Atravesso ruas e mais ruas, vendo pessoas rindo e outras zangadas demais para apreciar o dia.

Até mesmo tinha um parquinho, contendo crianças ali perto, tendo famílias sentadas em banquinhos de pedra ou madeira, seja longe ou perto do parquinho.

Mas quando entrei em uma rua deserta, a rua do casal Granger, uma voz familiar me parou.

_ Você tem um cheiro estranho de tempo, viajou muito nele? - Olhei para trás e sorri para a mulher que continha todos os seus dentes em sua boca.

Agora que percebi, papai cheirava a alma, mas e a titia?

_ Como consegue sentir o cheiro de tempo no meu corpo? - Aproximei-me da mulher.

_ Tenho um dom que me faz sentir o cheiro de pessoas que viajam no tempo, seja o corpo ou alma, e você é uma delas.

_ Acho que você não tem só esse dom. - Concordou.

_ Posso fazer profecias, mas acho que você já sabe disso. - Sorri.

_ E a senhora seria quem?

_ Batilda, Batilda Bagshot. - Estendeu sua mão e apertei. _ Você me lembra alguém. - Sim, você sempre me dizia isso.

_ Quem? - Perguntei me fazendo de sonsa.

_ Você é exatamente igual a ele e acho que fiz bem em seguir a minha profecia.

_ E como era a profecia? - Retirei minha mão da sua.

_ Que uma criança de cabelos incrivelmente negros e de olhos verdes, iria começar a destruição que ela idealizou. - Sorri.

_ E você veio me parar? - Mostrou o banquinho de madeira e nos sentamos.

_ Não, por que faria isso? Você deve ter um motivo para fazer isso, não é? - Você sempre acerta, titia.

_ Sim, você tem razão, e é um motivo egoísta, mas é um motivo. - Observei as casas sem detalhá-las na minha cabeça.

_ Você tem cheiro de tempo, e não é um cheiro desagradável. - Menos uma coisa boa hoje.

_ Cheiro de tempo é desagradável? - Tem muitas coisas que existem no meu mundo que não sabia nem da metade.

_ Sim, às vezes sinto cheiro de esgoto, mas o seu... - Sorriu. _ É um cheiro floral e me faz querer seguir as suas ordens. Mas como posso seguir as ordens de uma criança? - Fez uma pergunta retórica.

_ Não quero que você me siga, apenas seja assim. - Lembrei-me das semanas que passei com ela. _ E não confie tanto na luz, você vai se arrepender.

_ Está dizendo para que eu siga o meu sobrinho?

_ Neto. - Gostava dela. _ Sou a filha dele, titia. - Acenou.

_ Eu sei, minha visão me disse e ela me disse que você já me conhecia. - Pensei que as profecias dela fosse como qualquer outra, mas vejo que não.

_ Isso é bom, poupa tempo. - Poderia fazer aquela pergunta. _ Se você me conhecesse em outra realidade e soubesse que sou a filha do seu sobrinho...

_ Neto.

_ Você me esconderia isso por qual motivo? - Ficou pensativa.

_ Você não estaria pronta para isso, mas sei que você descobriria por conta própria, entende? - Infelizmente entendia, era uma pessoa fechada que não via outras linhas do meu destino e apenas ficava irritada para escapar de algo já feito.

Não que eu não continue assim, apenas que posso reclamar, mas não escaparei.

_ Hoje entendo completamente, obrigada. - mexi no meu anel e suspirei.

_ Mesmo não sabendo o motivo de me agradecer, apenas direi: de nada.

_ Apareça mais vezes, gosto de conversar com a senhora. - Levantou-se e disse:

_ Foi bom conhecer você, Leesa. - Sorri e não perguntei como ela sabia o meu nome.

_ Fico feliz de revê-la, titia. - Levantei-me e dei tchau para ela. _ Se você for encontrá-lo, diga que gostei de tê-lo como pai. - Gritei e continuei andando.

_ Até. - Escuto o barulho de aparatação.

Continuo andando e vejo que a rua era bem pacífica, mas essa calmaria acabaria em menos de três anos e todos os países já devem estar se preparando.

Mas também estou me preparando há bastante tempo, apenas que tudo tem um momento certo para acontecer.

Parei de pensar nisso e observo os números, tentando achar o número que estava na pasta da família Granger e quando achei, tinha até mesmo carro da época na garagem.

O que me fez parar para analisar aquele carro, e nossa, esse carro parecia muito melhor do que aquele em 1926. Talvez essa época não fosse tão ruim assim.

Vou até a casa que tinha uma arquitetura vitoriana e toquei a campainha, esperando até alguém me atender.

Mas você convidaria o demônio em forma de anjo para entrar em sua casa? Ainda está em dúvida? Então se esse demônio matasse sua filha por pura necessidade, o que faria?

Espero que continue dizendo não.

