A NOVA VIDA DE GINA WEASLEY

Aquela seria a última vez que tomaria seu latte de toda manhã, sentada no parapeito da janela do Granary Mill Apartment. Seria – finalmente – sua última grande mudança, desde que deixara Ottery St. Catchpole há dez anos atrás, para fixar residência em Chudleigh, região Norte de Devon e base dos Chudley Cannons. Ser capitã e a melhor apanhadora desde Dragomir Gorgovitch rendeu a Gina diversos prêmios e popularidade em toda a Inglaterra, algumas das quais ela preferia não se recordar... (Principalmente quando se tornou manchete do Profeta Diário unicamente por conta do seu caloroso término com Harry Potter – o "auror de ouro" do Ministro), mas também diversas mudanças de residência, sem fixar moradia por mais de seis meses em cada uma delas, a depender de onde seriam os campeonatos e os eventos da Liga de Quadribol.

"Vinte e oito anos, melhor capitã dos últimos tempos, melhor apanhadora... E tudo o que as pessoas ainda lembram da minha vida é o capítulo Harry..." Pensou revirando os olhos, enquanto dava o último gole na xícara de porcelana branca, se levantando logo em seguida para terminar de organizar as últimas caixas da mudança e coloca-las no malão com feitiço indetectável de extensão.

Viver em Chudleigh tinha um total de zero animação e vida social, especialmente com a quantidade de treinos e testes físicos dos quais Gina fora obrigada a se submeter por todos esses anos. "Se tem uma coisa que não vou sentir a menor falta é realmente de ficar sozinha tanto tempo! Esse convite do Ministério veio na hora perfeita". Sim. A menina prodígio do quadribol inglês resolveu se aposentar para assumir – após um convite do próprio Quim (então Ministro) – o Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, que ficou vago após a morte de Ludo Bagman. Na cabeça da ruiva, parecia que tudo se encaixava, que essa era a oportunidade perfeita para abandonar de vez o quadribol e começar a viver uma vida "normal".

...

- Luna. A quem eu quero enganar? – Disse Gina, via flu, à sua melhor amiga desde os tempos de Hogwarts, pesarosamente, depois de bebericar a taça de vinho tinto que lhe fora dado de presente por seus pais no seu último aniversário. – Imagina o SACO que vai ser chegar no Ministério e saber que a qualquer momento existe a possibilidade de esbarrar no Harry? Não por ele! Terminamos bem. Apenas não dava mais: distancia principalmente... Mas pelas pessoas. Pelos cochichos e pelos olhos curiosos.

- Amiga, APENAS PARA! Por favor! Você e o Harry já não eram mais um CASAL há anos. E você nunca foi de se importar com a opinião dos outros, muito menos desses figurões do Ministério.

- Lembrando que a partir de segunda-feira serei um deles! – Lembrou a ruiva, sorrindo de lado.

- True story!

- Enfim, Luna... Malas arrumadas, check, animação check, sonífero – disse enquanto levantava a taça de vinho em direção à lareira – check! Ao menos terei o final-de-semana para organizar tudo e me preparar psicologicamente pra minha nova fase. INCLUSIVE, dona Luna... Almoço lá na casa dos meus pais no domingo.

Luna confirmou com a cabeça e o polegar.

- O Rony vai poder me matar pessoalmente por ter saído do time do coração dele... – Comentou meio aérea (não se sabe se pela meia garrafa de vinho ou se por cansaço. Ou a soma dos dois) – BEM... Vou dormir que amanhã o dia será mais longo que as barbas de Melin!

- Que velha! Vou embora antes que isso me contamine. Boa sorte!

George St., Marylebone, Londres.

- BLAISE, eu já disse que não! Quantas vezes eu vou ter que repetir que esses advogados são uma porcaria? Nem que eu mesmo tenha que sentar a bunda no Departamento de Execução das Leis da Magia pra aprovar um regulamento pro novo padrão das vassouras da fábrica. – Gritou Draco para seu amigo e sócio enquanto afrouxava a gravata chumbo do pescoço alvo, jogando a peça no sofá de sua enorme e luxuosa sala de estar.

- Mas Draco... Bagman simplesmente bateu as botas. Bem se sabe que já estava devendo. – Acrescentou com uma gargalhada, enquanto Draco lhe olhava com fúria nos olhos e com uma cara de poucos amigos. – E a nomeação do cargo é sigilosa. Os advogados tentaram até molhar a mão do pessoal com alguns galeões, mas o Ministro está cheio de dedos com esse novo Chefe de Departamento.

