Na cozinha espaçosa, a luz da manhã filtrava pelas janelas, banhando a mesa rústica onde uma reunião decisiva estava prestes a acontecer. Harry, com sua postura imponente, assumia a cabeceira, um símbolo de que havia tomado a liderança da situação. Ele estava rodeado por companhias incomum: de um lado, os elfos domésticos, com seus olhos grandes e expressivos, atentos a cada palavra; do outro, Sirius, o padrinho de Harry.

A expressão de Harry era o retrato da seriedade, seus olhos verdes fixos no vazio, refletindo a carga do momento. Ele estava plenamente ciente de que a situação exigia uma abordagem calculada, onde cada decisão poderia alterar o curso dos eventos. A tensão era palpável, mas Harry mantinha-se firme, sua mente clara como cristal, focada unicamente nos fatos, pois sabia que qualquer deslize emocional poderia ser fatal. Ele respirava fundo, buscando na quietude da respiração a força necessária para enfrentar o que estava por vir.

Sirius, com sua voz grave e cheia de significado, quebrou o silêncio que se estendia pela cozinha como uma névoa densa. "Permitam-me começar, eu vou começar contando o que todos diem que aconteceu", disse ele, capturando a atenção de cada par de olhos na sala. "Em seguida, vou dizer as minhas versões dos fatos."

Um aceno coletivo de cabeças confirmou o consentimento para que ele prosseguisse. Os elfos, embora hesitantes, permaneciam em silêncio, seus olhares divididos entre a lealdade ao seu mestre e a desconfiança natural que sentiam em relação ao homem à frente deles. Mas a vontade de Harry era inquestionável, e eles se curvavam a ela.

"A história começa com a profecia", iniciou Sirius, sua voz assumindo um tom mais sombrio, como se cada palavra carregasse o peso do destino. "Para proteger você e seus pais, decidimos lançar vários feitiços para proteger sua localização, dos quais o Fidelius era o mais crucial." Ele pausou, permitindo que a gravidade de suas palavras se assentasse entre os presentes. "Esse encantamento singular confiava um segredo vital a um guardião, tornando-o o único capaz de revelá-lo. Era um segredo que residia tão profundamente dentro de seu portador que nenhum outro poderia descobri-lo— apenas o guardião poderia o revelar."

A sala permanecia imóvel, pendurada em cada palavra de Sirius. O ar estava carregado com a tensão de segredos não ditos e verdades prestes a serem reveladas, e todos sentiam o peso da história que se desenrolava, uma história que moldaria não apenas o futuro de Harry, mas o de todo o mundo mágico.

Sirius retomou sua narrativa com uma voz carregada de remorso, a amargura tingindo cada palavra. "A responsabilidade de guardião do segredo foi colocada sobre meus ombros", disse ele, a dor da memória refletida em seu olhar. "Essa foi a história que se espalhou: eu, escolhido para ser o guardião, e acusado de trair aqueles a quem mais amava, entregando-os nas mãos de Voldemort." Sua voz falhou por um momento, traída pela emoção.

Ele fez uma pausa, reunindo-se antes de continuar. "Na sequência dos eventos, eu fugi, e fui perseguido Peter Pettigrew, um amigo íntimo." Sirius engoliu em seco, as palavras seguintes parecendo arranhar sua garganta. "Nós nos enfrentamos, e como resultado eu acabei o matando junto com 12 trouxas." O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de não ditas acusações e lamentos.

"Depois disso fui pego e trancafiado nas sombrias paredes de Azkaban", concluiu ele, a voz agora um sussurro de desalento. "Lá permaneci, assombrado pelos fantasmas do meu passado." A tristeza em sua voz era palpável, um eco das profundezas de uma alma atormentada por anos de injustiça e isolamento.

A tensão na cozinha era quase tangível quando Deek, o elfo, rompeu o silêncio com uma acusação feroz. "Foi exatamente isso que aconteceu, seu traidor", esbravejou ele, a raiva vibrando em cada sílaba.

