Depois de seus afazeres feitos, Varang retornou a sua cabana, encontrando um cenário que aqueceu seu coração. Spider e Miles conversavam sobre a tribo dela, como as coisas funcionavam ali, o menino parecia curioso e atento à voz dele, como ela mesma tinha sido com seu pai um dia. Era um bom sinal, ele estava se sentindo em casa, ou ao menos, querendo se aproximar do pai.
-Eu espero não estar interrompendo a conversa - ela disse, depois se abaixou, tocando os ombros de Miles como sempre fazia, roubando um beijo rápido dele.
-Na verdade, meu amor, por que não se junta a nós? - ele a puxou por uma das mãos com cuidado, a fazendo se sentar ao lado dele - ao menos esperamos você para comer.
-Muito gentil e sábio esperar por sua líder - ela sorriu de lado, olhando para o marido e depois se concentrando em Spider - vi que estavam conversando sobre o nosso povo.
-O Spider tem muito interesse em aprender e ele é um garoto esperto - Miles comentou com orgulho - por mais que ele possa ser um tanto tolo de vez em quando.
-Ei, achei que a gente tava se entendendo! - o menino ergueu as mãos em defesa.
O gesto fez Varang notar o curativo em sua mão.
-O que aconteceu com sua mão, meu menino? - ela perguntou com genuína preocupação.
-Era disso que o coronel tava falando, eu me machuquei mexendo em um dos arcos de vocês - ele contou, um tanto envergonhado.
-Quer dizer que não sabe atirar? - Varang ficou intrigada com a informação.
-Eu sei que a minha aparência de nativo pode enganar - Spider deu de ombros, usando o bom humor - mas eu nunca tive muito essa... chance de aprender, muito bem como os outros sabem.
-Nós podemos mudar isso - Quaritch declarou com animação.
-Você sabe lutar como um na'vi agora? - o menino cruzou os braços, incrédulo.
-A minha aparência de na'vi não engana sobre eu ter as habilidades de um - ele usou a frase do filho contra ele.
Todo o cenário provocou riso em Varang, ela se conteve para não rir alto e até mesmo o bebê se mexeu diante da reação dela. Aqueles dois podiam ter aparência diferente, mas eram parecidos demais em personalidade, o que os fazia deixar claro que eram pai e filho.
-Para aprender algo de nós, significa que terá que ficar conosco - Varang explicou ao menino mais uma vez.
-Eu... - Spider deixou o tom debochado para um mais cauteloso - eu pensei no que o coronel me ofereceu, eu vou ficar com vocês.
Sorrindo abertamente, satisfeita com a resposta, a mulher se levantou e foi até ele, repousando as mãos sobre os ombros de Spider solenemente.
-Seja bem vindo em nosso meio - ela desejou de todo coração.
A pose de Varang foi interrompida por outro chute de seu bebê. Ela arfou um pouco, sentindo certo incômodo.
-Você está bem, meu amor? - Quaritch se aproximou dela, checando seu estado.
-Eu estou, foi apenas o bebê - ela explicou - está feliz em ter o irmão com ela.
-Todos nós estamos - Miles se voltou para ele outra vez, orgulhoso - é bom ter você conosco, garoto.
-Eu tô... bem, de estar aqui - ele improvisou uma resposta para toda aquela comoção.
Uma parte dele lá no fundo queria admitir que estava feliz, mas outra parte cobriu a primeira com medo, cautela, defesa. Ele ainda estava em território desconhecido e ter pais era uma coisa que ele nunca tinha tido antes.
-Talvez seja prudente eu descansar - Varang anunciou - logo nossa filha irá nascer, faltam poucos dias agora.
-Quer ajuda pra se levantar? - Miles ofereceu.
-Ah sim, eu consegui me levantar agora há pouco, mas parece que ela está puxando todo peso pra baixo - a mulher pôs uma mão nas costas, atestando seu desconforto.
Seu marido se pôs atrás dela, deixando que apoiasse suas costas em seus braços. Ele a pegou no colo de uma vez, com algum esforço. Se levantou e a depositou em sua esteira.
-Obrigada, meu amado - ela agradeceu, se ajeitando e fechando os olhos.
-É meu prazer te servir - ele beijou a testa dela - descanse.
Varang apenas assentiu em silêncio. Miles voltou a fazer companhia a Spider, que agora estava atipicamente quieto.
-Que foi, filho? - ele o chamou, chamando atenção do garoto.
Ser chamado assim pelo seu pai ainda o causava estranheza, mas esperança ao seu coração.
-É meio esquisito ver você todo fofinho desse jeito - ele deu de ombros, voltando a olhar para o pai.
-Eu sei, você só me conheceu como o coronel durão - Miles suspirou - e assassino...
-Pois é - Spider concordou, com lamento.
-Mas eu te digo a verdade quando digo que me arrependi de tudo o que eu fiz - o pai explicou com paciência - toda essa fofura é sinal que eu mudei, por essa mulher.
O humano assentiu, pensativo, antes de continuar a falar.
-Ela também é... diferente do que eu esperava - confessou ele.
-Ela é uma verdadeira guerreira feroz, mas ama o seu povo, sua família, de forma ainda mais intensa - o recombinante assegurou.
-E eu sou parte da família? - o menino precisava ouvir diretamente dele.
-Por nós, você já é, mas quanto ao resto, é escolha sua - Miles deixou claro.
-Certo - Spider assentiu, compreendendo
-Vem, vamos dar uma volta por aí - o mais velho se levantou, fazendo com o mais novo o seguisse.
Spider percebeu que era melhor se enquadrar o quanto antes, já que ficaria ali.
-Onde estamos indo? - ele perguntou, depois de alguns minutos de caminhada - ainda falta muito?
-Por que? Está cansado? - o pai questionou - achei que tivesse energia pra uma longa caminhada.
-Eu tenho - Spider respondeu com toda certeza, chegando a se esforçar para ultrapassar o pai, ignorando o fato das pernas dele serem três vezes maiores.
-Esse é o espírito, garoto - Miles o incentivou - aproveite a vista e guarde esse caminho.
O garoto o respondeu com um mero "ts" e balançar de cabeça. Continuando a trilha, ele seguiu o conselho, apreciando a vista. Não era muito convidativo, toda a fumaça no horizonte, mas com certeza, era diferente de tudo que ele tinha visto em Pandora até então.
Seguindo seu espírito livre, Spider resolveu abraçar a aventura.
