Dezembro 2017:
Pensei que ficaria ociosa nos dias que aquele loiro não estivesse aqui, mas por incrível que pareça, tenho mais coisas para fazer do que pude imaginar.
Jardinagem virou a coisa mais simples que faço no meu dia, mas cuidar da mansão que não parava de chegar convites não era fácil.
Mas gostava das minhas tardes quando podia conversar com Scorpius sobre seu dia, ou conversava com os meus tios quando eles se lembravam que existia uma família no Reino Unido.
Entretanto, meus dias eram pacíficos na medida certa e acho que estou acostumada com essa nova vida, mesmo que não pareça.
_ Senhorita. - Parei o garfo antes que alcançasse a fruta.
Observei a elfa que carregava duas coisas, um buquê de tulipas e que me fez sorrir sem restrições.
Levantei-me da cadeira e caminhei até a elfa, pegando o buquê de suas mãozinhas.
Não precisava nem mesmo perguntar de quem era, afinal, já sabia quem era a única pessoa que me daria tulipas.
As cheirei, sentindo a doce fragrância das pétalas espaçadas e erguidas. Poderia ser a melhor fragrância do mundo...
_ E tem essa carta. - Parei de imaginar um perfume melhor que esse.
_ Do Draco? - Negou.
_ Hogwarts. - Franzi o cenho e entreguei o buquê para ela, pegando a carta logo em seguida.
_ Poderia colocar em um vaso? - Concordou e se foi.
Observei o emblema de Hogwarts e não pensei duas vezes em abrir, ainda mais que aquela escola não mandava cartas para os pais sem ser uma coisa importante.
Bom, seja o que for, se Scorpius precisava de ajuda, iria ajudá-lo, mesmo não sendo a sua tutora de fato.
Abro o papel caro e áspero, lendo as palavras rápidas e bonitas, mas o conteúdo não era.
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Sr. Malfoy,
Venho, por meio desta carta, dizer que o vosso filho, Scorpius Malfoy, foi suspenso por tempo indeterminado devido ao comportamento agressivo.
O convoco para uma reunião para mais esclarecimentos do ocorrido.
Com os mais simples cumprimentos,
Minerva McGonagall.
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Scorpius não é agressivo, ele era um anjinho que tinha medo de tudo, até mesmo de machucar uma formiga.
Mas sei que aquele garoto era justo e faria de tudo para provar o seu valor, ou seu propósito, seja por meios normais ou ardilosos.
Bati o papel em meus dedos, pensando se deveria ir no lugar do Draco, ou deveria ir atrás do loiro e contar para ele o ocorrido.
A segunda opção era a melhor neste caso.
_ Poppy, terei que sair. - Falei para o nada enquanto saia da sala de jantar.
Passei pelos corredores de quadros e que alguns se mexiam com cada passo que dava, o que quase me fez parar para perguntar o que queria.
Mas não fiz, deveria ir para St. Mungus o mais rápido possível para que o pequeno pudesse se safar dessa punição, mesmo que eu saiba que o Draco não o deixará impune, mesmo que queira...
Suspirei, entrando na sala de estar e indo até o potinho de flu.
_ Senhorita. - Olhei para trás. _ Poppy deve ir com a senhorita? - Sorri e neguei.
_ Obrigada, mas só irei ao St. Mungus e voltarei. - Alisou as mãos no vestido.
_ Poppy entende. - Peguei o Flu enquanto entrava na lareira e mais uma vez dei tchau para ela, a fazendo corar.
Falo o meu destino e as chamas verdes me engoliram para o lugar conhecido nas minhas memórias, mas desconhecido para a minha realidade.
O cheiro de flores e de sol se foi, deixando o silêncio reinar e o álcool ser o perfume mais gostoso desse lugar.
Pisquei algumas vezes e saio da lareira, dando batidinhas na calça e na blusa de lã, tentando de todos os modos tirar a poeira imaginaria deles.
_ Bom dia. - Olhei para cima e vejo a recepcionista.
Vou até ela que estava atrás de um balcão que me impedia de ver seu corpo, mas dava para ver que era uma jovem.
Seu sorriso era treinado, mas não era falso e nem mesmo me olhava com superioridade, como pessoas faziam.
