Quando um novo dia chegou a São Francisco, restou à tripulação da ponte da antiga Enterprise se dividir de acordo com o comando do seu líder e se dedicar à sua missão particular, dentro de um tempo que nenhum deles conhecia.

-Bom, eu vou com Spock até onde as baleias estão e achar um jeito de tirá-las de lá - James expôs o plano à equipe - Scotty e McCoy, procurem um jeito de criar um tanque para as baleias na nave, Sulu, vamos precisar de um jeito pra transportá-las até lá, Uhura e Chekov, precisamos de material para os consertos da nave, nos encontramos onde deixamos a nave.

-Por onde começamos, almirante? - a pergunta veio de Chekov, sentindo-se bem perdido naquele século distante.

-Se espalhem por aí, perguntem a alguém até encontrar uma resposta - ele improvisou - eu sei que é bem primitivo comparado ao que estamos acostumados, mas se lembrem, é outro século, vamos agir como eles, e relaxem, estão todos tensos.

Agir como os locais não era exatamente fácil, era difícil compreender os códigos sociais, como por exemplo, o simples fato de atravessar a rua e ser xingado por isso, ou pegar um transporte arcaico como um ônibus. Tentando manter a calma e o controle da situação, James deixou que a esposa entrasse antes dele no ônibus, se sentando ao seu lado logo em seguida.

Spock por sua vez, observou o curioso fenômeno de um cidadão perturbando a ordem ao esquecer que compartilhava o espaço com outras pessoas, ensurdecendo a todos com sua escolha de música alta e irritante. Era claro como todos estavam irritados com aquela situação, até a própria Spock, por mais vulcana e controlada que fosse. Ela resolveu que faria algo a respeito, aplicando o golpe vulcano contra o punk, o que ganhou o respeito de todos os passageiros que aplaudiram orgulhosos para ela, incluindo Jim.

-Essa época é de fato bárbara, almirante - ela comentou depois do acontecido.

-Jim, me chame de Jim - ele insistiu mais uma vez, mas recebeu em troca apenas o rosto impassivo dela - bom, Spock, eu acho que já que estamos em missão, seria bom você se adaptar a esses tempos também, pode começar por usar metáforas coloridas.

-Metáforas coloridas... - ela repetiu, se concentrando em entender o que ele queria dizer.

Não demorou muito para que chegassem a um local conhecido como Instituto de Cetáceos. Um lugar que exibia criaturas marinhas em cativeiro, porém cuidadas pelos cientistas. Havia algo estranho ou ao menos, um pouco familiar com os próprios postos científicos da Frota naquela prática, era um pensamento que tanto Spock como James compartilhavam no momento.

A atenção dos dois então se voltou para o grupo de pessoas que prestavam atenção ao discurso de uma moça especialista em baleias. Ela explicava mais sobre as criaturas enquanto todos podiam admirá-las, dentro de um enorme tanque.

-Gina... - Spock murmurou ao observar a guia do passeio, nome que seu marido ouviu e reconheceu rapidamente.

-Também acho que ela lembra a Gina - Jim reforçou a ideia, chegando a sorrir, contente porque conseguia perceber a memória dela voltando.

Spock o olhou de volta e numa fração de segundos esboçou um pequeno sorriso, que se desmanchou ainda mais rápido, era mais uma vitória para James. Eles então se voltaram para a especialista outra vez, descobrindo que seu nome era Gilian Taylor. Jim acabou se focando nos animais, eram certamente fascinantes e, por mais que ele tivesse vivido aventuras incontáveis, aquela estava sendo uma experiência única. Até se tornar mais peculiar ainda.

Para sua esposa vulcana, era muito claro que para entender melhor os animais era necessário criar um elo mental. Foi por isso que sem hesitação, ela pulou no tanque longe da vista de James e ali estava agora, nadando entre as baleias, ouvindo seus pensamentos por sua telepatia.

Seu marido preocupado apenas pôs uma mão na testa ao notar onde ela estava, tentando pensar no que poderia fazer a seguir. Ele procurou a entrada do tanque e encontrou Spock saindo de lá para seu alívio, mas em seu encalço, estava uma Gilian muito revoltada, procurando explicações.

-Quem são vocês e por que estão perturbando minhas baleias? - ela questionou com toda indignação.

-Elas não são suas baleias droga nenhuma - disse Spock calmamente, enquanto vestia o robe novamente.

-Spock, por favor! - Jim tentou mantê-la calma, mas se arrependendo de dizer seu nome em voz alta.

-Você tinha me dado o conselho de usar mais metáforas, é o que estou tentando pôr em prática - ela continuou calma, enquanto Gilian observava o casal, confusa.

-Se não me disserem quem são vocês eu juro que chamo a polícia - a cientista ameaçou.

-Perdoe-nos por isso, perdoe a minha esposa, ela está passando por tempos difíceis no momento - Jim tentou explicar - ela só queria ver os animais mais de perto.

Com um sorriso constrangido, ele empurrou Spock levemente pelos ombros, deixando o instituto.

-Olha, você foi longe demais - ele disse com paciência, mas um tanto severo.

-Precisava de um elo mental para conseguir informações - ela explicou casualmente.

-Eu entendo, mas ainda assim, foi um pouco demais, e outra coisa, ofendeu a moça usando a metáfora - ele contou - talvez seja melhor não usar mais esse tipo de linguagem.

-Como quiser, Almirante - Spock compreendeu.

Antes que ele pedisse mais uma vez que ela o chamasse de Jim, ele apenas suspirou, continuando a caminhar com ela, pensando nos próximos passos do plano.

Para a surpresa do casal, Gilian foi atrás deles, disposta a oferecer uma carona.

-Ei, Robin Hood e Maid Marian! - ela ironizou - não vão muito longe a pé, entrem, por favor.

Era a melhor opção no momento, então Jim e Spock concordaram.

-Vocês são de onde? São espiões disfarçados? - a cientista questionou - e por favor, não mintam, se isso tem a ver com a Gracie e o George, eu queria que eles fossem levados pra um lugar seguro, agora que terão que ser soltos ao mar, eles correm mais risco ainda.

-Bom, respondendo sua primeira pergunta, sou de Iowa - Jim disse, procurando acalmá-la.

-Temos uma fazenda lá - Spock achou melhor acrescentar.

-Então o que um casal de simples fazendeiros estão fazendo num instituto de cetáceos? - Gilian insistiu.

-Nos preocupamos com os animais, ainda mais quando Gracie está grávida - Spock declarou, o que fez com que sua anfitriã freasse a caminhonete com força.

-Ninguém sabe que a Gracie está grávida, sério, quem são vocês? - ela encarou o casal, da maneira mais séria que conseguia.

-Alguém está com fome? - Jim sugeriu, tentando desviar do assunto - adoraria comer, você também, não é, meu amor?

Spock estreitou as sobrancelhas ao ouvir o termo de carinho. Gilian, por sua vez, decidiu que seria mais vantajoso entrar no jogo deles.

-Gostam de comida italiana? Conheço um restaurante ótimo - ela sugeriu.

-Sim, não - disseram Kirk e Spock ao mesmo tempo, cada um uma palavra que contrariava o outro - não, sim.

-Você ama comida italiana, amor, lembra daquela vez que eu fiz pra você? Deve ter esquecido - Kirk continuou tagarelando, mas com um fundo de verdade - ela está com problemas de amnésia.

Gilian apenas balançou a cabeça, mas por suas amadas baleias, estava disposta a ir ao fim disso tudo.