Como as coisas podem mudar drasticamente numa fração de segundos, vivemos em busca de ter o controle sobre nossa vida, mas quase nunca podemos ter, a todo momento acontecem fatos inusitados que mudam nossa rotina, dia-a-dia e muitas vezes muda o rumo da nossa vida. E foi uma dessas mudanças que mudou totalmente o rumo da vida de Clara Fernandes.
Ainda tentando se recuperar do choque ao ver as chamadas e a última mensagem de Flávia, Clara ligou ainda tremendo para a amiga, seu coração ainda não recuperou a batida regular ao ler a última mensagem de Flávia informando que Marina estava no hospital. O desespero tomou conta de Clara, todas as incertezas que ela sentia, todos os medos se transformaram em pavor dentro do seu coração, ela sabia que aconteceu alguma coisa grave, ela pressentia, lembrou-se do pesadelo que estava tendo a momentos atrás, isso lhe deixou mais apreensiva ainda. Clara liga para Flávia e o telefone toca várias vezes sem resposta. Tenta logo em seguida o telefone de Mariana que chama, chama, até cair na caixa postal, sentiu um arrepio lhe correr a espinha, seu corpo inteiro se arrepiou ao ouvir aquela voz, a mesma que a agora a pouco tinha ouvido sussurrar em seu ouvido, era a voz da caixa postal onde Marina dizia…
-Hey! Não posso atender no momento deixa um recado, se valer um click eu retorno, sentiu o tom divertido naquela gravação, mas não pode deixar de se preocupar ainda mais pela falta de contato. Desesperada por informações, Clara tenta outros números como o de Vanessa e o de Gi, já ia tentar mais uma vez quando seu telefone toca sua respiração falha ao ler o nome na tela, Marina.
— Marina! Oh! meu Deus o que aconteceu? Meu telefone estava silencioso, Flávia me ligou várias vezes e mandou várias mensagens, eu tô desesperada aqui por informações, já liguei pra todo mundo, várias vezes e ninguém me responde, pelo amor de Deus o que aconteceu Marina? Você está bem? Desabou a falar, as palavras saiam tão frenéticas não dando tempo de resposta.
— Desculpa Clara, estou te ligando do telefone da Marina o meu acabou a bateria, responde Flávia do outro lado da linha. Olha, não tem jeito fácil de falar isso sem te assustar, Marina sofreu um acidente, ela tá muito mal, está em cirurgia a mais de 1 hora. Estamos no hospital de Santa Teresa.
Flávia falou tudo de uma vez antes da sua voz embargar e soltar um soluço de choro.
Clara deixou o telefone cair de sua mão que tremia, o ar lhe faltava nos pulmões, ficou pálida, seu coração acelerou tanto que apertou seu peito, ficou tonta por um momento precisou sentar para não cair, as lágrimas rolavam incessante pelos seus olhos, ouviu a voz de Flávia ao longe ainda em linha, precisou de uns instantes para voltar a si e recolher o telefone do chão. Sua voz saiu baixa e embargada pelo choro,
— T.. to… tô indo ai agora.
— Te aguardo, foi tudo que Flávia conseguiu dizer. Clara colocou a primeira roupa que pegou no guarda-roupas, Cadu dormia tranquilo na cama. Clara passou pelo quarto do pequeno Ivan, conferindo se ele dormia, pegou as chaves do seu Jipe, o celular e correu para Santa Teresa.
Clara não tinha ideia de como chegou ao hospital, mas com certeza uma hora as multas desse dia chegariam, dirigia tão desesperadamente que furou alguns sinais e ultrapassou o limite de velocidade. Ao chegar no hospital vejo Vanessa e Flávia nas cadeiras da sala de espera, Vanessa tinha os olhos inchados e vermelhos pelo choro intenso, Flávia correu ao meu encontro assim que me viu me abraçou forte, eu já não pude conter as lágrimas que inundavam a minha alma. Sentei com Flávia tentando recuperar a minha voz, precisava saber qual era o real estado de Marina. Como se pudesse prever as minhas próximas palavras Flávia começou a explicar.
— Marina passou o dia bebendo Clara, na verdade a semana inteira, mas ontem foi bem pior ela bebeu demais. Ela estava lá em cima do estúdio, Vanessa estava no sofá lá embaixo bebendo também e conversando com a Marina quando ela desabou lá de cima. Vanessa gritou e eu vim correndo, Marina já estava no chão sangrando. Eu chamei socorro e tentei falar com você. A Marina não respondia nada pra gente, só ficava murmurando seu nome. O médico que prestou o primeiro atendimento falou que o estado dela é muito grave, ela teve traumatismo craniano, quebrou a perna, o braço e algumas costelas. Levaram ela às pressas para cirurgia.
