Reescrevendo as Estrelas

Prólogo

Nova York, NY

"When the jazzman's testifyin' a faithless man believes

He can sing you into paradise or bring you to your knees1"

Jazzman, Carole King

Jaime era um dos músicos mais famosos na área do jazz e blues de Nova York, e sua banda vinha fazendo muito sucesso. Sucesso o suficiente para terem um contrato com um dos bares mais conhecidos daquele ramo na cidade; onde tocavam uma vez por semana, o que lhes permitia se apresentar também em outros lugares quando a oportunidade surgia.

Ele sabia tocar inúmeros instrumentos, porém o que mais gostava era o saxofone. Jaime adorava sua sonoridade e sentia todo o seu corpo vibrar quando executava alguns solos durante os shows. Este era um dos maiores prazeres de sua vida, embora apenas aqueles mais próximos soubessem a dimensão que a música tinha para ele.

— Pra onde vamos hoje? — perguntou Cersei, sua noiva, tirando-o de seus devaneios.

Como o show daquela noite havia terminado há algum tempo e ele se demorava nos bastidores, ela foi procurá-lo.

— Pra onde você quiser, amor — Jaime respondeu sorrindo para, em seguida, beijá-la.

Cersei e ele namoravam desde a época do ensino médio, embora se conhecessem e estudassem juntos desde que eram crianças; e ela acompanhara sua carreira desde o início, sempre o apoiando e incentivando. O relacionamento deles se desenvolveu gradativamente durante todo o tempo em que se conheceram, entretanto, Jaime adorava afirmar que se encantara por ela à primeira vista, e que era apenas imaturo demais para perceber isso na época. Felizmente, agora podia dizer a todos que quisessem ouvir que logo estariam casados e que Cersei era a luz de sua vida.

O músico segurou a mão dela e seguiu em direção ao seu carro. O casal encontrou mais dois integrantes da banda no estacionamento e estes resolveram acompanhá-los em sua diversão. A banda era conhecida o suficiente para ter entrada gratuita garantida em qualquer estabelecimento a que fossem. E, além disso, sempre ficavam na ala VIP desses locais, portanto, quando saíam para se divertir, nenhum deles se preocupava com o amanhã, ou com o fato de que todos estariam incapazes de dirigir algumas horas depois.

Jaime certamente não se preocupava com isso; pelo menos, não até o acidente.


Ele não sabia quanto tempo se passara até que despertou no hospital. As luzes incomodavam seus olhos e sentia-se desnorteado. Olhou para os lados e, além do cenário branco, típico de um hospital, avistou seu irmão adormecido numa poltrona ao lado de sua cama. Jaime abriu a boca para chamá-lo, contudo, não conseguiu. Sua garganta estava dolorida e incrivelmente seca, provavelmente por conta do tempo que passara desacordado ali.

Ergueu a mão com o intuito de apertar o botão para chamar uma enfermeira e estacou. No lugar de sua mão direita havia apenas um coto envolto por um curativo.

O pavor o dominou na mesma hora e ele começou a rezar para que aquela visão não passasse de um sonho. Estava tão perdido em seus próprios pensamentos e temores que demorou a notar que alguém gritava e que seu irmão se aproximava dele com uma expressão preocupada e ansiosa.

De tão atordoado que estava Jaime nem sequer percebia que o grito que ouvia saía de seus próprios lábios.


1 "Quando o homem do jazz está testemunhando, um homem sem fé acredita

Ele pode cantar para que você vá ao paraíso ou deixá-lo de joelhos." Tradução Livre.