Felizmente o loiro estava bem agasalhado, com luvas, cachecol e até mesmo toca.
Mas a capa o cobria completamente, porém, o verde era predominante e isso não era ruim de fato.
_ Você fica uma gracinha com o uniforme. - Queria apertá-lo até a morte, mas já estávamos subindo os degraus para ver a diretora.
_ Mãe, às vezes você me envergonha. - Corou. _ Mas a amo mesmo assim. - Beijou minha bochecha e bateu à porta.
_ Também amo você, bebê. - A porta foi aberta e a mulher rígida apareceu.
Olhar severo, postura impecável e roupas tradicionais bruxas, ainda mais com esse chapéu pontudo.
_ Senhor Malfoy, falei para voltar apenas na presença do seu responsável. - Observou-me de cima a baixo. _ Quem seria a senhorita?
_ Leesa Malfoy. - Estendi minha mão. _ Sou a madrinha de Scorpius. - O vejo ficar emburrado, mas não falou. _ Podemos entrar e conversar? - Soltou a minha mão.
_ Por favor. - Deu espaço para entrarmos. _ Pensei que quem viria...
_ Meu primo está infelizmente ocupado em St. Mungus, mas ele me deu permissão para vir e tentar entender o porquê de o Scorpius ser suspenso.
Tinha alguns quadros que conhecia, como aquele que estava desde o momento que Godric se tornou diretor.
Até mesmo conhecia o senhor seletor, que não estava dormindo e me observava como podia.
Mas o lugar bagunçado de minhas memórias estava arrumado e com cheiro estranhamente familiar.
_ O senhor Malfoy bateu em um dos Grifanos do terceiro ano. - Sentou-se em sua cadeira e fizemos o mesmo. _ O Grifano disse que comentou por alto que...
_ Potter mencionou que a culpa do pai estar preso em Azkaban foi porque o pai não soube adestrar a cadelinha de estimação. - Cerrou os dentes.
_ Senhor Malfoy! - Merlim. _ Estou falando e é...
_ Desculpa, mas a cadelinha que Potter mencionou, sou eu. - A mulher ficou mais pálida que papel. _ Então, não acho que suspender apenas o meu filho seja o certo.
_ Mãe...
_ Você também não está certo em bater em alguém, mesmo sendo o Potter. - Tenha piedade de mim, senhor. _ Não me leve a mal, Minerva. - A mulher continuou sem palavras. _ Mas ser chamada de cadelinha não é um apelido que aprecio.
Tossiu e tentou se recompor rapidamente, o que não funcionou do jeito que queria.
_ O primogênito dos Potter, James. - Comentou. _ Continua sendo uma criança de treze anos imatura.
_ Albus é melhor que ele. - Sussurrou.
_ Sim, entendo isso, mas meu filho tem apenas onze anos e apenas tentou me defender como podia. - Suspirei. _ Scorpius nunca agrediu ninguém e não é porque estava na presença dos pais.
Concordou e observou as nossas mãos unidas, já que não as separei desde o momento que ele a pegou.
_ Tudo bem. - Fiquei confusa. _ James puxou a família e já dei a devida punição. - Iria falar, mas ela foi mais rápida. _ Revogarei a suspensão.
_ Agradeço imensamente. - Scorpius estava perplexo. _ Conversarei com ele para não fazer mais isso, então, me perdoe por isso. - Discordou.
_ Proteger a família é o maior orgulho que alguém poderia ter. - É, ela já estava velha e não era mais aquela mulher que dava medo até no respirar.
Acenei e me levantei, estendendo a minha mão e a fazendo apertar em um ato simples.
_ E, senhorita Malfoy. - Esperei que falasse. _ Meus alunos nunca foram monstros, mas algumas transformações levam a loucura.
Crispei os lábios e não respondi imediatamente, apenas fiquei examinado a janela atrás de si.
_ Monstros não nascem, são criados e moldados para serem o que quiserem ser. - Lambi meus lábios. _ Potter teve o que mereceu e espero que não pense que meu primo agiu errado. - Discordou.
_ Malfoy sempre foi uma criança atentada, mas que foi forte quando precisou. - Apertou as mãos. _ Sempre senti orgulho daqueles que ensinei e isso não mudaria apenas por ser um Sonserino.
_ Você é nobre. - Até demais. _ Estou indo, até algum dia, Minerva. - Acenou e puxei o garoto para sair comigo.
Saímos do gabinete e antes que pudéssemos descer o primeiro degrau da escadaria que nos levaria até o corredor, uma cabeleira negra apareceu, esbarrando em nós.
_ Albus! - O garoto sorriu e olhou para trás, vendo que a porta estava fechada. _ Ela também o chamou? - Negou.
_ Queria saber como você estava. - Olhou-me. _ Pensei que sua mãe tivesse um olhar severo, ainda mais que seu avô é aquele homem que você me falou.
_ Bom, apenas que... - Colocou o braço no pescoço do moreno e desceu a escadaria, me fazendo observar aquela interação.
Bom, se me lembro bem, esse era o Albus que ele me contou quando nos conhecemos, mas nunca o vi pessoalmente ou sabia suas características faciais, apenas que essa interação não parecia ser leviana.