"Silêncio", a voz de Harry cortou o ar como gelo, impondo ordem com uma única palavra. O elfo recuou, murmurando um pedido de desculpas quase inaudível, enquanto a atenção de todos se voltava para Harry. Seus olhos, agora frios e penetrantes, fixaram-se em Sirius, exigindo que ele continuasse a contar a história.

Sirius, com a dignidade de quem carrega verdades não ditas, aceitou o comando silencioso de Harry. "Quando a tarefa de ser o guardião do segredo me foi atribuída, eu sugeri uma manobra de despiste: que Peter, nosso amigo, assumisse o papel, já que todos sabiam da minha amizade com os Potter." Ele pausou, o peso da traição abaixando seu olhar. "O que escapou ao nosso conhecimento foi a lealdade oculta de Peter a Voldemort. No momento em que lhe foi confiado o segredo, ele não hesitou em traí-lo, entregando a localização dos seus pais ao inimigo."

A voz de Sirius tremia ligeiramente ao revelar a sequência dos eventos. "Ao saber da morte de seus pais, persegui Peter, movido por uma busca de vingança avassalador." Ele engoliu em seco, a memória daquele dia sombrio refletida em seus olhos. "Mas Peter, astuto e desesperado, provocou uma explosão catastrófica, ceifando vidas inocentes e forjando sua própria morte, deixando-me como o único culpado aos olhos de todos."

Sirius concluiu, sua voz agora um sussurro carregado de luto. "E assim, sem nenhum julgamento, fui condenado ao tormento de Azkaban, marcado como traidor por um crime que jamais cometi." O olhar de Sirius permanecia baixo, um reflexo da injustiça que o havia aprisionado por anos a fio.

Sirius pegou um jornal do bolso e o desdobrou com mãos trêmulas, revelando a manchete que havia mudado o curso de sua vida naqueles sombrios corredores de Azkaban. "Foi durante a visita do Ministro à minha cela, para ver o meu estado, que ele me entregou este jornal", disse ele, a voz carregada de uma emoção que não se permitia sentir há anos. A manchete dizia:

5 ANOS DA QUEDA DAQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO E DA ASCENSÃO DE HARRY POTTER

"No dia 31 de Outubro de 1986, marca-se 5 anos da derrota Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, pelas mãos inocentes de Harry Potter. Uma criança de meros quinze meses que não apenas sobreviveu ao ataque do bruxo mais temido de todos, mas também foi o instrumento de sua ruína. Desde então, Harry é celebrado como um herói, um ícone venerado por incontáveis na comunidade bruxa. Contudo, seu paradeiro tornou-se um enigma. Alguns especulam que ele não passa de uma lenda, que nunca houve um menino chamado Harry Potter. Outros suspeitam que ele se oculta entre nós, aprimorando suas habilidades mágicas em segredo. E há ainda os que acreditam que Harry vive escondido na sociedade dos trouxas. Um mistério que apenas o tempo poderá desvendar. Recordemos como Harry triunfou sobre Você-Sabe-Quem."

O artigo prosseguia, narrando a lenda quase mitológica de como um bebê teria pego a varinha das mãos do bruxo e proferido palavras que, por algum milagre ou destino, baniram o terror das trevas para longe do mundo bruxo.

"Quando meus olhos encontraram essa manchete, tudo se encaixou. Você estaria sob os cuidados da irmã de Lily, uma mulher que desprezava tudo relacionado à magia. E isso significava que ela provavelmente despejaria seu rancor sobre você também", disse ele, a voz carregada de preocupação.

"Não podia permitir que você sofresse tal injustiça. Foi então que decidi agir", continuou Sirius, a resolução em seu tom deixando claro que não havia espaço para hesitação em sua decisão. "Assumi minha forma animaga, um grande cão preto capaz de passar despercebido pelas sombras da noite", explicou ele, demonstrando a transformação com uma fluidez que desafiava a compreensão humana, antes de retornar à sua forma humana.

