Olá Pergaminhos e Nazarins, com outro capítulo da minha fanfic Aquele que Voltou.
Remédios tem uma conversa esclarecedora.
Com vocês
Aquele que Voltou
Capítulo 73: Convicção
Demiurgo não estava nada contente com seu próprio desempenho.
Seu criador o fez para ser um mestre estrategista, alguém que estivesse dezenas, senão centenas de passos à frente de qualquer oponente, sendo capaz de prever acontecimentos apenas se baseando em parcas informações. Mas ele não havia conseguido prever vários pontos importantes do Plano de seu senhor. Não apenas isso, seu mestre precisou intervir diretamente em algumas ocasiões, sendo até mesmo imposto o fato de que seria testado com o passar do tempo, assim como havia sido feito com Cocytus ao lidar com os homens-lagartos. Mas, no seu caso, o Ser Supremo iria criar situações onde seria preciso se adaptar rapidamente; a vassalagem do Império foi um exemplo.
Agora Demiurgo não sabia em qual momento tais alterações do plano gerariam as mudanças mais prováveis. Ele esteve se preparando para essas situações desde que perderam o controle em Re-Estize. Apesar de que não estava trabalhando diretamente com Albedo e ser de responsabilidade dela o cenário de Re-Estize, ambos não puderam antecipar os acontecimentos que se seguiram por culpa do humano Philip. Mas, seu mestre, mesmo sabendo o quão incapaz o humano era, ainda assim o manteve. As ações do completo idiota escolhido como fantoche resultaram em uma ação impensada que levou à queda do reino.
Tal coisa não poderia ocorrer sob a sua responsabilidade, e ainda assim Demiurgo já havia cometido duas faltas.
A primeira foi não ver o potencial de Néia Baraja. Para ele, a escudeira foi um peão que serviria como vendedora das artes rúnicas, escolhida apenas pelo seu atrevimento ao interromper a audiência de seu mestre com o grupo do Reino Santo. Para sua surpresa, seu mestre não apenas a manteve como sua própria escudeira, como também a ressuscitou durante a invasão. Seu propósito só se mostrou quando tudo já estava quase terminado. Sua devoção gerou uma nova religião que agora predominava entre a população.
Subestimar a importância dos humanos parecia ser um mote recorrente: Philip, Néia e agora Remédios.
Durante os acontecimentos da invasão de Jaldabaoth, a paladina foi considerada uma antagonista, realizando o serviço de ser uma oposição desequilibrada à ajuda do Rei Feiticeiro. Após a invasão, ela foi descartada. Demiurgo achava que ela não seria mais útil, já que praticamente entrou em estado catatônico. Sua intenção seria usar essa loucura em uma futura tentativa de assassinato de Neia Baraja, mas com sua eventual "morte", essa linha do Plano foi abandonada.
Esta foi sua segunda falta.
Devido ao estado de degradação do cadáver encontrado queimado, não era possível confirmar sua identidade, muito menos supor que Remédios fingiria sua morte. O corpo seria examinado posteriormente, mas não era uma prioridade. Porém, quando ele foi roubado e depois destruído, apenas se imaginou que um objeto de estudo tinha sido perdido, nada valioso.
Demiurgo, por ordem de seu mestre, enviou cada Hanzo e Demônio das Sombras disponível para investigar o grupo misterioso que ousava se intrometer nos assuntos de Nazarick. Estes ainda não haviam sido localizados, mas, para sua surpresa, outra coisa foi encontrada nas terras do sul.
Após descobrirem que a tensão imposta aos nobres sulistas estava dando frutos mais cedo do que era esperado, foi preciso entender o que estava causando essa aceleração. Um comandante desconhecido estava pressionando os nobres, estratégias eram postas em ação com eficiência e diligência. Demiurgo precisava saber quem era este comandante, e após dias investigando, ele descobriu, para sua surpresa, que Remédios Custódio estava viva.
Essa nova falha quase fez o arquidemônio tirar a própria vida. Isso era inaceitável.
Mese atrás com essa descoberta Demiurge se dirigiu diretamente ao escritório de seu mestre e solicitou uma audiência.
- Com licença, Ainz-sama, tenho algo a relatar.
- Eu esperava por isso, Demiurgo - disse Ainz, finalmente tendo um relatório verbal em vez de pilhas de papel.
- Então o senhor está ciente?
- 'Ciente de quê?' - Sim, já estou a par de vários acontecimentos, mas sejamos mais específicos, de qual parte do Plano estamos falando.
- A que trata do Reino Santo.
- Humm, um pouco mais específico.
- Sobre as terras do sul estarem se preparando para uma guerra de secessão mais cedo do que o previsto e terem um novo comandante.
- Ah! Como eu pensava, depois de tudo o que houve com a paladina e Néia, imaginei que algo assim aconteceria.
- Então o senhor já sabia, Ainz-sama?!
