Karla observou um pouco do jogo dos meninos, uma aventura fantástica em que cada um era um personagem diferente, tentando juntar forças atrás de uma relíquia, lutando contra inimigos que surgiam à frente.
-Aposto que o Natan vai achar primeiro que vocês - ela comentou com animação.
-Valeu pelo apoio, Karlinha, mas é um trabalho em equipe - Natan respondeu, apaziguador como sempre.
-Ah nem vem puxar o saco dele só porque ele é mais velho - Lucas fez questão de reclamar, com um pouco de ciúme do irmão.
-Ela é minha melhor amiga e eu nem reclamei - Spider deu de ombros, concentrado no jogo.
-Ah fica quieto, garoto! - Lucas lhe deu uma cotovelada amigável.
-Tá bom, eu não queria ser motivo de disputa entre vocês, até porque vocês não tem que ir atrás da tal relíquia? - a irmã deles questionou.
-Verdade, eu vou é me concentrar aqui - Lucas voltou a olhar para o jogo.
Spider apenas olhou para a amiga e deu de ombros, como se dissesse em silêncio, "você conhece seus irmãos."
Ela apenas sorriu de volta e saiu do quarto. Conhecendo-a bem, Spider podia notar que ela não estava lidando nada bem com essa história de mudança.
-Eu vou lá dar uma olhada na Karla, quer dizer, ver como ela tá - ele se justificou sobre sua saída.
-Tá bom - Lucas concordou, mas Natan ficou um pouco desconfiado.
-Você viu isso? - disse o mais velho, pausando o jogo.
-O que? Só despausa aí e vamos jogar! - reclamou o mais novo.
-Tá na cara que o Spider gosta da nossa irmã - Natan constatou, um tanto indignado.
-Eu sei, gênio, é óbvio - Lucas chegou a revirar os olhos e mostrar a língua com um sonoro dã.
-E isso não te incomoda? - o mais velho continuou a insistir no assunto.
-Não, por que? Ela faz o que quiser da vida dela, e se for pra minha irmã namorar alguém, que seja com o meu amigo, que é gente boa, que é alguém que eu conheço - para Lucas, o assunto estava resolvido.
-Eu não gosto de pensar na Karla namorando, me parece esquisito demais - Natan confessou, chegando até a retorcer um pouco a cara com um certo nojo.
-Cara, ela é até mais velha que você, só relaxa sobre esse assunto - Lucas aconselhou, muito mais descontraído que o irmão.
-Só porque ela nasceu antes de mim e de outra mãe - explicou o mais velho - eu sei que ela não é nossa irmã biológica, mas eu não consigo deixar de querer cuidar dela, aliás, eu me sinto responsável por todo mundo.
-E eu não sei, mano? - Lucas suspirou - olha, a gente não precisa de três pais, uma mãe e um pai tá mais que suficiente, além disso, você também merece alguma diversão e ser um adolescente de verdade, que é o que você é.
-Para, não é porque eu não sou vida louca igual você que eu não aproveito a vida - Natan se defendeu.
-Quem você tá chamando de vida louca? - Lucas pausou o jogo e deu uma cotovelada no irmão, mas num tom de brincadeira.
-Você sabe que é o doidinho da família - Natan riu dessa vez - mas eu te amo mesmo assim.
-Olha como ele é fofo - Lucas elogiou, desistindo de qualquer briga - mas não sei se te perdoo.
-Tudo bem, por um lado, você tem razão - o mais velho resolveu ceder - eu sei que me preocupo demais, o que posso fazer, é quem eu sou.
-E ser o doidinho da família é quem eu sou - Lucas deu um sorriso orgulhoso para o irmão.
Ele apenas revirou os olhos e decidiu continuar o jogo, Natan fez o mesmo em seguida.
Karla e Spider acabaram se sentando em frente da casa, nos três degraus da entrada.
-Essa coisa de mudança é uma droga! - ela reclamou mais uma vez, suspirando, com uma mão no queixo.
-Eu sei, nem me fale - Spider concordou.
-Mas nem é você que tá se mudando - ela riu um pouco, surpresa com o comentário.
-É, mas vocês vão estar longe, você vai estar longe, isso por si só é bem ruim - ele confessou - e se você encontrar um amigo novo lá e esquecer de mim?
-É sério que você acha isso? - ela ficou surpresa - eu duvido encontrar alguém como você por lá, você é insubstituível.
-Ah para... - ele soou modesto, mas por dentro, estava contente com o elogio.
-Mas você me entende como ninguém - ela suspirou - eu duvido muito encontrar alguém que tenha perdido a mãe quando era criança na cidade nova.
-Isso não é uma coisa boa de se ter em comum com alguém - ele foi sincero - você não é minha amiga só por isso, né?
-Claro que não, seu bobo - ela sorriu - eu gosto de você pelo que você é, não pelo que aconteceu com você.
-Ah bom, é muito bom ouvir isso - Spider chegou a sentir que estava corando e torceu para que Karla não percebesse - eu prometo ir visitar vocês, nas férias, quem sabe.
-Acha que o seu pai deixaria? - Karla ponderou - aliás, eu não sei porque o seu pai e o meu pai não esquecem essa briga idiota que eles tiveram no exército, já faz tanto tempo.
-Pode até ser, mas seja lá o que foi o motivo, o meu pai é bem irritado sobre esse assunto - Spider comentou - mesmo assim, ele deixou eu vir aqui todo dia, pode ser que ele deixe eu ir passar as férias com você.
-Verdade, foi bem legal da parte dele, vou dizer pelo menos isso - ela sorriu.
-Como assim? O meu pai não é tão ruim assim - Spider ficou na defensiva.
-Ah não? Ele parece super sinistro, sem contar de umas coisas que o meu pai conta sobre ele quando trabalhavam juntos - Karla cruzou os braços - tipo como ele botava medo em todo mundo e usava os trocadilhos mais idiotas do mundo.
-É, eu concordo que ele é um tiozão, mas é porque ele é velho - Spider resolveu zoar o pai um pouco.
-Então esse é um defeito de quem é velho? - ela perguntou com sarcasmo.
-Pode ser - Spider riu e Karla se juntou a ele.
Podia parecer uma conversa boba, mas era justamente esse tipo de coisa que mostrava aos dois o quanto eram amigos, e o quanto sentiriam falta um do outro.
