No final da tarde, quando o sol começou a se pôr praticamente, o caminhão de mudança e o carro dos Suli finalmente cruzavam a placa na entrada da cidade que dizia "Bem-vindo a Meticaína". Quando Tiago estacionou o carro, o primeiro a acordar foi Natan, talvez por seu senso de responsabilidade, ou talvez só por notar o carro parado.
-Chegamos, gente - ele murmurou entre bocejos, mas pensando melhor, não acordou os irmãos, tinha sido um dia bem cansativo.
-Deixa eles descansarem, filho - Tiago aconselhou - eu chamo o Lucas e a Karla para ajudarem quando acordarem.
-Tá bom - ele concordou com o pai, dando outro bocejo.
A equipe de mudança já estava a postos, colocando as coisas para fora, com a ajuda ocasional de Tiago e Natália, indicando onde cada móvel e caixa ficaria. Natan carregou algumas, até que Lucas e Karla acordaram justamente quando já tinha anoitecido.
-A gente já chegou? - ele disse em voz alta, depois de descer do carro.
-É o que parece, maninho - Karla comentou, um tanto curiosa sobre a casa nova.
Ela entrou no lugar, ainda caótico pela mudança, observando o tamanho e o espaço da casa. Ela foi até o quintal, chegando a abrir os braços e rodando, aprovando o pouco espaço ao ar livre que tinha na sua casa, ao menos era maior do que na sua casa antiga.
Lucas logo achou melhor ajudar no carregamento das caixas antes que levasse uma bronca. Ao menos, cochilar metade da viagem tinha ajudado a descansar e se sentir disposto para a tarefa.
Depois de tudo despachado, Tiago dispensou o motorista e sua equipe, que voltaram para a estrada.
-Bom, aqui estamos nós, na casa nova - Natália suspirou, com as mãos na cintura, em meio à família reunida.
-Mãe, a Tainara não tá aqui - Lucas apontou descontraidamente.
-Tainara! - Natália disse com espanto, indo buscar a filha dentro do carro, que ainda dormia.
Com pena de acordar a pobrezinha, a mãe apenas se esforçou para tirá-la do carro e a segurar em seu colo sem acordá-la.
-Como ela apagou desse jeito? - Karla balançou a cabeça, observando a cena.
-Ela é mais nova, dorme mais que vocês porque está em fase de crescimento - explicou Natália, depositando a menina no sofá.
-Isso é a enfermeira Natália falando ou a mamãe mimando a caçula? - Lucas comentou.
-Pode ser que seja um pouco dos dois - ela puxou a orelha dele de leve, brincando um pouco.
-Calma, mãezinha, é só uma brincadeira - ele deu de ombros.
-Eu sei, menino, eu sei - sua mãe devolveu, cruzando os braços.
-Bom, gente, eu aposto que tá todo mundo com fome, o que preferem McDonalds em casa ou no restaurante? - Tiago propôs, tentando manter a animação apesar do cansaço.
-Eu quero McDonalds - Tainara murmurou do sofá, sem se dar ao trabalho de abrir os olhos.
-Ah espertinha, tava acordada até agora - Natan riu da irmã.
-Bom, eu voto a comer em casa, vocês podem ir buscar alguma coisa pra mim e pra Tai, esperamos aqui - Natália escolheu.
-Combinado, vão comigo, crianças? - ele se voltou aos filhos acordados.
-Eu vou ficar, tô morta de sono - Karla decidiu.
-A gente vai, né, Natan? - Lucas convidou o irmão, e ele assentiu concordando.
Tiago e seus meninos então dirigiram até a lanchonete da cidade, com o intuito de passar pelo drive thru.
Era difícil não observar a cidade nova com certa curiosidade. Uma das primeiras diferenças gritantes entre Omaticaia e Meticaína era que a cidade nova não tinha tantos prédios ou movimento quanto seu antigo lar. Já que tinha começado a anoitecer, muita gente tinha aproveitado a noite para passear com a família ou como alguns jovens, sair com os amigos. Lucas e Natan viram alguns grupinhos da idade deles, segurando coolers e procurando um lugar para sentar em frente à calçada de casa, usando roupa de banho. Parecia meio descontraído demais, até mesmo para Lucas.
-E aí, o que tão achando até agora? - Tiago desfez o silêncio da viagem.
-Acho meio cedo pra dizer alguma coisa - Natan comentou.
-È muito diferente da nossa cidade - Lucas foi mais categórico.
-Diferente como? - o pai quis ouvir mais.
-Não tem ninguém andando de skate - ele explicou.
-Mas aí você tá procurando alguém como você, vai ser difícil achar alguém igualzinho a você - Tiago respondeu, sorrindo.
-Pai, você entendeu o que eu disse - Lucas suspirou - alguém meio da minha vibe, entendeu? E se eu não achar ninguém aqui assim?
-É, sem querer ser pessimista, mas essa é uma preocupação minha também - Natan foi solidário com o irmão.
-Relaxa, tem um nerd em todo lugar, você vai encontrar alguém assim também - Lucas balançou a mão despreocupadamente - tem biblioteca nesse lugar, não tem?
-Claro que deve ter, Lucas - Natan suspirou, um tanto impaciente agora.
Antes que eles se atracassem numa briga verbal, chegaram ao drive thru do McDonald's, fazendo seus pedidos, sem esquecer da mãe e das irmãs. O brinde do lanche de Tainara era justamente um pônei, esperavam que ela gostasse da surpresa, e estivesse acordada para comer.
Nisso, eles estavam corretos, logo a família estava reunida depois de chegarem em casa com o jantar.
-Valeu por cumprir a promessa, pai - Karla agradeceu.
-Eu sempre cumpro minhas promessas - Tiago sorriu.
-É, acho que é meio verdade - Lucas plantou a semente da discórdia.
-Como assim, meio verdade, rapaz? - Tiago quis tirar satisfação - sempre que eu posso, eu cumpro minhas promessas.
-E aquela vez que você chegou atrasado pra me buscar? Você prometeu que ia chegar na hora - o menino relembrou.
-Eu peguei um baita de um engarrafamento - o pai se justificou outra vez - eu pedi desculpas, Lucas, e te paguei um sorvete pra compensar.
-Foi um picolé de uva, que eu detesto - disse o menino - mas tá bom, o que vale é a intenção.
-Dá um tempo, mano, por favor - Natan pediu, já sentindo irritação.
-Tá legal, pode ser que eu tô chato porque tô com sono - Lucas deduziu.
-Vai dormir, então - Tainara sugeriu, e aqui os pais tiveram que conter o riso provocado pelo comentário.
-Nessa bagunça? Que jeito? Só se eu roubar o sofá de você - Lucas provocou.
-Gente, os colchões estão no jeito pra dormir - a mãe avisou, também impaciente e cansada - chega de show, Lucas, de verdade, já deu.
-Beleza, não tá mais aqui quem falou - ele terminou sua refeição e foi o primeiro a deitar, dormindo muito rápido.
A família também se ajeitou para a hora de dormir e só restou aos Suli descansar depois do dia de mudança.
