Tiago chegou em casa mais tarde naquele dia, depois de resolver algumas coisas antes de começar no trabalho novo. Ele se preocupou ao ver a cara da esposa nada satisfeita com alguma coisa.
-Oi Nat - Ele beijou seu rosto delicadamente - tá tudo bem?
Ela apenas assentiu em resposta, nada como ela agiria normalmente.
-Quer que eu faça a janta? Pode ser macarrão com almôndega - ele ofereceu.
-Me parece ótimo - ela respondeu, distraída, irritada, mas não com ele.
Ele foi até a geladeira, pegando os ingredientes e se colocando a trabalhar.
-Aconteceu alguma coisa? - Tiago perguntou, já que ela permaneceu imóvel, sentada na mesa da cozinha.
-Você nem imagina o absurdo que eu passei hoje - a pergunta era só o que ela precisava ouvir para começar a falar - eu conheci os nossos vizinhos hoje.
-Ah eu também já, eu falei com o Teodoro, um sujeito muito gente boa - Tiago disse com empolgação sorrindo, mas logo percebendo que a experiência de Natália tinha sido o oposto.
-Não, eu não falei com ele, esse deve ser o marido da Roberta - ela disse o nome com desprezo.
-Eu não conheci a esposa dele, ela é tão ruim assim? - ele perguntou, com medo da resposta.
-A mulher é uma megera que foi grosseira com o Lucas por causa de um acidente! - Natália ergueu as mãos em indignação.
-Meu amor, me conta do começo, se não eu não vou entender nadinha - seu marido pediu humildemente.
-Eu sugeri pras crianças darem uma volta aqui perto pra sair um pouco de casa - ela contou - o Lucas foi andar de skate na calçada dela e caiu no jardim, ela ficou nervosa porque, segundo ela, o menino destruiu o jardim dela.
-Isso não é muito verdade, o jardim tá ótimo desde a última vez que eu notei ele - ele comentou.
-Então, ela foi mal educada com os nossos filhos e eu odiei ela, eu espero não ter que encontrar com ela de novo, porque eu não respondo por mim - Natália chegou a dar um tapa na mesa, de raiva.
-Eu... acho isso meio difícil - Tiago coçou a nuca, nervosamente - porque ela é nossa vizinha da frente, é uma pena porque o marido dela parece ser muito legal, me ofereceu ajuda e tudo.
-Pelo jeito, os opostos se atraem - sua esposa cruzou os braços.
-Bom, você não precisa ser amiga dela, pode pelo menos dar um bom dia pra não pagar de má educada - ele aconselhou.
-É o que eu pensei, mas ainda tô com raiva - ela suspirou.
-Você tem direito de se sentir assim - Tiago se aproximou e beijou o rosto dela outra vez.
Ele deixou que ela se acalmasse enquanto ficava de olho nas panelas e terminava o jantar.
-Crianças, tá na mesa! - o pai delas gritou da cozinha, fazendo com que aparecessem ali o mais depressa possível - isso tudo é fome, é?
-Até parece que não conhece a gente - Lucas brincou, mas admitindo que tinha o apetite de um típico adolescente.
As crianças comeram, enquanto Natália se juntou a eles, já um pouco mais calma, o assunto que surgiu depois foi o fato do dia seguinte ser o primeiro dia de aula deles.
-Será que eu vou fazer uma amiga amanhã? - Tainara disse, preocupada.
-Talvez não, Tai, mas dê tempo a tempo - Karla aconselhou a irmãzinha - é difícil não gostar de você.
-Ah que bom, brigada, mas... - a menininha hesitou - eu podia levar bolo de chocolate pra dividir com alguém da minha sala, não é?
-É uma boa ideia - Karla concordou.
-Se vocês quiserem levar lanche, tudo bem, mas a escola tem lanche - Tiago explicou - e uma cantina.
-Cantina? Eu vou querer dinheiro pra cantina, pai! - Lucas pediu.
-Se for dar pra ele, tem que dar pra todo mundo - Natália defendeu os filhos.
-Eita, vou pensar no caso de vocês, prometo - Tiago chegou a colocar uma mão no peito pra mostrar que estava falando sério.
Depois de mais algumas conversas e checar as redes sociais, cada um foi para o seu quarto dormir.
A manhã foi agitada como Natália se lembrava que sempre tinha sido. Correria e confusão, mas criada por seus amados filhos.
-Eu detestei a cor desse uniforme - Karla reclamou para olhar a camiseta no meio do café da manhã, observando o emblema que imitava um recife de corais.
-É melhor do que branco - Natan tentou ver algum lado bom - eu gosto de verde água.
-Verde água? Eu achei que era azul mar - Lucas opinou.
-Azul mar é uma cor que existe? - Tainara se perguntou em voz alta.
-Tá certo, reclamar da cor do uniforme não melhora o astral de ninguém - Natália cortou o assunto, olhando para seu relógio - vão indo se não vão se atrasar.
Com o aviso da mãe, as crianças saíram com pressa, mas ela se levantou, causando estranheza neles.
-Ninguém vai sair daqui sem me dar um beijo e um abraço - ela declarou, o que fez as crianças rirem e obedecerem, mesmo depois das reviradas de olho de Lucas e Karla - tenham um bom primeiro dia, e me contem tudo depois.
-Pode deixar - Natan se encarregou dessa tarefa.
Tiago não demorou muito pra chegar a escola, as crianças desceram e ele os chamou pela janela do carro.
-Ei, Sulis - disse ele com carinho - boa sorte, eu amo vocês, e não se esqueçam...
-Os Sulis ficam juntos - recitaram seus filhos.
Assim, os irmãos reuniram coragem para encarar o primeiro dia de aula. Pra sorte deles, havia uma placa da série nas portas da sala.
-Tá legal - Natan disse, reunido com os irmãos no meio do pátio da escola - eu sou do 1° B, a Karla tá na minha turma.
-Que injusto, queria alguém que eu conheço na minha turma também - Tainara reclamou.
-Tai, não tem como, nem somos da mesma idade - Lucas explicou.
-Ah é - sua irmã caçula teve que aceitar a realidade.
-Lucas tá no 9° D e a Tai no 2° C - retomou Natan - querem que eu vá na porta com vocês?
-Pra mim tá de boas, já ajudou muito, irmão - Lucas trocou um aperto de mão secreto com ele - vejo vocês no recreio?
-Com certeza - confirmou o mais velho.
-Eu quero que você vá comigo até minha sala, Tan - pediu Tai.
-Vai ser um prazer, irmãzinha - ele sorriu.
-Eu vou pro 1° B, te encontro lá - Karla avisou - tchau Tai.
Seus irmãos sorriram para ela e então seguiram para a turma do 2° C.