Encostei-me no balcão de mármore e digo:
_ Dia, gostaria de falar com o senhor Malfoy. - Continuou sorrindo.
_ A senhora tem uma consulta marcada para que horário? - Franzi o cenho e neguei.
_ É algo pessoal, não é uma consulta. - Compreendeu.
_ Nesse caso devo ligar para ele para que ele confirme sua entrada, tudo bem? - Acenei, a vendo pegar um telefone branco e ligar.
Não sabia que o St. Mungus havia inovado na tecnologia, ou que usava coisas trouxas para a praticidade.
_ Doutor, tem uma mulher dizendo que quer falar com o senhor. - Seu sorriso nunca desapareceu. _ Tudo bem... - Olhou-me. _ Por favor, me diga o seu nome.
_ Leesa. - Repetiu meu nome e acenou para algo que saia do aparelho.
Deslizei meus dedos pelo mármore, vendo suas imperfeições enquanto a garota continuava ouvindo o que o Draco dizia.
Não parecia importante, mas seu semblante estava sério e o sorriso havia saído de seu rosto.
_ Senhora. - Colocou o telefone no gancho. _ Você pode entrar, apenas vire o corredor da esquerda e procure o consultório com o nome do doutor. - Sorri e agradeci.
A garota poderia ter uma aparência ingênua, mas não era uma pessoa de coração ruim, entretanto, não posso deduzir as emoções das pessoas apenas por sua aparência.
Saio da recepção sem olhar para a menina que me observava com olhos atentos.
Apenas continuei seguindo meu caminho, me deparando com infinitas portas com plaquinhas.
Algumas estavam faltando o nome e outras tinham dois nomes, mas nunca percebi que esse hospital poderia ser imenso, mesmo pisando nele há anos.
_ Mon petit. - Parei e olhei para quinta porta do corredor, vendo o loiro que não saia dos meus pensamentos.
Vou até ele e não faço o que meu corpo pede, apenas o fico encarando e esperando que me deixasse entrar.
_ Por que não me disse que viria? - Estendeu sua mão, apoiando em minhas costas. _ Poderia ter organizado melhor o meu horário ou minha sala. - Parecia envergonhado enquanto me conduzia a um sofá.
A sala não era pequena como de médicos comuns, mas era bem ventilada e existia todo o tipo de equipamento que poderia ter em um consultório bruxo, até mesmo coisas trouxas.
Entretanto, o sofá de couro e a mesa de centro, contendo tulipas, me pegaram um pouco de surpresa.
_ Não sabia que viria. - Tentou arrumar os pergaminhos em sua mesa. _ Mas não planejo ficar por muito tempo. - Virou-se.
_ Aconteceu alguma coisa? - Caminhou até mim. _ Meus pais voltaram mais cedo? - Tirou o jaleco e o colocou no seu braço, enquanto se sentava ao meu lado.
_ Não, os tios continuam viajando. - Sorri e peguei sua mão. _ Apenas que uma carta chegou. - Franziu o cenho.
_ Greengrass? - Discordei.
_ Sabe que eles não mandariam uma carta depois de tudo que falei na frente de tantos bruxos. - Apertou minha mão, alisando meus dedos no processo.
_ Então quem mandou a carta? - Entreguei o envelope a ele.
_ Hogwarts. - Alisou o emblema e logo retirou a carta para ler. _ Às vezes me pergunto quem o nosso filho puxou. - Nosso filho?
Apertei meus dedões, tentando não pensar na sua frase ou como isso poderia soar estranho se alguém ouvisse.
Scorpius não era meu filho, mas o considerava um, porém, pessoas de fora poderiam entender que estou menosprezando Astoria e tomei seu lugar.
Mesmo que isso seja a verdade, não queria que alguns bruxos pensassem que estou sendo uma vadia louca que nega a verdadeira mãe de Scorpius.
Suspirei baixinho, e falei, não aguentava ficar com a boca fechada com uma pergunta dessas.
_ Mesmo não conhecendo a Astoria tão bem, sei que ela não era uma pessoa assim. - O vejo dobrar a carta e sorrir pelas palavras.
_ Mon petit, então está dizendo que ele a puxou? - Apontei para mim. _ Sim, você, ainda mais que você faria algo desse tipo.