"Com minha liberdade recém conquistada, parti em sua busca. E o destino, parece, estava ao nosso lado, pois aqui estamos", concluiu Sirius, um sorriso de alívio e satisfação iluminando seu rosto pela primeira vez em anos. "O resto, como você bem sabe, é a história que estamos vivendo agora." A história deles, entrelaçada pelo destino e pela verdade, agora se desdobrava em novas possibilidades e esperanças renovadas.

Quando Sirius concluiu seu relato, um silêncio denso e pesado se espalhou pela cozinha, como uma neblina que se recusa a ser dissipada. Ele olhava para os rostos ao seu redor, buscando algum sinal de crença, alguma faísca de confiança em seus olhos. Havia uma esperança quase palpável emanando dele, um desejo ardente de ser compreendido e aceito; ele estava pronto para mover céus e terra para reconquistar seu lugar ao lado de seu afilhado Harry.

Harry, por outro lado, estava mergulhado em um mar de pensamentos, sua mente um turbilhão de emoções e raciocínios conflitantes. Ele havia absorvido cada detalhe das narrativas apresentadas, mas encontrava-se paralisado pela indecisão, incapaz de separar o juiz imparcial do sobrinho amoroso. O conhecimento do crime era novo para ele, uma revelação que abalava as fundações de seu mundo. E lá estava Sirius, o homem que ocupava um lugar especial em seu coração, no centro de tudo isso.

Com os olhos fixos em Sirius, Harry lutava internamente para encontrar um caminho através do emaranhado de lealdade e justiça. Ele sabia que a verdade era um fio delicado em meio a uma teia de mentiras e que seu próximo passo poderia alterar irreversivelmente o destino de ambos. Enquanto o silêncio persistia, Harry sentia o peso da responsabilidade pressionando seus ombros, uma carga que ele nunca desejou, mas que agora parecia inevitável enfrentar.

Harry pressionou as mãos contra o rosto, um gesto que parecia conter um mar de emoções inexprimíveis. "Estou perdido, não sei no que pensar", ele murmurou, sua voz um sussurro abafado entre os dedos. Quando finalmente baixou as mãos, seus olhos, repletos de uma aflição profunda, encontraram os de Sirius. "Não tenho como julgar essa situação. Em apenas um dia, você transformou minha vida. Tudo que eu vivi antes de te conhecer agora parece um pesadelo antigo.", confessou Harry, a sinceridade brilhando em seu olhar atormentado. "Será que existe alguma magia que possa nos ajudar a descobrir se você está falando a verdade?", perguntou ele, lançando o questionamento aos presentes.

Filk foi a primeira a responder. "Existe uma poção chamada Veritaserum", ele começou, capturando a atenção de todos. "Ela tem o poder de mergulhar o consumidor em um estado de semiconsciência, e faz com que ele diga a verdade sem nem mesmo pensar em mentir ." Uma pausa hesitante precedeu suas próximas palavras. "Contudo, não temos tal poção ao nosso alcance, e a arte de sua criação está além das nossa habilidades. Seria necessário solicitar a um mestre das poções, e mesmo assim, passariam se dias antes que pudéssemos tê-la em mãos."

Harry passou a mão pelos cabelos, um gesto que refletia sua frustração e indecisão. "Então, essa opção está fora de questão", ele murmurou, sua voz baixa ecoando a desilusão que sentia. "Existe algum outro meio que possamos utilizar?"

A sugestão de Deek trouxe um novo lampejo de esperança à discussão. "Talvez haja uma alternativa", propôs ele. "Um Voto Perpétuo poderia ser a chave para garantir a verdade. É um juramento mágico que obriga a pessoa que o fez a cumprir a promessa."

Filk, ponderando as implicações, acrescentou: "É uma possibilidade viável, mas para tal feitiço, precisaríamos da presença de um terceiro bruxo, alguém que atue como um mediador imparcial."

A pergunta de Harry refletiu a urgência da situação. "Há alguém que possamos convocar? Alguém de confiança, que possa manter em segredo a fuga de Sirius?"