- Ou seja: adeus lançamento, até que esse novo imprestável assuma o cargo!? – Questionou a Blaise, já vencido pelos argumentos do sócio, enquanto enchia um copo com seu Ogden's Old firewhisky guardado em carvalho.

- É, cara! É isso que tem pra hoje.

Draco e Blaise, ambos com 29 anos, são amigos desde os tempos de Hogwarts. Inseparáveis – do modo deles – e sócios de uma fábrica de vassouras que foi construída onde antes era a Mansão de Wiltshire (antiga residência dos Malfoy), herdada a Draco com a morte de Lucius e Narcisa. Os dois juntos, conseguiram quebrar a Nimbus e ainda executar uma operação de aquisição da Firebolt, que agora é marca secundária (linha não profissional) da marca deles – a "Broom IT".

- Draco?

- Han? – Respondeu impaciente, após acabar com toda a bebida do copo e enchê-lo com outra dose generosa.

- Hoje é sexta-feira. Somos dois caras milionários e solteiros. E moramos em Londres.

- Blaise, o que...

- NÃO ACEITO NÃO COMO RESPOSTA! Para com isso, cara! Nem vem! Por favor diz que sim?

- Blaise, as vezes fico na dúvida se tô lidando com alguém de 12 anos de idade. – Respondeu rindo ao amigo. – Mas às vezes, BEM RARAS VEZES, você vem com uma ideia que presta. E aí? O que vai ser hoje?

E Blaise não pôde fazer nada menos do que a sua cara mais feliz e sádica, enquanto providenciava todo o roteiro de uma longa noite em metade das boates trouxas de Londres.

...

Ottery St. Catchpole, Toca (domingo)

- Ah, minha Gininha! Minha menininha! Que saudade!

Molly Weasley praticamente esmagou Gina por inteiro, abraçando tão apertado que a ruiva teve que se desvencilhar pra poder respirar um pouco. No entanto, morrendo de felicidade: por estar "em casa" e por, finalmente, após seis longos meses, ver seus pais, irmãos e agregados – cunhadas e sobrinhos.

Em pleno mês de julho, alto verão inglês, Gina não teve dúvidas e prendeu seu cabelo em uma trança lateral, usando um vestido branco soltinho e que marcava a cintura e uma plataforma nude. Se teve algum benefício trazido pela vida pública foi, sem sombra de dúvidas, o bom gosto para roupas e acessórios; e ainda que apenas se tratasse de um almoço em família, a ruiva não abandonou o prazer de se vestir bem. Luna, por sua vez, abandonara o gosto excêntrico da adolescência e também gostava de investir em seu guarda-roupa, principalmente ao se tornar CEO e editora chefe do Pasquim, jornal fundado por seu pai que conquistou grande prestígio ao apoiar Harry Potter.

A Sra. Weasley decorou e organizou toda a área externa da Toca, tendo, inclusive, acrescentado ao ambiente uma grande mesa e cadeiras para acomodar a todos: ela, o Sr. Weasley, Charles, Bill, Fleur, o pequeno Arthur – com 6 anos de idade, e sua irmã mais velha Victoire – com 11 anos, Percy, Penelope e os gêmeos Max e Fred – com 5 anos, George e Alícia – grávida de 7 meses, Rony, Hermione, Luna, Harry e seu afilhado Ted Lupin, com 12 anos, Neville e sua então esposa Ana Abott.

- Tia Gina, quer dizer que a senhora não vai mais jogar Quadribol? – Perguntou Ted com um semblante que deu a Gina uma súbita vontade de pegar ele no colo, como fazia quando o adolescente era menor.

- Ted, meu amor... Tia Gina está ficando velha para toda a rotina do Quadribol profissional. Não tenho mais toda essa energia – disse sorrindo, enquanto bagunçava o topo da cabeça do afilhado.

- É, Ted! A Gina tá muito velha e acabada! – Respondeu Harry, levando imediatamente um tapão da ruiva no braço esquerdo. – E VIOLENTA, DIGA-SE DE PASSAGEM! Vamos agradecer ela não fazer mais nenhum treino de força! – Complementou, massageando o local e sendo acompanhado pelas gargalhadas de todos os presentes.

- Acabado está você, Potter!

- Ainda não me conformo! – O Comentário de Rony foi imediatamente recebido por Gina com uma virada de olhos caricata. – COMO, Gina Weasley, a pessoa se torna a maior e mais jovem campeã de Quadribol do século e simplesmente abandona tudo por um cargo administrativo no Ministério. Minha irmãzinha, você certamente tem problemas! – No caso de Rony, Hermione quem fez questão de repreendê-lo, obviamente, sem sucesso, como se apenas por rotina.

