O que aconteceu a seguir o surpreendeu. O homem começou a rir descontroladamente, com uma risada que mais parecia o ganido de um cachorro. Era um som estranho, quase histerico, que ecoava pelas paredes da sala e fazia Harry se encolher no sofá. A princípio, Harry pensou que o homem pudesse estar zombando dele, mas então percebeu que havia algo mais naquela risada - uma ponta de desespero, talvez até de loucura. O homem se inclinou para frente, os ombros tremendo com cada onda de riso, e Harry não pôde deixar de se perguntar o que poderia ter causado tal reação.
"Você é igual a ele," disse o homem, depois de controlar o riso. Sua voz era firme, mas havia um traço de surpresa que Harry não pôde ignorar. "Um pouco mais magro, mas não há dúvida." O olhar do homem era avaliador, como se estivesse comparando Harry a uma memória distante, a uma imagem que ele não via há anos. Harry sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Quem era 'ele' a quem o homem se referia? E o que significava ser comparado a essa pessoa? Essas perguntas giravam na mente de Harry enquanto ele tentava manter a compostura sob a observação intensa do homem misterioso.
"Você pode se acalmar agora, Harry. Tudo ficará bem," disse o homem com uma voz que tentava transmitir tranquilidade, mas Harry podia sentir uma leve tremulação nela, um sinal de que, talvez, as coisas não estivessem tão sob controle quanto o homem queria demonstrar. O sorriso que ele ofereceu era reconfortante, mas seus olhos não acompanhavam a mesma certeza. Harry observou o homem, tentando decifrar as intenções por trás de suas palavras. Havia uma promessa nelas, uma promessa de segurança que Harry queria acreditar, mas a dúvida ainda o assombrava. O que significava aquele "tudo ficará bem"? Era uma garantia de proteção ou apenas palavras vazias para acalmar o momento? Harry não tinha certeza, mas algo dentro dele queria se agarrar àquela esperança, por mais frágil que fosse.
"Quem é você?" Harry perguntou, sua voz trêmula com uma mistura de medo e curiosidade. "E o que você quer comigo?"
"Bem, é uma longa história," começou o homem, com um tom que sugeria que o que ele estava prestes a contar era tanto complexo quanto extraordinário. "Acho melhor começar me apresentando, Harry. Meu nome é Sirius Black, seu padrinho." A revelação caiu no silêncio da sala como uma pedra na água, provocando ondas de choque que se refletiam no rosto surpreso de Harry.
Sirius se aproximou, e havia uma seriedade em seus olhos que contrastava com a risada anterior. "Eu sei que deve ser difícil acreditar, dada a nossa... situação atual," ele disse, gesticulando ao redor da sala sombria. "Mas eu prometo que tudo o que vou contar é a verdade. E é uma verdade que você precisa saber."
Harry olhou para Sirius, tentando assimilar a informação. Padrinho? Ele sempre pensou que não tinha mais família além dos Dursleys, que certamente não contavam. "Mas por que eu nunca soube de você?" Harry perguntou, sua voz carregada de confusão e um toque de acusação.
Sirius suspirou, um som pesado que parecia carregar o peso do mundo. "Isso é parte da longa história, Harry. Há muitas coisas sobre sua família e seu passado que foram mantidas em segredo, por razões que em breve se tornarão claras. Por agora, saiba que estou aqui para ajudar você, para protegê-lo, e para abrir seus olhos."
A determinação em sua voz era palpável, e Harry sentiu um vislumbre de esperança. Talvez, finalmente, ele começasse a entender quem ele era e o que o futuro lhe reservava.
"Neste momento, só vou contar o essencial porque precisamos sair daqui rapidamente," Sirius disse, olhando ao redor com uma expressão de urgência. "As coisas estão se movendo mais rápido do que esperava, e não é seguro permanecer aqui por muito mais tempo."
"Espere, eu vou com você? Você vai me tirar daqui?" Harry perguntou apressadamente, levantando-se do sofá. A ideia de finalmente deixar a casa que se tornara sua prisão era ao mesmo tempo assustadora e emocionante.
"Para onde estamos indo?" ele continuou, sua voz cheia de ansiedade misturada com uma ponta de esperança.
Sirius se aproximou de Harry, colocando uma mão reconfortante em seu ombro. "Sim, você vem comigo. Vamos para um lugar seguro, onde podemos falar mais livremente e onde você estará fora do alcance de quem quer que nos tenha colocado nesta situação."
Harry estava transbordando de felicidade, uma sensação quente e efervescente borbulhando em seu peito. A perspectiva de deixar para trás a casa dos Dursley, que mais parecia uma prisão do que um lar, enchia-o de um entusiasmo incontido. No entanto, uma súbita onda de incerteza o atingiu, fazendo com que ele hesitasse. A rapidez com que tudo estava acontecendo era vertiginosa; apenas alguns momentos atrás, ele estava submerso na monotonia de cuidar das flores meticulosamente arranjadas dos Dursley. E agora, aqui estava ele, prestes a embarcar em uma jornada com um homem que afirmava ser seu padrinho, um homem que tinha surgido tão inesperadamente quanto um cometa rasgando o céu noturno, irrompendo em sua vida com a força de um vendaval.
"Espere, não posso simplesmente ir com você. Ainda tenho minhas dúvidas se você é de fato meu padrinho," disse Harry, a euforia anterior desaparecendo rapidamente, substituída por uma cautela repentina.
"Você tem toda a razão em hesitar," Sirius respondeu com um aceno compreensivo. "É natural que você questione minha identidade, e é por isso que não cheguei de mãos vazias." Com um sorriso que misturava mistério e tranquilidade, ele lentamente retirou um objeto esguio do bolso - parecia com um daqueles palitinhos que se usam para comer comidas orientais, mas que Harry suspeitava ser algo muito mais significativo.
"Harry, preciso que você dê toda a sua atenção a mim agora," Sirius começou, sua voz baixa e urgente, carregada de um peso que fez o ar parecer mais denso. "As palavras que estou prestes a lhe dizer têm o poder de alterar completamente sua percepção da realidade." Enquanto Sirius falava, um barulho pesado ecoou pela casa — era o tio Válter, descendo as escadas como um elefante em disparada.
"VOCÊ NÃO VAI CONTAMINAR A CABEÇA DELE COM SUAS MENTIRAS!" Válter berrava, vermelho de raiva, avançando em direção a Sirius com uma determinação feroz.
Harry observava, o coração batendo forte, temendo pelo que seu tio poderia fazer a Sirius. Mas, num movimento rápido e fluido, Sirius ergueu o palitinho e apontou diretamente para Vernon. "PETRIFICUS TOTALUS!" ele exclamou. Instantaneamente, o tio de Harry foi tomado por uma rigidez sobrenatural, seu corpo se petrificando no meio do movimento. Com um baque surdo, Válter caiu, imóvel como uma estátua, seus olhos arregalados de choque e confusão.
Com a poeira ainda pairando no ar e o silêncio subitamente caindo sobre a sala, Sirius virou-se para Harry. O olhar de Sirius era penetrante, como se ele pudesse ver todas as perguntas não formuladas na mente de Harry e soubesse exatamente o que ele precisava ouvir naquele momento tumultuado. Com um sorriso tranquilo e confiante brincando em seus lábios ele disse, "Somos bruxos, Harry."