Sirius ofereceu uma solução. "Existe um amigo, um companheiro dos tempos de escola. Tenho certeza de que ele atenderia ao nosso chamado", disse, dirigindo-se aos elfos com uma expressão de esperança.

Deek, ainda cético, questionou com um tom de desconfiança. "E quem seria esse amigo que você mencionou?"

Com uma calma resoluta, Sirius revelou o nome. "Remus Lupin", disse ele, a menção do nome trazendo consigo uma onda de memórias e possibilidades.

Filk, o elfo, permitiu-se um raro momento para se lembrar do passado. "Recordo-me bem dele", começou, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios. "Era o jovem marcado pelas cicatrizes que vinha pegar os biscoitos de chocolate que eu preparava, quando vinha visitar o James. Ele sempre ficava e conversava um pouco comigo. Mesmo após a trágica perda de James, sua gentileza nunca mudou. E ele nunca deixou de manter contato conosco."

Harry, movido pela urgência da situação, questionou com determinação. "Então, devemos procurá-lo imediatamente. Vocês têm conhecimento de seu paradeiro atual?"

Deek, com a precisão de quem mantém registros meticulosos, respondeu. "Dispomos de um endereço que acreditamos ser o mais recente", informou ele. "Remus tem o hábito de mudar-se com certa regularidade, uma necessidade imposta por motivos pessoas. No último contato que tivemos, ele havia encontrado abrigo em uma fazenda de ovelhas, onde o proprietário ofereceu-lhe moradia em troca de seus serviços."

Harry, sem hesitar, tomou a frente. "Vamos então sem demora. É essencial que o encontremos", declarou, sua voz carregada de uma liderança recém assumida e a determinação de quem sabe que cada segundo conta.

Sirius, com uma expressão contemplativa, quebrou o silêncio que se instalara. "Creio que minha presença seria mais um empecilho do que uma ajuda", disse ele, a voz carregada de sinceridade. "Remus, ao me ver, poderia me atacar antes mesmo de termos a chance de explicar."

Deek, o elfo, com uma lealdade férrea, tomou uma posição firme. "Se você permanecer, eu também ficarei", declarou ele, a determinação ressoando em cada palavra. "Não permitirei que você desapareça novamente."

Filk, com a sabedoria que lhe era característica, tomou a decisão final. "Então será apenas Harry e eu", concluiu ela. "Está pronto, Mestre?" Com um gesto suave, ela estendeu a mão para Harry, que a aceitou sem hesitar, e num piscar de olhos, eles desaparataram.

Quando a sensação de deslocamento se dissipou, eles se encontraram no topo de uma colina exuberante, a paisagem se desdobrando em tons de verde até uma fazenda que se aninhava no vale abaixo. Um casebre modesto, solitário no cume, chamava a atenção.

"É lá que ele vive, Mestre", Filk apontou discretamente para o casebre, sua voz baixa para não perturbar a tranquilidade do lugar. "Manterei minha presença oculta para evitar os olhares dos trouxas, mas estarei ao seu lado, invisível, mas sempre vigilante."

Com passos firmes e um propósito claro em mente, Harry aproximou-se do casebre que se erguia solitário na colina. A cada passo, a determinação em seus olhos se intensificava, refletindo a importância da missão que o levava até ali. Ao chegar à porta desgastada pelo tempo, ele ergueu a mão e bateu três vezes, cada batida ressoando com a urgência de seu coração.

Do interior do casebre, uma voz rouca e ligeiramente surpresa respondeu, "Já estou indo." O som de passos aproximando-se preencheu o breve silêncio que se seguiu. A porta se abriu devagar, revelando a figura de um homem que parecia carregar mais histórias do que os anos que tinha. Seu porte era esguio, e o semblante, embora jovem, estava marcado por um cansaço que parecia não pertencer apenas ao corpo, mas também à alma. Os cabelos castanhos, salpicados de fios prateados, falavam de provações prematuras, enquanto as cicatrizes que traçavam seu rosto contavam de batalhas passadas.