Clara chorou por uma vida toda nessa noite, as horas se alongam nos ponteiros do relógio, viu os primeiros raios de sol surgirem pelo horizonte através da vidraça da sala de espera já quase vazia do hospital. Tirou o telefone do bolso e enviou uma mensagem para o marido.
Cadu, estou no hospital de Santa Teresa Marina sofreu um acidente, não sei que horas volto pra casa.
Não queria deixar Cadu preocupado ao acordar e não encontrar a esposa em casa. Ultimamente já estava fazendo todos ao seu redor sofrerem.
— Bom dia. Cumprimentou Dra Clarice.
Vocês são a família da Marina Meirelles?
— Vanessa levantou de um sobre salto perguntando sobre a cirurgia se já tinha acabado.
Flávia e eu estávamos logo atrás.
— A cirurgia correu bem, nós conseguimos estancar uma hemorragia interna e estabilizar os ossos da costelas. Precisamos da assinatura de um membro da família para transferirmos a paciente para o Hospital Central do Rio. O estado dela é grave, aqui não temos o suporte que ela precisa neste momento. Qual de vocês é parente mais próximo dela?
— Somos todas amigas dela Dra. O pai que é o parente mais próximo está num voo vindo de Nova York só vai chegar aqui à tarde. Diz Flávia que aparentemente estava mais calma do que Vanessa e eu.
— Eu vou providenciar a transferência enquanto ele não chega, nós ainda temos que estabilizar o quadro dela antes de podermos locomovê-la para o Hospital central. Enquanto isso ela estará no CTI e não posso permitir visitas devido a gravidade do quadro e por vocês não serem parentes dela. Eu aviso qualquer alteração no estado da paciente.
Ainda não consegui digerir o que a Doutora que não lembro o nome disse, o estado da Marina é grave, essa parte eu entendi muito bem e não paro de pensar sobre o quanto eu possa ter culpa pelo acidente dela. Afinal eu impus nosso afastamento radical. Mesmo sabendo que não poderíamos ver Marina, não arredamos o pé do hospital em busca de algum retorno dos médicos.
— Boa tarde, qual de vocês é Clara? Pergunta Dra. Clarice na sala de espera.
Levando os olhos e me manifesto com a minha voz fraca por tanto sofrimento.
— Sou eu.
— Eu vou te levar para ver a paciente, tivemos que diminuir a sedação para realizar uma série de exames para termos uma noção da real situação, ela está acordando da sedação e não para de chamar por você.
Ao entrar naquele quarto eu pude sentir meu coração apertar ainda mais no meu peito, Marina estava ali deitada sem expressão alguma em seu rosto pálido como se lhe faltasse sangue nas veias, pude ver manchas roxas em várias partes do seu corpo, onde o lençol branco não lhe cobria. Ao me aproximar mais pude ver que seu braço estava imobilizado, e ela tremia suavemente, toquei seu rosto de uma forma tão leve como se ela fosse um cristal muito frágil que pudesse se partir a qualquer momento, estava tão fria, como se pudesse sentir minha presença e meu toque sutil em sua face ela sussurrou tão baixo que eu não entendi o que ela murmurava. Mas ela continuou sussurrando, me aproximei mais inclinando-me para ouvir.
— Clara, Clara, Clara.
Não segurei mais a emoção e chorei ao ouvir sua voz tão fraca me chamando com tanto sofrimento.
— Marina eu estou aqui com você, você precisa ser forte para sair dessa o mais rápido possível, tô aqui com você e nunca, nunca vou te abandonar viu, eu te amo. você ouviu? Eu amo você!
Marina parou de sussurrar e esboçou um leve sorriso antes da expressão de dor que tomou seu rosto. Os aparelhos que emitiam sons alternados agora apitavam um som agudo contínuo, vejo o quarto se encher de médicos e os números nos monitores caírem de uma forma assustadora. Uma enfermeira tira Clara do caminho, as lágrimas embaçam a sua visão, O mais terrível pavor invade sua alma, sente que seu coração estava ali parando junto com o de Marina.
– Afasta, afasta, aumentar para 200…. Afasta. Adrenalina 1 ml… Afasta..
— Sem pulso.
— Vamos de novo afasta, aumentar carga 300, de novo afasta…
Clara via Marina morrer diante dos seus olhos, quanto mais os médicos tentavam mais longe parecia que seu coração estava de voltar, 5 minutos depois ela teve certeza que era o fim.
Clara estava totalmente em choque, paralisada, seus olhos vidrados no rosto de Marina totalmente sem expressão, seu coração acelerado como se pudesse trabalhar dobrado para suprir o de Marina, que estava ali sem sinais de que voltaria a bater. Finalmente, quando teve coragem de dizer que amava Marina, ela se foi.
Continua...