_ Ou pode ser você, sei que você era uma criança encapetada e odiava levar desaforo. - Riu e não negou. _ O que fará? - Olhou em volta e ficou pensativo.
_ Mesmo não tendo nada para fazer no momento, apenas uma consulta em algumas horas. - Pegou minha mão. _ Não posso sair daqui devido aquela pessoa.
Greengrass..., Mas Scorpius era o neto daquele homem e acho que ele não seria tão mesquinho por impedir que Draco vá até o filho.
Entretanto, mesmo sabendo disso, sabia que o homem era alguém de poucas palavras, mas de pavio curto e faria de tudo para fazer algo contra Draco.
Até mesmo expulsá-lo do hospital ou o acusar de não estar cumprindo seu dever de medibruxo.
Merda, não deveria ter vindo, deveria ter enviado a carta para a Poppy e seguir com os arranjos do loiro.
Acho que a vida pacífica deixou os meus os miolos triturados pela mordomia que nem consigo mais pensar em três passos antes do inimigo.
_ Leesa. - Estalou os dedos em frente dos meus olhos. _ Está tudo bem? - Pisquei algumas vezes.
_ Sim, apenas estava pensando. - Observei sua mão que continha seu anel. _ Devo ir, Scorpius precisa de mim.
_ Sempre precisou. - Tentei não sorrir. _ Também preciso de você. - Engoli em seco e olhei. _ Mon petit, quando vier novamente, não diga que é minha prima.
Franzi o cenho e tentava entender o que estava dizendo, já que nem mesmo falei que era prima desse homem.
Porém, ele não queria que eu fosse sua parente? Mas isso dificultaria minha entrada se fosse barrada, ou...
_ Diga que é a minha noiva. - Beijou os nós dos meus dedos. _ Ou você não quer? - Minha respiração não saia de jeito nenhum, enquanto observava aquele céu nublado e estranhamente reconfortante.
_ O quê? - Sussurrei, talvez se falasse um pouco mais alto, pudesse acordar do sonho.
Talvez estivesse morta ou em coma na floresta, e tudo que estou vivendo é puro suco de memórias que gostaria de vivenciar.
Mas suas mãos estavam quentes, o cheiro de álcool era gostoso e o sol o fazia parecer um anjo escupido.
Não fazia sentido ter alguém tão bonito na minha frente, apenas para ser um sonho ou um desejo do meu subconsciente.
_ Sei que está muito cedo para isso, mon petit. - Voltei para a realidade. _ Mas não quero mais apresentá-la como prima.
Merlim, se for um sonho, por favor, não me acorde.
_ Nunca vi ser pedida em casamento em um consultório médico, essa é a primeira vez. - Alisou os cabelos e riu.
Gostava de sua risada, mesmo não sendo contagiante ou a coisa mais charmosa de toda a nossa geração, mas era única e capaz de me fazer sorrir.
Apertei seus dedos e tive que suspirar, acho que não teria lugar melhor do que um hospital para ser pedida em casamento.
_ Tudo bem. - Sussurrei, observando nossas mãos. _ Aceito ser sua noiva.
_ Não pode voltar atrás. - Acenei e me levantei. _ Estou falando sério.
_ Também. - Pisquei. _ Até mais tarde...
_ Gostou das flores? - Tinha me esquecido.
_ Sim, como sempre. - Dou alguns passos para trás e saio do consultório, ouvindo sua risada mais uma vez.
Apenas que não podia ver mais seu rosto, apenas um corredor repleto de portas com nomes de médicos que não conheço.
Respirei fundo e entro na recepção, dando um aceno para a recepcionista e desapareço dali.
Mesmo que eu saiba que dezembro é um mês frio e tenebroso, nunca pensei que sairia hoje e que estaria justamente em Hogsmeade.
Não que a vila seja qualquer coisa que possa pensar negativamente, apenas que não queria estar aqui e nem mesmo em Hogwarts.
_ Vamos lá, Leesa. - Dei batidinhas nas minhas bochechas. _ Seu afilhado precisa de você e seu sonho era vir aqui. - Não o meu, pelo menos.
Saio do meio da rua sem movimento, enquanto ia em direção de Hogwarts e pensava nos motivos que Scorpius, o ser mais doce que já conheci, estaria suspenso.