Ele olhou para os visitantes com um olhar inquisitivo, começando com um cumprimento educado. "Bom dia, como posso ajudá-los?" Mas suas palavras foram interrompidas por um reconhecimento súbito, e um misto de choque e alegria transpareceu em seu rosto. "Harry, é você?" ele exclamou, a voz embargada pela emoção. Estendendo os braços, ele segurou Harry pelos ombros, como se para assegurar-se de que o garoto diante dele não era uma ilusão, mas sim a realidade.

"Sim, realmente sou eu", Harry confirmou com um aceno de cabeça, seus olhos encontrando os de Remus em um reconhecimento mútuo. "E você é Remus Lupin, não é?" perguntou, a curiosidade tingida de respeito pelo homem à sua frente.

Remus acolheu o jovem com um sorriso que iluminou seu rosto marcado pelo tempo. "De fato, sou eu", disse ele, a alegria evidente em sua voz. "Ver você crescido é uma felicidade que não consigo expressar. A última vez que nossos caminhos se cruzaram, você era apenas um bebê nos braços de sua mãe", recordou Remus, a nostalgia em suas palavras pintando a imagem de um passado distante. "O que você faz aqui?"

"Estou aqui porque preciso de sua ajuda", Harry começou, a urgência clara em seu tom. "Uma situação delicada surgiu, e precisams da sua ajuda. Você estaria disposto a nos acompanhar?" ele perguntou, esperançoso.

Remus, surpreso por encontrar apenas Harry diante de si, questionou com um levantar de sobrancelhas. "Nos acompanhar? Há mais alguém aqui com você?"

Foi então que Filk escolheu revelar sua presença, desfazendo o encanto de invisibilidade. "Estou aqui, Remus", disse ela, materializando-se ao lado de Harry. "É um prazer vê-lo novamente."

Remus, agora diante de dois rostos conhecidos, um marcado pela juventude e outro pela lealdade de anos, expressou sua preocupação. "Filk, o que está acontecendo? Por que Harry não está com os Dursleys e está com você?" As perguntas de Remus refletiam sua surpresa e a preocupação de um velho amigo diante dos mistérios que se desenrolavam.

Filk, com a urgência da situação refletida em sua voz, insistiu. "O motivo disso tudo está ligado assunto de grande importância que surgiu. Seria possível que você nos acompanhasse?" perguntou ela, a expectativa clara em seus olhos.

Remus, sem hesitar, respondeu com uma prontidão que denotava sua disposição em ajudar. "Claro que posso. Permita-me apenas um momento para me preparar", disse ele, desaparecendo brevemente dentro do casebre antes de retornar vestindo um casaco. "Estou pronto. Podemos ir agora?"

Com um gesto de cooperação, Filk estendeu as mãos para Harry e Remus. Eles as seguraram firmemente, e com a magia do desaparecimento, foram transportados de volta à mansão.

Diante da porta da cozinha, Filk fez um pedido inesperado. "Remus, poderia me emprestar sua varinha por um instante? É uma precaução necessária", solicitou ela, estendendo a mão.

"Sem problema algum", concordou Remus, entregando sua varinha à elfa com um gesto de confiança. Juntos, eles entraram na cozinha, onde uma cena curiosa se desenrolava.

Deek, com uma autoridade que parecia maior do que sua estatura, repreendia Sirius. "Você não deve tocar nisso", disse ele, firme.

Sirius, com uma calma que contrastava com a tensão do momento, tentou se explicar. "Eu apenas queria uma fatia de pão", respondeu ele, sua voz tranquila.

"Sim, mas esse pão não é seu.", Deek retrucou, mantendo sua posição inabalável.

A surpresa de Remus ao ver Sirius na cozinha era palpável, como se uma sombra do passado tivesse subitamente tomado forma diante de seus olhos. "O que você está fazendo aqui?" ele demandou, a voz carregada de um misto de choque e autoridade, exigindo uma explicação que fizesse sentido daquela visão inesperada.

