Olá Pergaminhos e Nazarins, trazendo outro capítulo da minha fanfic Aquele que Voltou.
Alianças são forjadas e presentes oferecidos.
Com vocês
Aquele que Voltou
Capítulo 71: Aliados
O exército sulista avançava pela fronteira das terras do norte, ainda não era uma grande invasão; aguardavam a chegada do resto de suas forças para que tudo realmente começasse. Fazia apenas alguns dias desde que a mensagem foi entregue, então ainda teriam tempo para terminar de se organizar. A patrulha que verificava a segurança ao redor do acampamento estava entediada.
- Que merda!
- Do que você vai reclamar agora? Do frio, da comida, da companhia ou do serviço?
- Tudo isso e mais um pouco.
- Sem novidades então.
- Mas sabe o que me incomoda mais?
- Não, e nem quero saber.
- Me incomoda que não tem ninguém aqui, cada vila tá vazia, nem as cidades têm muita gente, quase ninguém nas estradas.
- Bom para gente.
- Mas eles não podem ter fugido tão rápido de nós!
- Não foi de nós, foi dos Demi-humanos e daquele demônio, tudo foi abandonado faz tempo.
- Você não acredita mesmo naquilo? "Socorro, um demônio invadiu o norte, vamos aumentar os impostos, a rainha morreu, Gaspond agoraé o rei, a nossa colheita morreu! Precisamos de mais grãos!" - falou o soldado com a voz mais infantil e chorosa que podia - você não acredita nessa merda.
- Meu primo fugiu do norte, ele disse que os Demi-humanos invadiram tudo ano passado, ele não viu demônio nenhum, mas outros dizem que viram.
- Que foram invadidos pode ser verdade, são todos uns frouxos, mas demônios? Pura mentira, Caspond deve ter matado a irmã e assumiu o trono.
- E o Rei Feiticeiro?
- Bobagem, um bruxo pago por Caspond, fez suas bruxarias na capital para enganar as pessoas, alguma ilusão de monstros gigantes, só isso.
- Talvez.
- Você é um idiota de acreditar nessas histórias dos nortistas.
- Vai se foder!
- Vai você.
Enquanto a patrulha debatia sobre as notícias e rumores que circulavam, o líder do grupo permanecia em silêncio, observando a paisagem desolada ao redor do acampamento.
- Vocês dois não conseguem parar de discutir por um momento? - interrompeu o líder. - Estamos aqui para garantir que o perímetro esteja seguro, não para falar merda.
- Mas, sargento, não acha estranho? - questionou um dos soldados.
- A única coisa estranha aqui é o fato de vocês estarem perdendo tempo com conversas sem sentido. Deixe essas histórias para os bardos e fofoqueiros de taverna.
Enquanto o sargento repreendia seus subordinados, um som distante chamou a atenção deles. Um estrondo abafado ecoou, seguido por um tremor leve no solo.
- O que foi isso? - indagou um dos soldados, com o semblante tenso.
- Não sei, voltemos ao acampamento.
Os soldados estavam tão distraídos pelo som que só notaram o grupo quando quase trombaram com as cinco figuras encapuzadas.
- ALTO! QUEM VEM LÁ! - gritou um dos soldados.
- Nós quem deveríamos perguntar isso, afinal vocês são sulistas nas terras do norte.
- Nós... estamos em patrulha, reforços para o norte - mentiu o sargento tentando lembrar as ordens que receberam caso encontrassem alguma força inimiga. A declaração de guerra tinha sido recém-entregue, e a discrição ainda era a melhor opção; levaria semanas até alguém chegar ali.
- Bem, senhores reforços, nós gostaríamos de falar com seu chefe.
- Chefe? Vocês querem ir até a cidade de Kork?
- Não, apenas até o acampamento que está no pé da montanha a algumas milhas daqui, aquele acampamento que desejam que ninguém saiba que está ali.
Os homens a cavalo reagiram imediatamente, mas quando tentaram fugir, algo caiu entre eles. Dois dos cavalos correram, mas ambos os soldados ficaram suspensos no ar por mãos poderosas.
- O-o que vocês querem. - perguntou o sargento, o único ainda montado.
- Apenas evitando que vocês corram. Pode por eles no chão.
A enorme figura envolta em um gigantesco manto apenas soltou os dois soldados, que caíram de traseiro no chão.
- Agora, como eu dizia, nos levem até o acampamento, queremos falar com o seu chefe.
Os homens amedrontados guiaram os estranhos até onde estava o acampamento. Era óbvio que eles já sabiam onde ficava, apenas não queriam causar alvoroço aparecendo sem escolta. Mesmo assim, o acampamento ficou em alerta, e o grupo foi cercado.
- ALTO! LARGUEM AS ARMAS! MOSTREM OS ROSTOS! - gritou um oficial.
- Não - disse o homem mais à frente e que segurava uma lança amarrada às costas.
O oficial se adiantou e, quando fez sinal para arrancar o capuz, simplesmente saiu voando para fora do acampamento.
O homem que o golpeou ainda estava com o braço suspenso quando falou.
- Alguém mais quer tentar algo ou vão nos levar até seu chefe?
Outro oficial surgiu; este parecia ter mais experiência.
- Estávamos esperando vocês, senhores. Por favor, me sigam.