Esperava que ele não tivesse descoberto a Câmara ou que existisse nessa realidade a sala secreta da quinta fundadora, ou qualquer coisa que o colocasse em perigo.
Fechei meus olhos, mas logo os abri novamente, não queria cair no meio desse lugar.
O lugar que lutei para sobreviver em uma guerra que não era minha...
Suspirei e observei ao redor, já que a última vez que vim aqui, esse lugar estava pegando fogo e cinzas flutuavam no céu cinzento, se perdendo nos rostos e corpos das pessoas.
Mas agora, o céu estava cinza devido ao tempo frio e não pelas mortes e fogo.
Tom Riddle não gritava e ria, sua esposa não estava ao seu lado, massacrando as pessoas da luz.
Tudo estava normal e esse mundo foi varrido pela luz, um bando de desgraçados que não sabiam mais o que fazer.
Às vezes sentia falta das trevas...
_ Posso ajudar? - Pisquei algumas vezes e me vejo no portão de Hogwarts.
Olhei a mulher que ajudava um senhor ao seu lado, mas ela era muito familiar.
Cabelos prateados com pontas azuis e tinha um sorriso sínico demais para o meu gosto.
_ Delphini? - A vejo franzir o cenho.
Merda, então nessa realidade tinha essa mulher, era só o que me faltava.
Claro, sabia que existiam várias realidades e sabia que muitas Leesa estavam casadas com o Riddle, mas essa garota era um problema.
Porém, o que faço? A deixo continuar sua vida e tentar reerguer o Lorde ou apenas a ajudo sair daqui e encontrar seu pai?
Seja o que Merlim quiser.
_ Você a conhece? - O velho perguntou, não sabia quem era.
_ Não estou me recordando dela, tio. - Sorriu e continuou me observando.
_ Tenho algo para falar com você, você pode me encontrar nas Três Vassouras? - Iria discordar. _ Sou de um lugar que seu pai ainda vive. - Engoliu em seco. _ Riddle...
_ Tudo bem, apenas deixarei meu tio na casa são Oswald. - Concordei sem saber que lugar era esse.
Não falamos mais nada e apenas entro no castelo, sendo vigiada pelo seu olhar que queimava as minhas costas.
Sabia que não poderia mudar o futuro e nem o passado, mas não estava me importando muito com isso, afinal, sou uma exceção nessa realidade, um fantasma.
Posso fazer o que quiser e nada irá me ocorrer, nem mesmo a morte, mas se fosse com os outros, isso era um problema, já que eles não eram amaldiçoados como eu.
Os meus pensamentos pararam nesse tópico e o cheiro de saudade se fez presente no meu nariz, me fazendo relembrar quantas vezes fiquei nesses corredores.
Ainda odiava subir aquelas escadas, mas amava a comida dos elfos.
Gostava de me sentar em uma das janelas e saborear o calor do sol no meu corpo, enquanto via essas paredes serem reerguidas.
Mas tudo que faço é continuar caminhando para o gabinete da diretora, tentando esquecer que esse lugar não era mais Hogwarts de 2007.
E que os fantasmas não eram os meus amigos, que os elfos não me conheciam e que esse mundo não tinha dono.
Continuei caminhando, enquanto meus sapatos deixavam pegadas invisíveis no chão desse castelo de recordações.
Nem mesmo o frio poderia calar essas sensações, apenas o meu fôlego indo embora enquanto subia a escadaria e me via no andar do gabinete.
Os alunos deveriam estar em suas aulas, ou por aí, já que não vi uma única alma viva até agora, apenas aquela mulher que não deveria estar aqui.
_ Mãe? - Parei e olhei para trás, vendo o meu bebê. _ O que faz aqui? Pensei que o papai que fosse vir. - Correu até mim, me abraçando em seguida.
_ Seu pai está ocupado, mas ele me pediu que viesse. - Dei batidinhas na sua cabeça. _ Por quê? Não podia vir? - Discordou e me olhou.
_ Papai iria brigar muito e sei que você não deixará que nada me aconteça. - Seu nariz estava vermelho devido ao frio. _ Vamos? - Segurou minha mão e fomos para onde deveríamos ir.