Harry, com a serenidade de quem carrega o peso de verdades complexas, respondeu. "Sirius é o causador da questão urgente que nos levou a buscar sua ajuda, e também foi ele quem me trouxe até aqui", explicou, sua voz firme transmitindo a gravidade da situação.

Sirius, enfrentando o olhar atônito de Remus, ofereceu um cumprimento que carregava anos de história não dita. "Olá, Remus. É realmente bom te ver novamente", disse ele, um sorriso genuíno e um tanto melancólico adornando seu rosto.

A reação de Remus foi visceral, a indignação fervendo à superfície. "Como você tem a audácia de se mostrar aqui, depois de tudo?" ele exclamou, o instinto o levando a buscar sua varinha para um confronto que parecia inevitável. Mas então, a lembrança de que havia entregado sua varinha a Filk o atingiu, deixando-o momentaneamente desarmado. "Filk, devolva-me minha varinha agora", exigiu, a mão estendida esperando o instrumento de sua defesa.

Filk hesitou, pronta para recusar, mas Harry interveio antes que ela pudesse falar. "Não, Remus. Não viemos aqui para lutar. Precisamos de você para algo muito mais importante: um Voto Perpétuo", disse Harry, sua voz cortando a tensão como uma lâmina afiada.

"Um Voto Perpétuo?" Remus repetiu, a surpresa substituindo a raiva. "Por que vocês precisariam de algo assim?"

Sirius, com uma franqueza que só a verdadeira necessidade pode trazer, explicou. "Precisamos assegurar que eu fale apenas a verdade. Que eu não possa ocultar ou distorcer os fatos sobre os eventos daquele dia fatídico., para que assim eu prove minha inocência", disse ele, a sinceridade em sua voz buscando construir uma ponte sobre o abismo de desconfiança que os separava.

"Vocês estão malucos?" Remus perguntou aos demais que estavam ali presentes.

"Essa é a única forma que encontramos de garantir que ele está falando a verdade." Harry disse com determinação

Remus, com uma expressão que misturava indignação e um senso de justiça inabalável, aceitou o desafio proposto. "Está bem, eu aceito", disse ele, sua voz ressoando com a força de suas convicções. "Mas se você realmente cometeu esse ato, você deve jurar que aceitará seu destino em Azkaban, permanecendo lá até o fim de seus dias."

Sirius, enfrentando o peso de suas próprias palavras, concordou sem hesitar. "Tudo bem. Eu aceito", afirmou ele. "Parece que estamos prontos para proceder. Harry, por favor, estenda sua mão direita." Harry, obedecendo o padrinho, estendeu sua mão para ele, que a segurou com firmeza. "Agora, quando Remus posicionar sua varinha sobre nossas mãos, você fará os votos. Você deve declarar que eu não poderei mentir e que, se for provado que sou culpado, aceitarei permanecer em Azkaban até o fim de meus dias. Você entendeu?" Sirius olhou para Harry, buscando confirmação.

Harry acenou, sinalizando que estava pronto para prosseguir. "Pode começar, Remus."

Remus, com um gesto solene, pegou sua varinha das mãos de Filk e a posicionou sobre as mãos entrelaçadas de Harry e Sirius, iniciando o encantamento. Harry, seguindo o ritual, começou a recitar os termos do Voto Perpétuo. "Sirius, você promete que não mentirá sobre nada em relação ao dia em que meus pais morreram?"

"Eu juro", respondeu Sirius, e uma linha dourada emergiu da varinha de Remus, envolvendo as mãos dos dois em um laço mágico.

Encorajado pela resposta de Sirius, Harry continuou. "Sirius, você promete que, se realmente for culpado, aceitará sua sentença em Azkaban até o fim?"

"Eu juro", afirmou Sirius novamente. A linha dourada intensificou seu brilho, dando mais uma volta sobre as mãos unidas, antes de se soltar da varinha e formar um círculo completo, selando o Voto Perpétuo com a finalidade de suas palavras. A linha então desapareceu, deixando para trás a gravidade de um juramento que não poderia ser quebrado.

