Os passos do homem estavam se aproximando cada vez mais das duas crianças. Shikamaru levantou devagar, escondendo sua figura atrás da garota, assim como a kunai em sua mão. Quanto mais perto o homem se aproximava, mas o batimento do seu coração acelerava.
Shikamaru estava esperando para ver o que a garota faria, o homem ruivo já estava na frente dela com um sorriso horrível e olhos verdes de cobra os observando com malícia.
Não foi preciso esperar muito, a garota à sua frente não desapontou.
Foi tão rápido que ele não viu, a mão da garota se fechou em um punho e bateu com vontade no item que ficava entre as pernas do homem. Um arrepio subiu por sua coluna ao imaginar a dor, mas logo o pensamento de que ele estava sofrendo o agradou quando recordou o que ele pretendia com os dois.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA….
O homem gritou com todas as suas forças, como nunca na vida e se ajoelhou no chão imundo da sala.
- SUA MERDINHA! VOU FAZER VOCÊ SE ARREPENDER, PUTA! DESGRAÇADA!
Sakura olhou o rosto enfurecido de seu pai, as veias bem visíveis e os olhos verdes cheios de ódio. Ela precisava que seu pai ficasse com mais raiva.
O ódio é uma emoção forte e poderosa, dizia seus livros. O veneno precisava dessa emoção toda para começar a trabalhar. Porém, quando a frente de sua roupa foi puxada com força e ele a empurrou como uma boneca de pano, Sakura não se preocupou muito, faltava poucos minutos para o veneno ter efeito.
Suas costas gemeram em protesto pela força que ela foi arremessada, o peso em cima de seu corpo a acordou do devaneio de sua mente nublada pela dor. Seu pai estava em cima dela com uma expressão de puro ódio em seu rosto. Logo seu pescoço foi agarrado pelas duas mãos grandes do Haruno mais velho.
A kunai em sua mão estava pesada. Shikamaru assistiu a cena à sua frente. Se ele não fizer nada, o homem ruivo mataria a garota e ele próprio logo em seguida. O herdeiro Nara relembrou das palavras sussurradas em seu ouvido a alguns segundos.
- Se deseja sobreviver, use na oportunidade que vou dar.
A garota construiu uma oportunidade e essa seria a única para a sobrevivência dos dois. Shikamaru limpou sua mente igual à que seu pai ensinou nos treinamentos. Seus olhos castanhos ficam afiados e em passos lentos, ele se aproxima do homem enfurecido no chão. Com o peso na mão, Shikamaru viu a garota o observar enquanto seus brilhantes olhos verdes começavam a fechar e ficarem opacos.
Sem pensar em mais nada. Shikamaru atingiu o homem nas costas com a kunai. Outro grito do homem pode ser ouvido no quarto escuro.
Kizashi parou de sufocar a puta da garota, quando sentiu uma dor gigantesca nas costas. A merda do outro pirralho o esfaqueou!
Sakura estava quase perdendo a consciência, quando as mãos em seu pescoço saíram e a permitiram tirar golpes de ar. Contudo, seu pai ainda estava vivo e de pé.
Quando Kizashi tirou o objeto e jogou de lado, ele tava pronto para matar os pirralhos a sua frente. Mas, uma dor em seu peito paralisou seus passos, ele estava começando a sentir fraqueza em seus membros.
Sakura viu quando o veneno finalmente começou a agir, seu pai agarrou o peito com desespero de um homem tentando agarrar a vida.
Parecia que o tempo tinha parado, quando os olhos esmeraldas encararam aquela cena.
A cena de Kizashi Haruno se agarrando à vida como um homem faminto atrás de migalhas. Foi… esplêndido.
Seria uma memória que guardarei pelo resto da vida.
Shikamaru observou o homem dar passos para trás enquanto agarrava o peito em uma expressão de dor. Ele só parou ao atingir a parede, seu corpo deslizando lentamente igual a poça de sangue se formando ao seu redor.