- Rony... Eu não vou me dar ao trabalho de me justificar pra você. Obrigada por nada! – Falou com um sorriso forçado.

- Parem de brigar vocês dois! Rony, a Gina é dona da própria vida e trabalha onde bem entender, você não tem que se intrometer nas escolhas da sua irmã. Ela é maior e independente – Se pronunciou a Sra. Weasley, enquanto deixava a travessa de sobremesa na mesa, para que todos pudessem se servir. – Além do mais, um cargo de Chefe de Departamento é de bastante prestígio! – E sorriu ternamente para a filha mais nova, que recebeu o comentário com outro sorriso em resposta, e um coração feito com as mãos para a matriarca da família.

Gina achou que aquele fora o melhor almoço dos últimos tempos: comida farta, bebida ao gosto de todos, sua família e amigos reunidos e felizes. O dia, assim, terminou com um bom e típico chá da tarde, onde as mulheres aproveitaram para se reunirem e fofocarem sobre suas vidas, seus maridos/namorados, etc.

Enquanto ajudava a Sra. Weasley a organizar toda a louça de volta para a cozinha, percebeu que alguém se aproximava, e nem precisou virar para saber de quem se tratava, reconhecendo o cheiro do perfume daquele que um dia já foi seu noivo. Virou antes que ele fizesse qualquer movimento ou pudesse pronunciar qualquer palavra e ficaram se encarando. Talvez por um minuto ou dois.

- Tá feliz?

- Bastante, Potter, bastante! Voltar é sempre muito bom. – Respondeu sorrindo timidamente, colocando uma mecha de cabelo que pendera da trança atrás da orelha.

- Gina...

- Harry, não! – Disse enquanto Harry fixava o olhar nos seus próprios pés. – Nós já passamos por essa parte do constrangimento, lembra? Não me fala nada que possa querer me distanciar de você e da nossa amizade.

- Tudo bem. Você está certa. BEM... Então é um até amanhã? – Harry beijou a mão de Gina, sorrindo e se retirando da cozinha dos Weasley para poder se despedir de todos os outros. Meia hora depois, Todos foram, aos pequenos grupos, se dissipando, com vários abraços e beijos de despedida – Rony com um recipiente cheio das sobras de comida da Sra. Weasley, enquanto Hermione ralhava com ele em alto e bom som, na frente de todos. Com Gina não foi diferente. Já passava das 19h e ela queria organizar tudo para o grande dia que seria amanhã: novo emprego, novos desafios e uma nova carreira. Luna acompanhou a amiga em seu apartamento, primeiro para conhecer o lugar novo e segundo, para extrair da ruiva qualquer coisa sobre a cena com Harry Potter mais cedo.

- UMA tacinha, Luna. UMA! Amanhã é meu primeiro dia e se tem uma coisa que eu definitivamente não quero é chegar no Ministério com olheiras, ressaca e soltando vinho pelos poros! – Disse com o dedo em riste, enquanto enchia a taça de cristal da loira. – E não foi nada demais. Nada que já não tenhamos passado... Às vezes acho que o Harry não superou, sabe como é? – Completou, tristemente, enquanto bebia de sua própria taça.

- Gina, você não pode se culpar. Principalmente porque ele quem deu o primeiro passo. Lembro como se fosse hoje, o quanto ele reclamava da distância e do seu eterno cansaço.

- Não posso voltar à estaca zero. NÃO QUERO voltar à estaca zero. Amo o Harry, somos padrinhos do Ted e ele é meu amigo. E só! Não temos mais nada romântico, nada de paixão nem tesão um no outro. Da minha parte, pelo menos. – Pontuou quando percebeu que Luna ia se pronunciar, provavelmente para dizer que não acha que Harry pense dessa mesma forma que a amiga.

Diferente do combinado e uma garrafa inteira de vinho depois, Gina se despediu de Luna – que foi embora contra a sua vontade, tomou um banho de banheira quente e cheio de todas as coisas que ela ama: bubbles, sais coloridos e cheirosos e música. Meia hora e alguns dedos enrugados depois, fez seu skincare noturno, vestiu o pijama mais velho e confortável do seu closet e abriu a janela para aproveitar a brisa do Tâmisa durante o sono. Vantagens de morar de frente ao rio, com uma das vistas mais bonitas de Londres que ela não deixaria de desfrutar. Não depois de morar em uma cidade pacata por seis longos meses! Gina adorava morar na cidade: as luzes, as pessoas, a correria e a diversidade. Aquilo era DELA. Com esse pensamento e se sentindo bastante confortável na enorme cama king, ajustou o despertador com magia e adormeceu como uma criança.