"Podem soltar as mãos", disse Remus, guardando a varinha. "Agora, vamos esclarecer a verdade. Sirius, você traiu James e Lily Potter?"

"Não", a resposta de Sirius veio rápida e firme, carregada de uma verdade que ele esperava há anos para proclamar. O silêncio que se seguiu foi um testemunho silencioso da sinceridade de suas palavras. "Vocês acreditam em mim agora?" ele perguntou, um vislumbre de esperança brilhando em seus olhos.

A revelação deixou todos estupefatos, mas Harry, movido por um sentimento que transcendia a surpresa, correu para abraçar Sirius. Era um abraço que falava de alívio, de laços reforçados e de uma fé restaurada. Para Sirius, era como se as correntes de um longo inverno tivessem sido quebradas, permitindo-lhe finalmente sentir o calor da confiança e da aceitação.

Remus, confrontado com a realidade que desafiava tudo o que ele acreditava saber, ficou paralisado pela surpresa. "Se não foi você, então quem foi o responsável?" ele perguntou, sua voz um sussurro de incredulidade.

Sirius, com a mão gentilmente pousada sobre os cabelos de Harry, que se afastara um pouco, começou a desvendar a história que havia permanecido oculta por tanto tempo. "Foi Peter Pettigrew", explicou ele. "Eu nunca fui o verdadeiro guardião do segredo. Optamos por Peter no último momento, acreditando que ele seria o menos suspeito. Mas ele era um traidor, um seguidor de Voldemort, e foi ele quem selou o destino de James e Lily." As palavras de Sirius, embora carregadas de dor, trouxeram também um alívio palpável, pois a verdade finalmente começava a emergir das sombras do passado.

Com a verdade finalmente vindo à tona, nada mais impedia que Harry e Sirius compartilhassem o mesmo teto naquela mansão que agora ressoava com ecos de justiça e redenção. A revelação havia desfeito os nós de anos de mal-entendidos e acusações injustas.

Remus, ainda atordoado pela avalanche de verdades que desmoronavam as convicções que ele havia mantido por anos, sentia-se dividido entre a alegria pelo amigo inocentado e a dor pela traição do outro. "Sirius, precisamos conversar em particular", disse ele, a voz carregada de uma urgência que ia além das palavras.

Concordando, Sirius seguiu Remus para fora da cozinha, ambos envoltos em um silêncio que falava mais do que qualquer diálogo. No corredor, longe dos olhares curiosos, Remus se aproximou e, num gesto que rompia todas as barreiras do orgulho e da dúvida, abraçou Sirius. "Perdoe-me por ter duvidado de você", murmurou, a emoção transbordando em sua voz.

A resposta de Sirius veio na forma de uma risada que surpreendeu Remus, fazendo-o recuar. "Desculpe-me", disse Sirius, ainda rindo, mas com um brilho de compreensão nos olhos. "Não esperava que você me chamasse aqui apenas para expressar seus sentimentos. Mas não há necessidade de desculpas. Todos nós fomos enganados, suspeitávamos uns dos outros. Agora, podemos deixar o passado para trás e reconstruir o que foi perdido." A sinceridade em suas palavras prometia um novo começo, livre das sombras do passado.

Remus olhou para Sirius, seus olhos refletindo a complexidade dos sentimentos que o preenchiam. "E agora, qual será o seu próximo passo? Você vai tentar provar sua inocência diante de um tribunal?" ele perguntou, a curiosidade tingida de preocupação.

Sirius, com um brilho de determinação nos olhos, compartilhou sua visão para o futuro. "Não vou. Eles já me prenderam uma vez sem ter o direito de ser julgado apropriadamente, não vou dar o prazer de fazerem de novo. Além do mais, meu lugar é aqui, ao lado do Harry. Quero cuidar dele e prepará-lo para os desafios que estão por vir", disse ele, a voz cheia de uma promessa silenciosa.