As duas criação observaram o homem na frente deles não se mexer, sua pele ficar mais pálida por conta da perda de sangue, seus olhos começarem a ficar opacos e vazios.
Um silêncio sombrio tomou conta da sala.
- Nós o matamos.
Shikamaru não pode acreditar em como resultou seu inferno de dia. Isso era uma merda de um incômodo.
- Precisamos sair daqui - Sakura se levantou rapidamente e procurou a máscara de raposa e a kunai usado no assassinato. Eles se encontravam perto da porta.
- O que você está fazendo? - Shikamaru perguntou, ao ver a garota andar tranquilamente pela sala, logo apos cometer um assassinato brutal aqui!
- Não deixando pistas sobre nosso envolvimento ou você prefere chamar algum shinobi ? Eu acho difícil seus pais ou qualquer shinobi acreditar que uma criança de um dos Clãs mais influentes da Vila, estaria brincando no Distrito Vermelho.
Shikamaru ficou calado depois desse argumento. Seria um escândalo em seu Clã e em toda Konoha. O herdeiro de um dos Clãs mais importantes da vila, envolvido em um assassinato de um civil no Distrito Vermelho. Sim, seus pais iriam matá-lo ou o castigar pelo resto de sua curta vida.
Problemático.
- Mas, isso não deixa de ser errado.
- A questão de certo ou errado é subjetiva.
Um suspiro saiu da boca de Shikamaru, quem ele queria enganar com essa baboseira de certo ou errado ? Isso não existe no mundo deles. A própria futura profissão deles é de assassinos.
Ah! Que ironia do destino, eles já estão no estado da prática!
Sua máscara de águia foi empurrada em seu peito. Shikamaru olhou para aquelas piscinas de esmeraldas friamente, depois de se acalmar e analisar todos os fatos, uma hipótese surgiu em sua mente.
- Você já planejava matar aquele homem.
Não foi uma pergunta, mas sim, uma declaração de fatos. Sakura percebeu que o garoto era uma merdinha inteligente.
- E você.. Foi meu cúmplice perfeito.
O herdeiro Nara teve seus olhos arregalados brevemente pela audácia da garota a sua frente.
- Você, realmente, acha que quem iria se encrencar nessa situação, seria eu, uma criança de um estimado Clã shinobi ou você, uma simples criança civil sem status ? - Shikamaru sabia a resposta. Um sorriso malicioso surgiu em seu rosto.
Sakura ficou irritada ao ver o sorriso estampado no rosto do garoto. Mas, o seu próprio sorriso doce o deixou cauteloso em um instante.
- Ara, ara, ara… mas quem de nós dois, tem suas digitais na arma usada e sangue da vítima em suas roupas. Porque… na minha análise da situação, não acho que seja eu.
Shikamaru cerrou os dentes com força, a garota tinha pontos válidos em sua acusação.
A briga das duas crianças foi interrompida por um barulho dentro da sala. Tanto Sakura como Shikamaru ficaram em silêncio e olharam para o homem morto.
Ele continuava morto para eles.
PLOP!
O som de um objeto caindo percorreu toda a sala e deixaram os pelos de seus braços arrepiados. Suas cabeças giraram em direção ao som para descobrir a causa dele. Lá no canto mais escuro da sala, um frasco de saquê rolou no chão até parar perto dos dois. Eles sentiram o lugar ficar mais frio e escuro, um arrepio subiu por seus corpos. O silêncio foi quebrado outra vez pelo som de um animal.
- Miau!
Shikamaru e Sakura olharam com descrença para o animal que deu o maior susto em suas vidas. Um gato preto como a noite e lindo olhos dourados.
- Um gato - Shikamaru falou baixinho sem acreditar que tinha tanto medo por nada.
- Uma testemunha - Sakura fitou o gato com cautela.
Os dois se entreolharam após ouvirem o que cada um disse.
- Sério?! É um maldito gato! Você quer cometer mais um assassinato?! - Shikamaru não pode acreditar nisso.