- Claro, Demiurgo, eu sei de tudo - 'melhor fingir conhecimento, pelo visto não vou conseguir informações mais diretas do que isso e ainda tenho muito a fazer antes de ir para as terras do reino Elfico'.
- Então, meu senhor, essa falha em minha análise...
- É irrelevante.
- Mas, Ainz-sama, eu cometi um erro terrível.
- Você pode consertar esse erro?! Houve realmente um erro? Lembre que neu plano abrange diversas variações, então. Se esse erro não existe, então nenhuma falha foi cometida. Apenas aprenda com as dificuldades que surgem e esteja seguro de que erros não se repitam.
- O senhor é muito misericordioso, Ainz-sama. Com sua licença, eu me retiro.
O Ser Supremo apenas sinalizou com a mão.
- 'Tenho certeza de que perdi alguma coisa aqui.' - pensou Ainz antes de voltar sua mente para a viagem que faria com o gêmeos.
...
Apesar de seu mestre ter relevado sua falha e minimizado sua culpa, Demiurge não se perdoava. Tudo teria que ser perfeito, não haveria uma terceira vez. Então, para isso, ele precisava:
•Manipular o estado mental da paladina. O relatório sobre Lakius falando sozinha havia dado algumas ideias.
•Organizar um local de culto a Jaldabaoth. Isso seria fácil, bastaria decorar um ponto estratégico com temática antiga com a ajuda de Fluder, o mago do Império.
•Por fim, implantar um mapa em algum lugar que chegasse às mãos de Remédios.
Após a descoberta de que fora a Teocracia a responsável pela morte de Shalltear, era óbvio que aquele reino cairia. Os sobreviventes buscariam refúgio no lugar mais provável, que seria no Reino Santo do Sul, e levariam consigo o que pudessem.
Para colocar o mapa entre o material estudado por um dos eruditos teocratas, fazer ele ser notado e depois darem a devida importância a ele a ponto de ser guardado junto aos tesouros em meros poucos dias, foi necessário precisão cirúrgica.
Logicamente, se os Teocratas não o levassem, haveria pelo menos mais doze formas diferentes do mapa chegar às mãos da paladina.
Agora, a humana havia descoberto que não era com sua irmã que esteve falando durante os últimos meses, como planejado.
- Você foi destruído.
- 'Meu corpo foi destruído, demônios não morrem, somos banidos ou selados, você sabe disso. Ó nobre Paladina!'
- Seu monstro, como você se atreve a macular a memória de minha irmã.
- 'Ora, me desculpe, eu achei que você precisava de alguém para conversar.'
- Criatura desprezível. PARE DE USAR A VOZ DELA!
- 'Assim está melhor?' - disse uma voz masculina de forma muito polida.
- Eu vou destruir este lugar, enterrar qualquer sinal de sua existência.
- 'Isso seria um desperdício tão grande, tantas lembranças, tantos feitos realizados, apenas para ser esquecido.'
Uma energia brilhou e então todas as luzes se ascenderam, revelando os mosaicos esculpidos nas paredes, muitos retratando a ascensão de criaturas que deveriam ter imenso poder.
- As Divindades do Mal, você era uma das Divindades do Mal!
- 'Sempre nos chamaram assim, no coletivo, raramente alguém se lembra que fomos seres separados, eu fui um rei entre eles.'
- Você era o Rei Demônio, mas nunca o nome Jaldabaoth foi dito em nenhum livro sagrado.
- 'Minha querida, vou te contar um segredo, nunca conte o seu verdadeiro nome para um demônio, assim como nós nunca contamos os nossos. Sabe, nomes têm poder. Na época, eu fui o Rei Demônio e acabei com um buraco no peito. Em minha última encarnação, eu fui Jaldabaoth. Talvez na próxima vinda eu escolha algo menos chamativo. Tem alguma sugestão?'
- Maldito! Pare de falar como se fôssemos amigos.
- 'Mas eu achei que éramos! Que tristeza, que ingratidão' - disse a voz em tom desdenhoso - 'olha que salvei sua vida algumas vezes minha querida, e se não fosse por mim te guiando, você estaria congelando por meses nessas montanhas.'
- Você planejou me atrair aqui, esteve me manipulando este tempo todo. O que você quer, demônio!
- 'Quero a sua ajuda, Remédios Custódio.'
- Ajuda? Eu farei de tudo para destruir o que resta de você, esse mapa, essa espada, esse templo...
- 'Preciso que mate o Rei Feiticeiro.'
Remédios engasgou ao ouvir a última frase.
- 'Hummm! Pelo visto, agora tenho sua atenção.'
- O bruxo morto-vivo, vocês são realmente inimigos!
- 'Nunca havíamos nos encontrado antes. Ele é um ser mais antigo do que eu e permaneceu dormindo por eras.'
- 'Mesmo que isso seja verdade, não eximi a culpa do Rei Feiticeiro em se aproveitar da desgraça no Reino Santo e usar isso ao seu favor' - pensava Remédios encaixando essa nova informação em suas teorias.