Um caminho pelo acampamento se abriu na multidão. Ninguém queria chegar perto dos estranhos; se aquele homem tinha tanta força, imagine qual seria a de seu companheiro, que tinha quase três vezes a sua altura?
Entraram na tenda principal; era tão grande que tinha até mesmo quartos separados na parte interna.
- Bem-vindos, senhores. Eu sou o Conde Randalse; nós aguardávamos vocês.
- É um prazer, Conde, mas gostaríamos de falar com o seu chefe.
- Lamento não entender. Eu sou o comandante deste exército.
- Por favor, pare de nos fazer perder tempo. Eu quero falar com Remédios Custódio.
A sala ficou em silêncio.
- General - disse uma voz vinda da outra sala. A cortina se abriu, e uma cavaleira surgiu - General Remédios Custódio para você, senhor Capitão das Escrituras Negras.
O homem com a lança finalmente retirou o capuz, revelando uma pessoa jovem com longos cabelos.
- É um prazer conhece-la, General - disse ele, fazendo uma reverência, mas ninguém acompanhou a saudação.
- Minha existência deveria ser um segredo, mas pelo visto a segurança do conde ainda deixa a desejar.
- Eu não culparia eles, nosso pessoal já estava aqui antes mesmo da senhora chegar.
- Humpf! E quem seriam os seus companheiros?
O Capitão das Escrituras Negras ponderou; Remédios Custódio era forte, provavelmente uma Godkin de parentesco distante, e pelos relatos, uma mulher intempestiva. Era preciso ter cautela ao tratar com ela. Negar informações que provavelmente ela já tinha era perigoso.
- Estes são o Segundo Assento, Turbulencia Temporal - a pessoa tirou o capuz, revelando alguém muito novo com um olhar de desdém.
- O Quinto Assento, Quaiesse Hanzeia Quintia - desta vez era alguém mais velho, com o cabelo loiro cortado curto e com franja.
- O Sétimo Assento, a Astróloga de Mil Milhas - uma jovem assustada se mostrou; parecia que ela iria pular a qualquer momento se visse sua própria sombra.
- O Oitavo Assento, Cedran - Um homem corpulento mostrou o rosto; ele segurava um escudo pesado.
- E quem seria seu grande amigo? - Remédios perguntou.
- Este é um aventureiro que encontramos. Ele nos ajudou a sair da Teocracia. Seu nome é... Red.
O enorme aventureiro não se mostrou.
- Bem, eu imaginei que haveria mais de vocês.
- Há mais. Eles estão espalhados pelos reinos.
- O que houve? Se vamos ter essa conversa, preciso que seja franco. Nem tudo deve vir de nossos espiões.
A tensão no ar indicava que, apesar de aparentemente estarem do mesmo lado, a desconfiança permanecia. O futuro das terras do norte era incerto, com segredos e revelações obscuras. O início de uma aliança frágil entre os exilados da Teocracia e as forças do sul não era certeza.
- Humm! Franqueza. Entendo. Nós temos certas contingências caso ocorresse a queda da capital. Nossas ordens, caso houvesse um evento cataclísmico, era de abandonar o reino, nos misturarmos ao povo, procurarmos as células teocráticas remanescentes e não entrarmos em contato uns com os outros, preservando sua ocultação. Cada grupo se organizaria para uma futura retomada, mesmo que isso demorasse anos. Por isso, apenas grupos pequenos eram formados. Mas, se acha que houve poucos sobreviventes, está enganada. Quase todas as escrituras partiram.
- Então vocês esperavam perder a guerra contra os elfos?!
- Só um tolo não se prepara mesmo para o impossível. O rei elfo poderia ter algo desconhecido ou adquirir alguma magia que precisasse de muito tempo para ser preparada, algo como o feitiço do Rei Feiticeiro lançado em Katze, aquele que destruiu o exército de Re-Estize.
- Então vocês não lutaram.
- Não havia luta a ser travada. Centenas de Cavaleiros da Morte e um golem gigantesco. Talvez se todas as nossas forças estivessem lá, mas a maioria estava em missões fora da Teocracia.
- Um golem gigante! Aquele maldito bruxo poderia ter enviado tal criatura para lutar contra Jaldabaoth. Ao invés disso, veio pessoalmente aqui envenenar a mente das pessoas.
- Aparentemente, o rei feiticeiro estava guardando suas melhores armas. Agradecemos aos deuses que ele precise de anos de espera para poder lançar novamente aquele maldito feitiço.
- Então as Escrituras não foram páreo para o exército de mortos.
- Paladinos seriam melhores?
- Se tivessem equipamentos divinos como as escrituras, poderíamos ter travado uma grande luta. Talvez vocês tenham algo para oferecer por sua estadia.
- Humm, achei que bastaria saber que lutamos contra um inimigo em comum, o rei feiticeiro.
- Talvez baste, mas um sinal de boa fé seria melhor.
- Humm! Os tesouros foram levados pelos nossos; pouca coisa sobrou, e o que ficou deve ter sido saqueado pelo inimigo, mas... há algo que encontramos recentemente. Estava em posse de alguém que acreditamos ser da Zuranon, um mapa antigo das terras do Reino Santo. Parece ser a localização de uma das espadas da Luz.
- 'ACEITE!' - gritou a voz de Kelard Custódio dentro da cabeça de Remédios.
