Olá Pergaminhos e Nazarins, retornando depois de umas pequenas férias, agora trazendo a vocês o novo arco que considero o clímax dessa fase em minha fanfic Aquele que Voltou.

Preocupações tomam conta do Reino Santo e más notícias não param de chegar

Com vocês

Aquele que Voltou

Capítulo 69: Variável Imprevisível

- Mais uma dessas intermináveis reuniões.

- Espero que sua santidade não queira

aumentar novamente os impostos.

- Quantos foram desde o ano passado?

- Cinco aumentos, várias novas leis e uma infinidade de restrições, estamos atolados. A igreja não pode mesmo fazer algo?

- Não, o máximo que podemos fazer é restringir nossa ajuda à coroa e mesmo assim apenas abrimos espaço para os hereges.

- A nova religião, eles estão dando problemas?

- Mais ou menos. Como seguidor dos Seis, vejo que muito do que eles pregam parece ter ligação com os ensinamentos de Surshana, apesar de idolatrarem o Rei Feiticeiro, fora isso não há tantas diferenças, mas eles nem se consideram oficialmente uma religião, o problema maior está em oferecerem curas e atendimentos de forma gratuita, isso parece atrair cada vez mais seguidores.

- Então, não há como obrigar sua dissolução através da pressão ao Rei Santo.

- Não, esses "Nazarins", apoiam a coroa e parecem ter se tornado uma força independente, uma alternativa aos Paladinos.

Essa conversa entre um nobre e um padre retratava o tipo de confusão que Neia Baraja estava causando, principalmente para Demiurge.

O Arquidemônio só teve problemas desde que a arqueira apareceu no grande plano, desde o início com o surgimento de Jaldabaoth no Reino Santo, tudo que ela fazia ia de encontro ao que era esperado, pelo menos no que Demiurge contava como esperado.

Devido à complexidade do Plano de Dez Mil Anos, algumas nuances não podiam ser vislumbradas por seres menos capazes, era o que Demiurge imaginava quando algo escapava de suas análises e cálculos, por exemplo:

Quando a comitiva original veio ao Reino Feiticeiro pedir ajuda, era considerado deixar que o Reino Santo sofresse por mais tempo antes que eles implorassem novamente por ajuda, mas a escudeira na época quebrou o protocolo, interferiu na negociação e fez com que o Rei Feiticeiro partisse de imediato para a luta.

Quando seu mestre decidiu presentear Neia com um arco rúnico era óbvio que ela deveria fazer propaganda do instrumento, na verdade ela foi instruída diretamente para fazer isso, mas quando os nobres questionaram a natureza da arma, ela recusou mostra-la, e quando um demônio tentou exaltar suas qualidades ela negou novamente, fazendo com que tudo fosse perdido, pelo menos era o que Demiurge pensava.

A principio parecia que Neia deveria mostrar a arma aos nobres e assim vender suas qualidades, quando ela não fez isso uma área de comércio foi perdida, pois esses mesmos nobres nunca compraram remessa alguma, em vez disso, quem viu a arma foram as pessoas comuns e os aventureiros, o público alvo final, público que Demiurge só pode reconhecer como o verdadeiro potencial após os eventos se concretizaram.

Em retrospecto foi algo assim que aconteceu: Os nobres do Reino Santo não tentaram monopolizar as compras das armas rúnicas, o próprio Reino Feiticeiro exclusivamente passou a vende-las diretamente aos aventureiros, gerando uma receita muito maior a longo prazo, ou seja, a venda em quantidade barata superaria a venda a alto preço e elitista que provavelmente teria gerado com o comércio dos nobres.

Então retomando a primeira interferência de Néia, da mesma maneira a intervenção imediata do Reino Feiticeiro no conflito causado por Jaldabaoth, levou a queda de forma mais rápida da oposição no Reino Santo e ao surgimento de uma religião baseada na fé em Ainz Ooal Gown.

Agora estava acontecendo novamente, os atos de "Caspond Bessarez", o doppelganger infiltrado, deveriam ter gerado revolta na população, descontentamento e no mínimo oposição dos nobres, por fim o ódio daqueles das terras ao sul, todas as leis e mudanças impostas pela coroa eram soluções óbvias e necessárias, mas a maioria delas não surtia o efeito procurado, claro que era devido às manipulações sigilosas feitas pelos agentes externos do Reino Feiticeiro.

Muitos imaginariam que bastaria o Rei Santo parecer incompetente, mas não era tão simples. O verdadeiro Caspond fora um nobre treinado para se tornar um rei capaz caso algo acontecesse à sua irmã, Calca Bessarez, a Rainha Santa, uma mudança de atitude ou capacidade, geraria desconfiança imediata, seja por duvidarem da sanidade do rei ou até mesmo se ele não está sendo controlado mentalmente.

Desta forma, uma inabilidade gritante, acarretaria em uma revolta rápida demais, o que levaria à destituição forçada do rei, então era por isso que tudo deveria parecer um grande infortúnio, onde decisões apenas deram erradas por imprevistos, e não por pura incompetência, ainda assim a culpa recairia na coroa, afinal, alguém precisa levar a culpa, e o povo por mais fiel que fosse só poderia responsabilizar quem estava no poder, isso geraria descontentamento em todos os níveis, até que a panela de pressão estourasse.