- Mas ele veio prontamente para lutar contra você... te destruir.
- 'Acho que ele ficou ressentido quando roubei as suas empregadas e as tornei minhas.'
- Você roubou as empregadas, VOCÊ ROUBOU AS EMPREGADAS DEMÔNIOS! VOCÊ QUE ACORDOU O MALDITO BRUXO MORTO-VIVO!
- 'Talvez sim, talvez não, talvez apenas estava na hora dele terminar a sua soneca. Nunca saberemos. Mas agora eu gostaria que você me fizesse um favorzinho.'
Remédios agora acreditava piamente de que era culpa de Jaldabaoth o surgimento do bruxo morto-vivo, mais uma pedra a ser acrescentada na conta que o demônio iria pagar.
- Não farei nenhum pacto, demônio.
- 'Só quero que mate o Rei Feiticeiro, Ainz Ooal Gown.'
- Por que eu faria isso?
- 'O inimigo do meu inimigo é meu amigo.'
Remédios sabia que demônios eram arrogantes e seus egos feridos os deixavam bastante vulneráveis.
- Você quer que eu termine seu trabalho mal feito.
- 'Eu o subestimei. Após desgastá-lo por meses, achei que o tinha matado. Em vez de me recuperar por completo de nossa primeira luta, gastei meu poder destruindo este reino, enquanto ele se escondia nas terras dos demi-humanos'.
- Você nem mesmo pôde vencer os Treze Heróis. - disse ela olhando para o esqueleto demi-humano.
- 'Os humanos? Eles não eram apenas treze, mas o meu erro na época foi ter dado muito do meu poder para aquela espada. Dividir minha força com a arma não foi a melhor estratégia, pelo menos até agora. Eu quero que pegue a espada, use ela para destruir a serva do Rei Feiticeiro e dominar este reino. Logo ele virá até você e com essa arma, seu fim estará garantido.'
A paladina tinha suas dúvidas, mas a arma emanava poder. Quando se aproximou e pegou o punho da espada, foi como pegar o peso do mundo. Ao tentar puxar a lâmina, esta não se mexeu.
- Achei que quisesse que eu usasse essa coisa?!
- 'Humm! Talvez seja muito pesada, talvez você precise de mais uma ajudinha. Sabe, a minha máscara também carrega poder, ela fortalecia as Empregadas Demônio.'
- E as controlava. Você quer usá-la para me possuir, como fizeram aqueles loucos ao tentarem te invocar.
- 'Talvez eles tivessem sucesso com um corpo forte, mas não estou pronto, ainda não. Talvez em um século ou dois, mas você não está com medo, está? A cavaleira das rosas luta diariamente com o demônio na espada dela. Por acaso ela é mais forte que você? Talvez eu deva procurá-la?!'
O demônio a estava provocando. Era lógico que ela era mais forte do que Lakius. A menina não era nem metade dela.
Remédios reuniu toda sua convicção e pegou a máscara, mas antes de colocá-la, deu uma olhada no rosto demi-humano. O esqueleto parecia sorrir para ela. Quando colocou a máscara azul e dourada, sentiu a eletricidade percorrer seu corpo. Uma rajada de vento apagou a tocha, as luzes mágicas se extinguiram e tudo escureceu. Mas então, sua visão ficou turva e depois tudo pareceu claro.
- Visão noturna.
- 'Entre outras coisas. Vamos tentar novamente, juntos. Agora pegue a minha Bloody Sword.'
Remédios Custódio, a Paladina Caída, não sentia nenhum sinal de possessão.
- 'Talvez o demônio esteja realmente muito fraco.' - pensou ela.
Então, aproximou-se da espada e a pegou pelo cabo, puxando-a da pedra com apenas uma mão. A lâmina, que parecia ser feita de osso, era maior do que a humana, e um grande olho se abriu na lateral, como se fosse uma coisa viva, um monstro cujo poder maldito emanava e pingava sangue negro.
A lâmina encolheu quando foi colocada em sua bainha. Ao fazer isso, Remédios não disse nada, apenas foi em direção à saída.
- 'Você não está esquecendo algo?'
Remédios parou e se virou para o altar. Olhou com convicção para a jarra que continha a cabeça de Kelard Custódio.
- Minha irmã está morta - disse ela, indo embora.
...
Nota do autor
Olá, sobre todas essas informações que Demiurge falou, ele conseguiu tudo com Fluder, O mago tem mais de duzentos anos, viveu na época das Divindades do Mal e provavelmente em todos os seus anos de vida estudou muito sobre eles.
Apesar de Demiurge manipular essas informações para ligar a existência de Jaldabaoth ao Rei Demônio, ele não pode distorcer muito pois ainda tem sobreviventes daquela época, Fluder, Rigrit e o Platinun Dragon Lord.