- Esse gato viu tudo e lembre-se que existe um Clã na Vila que fala com cachorros. Você não acha que existiria um que poderia falar com gatos ? - Sakura arqueou uma sobrancelha.
Shikamaru gostaria de argumentar que era uma idiotice, mas até ele viu a lógica. Os dois observaram o gato caminhando graciosamente em direção ao homem morto, nunca deixando seus olhos dourados se desviar das duas crianças. Apenas, quando chegou até a poça de sangue e começou a beber o líquido vermelho.
Os dois teriam continuado na discursão se iriam ou não matar o maldito gato, mas outro barulho se fez presente.
Dessa vez, era o som de passos subindo a escada e risadas bêbadas do que parecia vir de um homem bêbado com uma mulher na mesma situação.
- Quem você acha que vai ganhar mais atenção em uma sala com um homem morto? A criança civil sem nome e importância, ou, uma criança de um Clã prestigiado de Konoha, hein? - Sakura soltou com veneno e o empurrou outra vez a máscara no peito do garoto.
Shikamaru olhou aborrecido para a arrogância nos olhos de Jade. O irritou por ela ter razão. Mesmo que ele se livre do assassinato, seu Clã ainda estaria no centro dos holofotes. Em um período que a Vila acabou de perder parte de um dos Clãs mais poderosos, os Uchihas, deixando poucos sobreviventes. Seria seu pai, que carregaria as consequências de seus atos. Afinal, ele era o Comandante dos Jounins, uma das figuras mais respeitadas e importantes de Konoha. Shikamaru não quer ser um problema para seu pai.
- O que aconteceu aqui fica guardado nesse lugar. Faremos de tudo para ninguém nunca descobrir nosso envolvimento - Shikamaru mordeu o dedo com força até tirar sangue e estendeu a mão para a garota - Eu, Shikamaru Nara, prometo em um juramento de sangue, manter esse segredo.
Sakura olhou para a mão estendida à sua frente, principalmente para o sangue escorrendo do dedo. Ela não era idiota para não saber o que significava, os livros que roubava da biblioteca da academia a ajudavam a não ser ingnorante sobre certos rituais feitos por shinobis de Clãs. O juramento de sangue é uma promessa que não pode ser quebrada. Sakura mordeu seu dedo até sangrar e colocou em cima da mão estendida a sua frente.
- Eu, Sakura Haruno, prometo em um juramento de sangue, manter tudo em segredo - Sakura jurou com calma, mas quando foi retirar a mão, o garoto a apertou com força e uma nova energia familiar e desconhecida pode ser sentida infiltrando em seu corpo.
A jovem Haruno sabia exatamente o que o garoto pretendia e tentou puxar sua mão.
As risadas e vocês podiam ser ouvidas se aproximando.
- … E, como prova dessa promessa, juramos nunca mentir ou esconder algo um do outro! - Shikamaru terminou de recitar com determinação e olhos frios para a criança à sua frente.
Seu pai sempre ensinou a ter planos de contingência, esse era um deles. Shikamaru precisava ter certeza que agora ou futuramente, os dois nunca irão quebrar a promessa. Uma coisa é um juramento de sangue, outra muito diferente… era um juramento de sangue e chakra.
Batidas na porta fizeram as duas crianças pularem, mas mesmo assim, o herdeiro Nara não desistiu.
Sakura poderia ver muito bem pela convicção inabalável em seu olhar. As batidas ficaram mais fortes a cada segundo que passava, logo a porta seria derrubada. Sakura ainda tem que cuidar de sua mãe, ela precisa sair daqui!
Faça logo! Não temos tempo, Outer!
Merda!
- Eu aceito as condições do juramento - Com má vontade, Sakura despejou um pouco de seu chakra no dedo para firmar o juramento.
Tanto Sakura como Shikamaru, puderam sentir algo sendo formado para construir um laço inquebrável que os uniria.
Pois é isso que o juramento de sangue e chakra faz, um juramento de alma.
Ligando os dois para sempre… até a morte.