Mas Néia era uma incongruência, em vez de lutar contra a coroa porque o povo sofria, gerando uma revolta tendo ela como líder e assumindo o posto de regente quando os tiranos caíam, estava fazendo exatamente o contrario do que era esperado dela, ela apoiava o Rei Santo, seus ensinamentos ditavam que a fraqueza era um pecado e suportar a dor e o sofrimento era uma virtude inquebrável, sendo a força de vontade a justiça e a justiça sendo o próprio Rei Feiticeiro.

Desta forma a população cada vez maior de Seguidores da Justiça, mesmo com fome e frio, aceitava o que parecia ser o seu destino e mantinham a fé em Neia, e se ela apoiava o rei então eles também apoiariam, apenas os descontentes ainda eram os nobres e os sulistas, o plano seguia com mudanças que Demiurge não podia prever.

A quebra do paradigma da "redentora do povo" era desconcertante para o arquidemônio, isso provavelmente estava naquelas áreas ocultas do plano aos quais ele não podia ver, então ele deveria acreditar no plano em si, acreditar que seu mestre não erra, e que tudo seria como Ainz Ooal Gown planejou desde o começo.

O nobre e o padre entraram no salão da corte, pelo visto eles eram praticamente os últimos a chegarem, pois em seguida o próprio Rei Santo foi anunciado.

- Senhores, mais uma vez chamo todos aqui para discutirmos a situação em nosso reino.

Ninguém falava, isso não era um diálogo, na melhor das hipóteses o rei apenas estava anunciando as novas medidas para tentar manter o reino funcionando.

- Como muitos sabem o reino tem estado à mercê de diversas atribulações, a corte tem buscado mitigar a maioria dessas com medidas emergenciais. Tais medidas que não têm surtido o efeito desejado.

Para os nobres, tais palavras apenas eram uma maneira bonitinha de dizer que nada estava dando certo, para cada decisão tomada parecia que algo fazia ela se tornar inútil.

- Nossas tentativas de estabilizar a economia do reino apenas foram frustradas, gostaria que os representantes da igreja nos fornecessem uma análise da situação junto ao povo.

- Obrigado, Vossa Majestade - disse o cardeal Ebeas - a igreja tem feito o possível para tratar o povo, mas com a morte das colheitas pela praga, a diminuição do fornecimento da pesca proveniente do sul e a iminência de um inverno precoce simplesmente estamos sobrecarregados.

- Ainda assim, não vejo nenhum padre emagrecendo - disse uma voz em meio à multidão.

As pessoas se afastaram de quem havia dito aquelas palavras, no meio da multidão de nobres e eclesiásticos estava Néia Baraja.

- O que você faz aqui mulher, esta é uma reunião solene, este não é o seu lugar.

- Meu lugar é onde precisam de mim, e fui convocada a comparecer, convocada pela corte real.

Houve uma onda de consternação, a mulher era uma plebeia e, apesar de possuir tantos seguidores que agora rivalizavam com a própria igreja dos Quatro dentro do Reino Santo, seu grupo ainda era considerado apenas uma companhia de mercenários, até mesmo rebeldes, se não fosse o fato de apoiarem a coroa em vez de confrontá-la.

- Cardeal Ebeas, a senhorita Baraja foi solicitada a comparecer ao meu pedido, a ajuda que ela tem fornecido à coroa é de um valor inestimável.

Após vários acontecimentos, Demiurge acreditava agora que Neia Baraja era uma peça fundamental, imprevisível, mas que deveria ser colocada o mais exposta possível.

- Sim, Vossa Graça, mas a atitude dela para conosco beira ao sacrilégio.

- Sacrilégio é cobrar pelas curas quando o povo está doente, comida quando passa fome. Lamento que minha presença incomode tanto assim aos membros da igreja, mas gostaria de reforçar o fato de que não seguimos mais os seus dogmas.

- ISSO É APOSTASIA!

- Isso é mudança religiosa, apesar das semelhanças com os ensinamentos de Surshana, nossa fé agora é baseada em uma nova verdade. Uma verdade onde não cobraremos pela ajuda que podemos dar.

- SUA HEREGE...

- Cardeal Ebeas! Apesar do Reino Santo estar baseado na fé dos Quatro, ainda assim não proibimos a execução da fé dos Seis e, por consequência, não proibiremos qualquer outra manifestação religiosa variante, está entendido?

- Sim, Vossa Graça - disse um rancoroso cardeal.

- Obrigada - respondeu Neia Baraja sem qualquer orgulho, pois o orgulho era uma fraqueza.

- Para mitigarmos o sofrimento do povo, buscaremos apoio em nossos irmãos do sul. Sabemos que a tensão com os baronatos sulistas tem crescido consideravelmente, e até mesmo hostilidades têm sido relatadas, mesmo agora se recusaram a participar dos últimos congressos com alegações vazias, por isso foi enviado uma comitiva na tentativa de estabelecermos a ordem, trazer os nobres de volta e discutirmos as soluções ao Reino Santo como um só. O capitão Gustav Montagner partiu a duas semana com este intuito e esperamos em breve alguma notícia.

Como se fosse coordenado, o mensageiro real chegou com uma missiva que foi entregue ao Rei Santo.

- Parece que recebemos alguma informação urgente, deixem entrar o mensageiro!

Para consternação de todos, quem entrou foi um abade carregando uma urna.