A porta abriu e uma mulher apareceu, e a primeira coisa que reparei foram em seus olhos, poderiam ser castanhos, mas era um castanho tão bonito.

Entretanto, a mulher ficou estática e deve estar pensando em coisas estranhas, já que devo me parecer com a sua filha, o que era obvio.

_ Bom dia, desculpe atrapalhar. - Sorri contida e a mulher continuou me observando.

_ Querida, você está vendendo algum doce? - Sorriu e seu sorriso parecia amável, apenas parecia.

_ Não, acabei me perdendo da minha mãe e a mamãe sempre me disse que deveria procurar uma pessoa para poder ligar para casa. - Amassei meu vestido entre os dedos e comecei a chorar.

_ Sua mãe está certa, mas você poderia ter ficado no mesmo lugar que você se perdeu dela, ela poderia encontrá-la assim. - Olhou para os lados.

_ Tinha pessoas estranhas me olhando e senti um pouco de medo. - Ajoelhou-se no chão e segurou minhas mãos.

_ Não se preocupe, querida. Vamos ligar para a sua mãe e ela estará aqui para buscá-la, tudo bem? - Secou minhas lágrimas.

_ Sim. - Gaguejei, tentando conter as lágrimas.

Levantou-se e me conduziu para dentro e a casa era aconchegante, nada tão luxuoso quanto a casa da mamãe, mas era aconchegante e arejado, acho que tinha até mesmo um jardim.

Fomos até a cozinha e vi um homem moreno sentado na cadeira, lendo o jornal do dia.

_ Pensei que a Leesa estivesse no andar de cima. - Ficou me observando.

_ Ela parece muito com ela, não é? - Sorriu. _ Mas ela não é a nossa pequena.

_ Bom-dia, senhor. - Fui educada.

_ Até a voz se parece, será que... - Não terminou de falar, mas entendi.

Estava pensando que a "Leesa" tinha uma irmã gêmea, e bom, poderia ser, mas não é.

_ Querida, você quer comer alguma coisa antes de ligar para sua mãe?

_ Não, muito obrigada. - Sorri tímida. _ Posso ligar para a mamãe agora?

_ Claro. - Me levou até a bancada que tinha o telefone e ele era tão estranho.

Tinha uma manivela e o formato era de castiçal, era muito estranho. Será que esse você tinha que pedir ao telefonista para completar a chamada?

_ Sabe como usar? - Perguntou, enquanto colocava uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

O seu cabelo tinha várias ondinhas, talvez tenha ido ao cabeleireiro e pedido para passar a tesoura quente para fazer essas ondas.

_ Não, poderia me ensinar? - Fiquei nervosa.

_ Claro. - Sorriu e começou a me explicar como funcionava o telefone.

Em vez de prestar atenção nisso, prestei atenção na minha magia, que já estava totalmente preparada para me ajudar.

Mas se fosse fazer outros tipos de feitiço, não conseguiria. Ela não estava 100% pronta para me ajudar em algo além de seis feitiços, nem mesmo a magia das minhas veias.

Parece que realmente virei uma criança com falta de controle da minha magia.

_ Entendeu?

_ Claro, obrigada. - Sorri e apontei meu dedo indicador para ela. _ Obliviate. - Ficou com os olhos vidrados e continuou esquecendo de sua filha.

_ Querida? - Olhei para o homem que vinha até nós.

_ Obliviate. - Ficou exatamente como a mulher, estático. _ Voltarei, então vocês fiquem aqui e não falem nada.

Saio da cozinha e caminho olhando para as fotos que deveriam ter três pessoas, mas agora só tinham duas, até o momento.

Subo a escadaria e vou abrindo as portas, tinha um banheiro e duas suítes, um quarto principal e por fim, o quarto da "Leesa".

Abro a porta e a criança estava brincando com bonecas, uma boneca de porcelana com olhos vividos em azul.

_ Quem é você? - Largou a boneca e sua voz era idêntica à minha.

Ela realmente se parecia muito comigo, e papai, você fez um ótimo trabalho.

_ Ninguém importante. - Entrei no quarto infantil e fui até ela.

_ Como entrou aqui? - Levantou-se e era alguns centímetros maior que eu. _ Onde estão os meus pais? - Olhou para a porta.

_ Na cozinha. - Uniu as mãos.

_ Mam... - Ela estava prestes a sair do quarto, porém me aproximei, e com uma rápida ação, cobri sua boca com a minha mão, impedindo qualquer som de escapar.

Começou a se debater, mas não era tão forte ao ponto de me fazer soltar.

_ Não, não faça assim. - Sussurrei no seu ouvido. _ Você fez sua missão perfeitamente, mas agora... - Alisei sua bochecha e a menina começou a chorar. _ Agora está na hora da verdadeira Leesa tomar o seu lugar.

Balançou a cabeça negando, mas seus gritos abafados e lamentáveis me fizeram sorrir.