_ Mãe, você não consegue descer? - Discordei e desci a escadaria, ficando atrás dos dois. _ Precisa voltar? Poderia mostrar a escola e...
_ Quando você voltar, estarei o esperando na estação com seu pai. - Seu sorriso preencheu todo o seu semblante. _ Gostou tanto disso?
_ Sempre desejei que você me buscasse e me levasse para Hogwarts. - Pegou minhas mãos. _ Esse deve ser o melhor dia da minha vida. - Suas bochechas estavam ficando vermelhas. _ Você me protegeu e até mesmo irá me buscar.
Pulou em cima de mim, me fazendo dar alguns passos para trás e apenas o abracei, rindo de seu jeito carinhoso que sabia que tinha, mas que estava guardado na memória.
Amava tanto o meu bebê que não sabia se era os meus próprios sentimentos ou era apenas as memórias, mas tudo bem se fosse os dois.
Já aceitei há muito tempo que sou Leesa Malfoy, prima, noiva e mãe desse pestinha.
Beijei sua cabeleira loira e dei tapinhas em seu ombro, ou acabaria sendo sufocada por essa criança.
_ Ei, você não quer matar sua mãe, né? - Tirou o garoto de cima de mim. _ Se quiser abraçar alguém, me abraça. - O loiro apenas sorriu.
_ Escute ele, sim. - Arrumei minhas roupas. _ Vejo você daqui a alguns dias. - Beijei sua testa e baguncei os cabelos do moreno, o fazendo estranhar a ação, mas não odiou.
_ Até. - Disseram e apenas dei tchau, saindo dali sem olhar para trás.
Afinal, deveria encontrar uma garota que poderia colocar a vida de todos em perigo se continuasse aqui.
E bom, não quero que a minha família sofresse as consequências de alguém que só queria ser amada e desejada, mas foi esquecida por muitos.
Sei que a garota não tinha culpa de nada, mas talvez tivesse futuramente se continuasse aqui.
Suspirei e continuei indo em direção da saída do castelo, não parando para ver os alunos saindo das salas ou as fofocas que surgiriam com o meu aparecimento.
Apenas passei por toda a multidão de alunos enquanto saia do castelo, vendo que o tempo não ficaria bom e provavelmente choveria.
Bufei, vendo a fumaça branca ondular com os meus pensamentos que nunca terminavam, apenas tinha um desejo crescente em meu coração.
Queria ir para casa...
Dou alguns passos e a garota que pensei que me esperaria apareceu bem no portão de saída, me surpreendendo no processo.
_ Pensei que você fugiria, então fiquei esperando. - Cerrou os punhos e me observou. _ Como sabe? - Dei mais um passo em sua direção.
_ Não sou desse tempo. - A chamei para sairmos daqui. _ Na verdade, sou de outra dimensão. - A sinto me observar.
_ Então estou...
_ Você não existe na minha realidade, mas sei sobre você, Delphini. - Piscou sem entender. _ Tenho alguns amigos que me contaram sobre os mundos que vão muito além da nossa imaginação e você, existe em alguns deles.
Parou e faltava muito para descermos esse pequeno morrinho.
_ Então como pode me ajudar? - Tombei a cabeça e sorri.
_ Tenho um vira-tempo, mas apenas de ida. - Deu um passo para trás, quase caindo em seus próprios pés. _ Minha variante irá ajudar com tudo que você nece...
_ Como pode ter tanta certeza? - Seu nariz estava ficando com a pontinha avermelhada.
E poderia jurar que ela iria se mesclar com as cores da paisagem, se não fosse por suas roupas e cabelos.
_ Conheço uma pessoa que me disse que mesmo tendo um passado diferente, ainda sou a Leesa com carácter e sabedoria das minhas variantes. - Cruzei os braços.
Aproximou-se e parecia um gatinho arisco que tentava saber se eu era confiável ou não.
Ofereci meu braço, mas ela ficou sem entender, porém, apenas queria que fossemos até o pub para tomar algo quente, ou acabaria congelando.
_ Vem, eu não mordo. - Mesmo tendo dentes.
A puxei e coloquei seu braço no meu, andando novamente.
_ Você não quer conhecer seu pai e sua mãe? - Apertou meu braço. _ Então, você conhecerá e serão uma família.
_ Mas e se eles não gostarem de mim? - Não sabia se meu coração estava congelado pelo frio ou por suas palavras.
_ Nem sempre a família de sangue será a nossa família, mas pelo menos você as conhecerá e saberá de tudo que você deseja saber. - Pareço até uma mãe dando conselhos para sua filha.
Balançou a cabeça e sorri por isso.
Agora, só preciso voltar em casa e pegar a minha bolsa, tirando de lá o vira-tempo que sempre esteve comigo.
Sempre esteve... Mas nunca consegui usar, não por não querer, apenas por sentir medo.
Poderia até mesmo sumir desse mundo se quisesse.
Mas tudo que quero agora é dar o vira-tempo para essa garota, escrever uma carta para a minha variante, dar um vidrinho do meu sangue para essa garota não morrer pela viagem ou pelo tempo, e esperar o Dragon voltar para a nossa casa.
Porque, afinal, estava apaixonada demais para ficar longe do meu noivo.