"Para quais desafios você pretende prepará-lo especificamente?" Remus indagou, o interesse evidente em sua voz.

"Ah é, não havíamos te contado. Existe uma profecia, uma que fala de uma criança destinada a ter o poder de vencer Voldemort. Essa criança é o Harry. Não acredito que Voldemort morreu naquele dia. É por isso que vou treinar o Harry, para que caso ele volte, não veja o que o atingiu.", revelou Sirius, as palavras carregadas de um significado profundo.

"Isso esclarece mais o motivo pelo qual Voldemort tentou matar Harry e falhou.", Remus concluiu, a compreensão iluminando seu rosto.

"Por que você não fica e me ajuda nessa tarefa? Você sempre teve um senso de responsabilidade melhor que o meu, além de ser um ótimo professor.", propôs Sirius, estendendo o convite a Remus.

Remus hesitou, a amargura de sua condição sombreando seu semblante. "Não seria prudente. Minha presença poderia ser um incômodo, talvez até um perigo, devido à minha... condição", ele disse, a palavra final quase um sussurro.

Sirius reagiu com uma indignação que era quase palpável. "Você está brincando, certo? Você passou sete anos em Hogwarts, cercado por bruxos, e nunca causou mal a ninguém. Por que isso mudaria agora?"

"Apesar de tudo, tenho minhas dúvidas de que eles aceitariam minha presença", Remus respondeu, a incerteza pesando em cada palavra.

Sirius expressou sua indignação novamente com um vigor que ecoava pelas paredes da mansão. "Como é que é?" ele exclamou, a incredulidade tingindo suas palavras. "Harry é um garoto de coração imenso, e tenho certeza absoluta de que ele ficaria mais do que feliz em ter você aqui conosco, especialmente depois de toda a ajuda que você nos deu. E quanto aos elfos," continuou Sirius, um sorriso astuto se formando em seus lábios, "Eles já te conhecem e têm um carinho especial por você. E, no fim das contas, eles seguirão os desejos de Harry, sem questionar."

Remus, inicialmente hesitante, permitiu-se um sorriso resignado e esperançoso. "Tudo bem", ele disse, a derrota em sua voz dando lugar a uma aceitação calorosa. "Se Harry concordar, eu ficarei." O sorriso que adornava seu rosto era um testemunho silencioso de sua gratidão e alívio.

"Então está decidido", proclamou Sirius com uma autoridade que não deixava espaço para dúvidas, enquanto abria a porta da cozinha com um gesto decidido. "Harry, você teria alguma objeção a Remus se juntar a nós aqui na mansão?"

"De forma alguma", respondeu Harry, seu sorriso brilhando com a inocência e a bondade que o caracterizavam. "Quanto mais, melhor. Afinal, somos todos uma família agora, não é?"

"Então está tudo certo", concluiu Sirius, seu sorriso refletindo o de Harry, enquanto sua mente já começava a traçar os contornos de um futuro repleto de possibilidades e aventuras compartilhadas. "Bem-vindo à família, Remus." E com essas palavras, um novo capítulo se iniciava para todos eles, um capítulo de redenção, esperança e união.


Notas do autor:

E como eu disse, encerramos o prólogo aqui com este capítulo. A partir do próximo capítulo estaremos em 1993 com Harry indo para Hogwarts. Queria comentar um pequeno fato que já falei antes, não é nada que mude muito o enredo da história. Eu disse que esta história estava acontecendo perto do final de junho de 1987, mas decidi mudar essa data para início de novembro de 1986. Para combinar melhor com a data deste jornal que Sirius havia recebido.

Vou finalizar falando mais ou menos sobre como pretendo fazer o próximo capítulo. Ele começará mostrando as consequências da fuga de Sirius da prisão e do Harry deixando a casa dos Dursley, depois passarei para o embarque na plataforma 9 3/4.

Eu também gostaria de pedir para quem tiver alguma sugestão mandar no meu privado. Adoraria saber o que vocês estão achando da obra até aqui.