_ Tinha a opção de tirar todas as suas memórias, a deixando ser uma órfã nessas ruas londrinas. - Suspirei. _ Até repensei em colocá-la num orfanato ou em uma família que me ajudaria a vigiá-la.

Mas em todas tinham a chance de ela escapar e de ter suas memórias novamente com um detalhe ou gatilho.

_ Então, pensei em tirar sua magia. - Continuou se debatendo, mordendo minha mão e a lambuzando com sua saliva. _ E mesmo assim, você poderia achar um jeito de acabar com tudo que planejei.

_ N... - Bufei.

_ Me desculpe, mas o único modo de você não abrir a boca, é morrendo e não tenho a mínima empatia por alguém que conheci agora, então, seja uma boa garota e morra.

Antes de proferir o feitiço, me recordo que deveria ter as memórias dessa garota, o que me faria atrasar para descer.

_ Antes de te matar, vamos ver as suas memórias, que tal? - Entrei em sua cabeça desprotegida e vejo tudo que poderia ver, tudo que lembrava.

Sua cor favorita era roxa, mas já tinha perdido a sua avó aos seis anos e sua mãe sempre chorava quando colocava para dormir.

O motivo? Ela queria engravidar e não estava conseguindo, que pena, não?

E claro, o pai que era amoroso sempre tentava consolar a esposa. Mas a única coisa que gostei de saber foi que Dumbledore ainda não veio.

E depois dessa informação, era tudo o que gostava e não gostava. Ela não gostava da vizinha do lado, mas gostava quando a vizinha da frente entregava doces.

Sorri e alisei o pequeno e anguloso rosto, dizendo em um sussurro.

_ Me desculpe e bons sonhos. - Coloquei o dedo em sua cabeça e digo aquele feitiço que me dava ânsia de vômito. _ Avada Kedavra.

A menina ficou flácida em questão de segundos, me fazendo suspirar e não pensar na coisa que fiz.

Apenas a coloquei no chão, secando seus olhos e arrumando seu vestido de bolinhas.

_ Se não fosse preciso, nunca teria feito isso com você. - Pelo menos dei uma morte indolor e rápida.

Suspirei e rasguei meus dedos com os dentes, fazendo que o meu sangue pingasse na garota.

_ Queime tudo e não deixe sobrar nem o pó. - Continuo fazendo o meu sangue cair na garota, até que não foi mais necessário.

O corpo sumiu e nem mesmo deixou uma marca no carpete.

Meu sangue, gosto tanto de você.

Pelo menos o meu sangue não precisava de magia para ser usado, isso é bom.

Bom, meu sangue contém magia, mas para ser usado para esses fins, não precisava, mas que confusão.

Saio do quarto e desço a escadaria, indo até os dois adultos que continuavam parados. Os sentei nas cadeiras e começo a refazer as suas memórias, vendo que algumas fotos que estavam na geladeira, começaram a ter três pessoas novamente.

Mas dessa vez comigo.

Refaço as memórias da Lisandra e logo depois a do Bastian, eles piscaram quando terminei e tudo estava pronto.

A primeira coisa que deveria ter feito há muito tempo, foi concluída. Finalmente!

_ Querida, você está um pouco pálida, será que pegou um resfriado de verão? - Levantou-se da cadeira e começou a medir a minha temperatura com a mão. _ Que coisa, você não está quente, mas está tão pálida. - Sou pálida por natureza.

_ Está tudo bem, mamãe. - Peguei sua mão e me deu repulsa. _ Mas estou com fome.

_ Você sempre está com fome. - O homem respondeu e pegou seu jornal novamente.

_ Papai, você falando assim, até parece que só fico comendo. - Fiquei emburrada e me sentei na cadeira. _ O que tem nesse jornal? - Queria lavar a minha boca com cloro.

Acho que vou vomitar, mas fui eu que escolhi a família e tenho que arcar com as consequências.

_ A guerra civil espanhola está agitada e isso me preocupa um pouco. - Comentou.

_ Eles poderão chamá-lo? Ou isso poderá nos atingir de alguma forma? - Lisandra perguntou, colocando o café da manhã na mesa.

_ Não e não, mas é meio estranho, não sei como explicar, acho que devo ver com o meu superior se podemos mudar para a vila militar.

_ Tem certeza, querido? - Isso era novo, não sabia que ele era militar.

_ Tenho, temos que nos proteger e vou subir de cargo daqui a algumas semanas, está tudo bem pedir isso.

_ Se você está dizendo, mas não se preocupe tanto. O rei e nem o primeiro-ministro não iriam se meter em uma guerra que não fosse nossa e não podemos esquecer que eles são inteligentes. - Claro, só que um deles vai abdicar o trono em dezembro devido ao amor.

_ Qual o cargo que o papai terá dessa vez? - Tentei parecer contente e animada.

_ Tenente-general. - Nossa, ele tem um posto excelente no exército.

Não é maior que o posto de general, mas é superior que do major-general.