Eventualmente, Ravi se refugiou em sem quarto enquanto Vanessa esperava por Marcus. Apesar do exterior frio e radical, ela não conseguiu deixar de se apaixonar por ele quando a empresa que ela trabalhava organizou uma festa para os militares da cidade. Acabou que ela foi incumbida de ser a cara e a voz do buffet entre o batalhão, o que a levou diretamente para a mesa do coronel Marcus Quarit.

Ele levou o evento a sério, ficando quieto nos primeiros momentos, mas depois, deixando mostrar o nervosismo que estava sentindo, nada acostumado com aquele tipo de coisa. Vanessa então o ajudou a se distrair, conversando sobre uma porção de coisas, o que mais gostavam de fazer na cidade, sua comida preferida, seus tempos de escola. Quando se deram por si, Marcos e Vanessa tinham participado de um primeiro encontro acidental.

Ele percebeu que se não agisse naquela noite, talvez nunca mais a veria de novo. Foi assim que eles manteram o contato, se tornaram amigos, namoraram e se casaram. Nesse processo, Vanessa conheceu Ravi, ou melhor, Spider, como gostava de ser chamado agora. A mãe dele, Paz Socorro, também era militar e tinha morrido em uma missão quando ele era bem jovem. A perda tinha afastado os dois, e Vanessa logo tinha percebido que tinha se tornado a cola da família. Era um papel que ela gostava de exercer e entendia que era necessário exercer. Era como ela demonstrava amor para os dois.

Foi se lembrando da gentileza e bondade de Marcus, muitas vezes escondidas pelo coronel Quarit, que ela se preparou para fazer o pedido em nome de Ravi.

-Boa noite, meu amor - ela não hesitou em se agarrar ao seu pescoço e beijá-lo com toda vontade, o que foi bem recebido por ele.

-Oi, a que devo tudo isso? - ele ficou surpreso e desconfiado.

-Ah nada, só eu demonstrando o quanto eu te amo - Vanessa sorriu.

-Eu também te amo, mas eu acho que tem uma pegadinha - ele estreitou as sobrancelhas - o que foi? Quer pedir alguma coisa ou o Ravi aprontou alguma coisa?

-Não, Marcus, o Ravi é um garoto ótimo - ela balançou a cabeça - mas eu queria mesmo te pedir uma coisa, só espero que não me leve a mal.

-Sabe que eu faria qualquer coisa por você, docinho, mas tá começando a me assustar - ele cruzou os braços, de forma um tanto perigosa.

-Certo, eu vou direto ao ponto - ela fechou os olhos e suspirou - o Ravi ficou sabendo que os Suli tão de mudança.

-De mudança? Como assim? Pra onde é que o Tiago iria? - ele estranhou a notícia - pelo menos a louca da Natália não vai tá por perto.

-Você pode, por favor, deixar essa briga de lado e me ouvir? - Vanessa suspirou outra vez, se esforçando para não perder a paciência.

-Desculpa, você sabe que lembrar dela me tira do sério - ele voltou a prestar atenção.

-Tá, o Spider pediu se você deixava ele ir na casa dos Suli todo dia até as crianças se mudarem -Vanessa contou - você sabe o quanto eles são amigos e faria bem a ele se despedir dos meninos.

-Todo dia? Você não acha que é exagero? - Marcus contrapôs - e se a Natália maltratar o meu filho? Se o Ravi ficar magoado por alguma coisa?

-Até hoje nunca teve problema ele ir lá - Vanessa argumentou - e qualquer coisa a gente também pode fazer o contrário, convidar as crianças deles pra vir aqui.

-Não, não, eu não tô acostumado com um bando de adolescentes, um só já basta - Marcus se convenceu - tá bom, por mim, tudo bem, mas uma reclamação dele de como ele foi tratado na casa do Suli, ele não vai mais lá, entendeu?

-Entendi, é uma condição bem plausível - ela assentiu - obrigada, meu amor.

-Hum, o Ravi deveria agradecer você - ele completou.

Vanessa apenas sorriu com o elogio, chamando Spider em seguida, para ouvir do próprio pai que podia ir à casa dos amigos.

-Valeu, pai, de verdade! - ele deu um sorriso mais brilhante que podia, chegando até a fazer uma dancinha feliz.

Valia a pena baixar a guarda um pouco para ver uma reação como aquela do filho.

Enquanto isso, na casa dos Suli, a negociação parecia mais fácil.

-Tudo bem o Spider vir aqui até a gente ir embora? Você sabe o quanto ele é nosso amigo - Karla pediu para a mãe.

-Acho que por mim tudo bem - Natália respondeu - ele não vai dormir aqui não, né? Porque assim, você sabe que uma visita a mais ia me dar um pouco mais de trabalho, e bem, a gente vai ter que desmontar tudo e arrumar nossas coisas, aí ia ficar ruim pra ele.

-Não, mãe, ele só vai vir aqui depois da aula, a gente vai ficar batendo um papo, assistindo alguma coisa, jogando e ele vai pra casa - Karla explicou.

-Então tá bom, por mim tudo bem - a mãe finalmente concordou.

-Obrigada, mãezinha, obrigada, obrigada - a menina a abraçou e a encheu de beijos pelo rosto.

-Nessas horas vocês me amam - Natália balançou a cabeça, mas entendendo a empolgação adolescente dela.

Conforme combinado, Spider foi para a casa dos Suli no dia seguinte, um tanto intimidado pela mãe dos amigos.

-Oi, dona Natália - ele disse com toda educação e apreensão quando encontrou com ela na sala de estar.

-Oi, Spider - ela respondeu, disposta a fazer o possível para que a estadia do menino fosse agradável, por mais raiva que ela tivesse do pai dele - e nada de dona Natália, eu não sou tão velha assim, pode me chamar de Natália.

-Tá bom - ele disse, ainda incerto.

-Oi, Spider, seja bem vindo mais uma vez - Tiago cumprimentou o menino - tem cachorro quente e refri pra vocês, fiz questão de buscar.

-Obrigado - Spider agradeceu.

-Anda, Spider, você já é de casa, só termina de chegar logo, a gente vai começar a partida daqui a pouco - Lucas o convidou.

-Nada de comida no quarto - Natália foi categórica - vocês vão comer aqui primeiro e depois vão jogar, entendido?

-Sim, senhora - disseram as crianças Suli em uníssono.

Quando Ravi se sentou com eles, finalmente sentiu que estava tudo bem e que valia muito a pena estar ali com os amigos.