que teria fugido dessa situação se não fosse os dois membros de seu clã. Se seus pais soubessem onde Shikamaru passou parte da noite, ele seria castigado da pior maneira possível pela sua mãe!
Hoje não era seu dia!
Quem ele está enganando?! Ele não é um herói de capa brilhante com boas intenções, prova disso foi virar as costas quando observou o homem ruivo e a garota entrarem nesse lugar fedorento. Shikamaru só vai ver se a garota está bem e irá embora, se esconder em outro lugar. Seus pensamentos conflituosos deram uma pausa ao se deparar com a única porta desse pequeno corredor.
Ele olhou para a porta que se encontrava entreaberta, quando sua mão tocou a maçaneta para empurrá-la, Shikamaru escutou…
- Tire a roupa.
Seu corpo paralisou na hora e seus olhos se arregalaram ao escutar esse comando. Sua mão deslizou da maçaneta, sem barulho ou ruído, a porta abriu um pouco, o suficiente para dar espaço a uma brecha e Shikamaru pode ver duas silhuetas dentro do quarto escuro.
Uma maior e outra menor.
Ele ficou lá paralisado, só observando congelado em seu lugar no corredor.
Um silêncio se seguiu após a ordem feita pelo pai de Sakura, mas logo foi quebrado pela voz mansa e firme da garota.
- Não.
Sakura olhou para os olhos semelhantes aos seus. Verdes escuros encaravam ela friamente. Suas mãos apertaram em punhos, raiva e medo a consumiam, ela tinha certeza que seu pai poderia ter visto essa emoções nela, contudo, a máscara de raposa em seu rosto servia como um escudo.
Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Kizashi.
- Eu não estou dando uma opção de escolha, garota.
A frieza em seus olhos deixava bem claro que ele não dava a mínima para a opinião de Sakura.
Shikamaru só pode assistir com a respiração presa na garganta.
No entanto, mais rápido do que Sakura e Shikamaru puderam ver, o som de um tapa e um corpo batendo com força no chão, foram ouvidos por toda parte na sala silenciosa.
Sakura levantou sua cabeça com cuidado, seu corpo protestou em dor e ela sentiu o gosto de ferro em sua boca. Sua visão estava embaçada e suas mãos ardiam, Sakura olhou para baixo em direção às suas mãos, cactos de vidro quebrado espalhados no lugar onde caiu. A garota de cabelo rosa ouviu passos se aproximando, uma dor em seu couro cabeludo avisou que seu pai a estava levantando pelos cabelos.
Uma mão grande puxou a máscara de raposa em seu rosto e jogou em direção a porta, mas bateu na parede do lado, caindo com o som de tilintar. A mão grande fez uma carícia em seu rosto e desceu em direção ao seu pescoço, permanecendo lá em um aperto sufocante, a outra mão deixando o cabelo.
Ela estava sendo suspensa pela mão de seu pai em seu pescoço. Sua respiração ficou difícil, pontos pretos já começavam a preencher sua visão. Porém, ainda conseguia ver a mão de seu pai indo para seu robe que segurava seu kimono.
- Parece que eu mesmo vou ter que fazer o trabalho por você.
Em menos de dois segundos, o laço foi desfeito e deslizou pelo chão sujo. Só precisava puxar o kimono e ela estaria, praticamente, sem roupa, literalmente. Mas, antes de fazer isso, seu pai a jogou no chão outra vez.
Sakura ja estava começando a sentir falta de respirar antes de bater outra vez no maldito chão sujo desse lugar. Sua visão voltou ao normal outra vez e deu para ver seu pai pegar a máscara de dragão que ele tinha puxado para o lado do rosto e jogar na parede. Em seguida, foi à parte superior de seu yukata. Contudo, antes de ir mais longe, o som da porta batendo e o grito de outra criança foi ouvido.
Fazendo os dois ocupantes pararem em seus lugares.
Como uma cobra enfurecida, Kizashi virou a cabeça em direção ao som com olhos verdes venenosos, porém, foi para encontrar uma criança com máscara de águia esparramada no chão.
Bem, o garoto deveria receber uma punição por interromper seu momento especial. Seu pau já estava duro ao imaginar as cenas que faria com a garota e ficou mais duro quando imaginou a adição de outra criança.
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Merda! Shikamaru só pode amaldiçoar todos os xingamentos que conhecia em sua mente enquanto estava esparramado no chão sujo. Na hora que o homem ruivo tinha tirado a parte superior do yukata e iria tirar o resto, um maldito rato grande passou pelos seus pés.
Shikamaru estava tão focado em toda situação, que se assustou quando sentiu algo peludo entre seus pés. O susto foi grande o suficiente, que sua agitação para tirar o rato, acabou tropeçando e caindo com tudo em direção a porta. Antes que pudesse levantar e sair correndo, duas mãos grandes o pegaram e o jogaram em direção a garota.
SPAKKK!
O som da porta sendo fechada com força preencheu o lugar. A máscara de Shikamaru caiu no chão após sua queda. Fazendo com que Sakura o reconheça como umas das crianças de Clã Shinobi da academia.
Pare de analisá-lo! Temos sérios problemas em nossas mãos para resolver urgentemente, Outer!
O grito de Inner em sua cabeça acordou Sakura para a realidade de sua situação. Ela conhecia seu pai perfeitamente, um homem que era astuto e inteligente. Não iria ficar surpreendida se ele planejou abusar e matá-la logo em seguida nesse lugar velho e sombrio. No momento que a porta foi fechada, o destino de alguém dentro dessa sala encontraria seu fim esta noite.
Enquanto seu pai colocava as fechaduras na porta, Sakura tirou, discretamente, o objeto escondido dentro de suas roupas. Antes que o homem adulto se virasse, ela colocou na mão do garoto e sussurrou a única saída que eles tinham em suas mãos.
Shikamaru olhou apreensivo para a porta sendo fechada pelo homem ruivo, mas a voz da garota em seu ouvido e um peso em sua mão direita, o fizeram mais acordado do que nunca.
- Se deseja sobreviver, use na oportunidade que vou dar.
Seus olhos castanhos afiados seguiram para o peso em sua mão… uma kunai. Shikamaru não teve tanto tempo para pensar, os olhos esmeraldas o fitaram com um comando silencioso. Antes que o herdeiro abrisse a boca para dizer alguma coisa, a garota se levantou no mesmo momento em que o homem ruivo virou em direção a eles.
- Parece que tem mais um para jogar aqui dentro. Não concordam, crianças ? - A voz saiu venenosa e maliciosa - E você será a primeira, minha querida… Sakura-chan.
Kizashi olhou para a garota em pé sem demonstrar nenhum medo. Cabeça erguida e atitude orgulhosa. Olhos iguais aos seus, embora mais brilhantes como esmeraldas.
Ela realmente era filha de Kizashi e Mebuki. O homem ruivo só pode lamber os lábios ao imaginar como esse rosto iria mudar quando ele colocar as mãos nela.
Sakura observou com olhos afiados seu pai se aproximar lentamente, encurtando a distância que os separava. Sakura pensou na kunai que entregou ao garoto atrás dela, não tinha outra alternativa. A garota de cabelos rosados não podia deixar seu pai tocar ou matar ele, era uma criança de Clã Shinobi. Chamaria muita atenção.
Contudo, ela não poderia matar seu pai sozinha, o garoto seria uma testemunha. Ou seja, não resta outra alternativa além de uma.
O único jeito… era fazer dele seu cúmplice no assassinato.
